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Transcrição:

Boletim Econômico Edição nº 66 agosto de 2015 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor Econômico Considerações técnicas sobre a Conjuntura econômica e a Previdência Social 1

I - Governo se perde em sua doutrina econômica e maltrata os trabalhadores e aposentados O 2º Mandato de Dilma está se caracterizando como um governo neoliberal. Gastou demais e sem nenhuma qualidade no uso do dinheiro público. Está realizando um ajuste fiscal que aperta cada vez mais o bolso do trabalhador e do aposentado. Aprovou medidas que reduzem os direitos trabalhistas e previdenciários, e também está adotando um pacote que reduz o salário dos trabalhadores. II - Ajuste fiscal do governo não atinge os ricos e só penaliza os trabalhadores e aposentados O governo, ao cortar R$ 69,9 bilhões do orçamento, vai gerar mais aperto na vida do trabalhador e dos aposentados e pensionistas. Isso porque a redução nos gastos significará redução de crédito e consumo, alta nas tarifas públicas, aumento da inflação e aumento nos juros. Ou seja, os trabalhadores e os aposentados, mais uma vez, pagarão a conta do ajuste fiscal do Governo Federal. Entretanto, esse ajuste fiscal poderia ser diferente do ponto de vista da justiça social e tributária. Ao invés de, por exemplo, reduzir o acesso aos direitos previdenciários e trabalhistas (MPs 664 e 665), o governo poderia ter adotado o caminho de realizar uma reforma tributária capaz de atingir mais os ricos do que insistir num modelo de aumentar a carga 2

tributária dos mais pobres, com os aumentos de água, luz, telefone, combustíveis e cesta básica. O governo poderia melhorar a justiça tributária regulamentando o Imposto sobre as Grandes Fortunas (IGF), já previsto na Constituição de 1988. Porém, o lobby da elite econômica é tão forte que até hoje essa matéria nunca foi devidamente tratada e jamais aprovada pelo Congresso Nacional. Se aprovado, o IGF poderia arrecadar cerca de R$ 50 bilhões. Apenas ele, já poderia realizar praticamente todo o reequilíbrio fiscal do governo, poupando os trabalhadores da ativa, os aposentados e pensionistas. As classes médias e os mais pobres pagam mais impostos do que os mais ricos. Portanto, o custo do ajuste fiscal deveria ser feito em cima dos mais ricos. III Inflação e juros em alta Dois indicadores muito importantes que estão também determinando o aumento da recessão econômico são a inflação e os juros, que sufocam a vida dos trabalhadores e aposentados do Brasil. A consequência econômica desse cenário é o aperto financeiro e a redução traumática do bem-estar dos trabalhadores e aposentados do Brasil. 3

IV - PIB negativo e corte no Orçamento aumentam recessão e desemprego Além do corte no Orçamento de R$ 69,9 bilhões que significará um forte aperto na economia, redução de gastos, redução no crédito e no consumo, o resultado negativo do PIB será alto em 2015 e já demonstra uma recessão econômica no país que já está paralisando todos os setores econômicos e gerando muito desemprego. A composição do PIB mostrou fraqueza disseminada, com resultados negativos para as famílias, para o governo e para a indústria. Na produção, o resultado negativo nos primeiros três meses deste ano foi puxado pela queda de 0,7% no setor de serviços, que representa mais de 60% do PIB brasileiro. Seguindo o mesmo comportamento, a indústria também recuou em relação aos três últimos meses de 2014, mas em um ritmo menor, de 0,3%. Na agropecuária, a alta foi de 4,7%. Também usado no cálculo do PIB, pela ótica da demanda, caiu 1,5% a maior retração desde o último trimestre de 2008, quando a baixa foi de 2,1%. Os investimentos e os gastos do governo tiveram queda de 1,3%. O ano continuará sendo de arrocho fiscal, aperto financeiro e redução de direitos e benefícios sociais. 4

V - A triste história da desoneração da folha de pagamento A atual equipe econômica do Governo, diferente da anterior, reconheceu que a desoneração da folha de pagamento prejudicou a receita da Previdência Social e, consequentemente, a receita tributária da União. Os números são os seguintes: em 2012 a renúncia fiscal com a desoneração da folha foi de R$ 3,6 bilhões; em 2013 foi de R$ 12,2 bilhões; em 2014 foi de R$ 21,6 bilhões. Para 2015 a estimativa é de que a renúncia deve chegar a R$ 25,5 bilhões. Total das perdas: R$ 62,6 bilhões. O governo enviou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 863, de 20/3/2015 reconhecendo o grande erro que cometeu. Porém, esse PL 863/2015 não basta. É apenas um remendo que não vai resolver as perdas de receitas da Previdência Social. O fim da desoneração da folha é necessário para reduzir as perdas de receitas da Previdência Social. 5

VI - Impacto financeiro do aumento real dos aposentados é insignificante até 2019 Após a aprovação pelo Senado Federal do mesmo reajuste do salário mínimo para todos os aposentados e pensionistas até 2019, diversas estimativas de impacto financeiro estão sendo divulgadas pela imprensa. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 foi de ZERO, portanto o impacto é ZERO em 2016. Em 2017 vai valer o crescimento do PIB de 2015, e a estimativa do próprio Governo é de uma retração de -1,2%, portanto, PIB negativo. Não haverá impacto financeiro. Em 2018, vai valer o crescimento do PIB em 2016 e que está estimado pelo Governo em 1%, gerando um impacto de menos de R$ 2 bilhões. Já com relação a 2019, a estimativa do PIB é de 1,9%, com um impacto também estimado em menos de R$ 4 bilhões. Portanto, só haverá impacto financeiro a partir de 2018 e ele será insignificante frente ao alto superávit da Previdência Social, isso se a economia brasileira voltar a crescer de acordo com as estimativas atuais. A retomada do crescimento do país ainda é uma incógnita e os números do PIB podem mudar ano após ano. Apenas em 2014, o saldo final do Fluxo de Caixa do INSS (Receitas totais Despesas totais) foi de mais de R$ 8 bilhões, ou seja, em apenas 01 (um) ano o superávit da Previdência Social é capaz de cobrir todo o impacto financeiro do aumento real dos aposentados até 2019. Ano Crescimento do PIB Impacto 2014 ZERO - 2015-1,2% - 2016 1,0% ZERO 2017 1,9% ZERO 2018 - R$ 2,0 bilhões 2019 - R$ 4,0 bilhões Total - R$ 6,0 bilhões Fonte: Estimativas do Banco Central Superávit da Previdência em 2014 Fonte: Fluxo de caixa do INSS R$ 8,2 bilhões 6

VII - É necessária uma auditoria nas contas da Previdência Social e uma fiscalização eficiente O Governo Federal sempre alegou que a Previdência Social é deficitária e que não pode arcar com o custo do aumento real para os aposentados e pensionistas que ganham acima do salário mínimo. Entretanto, o governo implantou a desoneração da folha de pagamento que diminuiu as receitas da Previdência para favorecer a indústria e dezenas de outros setores econômicos. A desoneração gerou uma perda de R$ 45 bilhões desde 2012 até agora. A Previdência necessita de uma melhor gestão e de mais fiscalização dos seus recursos. Necessita construir uma equipe técnica mais ampla e mais eficiente capaz de salvar esse patrimônio do trabalhador brasileiro. A seguir, listamos os números negativos da Previdência que precisam ser sanados. Sonegação da Previdência: R$ 40 bilhões ao ano; Devedores da Previdência: governos estaduais, prefeituras municipais e grandes empresas: R$ 200 bilhões; Desoneração da Folha: R$ 62,9 bilhões de 2012 a 2015. Governo desviou cerca de R$ 60 bilhões através da Desvinculação das Receitas da União (DRU); Existe uma legislação especial para que alguns segmentos econômicos deixem de pagar a previdência. São as chamadas renúncias fiscais que reduzem a receita previdenciária em cerca de R$ 25 bilhões ao ano. 7