SOBRE A POLUIÇÃO SONORA



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Transcrição:

CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA AUDIOLOGIA CLÍNICA SOBRE A POLUIÇÃO SONORA CRISTINA DE MORAES ALMEIDA

RIO DE JANEIRO 1999

CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA AUDIOLOGIA CLÍNICA SOBRE A POLUIÇÃO SONORA Monografia de conclusão do curso de especialização em Audiologia Clínica Orientadora: Mirian Goldenberg CRISTINA DE MORAES ALMEIDA RIO DE JANEIRO

1999

RESUMO A poluição sonora é um dos problemas ambientais graves nos grandes centros urbanos. É uma ameaça constante ao homem. A nocividade do ruído está diretamente relacionada ao seu espectro de freqüências, à intensidade da pressão sonora, à direção da exposição diária, bem como à suscetibilidade individual. Embora exista legislação específica que regula os limites de emissão de ruídos e estabelece medidas de proteção para a coletividade dos efeitos danosos da poluição sonora, o que se constata é que os níveis de ruído, existentes nas mais diversas atividades cotidianas, estão acima de todos os valores determinados pelas legislações, tanto a nível nacional como internacional. A conscientização do problema por parte da população, aliada a outras medidas de prevenção, seria uma valiosa contribuição para a redução do ruído urbano.

AGRADECIMENTOS 1 Às prof as Dras. Lêda C. P. Russo e Maria Cecília Bevilacqua e ao Eng o Fernando Henrique Aidar pela gentileza e valiosa colaboração na pesquisa bibliográfica. 2 À Mirian Goldenberg pelo incentivo e orientação na elaboração desta monografia. 3 À Secretaria do Meio Ambiente, pelo fornecimento de dados. 4 Às Dras Edemia Alvarenga, Dulce D. Estrada e Rosilene Ruas pelo trabalho de revisão que contribuiu para melhorar o presente estudo. 5 À Lúcia Beatriz da Silva Alves pela atenção e carinho na revisão ortográfica. 6 Ao Colégio Rio de Janeiro por ter cedido suas instalações e equipamentos. 7 A José Luís Rodrigues pelo trabalho de digitação.

Dedico esta monografia a Jayme Luiz Szwarcfiter, meu companheiro, por ter sido incansável, atendendo sempre minhas solicitações com muito carinho e estímulo.

A preferência pelo ruído encontra-se na razão inversa da inteligência do homem. Schopenhauer

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1 2 DISCUSSÃO TEÓRICA 3 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 11 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 12 5 ANEXOS 16

1. INTRODUÇÃO Nos últimos 10 anos, o crescimento mundial da consciência sobre os problemas ambientais, os movimentos ecológicos e o aumento de denúncias de problemas causados pelo meio ambiente na saúde da população em geral, colocaram em evidência a relação entre a saúde das pessoas e o meio ambiente. Estudos da O. M. S. sugerem que em torno de 15 milhões de pessoas no Brasil tenham algum problema de audição e que, depois da poluição da água e do ar, nada agride mais os sentidos humanos que a poluição sonora. A poluição sonora, seja ambiental ou a ocupacional, é uma forma de poluição bastante disseminada nas sociedades industrializadas e é causa de perdas auditivas em adultos e crianças. Acarreta também comprometimentos não auditivos que afetam a saúde física geral e emocional dos indivíduos. (SANTOS, l994). É impressionante os níveis de ruído a que as pessoas estão expostas nos grandes centros urbanos: nas ruas, no trabalho, nas escolas, no lazer e inclusive em suas residências. Suas intensidades podem alcançar níveis próximos do limiar recomendável ou até mesmo superiores a este (SIH, 1995). A mesma autora afirma que nos países industrializados a poluição sonora impulsiona a legislação que regula operações que provocam ruído industrial ou ambiental. Já SANTOS (1994) observa que, apesar do avanço dos conhecimentos, da maior difusão de sua nocividade, de ser o ruído o mais

comum agente nos ambientes de trabalho e com forte repercussão no meio ambiente das grandes cidades, no Brasil os investimentos no seu controle ainda são escassos e localizados. Com este trabalho pretendo enfatizar os riscos provenientes da exposição crônica ao ruído excessivo no meio ambiente habitual de vida. Porque, como bem destaca JORGE JR. (1995) em sua tese de doutorado, a perda auditiva induzida por ruído (PAIR) industrial vem sendo bastante estudada, podendo-se encontrar diversas publicações sobre o assunto, uma vez que este problema está de certa forma relacionado com o interesse econômico das empresas. Embora especialistas em medicina do trabalho como COSTA &. KITAMURA (1995) não deixam de ressaltar o serviço militar, o lazer e o esporte como fatores importantes na causalidade das perdas auditivas. Faz-se necessário que a população seja esclarecida quanto às alterações auditivas irreversíveis que a exposição excessiva ao ruído pode causar. Programas de conscientização e prevenção em relação ao prejuízo para a saúde devem ser implementados nas esferas médica, fonoaudiológica e governamental.

2. DISCUSSÃO TEÓRICA Para tornar mais clara a compreensão deste estado é preciso definir o que é a perda auditiva e quais são as suas implicações. COSTA (1995) define a perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR) como uma patologia progressiva, diretamente relacionada com a exposição ao ruído e de caráter permanente. Aponta como único tratamento eficaz desta doença: a prevenção. A extensão e o grau do dano mantêm relação direta com a intensidade da pressão sonora, a duração do tempo, a freqüência e a suscetibilidade individual. (SANTOS, 1994). Segundo SPOENDLIN (1976), o ruído atinge diferentemente as estruturas do órgão de corti, que é a estrutura receptora auditiva. Aqueles que são intensos de impacto tendem a produzir lesões mecânicas, como conseqüente processo degenerativo. Os ruídos contínuos e prolongados originam alterações mais para exaustão metabólica das células sensoriais e seus cílios. KITAMURA (1995) cita como conseqüência destas lesões diversos efeitos auditivos. Entre os mais conhecidos e estudados encontram-se: a perda auditiva, os prejuízos na comunicação oral, o recrutamento, os zumbidos e a otalgia que irei explicar adiante. As perdas auditivas podem ser classificadas em três tipos: trauma acústico, perda auditiva temporária e perda auditiva permanente. O trauma acústico é a perda de audição de instalação súbita, provocada por ruído

repentino e de grande intensidade, como uma explosão ou uma detonação. Já a perda auditiva temporária (TTS - Temporary Threshold Shift) ocorre após a exposição a ruído intenso, por um curto período de tempo. Hoje em dia acreditase que um ruído capaz de provocar uma perda temporária será capaz de provocar uma perda permanente após longa exposição. E a perda auditiva permanente (PTS - Permanent Threshold Shift) é aquela que se instala lenta e progressivamente devido à exposição ao ruído excessivo e que, no decorrer dos anos, leva a uma perda irreversível. A configuração audiométrica exibe um traçado bem característico, com um entalhe inicial em torno de 3000, 4000 ou 6000 Hz. Com a exposição continuada tende a se aprofundar e a se alargar na direção de outras freqüências. Na maioria das vezes a perda é bilateral e mais ou menos simétrica. Quanto aos aspectos da comunicação oral, os portadores de perda auditiva induzida pelo ruído podem ter reduzida a capacidade de distinguir detalhes dos sons de fala em condições ambientais desfavoráveis. E também, em situações do dia-a-dia, têm dificuldades para discriminar a fala, para manter uma conversação em grupo e para entender televisão, rádio, etc, em meio ao ruído doméstico, trazendo como conseqüência os handicaps. O handicap é definido como uma desvantagem para o indivíduo resultante de um prejuízo ou inabilidade, que limita ou impede o cumprimento de um papel considerado como esperado (dependendo de fatores como sexo, idade e aspectos culturais e sociais) para aquele indivíduo. RUSSO (1994) chama a atenção sobre as conseqüências da deficiência auditiva na vida familiar e profissional das

pessoas, pois a habilidade de discriminar auditivamente o mundo sonoro tem importância para o bem-estar emocional e social de qualquer cidadão. O recrutamento é a sensação de incômodo para sons de alta intensidade. No recrutamento, a percepção de altura do som aumenta de modo anormalmente rápido, à medida que a intensidade aumenta. Os zumbidos (acúfenos ou tinnitus) constituem queixa constante nos pacientes com lesões auditivas induzidas pelo ruído. Podem prejudicar a indução do sono e por vezes chegam a níveis insuportáveis. Ainda não se conhece qual seria seu substrato anatomopatológico. A otalgia seria decorrente de sons excessivamente intensos, acima do limiar de desconforto, às vezes acompanhados de distúrbios neurovegetativos e eventualmente até mesmo de rupturas timpânicas. Como efeitos extra-auditivos, KITAMURA (1995) destaca as reações generalizadas ao estresse, reações físicas tais como: alterações da função intestinal e cardiovascular, alterações mentais e emocionais, que podem se manifestar por irritabilidade, ansiedade, excitabilidade, insônia, etc e problemas específicos. Em seguida abordarei diversas situações de risco provenientes da exposição ao ruído em que as pessoas estão submetidas no seu cotidiano (anexo 1). Com o progresso técnico-científico acompanhou-se um aumento paulatino no ruído laboral e ambiental. A difusão de achados científicos e uma crescente tomada de consciência ambiental têm contribuído para o desenvolvimento de

uma atitude crítica da população em muitos países, que tem conduzido a uma redução do problema do ruído. (BARCELÓ, 1989). O referido autor diz que o ruído ambiental, principalmente o do tráfego, é um fator importante que deveria ser objeto de medidas públicas de controle. Porque é uma das formas mais difundidas de contaminação sonora. Os automóveis, ônibus e caminhões que circulam nos grandes centros urbanos produzem ruídos entre 85 e 95 db (A). Entretanto, os aviões são os responsáveis pelos mais elevados níveis de pressão sonora. Situados entre 130 e 140 db (A). (ZANER, 1991, citado por RUSSO, 1997). Na cidade de São Paulo foi constatado que, na última década, a intensidade do ruído nas esquinas mais barulhentas aumentou em 5 dbnps, numa faixa de 85 para 90 dbnps. (REVISTA VEJA, 1991). Já DURÁN et al (1988) realizaram um estudo em diferentes áreas urbanas de Havana e constataram que o ruído afeta diferentemente em grau de magnitude. As zonas mais ruidosas foram a comercial, seguida da industrial. Logo a seguir a região próxima do aeroporto e finalmente as zonas residenciais. E que os valores limites sanitários propostos em Cuba ultrapassam em maior grau nas zonas industrial e comercial. Outra situação de risco é encontrada nos hospitais, BARCELÓ et al (1986) pesquisaram os níveis de audibilidade de quatro hospitais em Havana e constataram que excediam os valores permitidos por lei. Assinalam que o ruído hospitalar estava entre as cinco primeiras causas de preocupação dos pacientes internados e que seria um fator desfavorável na convalescença dos enfermos. Estudos feitos por BESS et al (1979) em UTIs neonatais demonstram que os

níveis de ruído contínuo e impulsivo dentro das incubadoras podem alcançar entre 130-140 db e que tais intensidades poderiam danificar a cócleca de um recém-nascido. LICHTIG (1991) acrescenta a isso o comportamento ruidoso dos profissionais que atuam no interior destas UTIs. Isto poderia ser reduzido se fosse ministrado um treinamento ao grupo de trabalho para a diminuição do ruído desnecessário. No âmbito das escolas, as primeiras conseqüências do problema do ruído são a interferência na comunicação oral, na atenção e na aprendizagem, seguidas de fatigabilidade e distúrbios vegetativos. (BARCELÓ, 1989). MILLS (1975) recomenda que as salas de aula devam ter um nível de ruído entre 30-40 db A, situação que é rara em nosso país. Já em 1963, MONTEIRO e PENNA apresentaram os resultados de suas medições em várias escolas do Rio de Janeiro. Nas salas de aula, foram detectados níveis médios de ruído de 70-72 db (escala A) com janelas abertas e de 60 db com as mesmas fechadas. Levando-se em conta que hoje em dia o ruído urbano é bem maior que há 40 anos, mais atenção deveria ser dada nos projetos de construção de escolas, levando-se em conta a redução do ruído ambiental. RUSSO (1995) recomenda para tanto, locais silenciosos e arborizados, com tratamento acústico nas janelas e que sejam empregados materiais absorventes e densos no revestimento das paredes internas, visando absorverem os ruídos gerados pelos alunos. E a utilização do concreto para atenuar os níveis de ruído externo dos corredores e, do pátio, onde são praticadas atividades esportivas.

Foi principalmente a partir da década de sessenta que autores estrangeiros passaram a se preocupar com traumas acústicos causados por atividades de lazer. SIH (1995) comenta que atualmente inúmeros recursos para a diversão e entretenimento são utilizados por crianças e adolescentes que produzem níveis sonoros muito altos. O ruído dos fogos de artifícios e os brinquedos de armas estariam entre os mais perigosos em termos de provocar PAIR e que são muito comuns durante as festividades populares. CELANI et al (1991) analisaram acusticamente brinquedos e encontraram intensidades que variavam de 82 a 130 db A, e alertam que o número de horas por dia que as crianças ficam com seus brinquedos pode causar hiperestimulação dos seus ouvidos com níveis sonoros que ultrapassam os permitidos para um trabalhador adulto (85 db A). Entre outras atividades de lazer muito utilizadas por jovens estão os rádiogravadores portáteis com fones de ouvido conhecidos como walkman. Estes equipamentos podem alcançar intensidades sonoras que variam de 60 a 120 db. (SIH, 1995). Seus usuários costumam elevar a intensidade para encobrir sons externos como conversação, ruídos de trânsito ou outros ruídos ambientais. (KURAS, 1974). Em uma pesquisa feita por CATALANO (1985) com um grupo de jovens usuários de walkman em New York, foi constatado que esta população corria sério risco de desenvolver PAIR. O autor utilizou como critérios para a análise a intensidade sonora e o tempo de uso diário. JORGE JR. (1995) levanta a questão quanto ao risco de lesão auditiva dos jovens ao freqüentarem discotecas ou usarem aparelhos de amplificação sonora com fones de ouvido. E questiona também se os limiares auditivos da juventude

estariam se modificando face a crescente poluição sonora a que esta está exposta desde a infância. Entende-se por 1 presbiacusia, o processo da perda auditiva em função da idade por uma deterioração progressiva da audição. Sendo o ruído ainda um dos fatores predisponentes da presbiacusia, estaria a população das metrópoles propensa ao desencadeamento desta patologia mais precocemente? ROSEN et al (1962) realizaram um estudo da acuidade auditiva de tribos sudanesas não expostas a ruídos ambientais e verificaram ausência de curvas audiométricas do tipo presbiacúsicas que, de acordo com os autores, seria afecção tipicamente ocidental, reconhecidamente exposta a ruídos cumulativos. WILHEIM (1998) acredita que, de 1950 a 1998, todos os indicadores sociais no Brasil melhoraram. Apenas um piorou: o ruído urbano. Dados fornecidos pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Rio de Janeiro (1998), apontam os bares, principalmente os da zona oeste, como os mais barulhentos da cidade. Foram registrados 102,7 db, quando o máximo permitido por lei são 60 db. Em seguida vêm as igrejas evangélicas com 95,5 db a 100,6 db, mostram abusos também nas academias de ginástica que estão com 19,5 db a 24,1 db acima do limite permitido. Em março de 1997 foram abertos 2700 processos por infrações ambientais. A poluição sonora representa 67% das queixas (anexos 2, 3, 4). Embora as grandes cidades do mundo tenham leis contra o barulho, estas são, em geral, ineficientes. Em New York, a polícia emite aos transgressores milhares de advertências e intimações por ano e contudo ninguém pode negar

que a cidade é barulhenta. No Brasil não é diferente. São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife são alvos freqüentes de matérias jornalísticas alertando para o ruído. (COSTA, 1997). Muitas pessoas chegam a associar o barulho à modernidade, ao progresso e à diversão e apontam o ruído como uma necessidade (MARQUES, 1997). Nosso ouvido não está preparado para esta nova situação, sofrendo danos pela exposição a estes ruídos. É preciso que profissionais compromissados e preocupados com a saúde da população façam um trabalho de conscientização e prevenção. PONTES (1997) acredita que não basta apenas dar alertas, é preciso mostrar o caminho e, se necessário, conduzir as pessoas pelas mãos para que estes danos sejam evitados. RUSSO (1993) propõe que o controle do ruído não ocupacional depende de todos nós nos engajarmos numa campanha de redução do controle de volume dos equipamentos sonoros coletivos ou individuais, a fim de que o ouvido possa ser respeitado em sua excelência, além de estarmos, assim, contribuindo para melhorar nossa própria qualidade de vida, tão ameaçada pelos vários tipos de poluição ambiental e sonora. 1 Para os leitores interessados em presbiacusia, ver GILAD, C. & GLORIG, A. - Presbyacusis: The aging ear. Part I J. Am Aud. Soc., 4(5): 195-206, 1979

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo foi feito através de um levantamento teórico de autores que discutiram o tema da poluição sonora com o objetivo de enfatizar os riscos provenientes da exposição crônica ao ruído excessivo no meio ambiente habitual de vida, visto que nas grandes cidades as pessoas estão expostas a ruídos que podem alcançar níveis próximos do limiar recomendável ou até mesmo superiores a este, quer seja nas ruas, no trabalho, nas atividades domésticas, recreativas e de lazer. A motivação para a pesquisa do tema foi em parte determinada pela observação, na prática diária, de um grande número de pacientes que procuram o serviço de audiologia com a queixa de diminuição da audição, sem antecedentes clínicos e com os limiares auditivos alterados. E desconhecem o nexo causal entre a perda auditiva e a exposição ao ruído. Se tivessem sido alertados anteriormente quanto aos seus riscos, teriam a consciência do problema e poderiam evitá-lo. É de grande importância que as pessoas sejam esclarecidas quanto às alterações auditivas irreversíveis que a exposição excessiva ao ruído pode causar. Programas de conscientização e prevenção em relação ao prejuízo para a saúde devem ser implementados por fonoaudiólogos e outros profissionais, bem como a aplicação efetiva da legislação, visando a melhora da qualidade de vida da população.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BARCELÓ, C.P.; GONZÁLEZ, T.L., DURÁN, O.I.; MOLINA, E. - El ruído de los hospitales y su imapacto en los pacientes ingresados. Rev. Cubana Hig. Epidemiol., 24 (3): 305-16, 1986. 2. BARCELÓ, C.P. - Ruído en la higiene comunal, una revision bibliográfica. Rev. Cubana Hig. Epidemiol., 2 (3): 320-30. 1989. 3. BESS, F.H.; FINLAYSON, P.B.; CHAPMAN, J.J. - Further observation on noise level in infants incubators. Pediatries, 63 (1): 100, 1979. 4. CATALANO, P J & LEVIN, S.M. - Noise - induced Hearing loss and portable radios with headphones. Int. J. Pediatric. Otolar. 9: 407, 1985. 5. DA COSTA, E.A & SATOSHI, K. - Órgãos dos sentidos: audição. in MENDES, R. (org.), Patologia do trabalho, Rio de Janeiro, Atheneu, 1996. p. 365-87. 6. DA COSTA, E.A.; IBANEZ R.N.; NUDELMANN, A.A.; SELIEMAN, J. - PAIR: auditiva induzida pelo ruído perda. Porto Alegre, Bagagem Comunicação, 1997. 297 p.

7. DURÁN, O.I.; MÖRSTEDT, R.; SCHULZE, B. - El ruído como problema higiênico en microdistritos de la Habana, parte II, proyeccion en la comunidad. Rev. Cubana Hig. Epidemiol, 26 (4): 24-38, 1998. 8. LICHTIG, I. & MAKI, K. - Os efeitos nocivos de exposição prolongada a ruídos gerados em umidades de terapia intensiva sobre neonatos de baixo peso. Com. científicas em Psicologia, 1, 1991. 9. JORGE JR., J.J. & ALEGRE, A.C.M. - A audição dos jovens e sua relação com hábitos de exposição à música eletronicamente amplificada. Introdução ao tema e uma revisão bibliográfica. Rev. Bras. de otorrinolaring., 1 (1): 7-12, 1995. 10. MILLS, J.H. - Noise and children: A review of literature. J. Acoust Soc. Amer., 58: 767, 1975. 11. MONTEIRO, A. & PENNA, M. - Determinação de nível de ruído em diversos locais do Rio de Janeiro: Contribuição ao estudo da surdez profissional: O hospital, 64: 391-428, 1963. 12. MARQUES, S.R. & RUSSO, I.C.P. - A poluição sonora: e a qualidade de vida nas grandes metrópoles. Rev. da Soc. Bras. de Fonoaud., 1 (1): 3-5, 1997.

13. PONTES, P.A.L. - Prefácio 2 in DA COSTA, E.A. et al. (org.), PAIR: perda auditiva induzida pelo ruído. Porto Alegre, Bagagem comunicação, 1997. p. 17. 14. Rev. VEJA - Ruído ensurdecedor, 24 (33), 1991. 15. RUSSO, I.C.P. & SANTOS, T.M.M. - Audiologia infantil, São Paulo, Cortez, 1994, 231 p. 16. RUSSO, I.C.P. - Acústica e psicoacústica aplicados à fonoaudiologia. São Paulo, Lovise, 1993. 17. RUSSO, I.C.P. - A importância da acústica e da psicoacústica para a audiologia: a influência da acústica das salas de aula na percepção da fala. Rev. de Acústica e vibrações, 16: 18-22, 1995. 18. SANTOS, U.P. - Ruído: riscos e prevenção. São Paulo, Hucitec, 1996. 157 p. 19. SIH, T. - A poluição sonora e a criança. in SIH, T. (org.). Manual de otorrinolaringologia pediátrica da Iapo, São Paulo, Iapo, 1997. p. 33-39. 20. SPOENDLIN, H. - Innervation densities of cochlea. Acta otolaringol, 73: 235-48, 1972.

21. WILHEIM, J. - O caminho de Istambul: memórias de uma conferência da ONU. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1998.