O QUE DIFICULTA O AUMENTO DA ÁREA DE CANOLA NO BRASIL?

Documentos relacionados
AVALIAÇÃO TÉCNICA E ECONÔMICA DA CULTURA DA CANOLA EM DUAS UNIDADES DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA NA REGIÃO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E CIÊNCIAS ECONÔMICAS

USO DE TECNOLOGIAS NO CULTIVO DE TRIGO EM LAVOURAS ASSISTIDAS PELA EMATER NA REGIÃO NORTE RIOGRANDENSE

DESEMPENHO AGRONÔMICO DE HÍBRIDOS DE CANOLA (Brassica napus) CULTIVADOS EM UBERLÂNDIA, MG

Projeções Indicam o Brasil Como o Próximo Maior Produtor Mundial de Soja (Safra 18/19)

Análise do Custo de produção por hectare de Milho Safra 2016/17

ATIVIDADES DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA DA EMBRAPA TRIGO PARA TRIGO E TRITICALE, SAFRA 2011

SISTEMAS DE CULTIVO DE TRIGO NOS ESTADOS DO RIO GRANDE DO SUL, PARANÁ E MATO GROSSO DO SUL

Guaraná: Período: 01 a 31/07/2013

A IMPORTÂNCIA DA SOJA E MILHO NA REGIÃO DA ALTA MOGIANA

Boletim de Conjuntura Agropecuária da FACE N.8 / abr-2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Boletim de Agropecuária da FACE Nº 50, Outubro de 2015

DIAGNÓSTICO DA CULTURA DA CANOLA NA MESORREGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Atividades de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo para a cultura da soja no sul do Brasil na safra 2009/10

Boletim de Agropecuária da FACE Nº 32, Abril de 2014

Introdução. A soja é uma commodity de relevância econômica no mercado internacional

CONJUNTURAL AGROPECUÁRIO NOTÍCIAS AGRÍCOLAS

Custo de produção de trigo e de aveia: Estimativa para a safra 2004 Cláudia De Mori 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

PARTICIPAÇÃO DO IAPAR NO PROGRAMA PARANAENSE DE BIOENERGIA

Acadêmica e estagiária UEPG/BASF,

LEVANTAMENTO DE AÇÕES DE CONTROLE DE DOENÇAS DE CANOLA UTILIZADAS POR PRODUTORES NO SUL DO BRASIL

os preços médios estaduais da soja apresentaram variações positivas, com exceção do

1 - INTRODUÇÃO 2 - METODOLOGIA

CUSTO DE PRODUÇÃO DE CANOLA: ESTUDO DE CASO DE PROPRIEDADE EM BOSSOROCA, RS, SAFRA 2013.

Boletim de Agropecuária da FACE Nº 43, Março de 2015

IMPACTO DO FENÔMENO ENOS NO RENDIMENTO DE GRÃOS DE CANOLA, NO BRASIL THE ENSO PHENOMENON IMPACT ON CANOLA GRAIN YIELD IN BRAZIL

Avaliação e Seleção de Híbridos e Variedades de Girassol

LEVANTAMENTO DE ÁREA CULTIVADA, SEMEADURA E ADUBAÇÃO NO MILHO SAFRINHA NA REGIÃO DE SORRISO MT

Boletim de Agropecuária da FACE Nº 76, Dezembro de 2017

Associação Brasileira dos Produtores de Soja

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADEDE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Levantamento de Custos de Produção de Cascavel PR

Resultados de Pesquisa dos Ensaios de Melhoramento de Soja Safra 2008/09

Empresa Brasileria de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

DINÂMICA DE CAPACITAÇÃO TÉCNICA E DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA PARA O SISTEMA PRODUTIVO DE CANOLA

FÓRUM PERMANENTE DE MONITORAMENTO DE TEMPO E CLIMA PARA A AGRICULTURA NO RIO GRANDE DO SUL

Caracterização de Sistemas de Produção de Milho na Região de Sete Lagoas, MG. Palavras chave : Zea mays, análise econômica, estimativa de rendimentos,

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E CIÊNCIAS ECONÔMICAS

1 Lavouras. Cereais, leguminosas e oleaginosas. Área e Produção - Brasil 1980 a 2008

Boletim do Complexo soja

Mercado de Óleos Vegetais: histórico e conjuntura

mês de -3,58%, com preço de R$62,60/sc. Goiás apresentou a maior queda de março a

181 ISSN Setembro, 2006 Passo Fundo, RS

Associação Brasileira dos Produtores de Soja

ANÁLISE DE ADOÇÃO DAS VARIEDADES DE MANDIOCA 'ALAGOANA' E 'LAGOÃO' NO MUNICÍPIO DE BROTAS DE MACAÚBAS - BA. Introdução

Av. Ademar Diógenes, BR 135 Centro Empresarial Arine 2ºAndar Bom Jesus PI Brasil (89)

Custo de produção de trigo e de aveia: Estimativa safra 2003 Cláudia De Mori 1 Armando Ferreira Filho 1

mostra a Tabela 1. O estado do Rio Grande do Sul não acompanhou o cenário de queda

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Secretaria de Produção e Agroenergia

A Mamona ainda pode funcionar no PNPB?

ATIVIDADES ECONÔMICAS NO ESPAÇO RURAL

Tabela 1. Dados comparativos da safra anterior em relação à atual.

Superintendência Regional do Rio Grande do Norte Gerência de Operações e de Suporte Estratégico Setor de Apoio à Logística e Gestão da Oferta

COMPARATIVO DE LUCRATIVIDADE ENTRE O PLANTIO DE MILHO SEQUEIRO/SOJA E O ARRENDAMENTO DA ÁREA

ANÁLISE DOS PROBLEMAS DO CULTIVO E PRODUTIVIDADE DA MAMONA (Ricinus comunnis) NO MUNICÍPIO DE BELO JARDIM-PE.

Tópicos setoriais. A safra de grãos 2006/2007 no Brasil e no Rio Grande do Sul* Antecedentes

Avaliação de aspectos produtivos de diferentes cultivares de soja para região de Machado-MG RESUMO

1O que é. São culturas de inverno que podem ser utilizadas em

ANÁLISE DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO IDENTIFICADOS PARA OS ALGODÕES DE SEQUEIRO E IRRIGADO NO ESTADO DA PARAÍBA

ÉPOCAS DE SEMEADURA DE MAMONA CONDUZIDA POR DUAS SAFRAS EM PELOTAS - RS 1

PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA DO MILHO HÍBRIDO AG7088 VT PRO3 CULTIVADO SOB DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO

SAFRA /2005 SEGUNDA PREVISÃO - ABR/2004 SAFRA /2004 FINAL

ANÁLISE ECONÔMICA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO MISTOS: GRÃOS, CULTURA DE COBERTURA E PECUÁRIA,

Avaliação de variedades sintéticas de milho em três ambientes do Rio Grande do Sul. Introdução

Comportamento de genótipos de canola em Maringá em 2003

BOLETIM DO MILHO Nº 13

ADOÇÃO DA TECNOLOGIA EM NUTRIÇÃO VEGETAL

Disponibilidade de Matérias Primas e Oportunidades de Diversificação da Matriz Energética do Biodiesel

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO CULTIVO DA CANOLA NO BRASIL E IMPACTOS NO CUSTO DE PRODUÇÃO E NA RENTABILIDADE.

Boletim de Conjuntura Agropecuária da FACE N.4 / dez.2011

Nos últimos 20 anos, a produção brasileira dos principais grãos de

Levantamento de Custos de Produção de Castro PR

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADEDE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E CIÊNCIASECONÔMICAS CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Os preços médios da soja em junho apresentaram queda em relação ao mês

VIABILIDADE ECONÔMICA DE SISTEMAS DE CULTIVO DE MILHO SAFRINHA

mês passado (Tabela 1). O estado do Rio Grande do Sul apresentou a maior cotação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS. Pesquisa, acompanhamento e avaliação de safras.

6ªJornadaCientíficaeTecnológicadaFATECdeBotucatu 23 a 27 deoutubrode2017, Botucatu SãoPaulo,Brasil

ANÁLISE ECONÔMICA DE UMA PROPRIEDADE RURAL

PANORAMAS DE MERCADO DE GRÃOS: MILHO E SOJA FLAVIO ANTUNES CONSULTOR EM GERENCIAMENTO DE RISCOS. Bebedouro, 21 de junho de 2017

Comportamento do Milho

Anais do 1º Simpósio Internacional de Arborização de Pastagens em Regiões Subtropicais

11/07/2013. Stelito Assis dos Reis Neto Eng. Agrônomo MSc. Conab/Dipai/Sugof. Carlos Roberto Bestetti Eng. Agrônomo Conab/Dipai/Suinf

11/ - CONSORCIAÇÃO MILHO-FEIJÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

CONJUNTURAL AGROPECUÁRIO

Realização: Apresentação. Seja parceiro:

CONJUNTURAL AGROPECUÁRIO

Biodiesel no Brasil: conjuntura atual e perspectivas

No dia , o USDA divulgou seu relatório de oferta e demanda dos principais produtos agropecuários da safra 2010/11:

Produtividade: Interação entre Adubação Fosfatada de Pastagens e Suplementação Mineral

Dispêndios com Inseticidas, Fungicidas e Herbicidas na Cultura do Milho no Brasil,

CUSTO DE PRODUÇÃO DE GRÃOS EM CASCAVEL-PR

Cultivo do Milheto. Sumário. Importância econômica. Apresentação. Importância econômica. Produção

Avaliação da performance agronômica do híbrido de milho BRS 1001 no RS

Importância do Melhoramento Genético

Estado da Arte do Plantio Direto no Brasil 2007 a Ondino C. Bataglia Giseli Brüggmann Fernando P. Cardoso Antonio R. Dechen

DESMISTIFICANDO O SEGURO AGRÍCOLA. Eng. Agrônomo Luiz Antonio Digiovani. Consultor em Seguros Rurais

Transcrição:

O QUE DIFICULTA O AUMENTO DA ÁREA DE CANOLA NO BRASIL? Alvaro Augusto Dossa¹, Paulo Ernani Peres Ferreira², Gilberto Omar Tomm³ ¹Administrador, M.Sc., Analista A - EMBRAPA Trigo. Passo Fundo, RS, Brasil. Email: alvaro.dossa@embrapa.br ²EMBRAPA Trigo, Passo Fundo, RS, Brasil. ³EMBRAPA Trigo, Passo Fundo, RS, Brasil. RESUMO A cultura da canola é uma alternativa de cultivo de inverno com comprovado potencial para incrementar a renda, otimizar o uso de meios de produção disponíveis e beneficiar os demais cultivos em diversos sistemas de produção de grãos no Brasil. Apesar disso, ao longo de sua história, iniciada em 1974, a expansão de sua área de cultivo tem ficado muito aquém do seu potencial. Mesmo com imensa demanda mundial e crescente do mercado consumidor nacional, seja pelo uso de seu óleo diferenciado para alimentação humana, seja pela indústria para utilização potencial do óleo como biodiesel, ainda existe resistência dos produtores rurais à adoção de novas culturas, incluindo a canola, conforme indicam os dados de evolução de área no Brasil. O presente trabalho, baseado em entrevistas estruturadas, buscou gerar dados primários, entrevistando produtores participantes de três eventos de campo, com o objetivo de identificar os possíveis entraves e orientar a remoção dos impedimentos ao crescimento da área de cultivo da canola no Brasil. Palavras chave: difusão de tecnologia; barreiras; transferência de tecnologia. INTRODUÇÃO Mundialmente, após a soja, a canola é a maior cultura de grãos oleaginosos. No Canadá, Austrália e países da Europa, a canola é o principal cultivo para produção de óleo, tanto para consumo humano, como para a produção de biodiesel, em função da qualidade, bem como da produtividade estável e competitiva. A canola se destaca pelos benefícios indiretos para os cultivos subsequentes, exemplificados pelo aumento de 50% do rendimento de grãos de trigo na Austrália, num período de 20 anos, devido a redução de doenças radiculares e aumento na resposta à adubação nitrogenada (Passioura, 2004). A produção de canola no Brasil, que inicialmente incluía cultivares de colza, tem seus primeiros registros a partir de 1974 (MARTIN; NOGUEIRA JUNIOR, 1993 apud DE MORI; TOMM; FERREIRA, 2014). O cultivo de canola tem como principal objetivo a extração de óleo de seus grãos (37-42%), com as finalidades de consumo humano e produção de biodiesel, e, secundariamente, de farelo, empregado na formulação de rações. No Brasil, o óleo para consumo humano é a principal destinação da canola. O país importou em 2012 aproximadamente 42.500 toneladas do produto, entre sementes, grão, óleo bruto e refinado, tendo produzido em uma área de 48.704 hectares cerca de 60.000 toneladas naquele ano (CONAB, 2013; DE MORI; TOMM; FERREIRA, 2014). Conforme levantamento realizado por Tomm (2014), a área de canola tem variado expressivamente (percentualmente) ano a ano: cresceu 35.022 hectares (ha)

em 2009, para 41.976 ha em 2010 e atingido 59.100 ha em 2011 reduzindo a 48.704 ha em 2012 e finalmente, 42.168 ha, em 2013. Dentro dessa perspectiva, a Embrapa Trigo buscou identificar que dificuldades são percebidas pelos produtores como as razões que entravam o desenvolvimento do cultivo de canola no Brasil. MATERIAL E MÉTODO Uma pesquisa quantitativa foi aplicada para produtores rurais participantes de três eventos técnicos (dois dias de campo regionais e uma abertura nacional de colheita de safra) que abordaram o tema canola. Foram disponibilizadas questões de múltipla escolha (escolha única ou múltipla), questões binárias (sim ou não) e questões abertas semiestruturadas. Foram aplicados 77 questionários válidos, onde cada questionário representava uma propriedade e não um participante do evento. Experiências anteriores indicam que os participantes dos dias de campo geralmente vão acompanhados, em média, por uma ou duas outras pessoas (como por exemplo pai e filhos, marido e esposa, sócios, etc.). Essa decisão foi tomada para aumentar a representatividade dos dados da pesquisa e evitar a existência de dados em duplicidade sobre uma mesma propriedade. Portanto, os 77 questionários válidos representam as informações e percepção de um maior número de participantes nos três eventos. As respostas às questões de múltipla escola foram tabuladas utilizando a ferramenta Qualtrics e foram analisadas empregando estatística descritiva simples. As respostas às questões semiestruturadas foram analisadas por meio de análise de conteúdo, para a criação de categorização em temas presentes nas respostas. Também é preciso destacar que as análises foram divididas em duas partes: uma referente aos entrevistados que cultivam ou já cultivaram canola (37 respondentes) e a segunda parte para todos os entrevistados. RESULTADOS E DISCUSSÃO a) Produtores que cultivam ou já cultivaram canola. A Figura 1 apresenta a distribuição da resposta para a pergunta: por que cultivar canola? Figura 1: razões para o cultivo da canola.

A rotação/diversificação de culturas é a principal razão para o produtor decidir em cultivar canola, seguida por questões econômicas. A assistência técnica disponível e a tradição/histórico do plantio ficaram abaixo. A grande relevância da rotação/diversificação é bastante peculiar frente a questões econômicas, pois a literatura mais tradicional de economia rural tende a indicar que os fatores econômicos são os principais motivadores para adoção de uma cultura/tecnologia. Apesar disso, o contexto de preços disponíveis para a canola, atrelado ao preço da soja (proporção de 1:1, ou seja, um saco de canola equivalente ao preço de um saco de soja), pode indicar a razão para essa percepção. Outro motivo é a possibilidade de incremento da produção de soja (principal oleaginosa de grãos do país) com o cultivo de canola, de modo a indicar um raciocínio de médio/longo prazo para os produtores. Sendo uma cultura relativamente nova, em especial se comparado ao cultivo de trigo, por exemplo, reforça a indicação de que poucos respondentes consideram tradição/histórico de plantio como uma razão para decisão. Já a disponibilidade de assistência técnica como fator de decisão também deixa a desejar. Uma hipótese para essa avaliação (que precisa ser explorada em pesquisas futuras) é o pouco o conhecimento sobre a cultura dos assistentes técnicos públicos (Emater), frente ao número de assistentes técnicos privados, geralmente vinculados a empresas e cooperativas que fomentam a produção de canola. A Tabela 1 apresenta o número de respondentes que cultivaram canola em cada ano, bem como os problemas que encontraram na safra daquele ano. Ano Nº de produtores Principais problemas informados: Semeadura Doenças Insetos Granizo Geada Perdas na colheita 2013 27 18,52% 44,44% 0,00% 0,00% 22,22% 14,81% 2012 24 16,67% 29,17% 4,17% 20,83% 20,83% 20,83% 2011 17 17,65% 41,18% 0,00% 0,00% 23,53% 11,76% 2010 13 0,00% 23,08% 7,69% 0,00% 23,08% 15,38% 2009 9 11,11% 33,33% 0,00% 0,00% 11,11% 11,11% 2008 5 0,00% 40,00% 0,00% 0,00% 20,00% 20,00% Outros anos 4 25,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 50,00% Tabela 1: Categorias de dificuldades informadas pelos produtores como as principais limitantes à produção de canola encontradas nos últimos anos. A Tabela 1 indica um crescimento anual no número de produtores que participaram da pesquisa. Uma hipótese para essa evolução é a participação nos eventos técnicos, onde produtores iniciantes no cultivo de canola estão buscando soluções tecnológicas aos problemas cujas respostas produtores com mais anos de experiência no cultivo de canola já encontraram. Os problemas enfrentados apresentam uma variação bastante expressiva entre os anos, com uma predominância maior para doenças e geadas. Isso indica que não há uma dificuldade predominante enfrentada pelos produtores, com problemas distintos entre áreas de cultivo e entre anos. Nenhum produtor relatou ter enfrentado problemas com comercialização. Esta informação é uma destacada exceção em relação aos demais cultivos de inverno. Também cabe destacar que o número de produtores que utilizaram financiamento para o plantio da canola cresceu de 20% em 2008 para 73% em 2013. Já o seguro agrícola foi requisitado por 18,75% em 2011 e por 35% em 2012 e por 31% em 2013. O cultivo com financiamento bancário e seguro agrícola tem sido

recomendado, incisiva e reiteradamente, desde 2008, nos treinamentos e dias de campo, para evitar prejuízos financeiros aos produtores em caso de eventos climáticos adversos. Os eventos também procuram informar ao produtor que o elevado percentual dos fertilizantes aplicados em canola, estará disponível para o cultivo subsequente, constituindo em lucro dada a possibilidade de uso da adubação residual. A média de produtividade obtida pelos produtores entrevistados foi de 23 sacos por hectare (aproximadamente 1.380 kg/ha). b) Todos os respondentes. Buscando identificar a percepção de produtores de canola bem como de potenciais produtores sobre as dificuldades que a cultura enfrenta, a análise de conteúdo das respostas indicou que as três principais dificuldades são respectivamente: problemas nas variedades atuais, pouco conhecimento/informação sobre a cultura e problemas na colheita. É preciso destacar que as duas categorias com maior número de citações (variedades e pouco conhecimento) ficaram empatadas em primeiro lugar. Contudo, esse empate não ocorre se separadas as categorias de respondentes, pois aqueles agricultores que nunca cultivaram canola consideram que o pouco conhecimento/informação sobre a cultura é a principal razão (4 vezes mais citações do que variedades ), enquanto que os produtores mais experientes com a cultura consideram que variedades são o principal entrave (com 2,5 vezes mais citações). Ainda analisando de forma separada as categorias, para produtores de canola, existe pouca tecnologia / pesquisa para a cultura, e clima também é um fator importante. Já os produtores que nunca cultivaram a canoa apontaram colheita como o principal entrave e vários responderam não saber a razão. Os respondentes também foram inquiridos sobre o porquê de não haver mais produtores de canola. As três principais razões foram a falta de divulgação da cultura, risco da cultura e fama/histórico ruim. Para aqueles produtores que nunca cultivaram canola, as categorias falta de divulgação, cultura nova e fama/histórico ruim foram as principais. Já os agricultores que plantam ou já plantaram canola identificaram falta de divulgação, risco da cultura e fama/histórico ruim. As respostas evidenciaram que a cultura ainda é percebida como um cultivo de alto risco. Importantes vantagens da canola como a garantia de compra da produção e o suporte técnico disponibilizado pelas empresas de fomento, ainda não têm sido suficientes para acelerar a expansão do cultivo de canola no Brasil. Esta situação ocorreu no início da expansão do cultivo no Canadá e foi superada com investimentos adequados em pesquisa e organização dos produtores, principalmente através do Canola Council of Canadá. Estes levaram a canola a ser o mais importante cultivo de grãos do Canadá, por sua estabilidade de produção e geração de lucros mais consistente, ano após ano. CONCLUSÕES A análise dos dados indica que a canola ainda é considerada uma cultura nova e arriscada pelos produtores rurais, embora o cultivo da colza/canola no Brasil venha ocorrendo há 40 anos. As percepções sobre a canola e as dificuldades dos produtores que já cultivaram canola são distintas daqueles produtores que nunca o fizeram. Possivelmente os que já produziram canola participaram de palestras de treinamento ministrados por especialistas da Embrapa Trigo e técnicos das empresas de fomento à produção de canola, tendo em vista que raramente o produtor tem acesso a sementes de canola desacompanhadas de assistência-técnica e indicações de cultivo. Levantamentos sobre adoção e impacto destas tecnologias no RS e PR indicaram quase total aderência dos produtores a estas indicações. Com base nessas informações sugere-se que as atividades de fomento à produção de canola, sejam elas públicas ou privadas, realizem mais ações de

transferência de tecnologia e não apenas de difusão de tecnologia. Essas atividades se diferenciam em nível de profundidade e amplitude: a difusão de tecnologia visa a atingir o maior número de pessoas possível, mostrar que certas dificuldades já foram superadas e quais as vantagens de se adotar a tecnologia. Já a transferência de tecnologia visa um maior aprofundamento do conhecimento, com aquisição (reconhecer), assimilação (aprender) e uso (utilizar). Quanto às vantagens percebidas pelos produtores, destaca-se que as questões econômicas, geralmente colocadas como principal fator atrativo para adoção de uma nova tecnologia, ficaram em segundo plano frente à possibilidade de um melhor sistema produtivo/rotação de culturas para a propriedade. Sugere-se que trabalhos futuros visando a ampliação da área da cultura sejam focadas em mostrar que o impacto dos riscos identificados no passado têm sido minimizados com o aperfeiçoamento de práticas de manejo e novos híbridos tornando o cultivo de canola uma alternativa cada vez mais interessante para a rotação de cultura da propriedade. Recomenda-se para estudos futuros que a mesma metodologia seja aplicada novamente a fim de permitir uma análise longitudinal (histórica), demonstrando assim se houve ou não variação nas respostas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DE MORI, C., TOMM, G. O., FERREIRA, P. E. P. Aspectos econômicos e conjunturais da cultura da canola no mundo e no Brasil. Documento Online 149. Embrapa Trigo. 2014. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do149.htm >. Acesso em 25 junho 2014. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO CONAB. Acompanhamento da Safra Brasileira de Grãos: safra 2012/2013. 2013 Disponível em < http://www.conab.gov.br/olalacms/uploads/arquivos/13_07_09_09_04_53_bol etim_graos_junho 2013.pdf >. Acesso em 26 jun 2014. TOMM, G. O. Área semeada de canola no Brasil por estado no período 2009-a 2013, conforme dados das principais empresas de fomento da cultura. 2013. Disponível em < http://www.cnpt.embrapa.br/pesquisa/economia/2014_04_canolanumeros.pd f >. Acesso em 25 jun 2014. Passioura, J. 2004. Increasing crop productivity when water is scarce from breeding to field management. 4 th International Crop Science Congress- Handbook and Abstracts. Page 51. Brisbane, Australia. Disponível em < http://www.7iwc.com.ar/instru.php >. Acesso em 30 julho 2014