Enquadramento e Composição Prof. Dr. Isaac A. Camargo EGR/CCE/UFSC

Documentos relacionados
Planos e Ângulos Prof. Dr. Isaac A. Camargo

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

IMAGEM FOTOGRÁFICA E SUAS CARACTERÍSTICAS

Fotografia de Casamento. enxergando além do óbvio

Composição fotográfica é a seleção e os arranjos agradáveis dos assuntos dentro da área a ser fotografada.

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE ARTES VISUAIS. FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO UL


9. Enquadramentos: planos e ângulos

CURSO BÁSICO DE FOTOGRAFIA EXPANDIDA

Linguagem fotográfica

Fotografando com um SRL Digital

PONTOS DE VISTA E MOVIMENTOS

PALESTRA - FOTOGRAFIA ARQUITETURA E DECORAÇÃO

Olhar Fotográfico - Os princípios de design para a composição fotográfica.

Oficina de Fotografia. Felipe Varanda

Linguagem fotográfica

Objetiva se Normal, Grande angular ou Tele-objetiva

Introdução: Entendendo a distância focal

Disciplina: Aerofotogrametria e Tratamento de imagem

Linguagem Cinematográfica. Myrella França

PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM FOTOGRAFIA: PRÁXIS E DISCURSO FOTOGRÁFICO 4

Protagonismo investigativo: (re) leituras socioambientais por meio de lentes fotográficas em seus múltiplos sentidos.

Computação Gráfica. Prof. MSc. André Yoshimi Kusumoto

Câmeras Fotogramétricas. Fotogrametria e Fotointerpretação Prof. Dr. Raoni W. D. Bosquilia

Dicas para fotografar melhor

Aula 06 Princípios do Design

Dicas para um bom registro fotográfico

Estenotipia e especularidade: Revelações e apagamentos na construção de sentido na imagem fotográfica.

Programa de Formação Básica Ano letivo Cursos com inscrições abertas

REFLEXÃO DA LUZ. i = r. PRIMEIRA LEI DA REFLEXÃO RI, N e RR são coplanares (pertencem ao mesmo plano). SEGUNDA LEI DA REFLEXÃO

-Percepção: função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais;

Palestra de Vitrinismo. Vitrinismo: técnicas de exposição para valorizar seus produtos e sua vitrine

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Definição. OBJETIVA é um conjunto de lentes que leva a luz ao material sensível ou sensor da câmera. São classificadas pela:

Fotografia. Curso de. Volume I. João Saidler

Computação Gráfica. Prof. MSc. André Yoshimi Kusumoto

Fotogrametria. Laboratório de Topografia e Cartografia - CTUFES

Opto-Mechanical Design Group (Iris e pupilas)

Cinco Dicas Fáceis de Composição

Dança Com Arte 1. Rodrigo Vaz 2 Lúcio Érico 3 Tatiana Duarte 4 Débora Bravo 5 Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG

Projeto de Arquitetura e Urbanismo 8_turma A Prof. Luciane Tasca OS SENTIDOS E A ESCALA. Essência do pressuposto de Gehl. Uma problemática urbana

LINGUAGEM FOTOGRÁFICA Imagens e sua funções

Copiright de todos artigos, textos, desenhos e lições. A reprodução parcial ou total desta aula só é permitida através de autorização por escrito de

Pessoas que apreciam registrar seus momentos em fotografias utilizam, na maioria das vezes sem saber, a relevante ciência matemática.

Essência do pressuposto de Gehl OS SENTIDOS E A ESCALA. Uma problemática urbana. Uma problemática urbana. Entendendo a escala humana

Tarefa 03 Professor Bernadelli

Material de apoio. Por Chris Dornellas.

Modalidade: Outras formas de formação não inseridas no CNQ. Objectivos

Fotografia Digital. Prof.: Edvaldo Junior

Plano de aulas. Curso Referencial UM e DOIS

História e Sistema de Arte

1 Representação Gráfica Aula 09/10 Espaço e Perspectiva - Prof. Luciano ESPAÇO E DIMENSÃO

Dominando o ato de desenhar

Aula de março A câmera que conta histórias

Fís. Monitor: João Carlos

O Impressionismo como base das transformações do Modernismo.

Princípios Teóricos da Estereoscopia

APOSTILA GEOMETRIA DESCRITIVA

VISUALIZAÇÃO. Representação (bidimensional) de Objetos (tridimensionais)

Desenvolvimento das habilidades docentes no ensino da fotografia III

O que veremos hoje: Definição: Tipografia e Tipologia Funções Partes do tipo Variações estruturais Categorias Como combinar os tipos

Iluminação Cenográfica Capítulo 1 - Noções básicas

A perspectiva em urban sketching

desta escala em uma fotografia revelada. A redução na ampliação foi de 52%, ou seja, as medidas lineares nas fotografias corresponderam

VISÃO anatomia do olho. Retina: região no fundo do olho onde os estímulos visuais são captados e transmitidos ao

FOTOGRAMETRIA. Engenharia de Faixa de Dutos Terrestres. Implantação de Faixa de Dutos

inspire COM ÓTIMAS FOTOS

Dicas rápidas para fotografar retratos melhores

Professor Marco Antonio

HISTÓRIA DA ARTE. Professor Isaac Antonio Camargo

FOCUS ESCOLA DE FOTOGRAFIA

Tipos de forças fundamentais na Natureza

19/Dez/2012 Aula Sistemas ópticos e formação de imagens 23.1 Combinação de lentes 23.2 Correcção ocular 23.3 Microscópio 23.

Elementos de um mapa. Professora de Geografia. Thamires

Figura Nº 66. Figura Nº 68. Figura Nº 67

No mercado atual, existem centenas de opções de câmeras digitais, desde as mais simples, as mais complexas e sofisticadas com preços altíssimos.

Fontes utilizadas nessa palestra: - Arquivo pessoal (Cláudia Couto) e pesquisa Internet

ESCOLA PÚBLICA DE ASTROFOTOGRAFIA AULA 02 DADOS E COMPLEMENTOS ESSENCIAIS

Estratégias do olhar fotográfico: teoria e prática da linguagem visual

FÍSICA:TERMODINÂMICA, ONDAS E ÓTICA

Projeto Gráfico e Diagramação de materiais impressos

Espelhos esféricos. Calota esférica

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE ARTES VISUAIS. FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO UL

Desenho Técnico. Projeções Ortogonais 02. Prof. João Paulo Barbosa

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE ARTES VISUAIS. FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO UL

Outro aspecto que vale destacar é o modo como as imagens são feitas. Modos de fazer, determinam categorias específicas, independente de se parecerem

O QUE HÁ EM COMUM NESTES DESENHOS?

Geometria Descritiva Básica (Versão preliminar)

OBJETIVOS CONTEÚDOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

PROGRAMA COMPLETO PROGRAMA COMPLETO DE ENSINO DA FOTOGRAFIA PROFISSIONAL

O PENSAMENTO FOTOGRÁFICO II

Gestalt do Objeto Sistema de Leitura Visual da Forma. Teoria Geral da Gestalt

Direitos Autorais. Posição da câmera, retrato ou paisagem? Essa é uma grande dúvida para a maioria daqueles

Transcrição:

Enquadramento e Composição Prof. Dr. Isaac A. Camargo EGR/CCE/UFSC

Fotografia: enquadramento e composição

Convencionalmente, a idéia de composição tem sido orientada por regras genéricas das quais, as mais conhecidas são as dos terços e dos pontos ouro

Embora tais regras sejam úteis para compor uma imagem, identificando (supostamente) pontos de interesse visual, não são suficientes para nos dar uma noção do que é, de fato, configurar uma imagem para produzir sentido

A regra dos terços ou da proporção áurea consiste em dividir a superfície em terços horizontais e verticais, marcando pontos, que seriam de interesse, no cruzamento destas linhas. Se localizarmos elementos ou detalhes das cenas que tomamos nestes pontos ou nestas áreas, a chance de termos uma composição melhor organizada é bem grande, logo, os sistemas funcionam...

O sistema de terços pode dar certo mas não é suficiente para atender às necessidades ou interesses pessoais. Outra possibilidade estratégica é organizar o espaço segundo distribuições simétricas, horizontais e verticais, também é eficiente, embora pouco criativa

Julio Carmo

O que se sabe é que quebrar as convenções de alinhamento horizontal/vertical e da simetria, produz um efeito mais dinâmico e estimula mais o olhar, neste caso, as diagonais são mais atraentes e eficientes para dar vida a uma cena

Julio Carmo, http://www.fotozine.com.br/2009/01/julioc-e-composio-aplicada.html

Julio Carmo

Julio Carmo

Júlio Carmo

Julio Carmo.

Mas, pensar a composição no contexto da fotografia, implica em refletir sobre o modo como tomamos a imagem por meio do aparelho fotográfico e isto nos obriga a pensar no enquadramento da imagem, portanto, vamos partir deste ponto

A composição em fotografia se relaciona diretamente à idéia de enquadramento, ou seja, a escolha que fazemos a partir do meio ambiente para a tomada da imagem. Esta escolha já define, a priori, o que teremos em termos de organização visual

O visor ou o monitor da câmera é o lugar através do qual se observa o entorno e se organiza o visível para dispor os elementos que constituirão a imagem. Nele avaliamos a relação entre tais elementos e a área na qual estão dispostos, avaliando uma ou outra imagem em função do efeito pretendido

Compor uma fotografia, em última instância, é organizar os elementos visuais disponíveis diante da câmera como formas, cores, linhas e espaço no ambiente tridimensional, projetando-os e registrando-os numa área ou superfície bidimensional, na qual a imagem será visualizada, seja um suporte físico ou projeção virtual

Tudo aquilo que aparece no visor ou no monitor da câmera poderá ser registrado e estará visível na fotografia, logo, tudo deve ser organizado de modo a configurar um conjunto significante em função dos sentidos que queremos dar à imagem segundo os destinos que elas terão

Numa composição, de modo geral, há uma certa hierarquia entre os elementos que a compõe. Numa cena há elementos que possuem maior destaque em relação a outros como também em relação ao fundo ou contexto mediante a cor, dimensão, alinhamento, localização etc.

O aspecto visual da imagem fotográfica é importante para a sua compreensão: uma imagem caótica é menos eficiente para informar do que uma imagem bem planejada, logo, organizar uma imagem é facilitar sua apreensão, seu entendimento e sua significação

Neste sentido é necessário estabelecer prioridades em relação aos elementos da imagem, valorizando e destacando o que interessa à significação e obliterar ou reduzir o que não interessa, para tanto, podemos começar a discorrer sobre a noção de Plano

Plano nada mais é do que a variação das diversas possibilidades de tomada de áreas em relação à variação da distância de enquadramento de uma cena, mais próximas ou mais distantes da câmera

Portanto Plano é a porção recortada da cena que está diante da câmera e que será registrada por ela, neste caso, podemos entender que há diferentes possibilidades de aproximação e enquadramento

Uma paisagem, por exemplo, se constitui como um Plano Geral, no qual vemos o todo, neste caso, o importante é o conjunto da imagem em todos os seus detalhes, do próximo ao distante. Tudo é importante para sua significação, logo, tudo deve ser visível

Duke Miller /National Geographic Photo Contest, 2012

http://www.bigpicture.in/various-photography-by-jens-leonhardt/

Se sairmos do Plano Geral e nos aproximarmos um pouco mais da cena, teremos um Plano Médio. Neste caso, o todo do ambiente interessa menos, e vamos destacar algo que valorize o contexto mais próximo, tematizando melhor um assunto em especial

http://www.bigpicture.in/photography-by-nico-fredia/

Do Plano Médio podemos ir para um Plano Próximo e destacar, por exemplo, apenas um elemento do conjunto dando a ele maior importância e revelando detalhes mais específicos

http://www.bigpicture.in/photography-by-nico-fredia/

Andrew Newey/National Geographic Photo Contest, 2012

Além disso pode-se destacar apenas um detalhe do assunto num Plano de Detalhe ou Close Up que revela partes mínimas de um elemento em particular

Outro tipo de aproximação extrema produzida, pela Macrofotografia, amplia a imagem para dimensões além do tamanho natural em campos ou planos muito próximos

Compor uma imagem por meio de Planos é construir possibilidades de significação valorando a evidência ou o destaque de ambientes e elementos participantes de uma cena que serão destacados para produzir sentido ou significação

O enquadramento mais comum é o de abordagem frontal, entretanto pode variar em relação aos ângulos de tomada do assunto. Obviamente, isto também interfere na compreensão da imagem

Tomar uma imagem no mesmo nível do assunto (frontal ou lateral), numa abordagem horizontal, tem sentido mais ameno, mas tomá-la por meio de abordagens verticais, de cima para baixo (plongée = mergulho) ou de baixo para cima (contraplongée = contra-mergulho) altera substancialmente o seu sentido

Observa-se que ângulos laterais modificam a direção das linhas de perspectiva e podem alterar a estabilidade da cena dando-lhe mais dinamismo ou mesmo deformando a imagem, assim como os ângulos diagonais tomados em escorço podem causar estranhamento

http://www.archimediastudios.com

http://xaxor.com/photography/24942-one-point-perspective-photography.html

http://xaxor.com/photography/24942-one-point-perspective-photography.html

http://xaxor.com/photography/24942-one-point-perspective-photography.html

http://xaxor.com/photography/24942-one-point-perspective-photography.html

Bill Brandt

Bill Brandt

Bill Brandt

Bill Brandt

Bill Brandt

Quebrar a hegemonia da relação de enquadramento vertical ou horizontal pode provocar efeitos inusitados, inclusive o de estranhamento, entretanto, tendem a estimular o interesse pela imagem

Costuma-se dizer que uma imagem vista de cima perde importância, parece submissa ao todo; ao passo que uma imagem vista de baixo, tem mais importância e imponência em relação ao todo

Portanto, variar a angulação é mais um aspecto da composição da imagem que devemos levar em consideração na constituição das fotografias

Vamos observar que ângulos descendentes (mergulho/plongée) ou ascendentes, subida (contra mergulho/contra-plongée), produzem efeitos diferentes nas imagens

Mergulho

Damien Roué

Stela Brazil

Este tipo de tomada submete a imagem a uma sensação de menor destaque, a uma pressão vertical que parece comprimir e diminuir a dimensão da imagem

Contra-mergulho

Damien Roué

Damien Roué

Brestitude

O Contra-mergulho, tende a aumentar a importância da imagem e, por consequência, dá a idéia de grandiosidade

Além de variar as angulações podemos obter outros efeitos na medida em que é possível variar também o tipo de lentes/objetivas usadas nas tomadas, cada uma delas produz efeitos óticos diferentes

A Grande Angular é uma objetiva que toma um campo de visão ampliado. Sua abrangência é maior do que o olho humano é capaz de perceber. Uma de suas características é deformar a imagem produzindo distorções curvilíneas nas bordas

http://obviousmag.org/archives

http://obviousmag.org/archives

A Teleobjetiva é uma lente que traz para perto o que está distante. As imagens produzidas por estas objetivas parecem mais achatadas ou comprimidas do que aquelas realizadas por outros tipos de objetiva

Uma objetiva Normal toma imagens que se parecem muito com aquelas que são vistas pelo olho humano. Há pouca distorção o que implica em imagens mais naturais

Na medida em que é possível organizar a imagem na superfície da foto ou alterar sua aparência por meio do uso de diferentes artifícios, quer seja o uso de objetivas ou dos recursos de abertura e velocidade de exposição, pode-se dizer que operamos a estética fotográfica por meio de sua poética e instituímos sua linguagem