Interdisciplinaridade: mito ou realidade?



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Interdisciplinaridade: mito ou realidade? Claudete Cargnin Ferreira Radames Juliano Halmeman Resumo Este trabalho retrata a experiência obtida ao propor, a alunos de primeiro ano do ensino técnico integrado de nível médio, um projeto interdisciplinar com o objetivo de mostrar a aplicabilidade das diversas disciplinas estudadas durante o ano letivo, a integração entre elas, seu vínculo com a realidade e estimular o empreendedorismo. Os resultados foram satisfatórios, apontaram pontos em que são necessários ajustes, mostraram possibilidades benéficas, desdobramentos imprevistos e revelaram que é possível trabalhar com interdisplinaridade. Palavras-chave: interdisciplinaridade, aplicabilidade, educação integrada. Abstract Interdisciplinarity: myth or reality? This work shows the experience to offer the students the first year of integrated technical education level, an interdisciplinary project with the objective to show the applicability of the various disciplines studied during the school year, the integration between them, their relationship with the reality and encourage entrepreneurship. The results were satisfactory and indicated points where adjustments are necessary, showed good potential, unforeseen developments and revealed that it is possible to work interdisciplinarity. Keywords: interdisciplinary, applicability, integrated education. Página: 1349

Introdução Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR A interdisciplinaridade está sendo discutida há um tempo considerável nas escolas. Mas a sua implementação requer planejamento, tempo e disposição dos professores para modificar suas práticas pedagógicas. Além das dificuldades pessoais, há, ainda, dificuldades com relação à instituição de ensino e com os colegas que, por vezes, não aceitam ou não valorizam tais procedimentos de ensino. Devido aos fatores mencionados, e a muitos outros, como por exemplo a segurança do professor, a interdisciplinaridade tem sido "pouco usada", apesar dos diversos benefícios que pode trazer aos alunos. Fala-se muito em interdisciplinaridade, multidisciplinaridade, transdisciplinaridade, mas, na prática, poucos professores sabem o que significam estas palavras, muito menos conhecem as exigências para colocá-las em prática. Como diz Fazenda (1994), A palavra de ordem deste final de século é a interdisciplinaridade na educação. (...) muitos já falam na mudança, chegam até a vislumbrar a possibilidade dela, porém, conservam na sua forma própria de ser educador, de ser pesquisador, de dar aulas um patriarcado que enquadra, que rotula, que modula, que cerceia, que limita. Poucos são os que se aventuram a viver alteridade, porque é caro o preço que se paga pela mudança de ciclo. É preciso (...) morrer para renascer das cinzas; e morrer é assumir a consciência da ruptura, e a idéia de morte traz em si mesma uma idéia de finitude... (p.42) Pretende-se, com este artigo, apresentar as dificuldades e resultados obtidos ao trabalhar um projeto interdisciplinar com alunos do primeiro ano do ensino técnico integrado em informática (nível médio), no ano de 2008, no Campus Campo Mourão da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. O Projeto Interdisciplinar A idéia do projeto interdisciplinar surgiu ao observar as dificuldades encontradas pelos alunos do primeiro ano do curso técnico em informática em reconhecer a utilidade das disciplinas que estavam estudando durante o período letivo, principalmente aquelas em que tinham maior dificuldade de aprendizagem. Esta dificuldade fazia com que fossem feitos questionamentos do tipo: por que estou perdendo meu tempo estudando isso, se não serve pra nada? Não encontrando resposta satisfatória (do ponto de vista do aluno), a conseqüência direta era a Página: 1350

desmotivação para o estudo, com posterior reprovação na disciplina em questão e todos os problemas advindos desta situação. A questão das dificuldades envolvia quase todos os professores das turmas de primeiro ano, foi conversado com os docentes envolvidos para a realização de um projeto interdisciplinar, onde os professores atuassem como orientadores do mesmo, cada um em sua área específica. A idéia foi aceita pela maioria e deu-se início ao processo. Ficou acordado que seria uma porcentagem da nota do quarto bimestre seria relativa a esse projeto. A idéia foi levada aos alunos e foi proposto que, em grupos de no máximo seis pessoas, os alunos escolhessem um empreendimento (de qualquer área, conforme o interesse do grupo) e começassem a estudá-lo. Sobre tal empreendimento eles pesquisariam e deveriam conhecer a estrutura básica, necessidades, mercado, exigências legais entre outros elementos relevantes. Tão logo conhecessem a dinâmica e rotina do empreendimento, os grupos deveriam identificar os conhecimentos específicos, ou seja, onde os saberes de biologia, matemática, língua portuguesa, física, informática, entre outros, seriam requeridos, de forma direta ou indireta para o sucesso do empreendimento. Juntamente com este estudo discente, pediu-se aos professores regentes das disciplinas que fizessem a orientação e acompanhamento dos caminhos que as equipes estavam trilhando, buscando orientá-los em direção ao objetivo, que era relacionar o empreendimento com cada disciplina em estudo. Resultados Esta atividade, para muitos discentes, deu uma motivação extra ao estudo, pois perceberam que muitas das questões formuladas poderiam ser respondidas com a aplicação de conhecimentos adquiridos ao longo do ano. Mesmo alunos que se mostraram desinteressados durante o ano letivo mudaram de comportamento e comprometeram-se de forma surpreendente com o trabalho, envolvendo-se muito mais que alguns alunos que, no decorrer do período letivo, faziam as atividades em sala, obtinham bons resultados nas avaliações. Houve interesse e participação por parte dos alunos, que, embora estivessem no último bimestre, dedicaram-se exemplarmente na elaboração do projeto interdisciplinar. Porém, a primeira dificuldade foi que os professores, que haviam se comprometido a orientar em relação às suas disciplinas, não o fizeram a contento. O comprometimento dos Página: 1351

professores não foi o mesmo que o dos alunos. Muitos dos colegas docentes deixaram a cargo dos coordenadores do projeto a orientação e acompanhamento dos caminhos das equipes. Neste ponto, percebeu-se que se os professores tivessem conversado mais, acompanhado melhor, os alunos teriam realizado as tarefas com menos dificuldades. Em relação aos alunos, praticamente todas as equipes esforçaram-se para realizar e entender todo o processo do empreendimento, mesmo porque, como um desafio extra às equipes, um dos membros da equipe seria escolhido (no dia e hora da apresentação) para apresentar ao público seu trabalho. Isso os motivou a trabalhar em equipe, a resolver seus problemas e, o mais importante, inteirarse do assunto em estudo. Algumas equipes estiveram tão envolvidas que procuraram profissionais e em bibliografias específicas (algumas muito além do seu nível de estudo) o conhecimento necessário para entender o empreendimento. Todo o trabalho por parte dos alunos mostrou claramente o significado da frase O aluno é quem verdadeiramente conduz o processo do conhecimento (FAZENDA, 1994, p. 40). Complementando esta frase, Almeida (2000, p.123) diz: Quando a ênfase do projeto pedagógico fomenta o aprender e promove a autonomia do aluno, as mudanças tornam-se explícitas. Os alunos trabalham no desenvolvimento de projetos individuais ou coletivos e passam a ser produtores do conhecimento. Depois de dois meses de estudo e envolvimento nos seus projetos, as equipes mostraram o resultado do trabalho para todos os interessados, no anfiteatro da instituição. Apesar do nervosismo no momento da apresentação, os alunos ficaram satisfeitos por poderem mostrar o que aprenderam para os demais alunos, docentes e alguns pais. Isto contribuiu, inclusive, para o aumento da auto-estima dos alunos, que se mostraram capazes de vencer o desafio que lhes fora proposto. Todas as equipes conseguiram encontrar indícios das disciplinas em estudo em todos os empreendimentos. Isso os fez perceber que, por mais que conseguissem gerenciar bem um empreendimento, para compreendê-lo de fato, outros conhecimentos, além dos gerenciais, eram requeridos. Os alunos notaram que, além da formação geral, as diversas disciplinas contribuem para sua vida, um dos requisitos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Num momento em que se discute a preparação do jovem em relação ao trabalho, e que as organizações almejam, segundo Caillods e Hutchinson (2002), jovens com "competências transversais e metodológicas, como a capacidade de ser criativo, solucionar problemas concretos, tomar decisões de maneira autônoma, trabalhar em equipe e saber aprender", este projeto Página: 1352

permitiu que o aluno desenvolvesse tais capacidades, promovendo um desenvolvimento psicosocial superior ao que seria obtido meramente por trabalhos de sala aula tradicionais. Considerações Finais Para que um projeto interdisciplinar tenha sucesso, é preciso que cada professor envolvido esteja comprometido com todo o processo, e não apenas com o resultado final: isso ficou muito claro no projeto empreendedorismo realizado. A interdisciplinaridade requer trabalho em conjunto; quando os envolvidos não agem como uma equipe, o resultado final pode ficar comprometido. É preciso que os professores entendam e aceitem que Ensinar é aprender, porque ensinar é sobretudo pesquisar, e por isso é também construir, é aprender (FAZENDA, 1994, p. 40). Ao interiorizar esta frase, o professor começa a mudar de atitude em sala de aula, se comporta e valoriza outros pontos que dantes não via significado nem importância, inclusive pode se aproximar mais do aluno, já que aceitará a possibilidade de crescer com o aluno. Isto poderá torná-lo um professor bem sucedido. Ao comentar sobre isso, Fazenda (1994) fala: Outra característica que marca o professor bem-sucedido e que conduz à interdisciplinaridade é a questão do compromisso que ele tem para com seus alunos. Do ponto de vista pessoal, o professor bem-sucedido identifica-se com alguém sempre insatisfeito com o que realiza, com dúvidas a respeito do trabalho que executa a marca do novo sempre é revelada em suas ações, em que cada momento é único. Seu compromisso só pode ser avaliado em sua contradição maior: na aventura de ousar as técnicas e os procedimentos de ensino convencionalmente pouco utilizados e no cuidado em torná-los transformáveis, conforme a necessidade dos seus alunos, prosseguindo sempre na busca de outras possibilidades, envolvido em cada ato, em sua totalidade. (p.49) Há de se ressaltar aqui que trabalhar de forma interdisciplinar não acontece rapidamente, pois muitas vezes o professor depara-se com variáveis (feitas pelos alunos ou não) que estão além do seu controle e é necessário pesquisar para sanar as dúvidas, conversar com seus colegas, enfim... É preciso que o professor tenha coragem de agir de forma diferente e que esteja disposto a aprender mais, tendo os seus alunos como companheiros de crescimento. Como ressalta Fazenda: Página: 1353

A metodologia interdisciplinar em seu exercício requer como pressuposto uma atitude especial ante o conhecimento, que se evidencia no reconhecimento das competências, incompetências, possibilidades e limites da própria disciplina e de seus agentes, no conhecimento e na valorização suficientes das demais disciplinas e dos que a sustentam. Nesse sentido, torna-se fundamental haver indivíduos capacitados para a escolha da melhor forma e sentido da participação e sobretudo no reconhecimento da provisoriedade das posições assumidas, no procedimento de questionar (Fazenda, 1994, p.69). Outro aspecto que chamou a atenção foi o fortalecimento do trabalho em equipe de alguns grupos. Tecnicamente o trabalho precisaria ser melhorado, mas todos os membros da equipe se uniram para defender e apresentar o que havia sido feito. Isso ressalta, que mesmo que o conteúdo técnico não tenha sido bem explorado pelos alunos, houve crescimento e busca por soluções e permitiu que equipes coesas fossem formadas. Tanto quanto a interdisciplinaridade nas escolas, fala-se de trabalho em equipe nas empresas. Considerando a natureza do curso dos alunos, isso é importante. Tudo isso nos sugere que a interdisciplinaridade é possível, não um mito, sim uma possibilidade real, desde que os professores assumam o compromisso de aprender com os alunos, de superar suas próprias dificuldades, mesmo que para isso seja preciso mostrar suas dificuldades perante os alunos. Enfim, a interdisciplinaridade é mais um compromisso, uma atitude do professor frente a seus alunos e sua metodologia de ensino que outra coisa. Do projeto realizado ficou a certeza que vale a pena sair do tradicional e buscar algo novo, mesmo que não seja tão novo assim. Referências FAZENDA, Ivani C Arantes. Interdisciplinaridade: História, teoria e pesquisa. Campinas, SP: Papirus, 1994. ALMEIDA, Maria Elizabeth de. Proinfo: Informática e Formação de Professores. V.2. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 2000. Página: 1354

TIBA, Içami. Ensinar Aprendendo: como superar os desafios do relacionamento professor-aluno em tempos de globalização. São Paulo: Editora Gente, 1998. CAILLODS, Françoise; HUTCHINSON, Francis. Aumentar a participação na educação secundária na América Latina? Diversidade e Equidade. In: BRASLAVSKY, Cecília. Educação Secundária: mudança ou imutabilidade? Brasília: Unesco, 2002. Claudete Cargnin Ferreira: professora de matemática da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Campo Mourão.. cargnin@utfpr.edu.br Radames Juliano Halmeman: professor de informática da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Campo Mourão. radames@utfpr.edu.br Página: 1355