Ações afirmativas e carreiras na UFF Bolsistas: Junia Coutinho (CNPq) & Alessandro Santos (FAPERJ) Professora: Hustana Maria Vargas
Carreiras e ensino superior: a naturalização da desigualdade
Problema Considerando-se a estreita relação entre nível socioeconômico e escolha de carreiras no Brasil, políticas públicas recentes visando democratizar a universidade têm tido sucesso no sentido de tornar a origem social mais independente da escolha de carreiras?
Objetivo Conhecer e avaliar o perfil socioeconômico de ingressantes em carreiras selecionadas na UFF, em período anterior e posterior à adoção de ações afirmativas (AA).
Justificativa Considerando que a adoção de AA visa diminuir o efeito de desigualdades sociais nas desigualdades educacionais, torna-se importante considerá-las à luz da Sociologia da Educação e das Profissões, partindo do pressuposto de que a democratização do acesso a diferentes carreiras é uma das condições para a efetividade da política pública.
Bônus e REUNI No caso da Universidade Federal Fluminense (UFF), pode-se dizer que desde 2008, as políticas de democratização adotadas pretendem modificar o perfil qualitativo (bônus para alunos de escolas públicas) e quantitativo dos alunos (REUNI).
Indagamos a) a implementação do sistema de bônusimpactou o perfil socioeconômico dos ingressantes? Como esse impacto ocorre nos diferentes cursosao longo dos anos? b) em relação ao programa REUNI, o que se pode perceber após a adesão da UFF? Numa série temporal, percebem-se mudanças nestes perfis? Como podem ser caracterizadas estas mudanças? c) que outras medidas podem ser tomadas a fim de garantir a democratização do acesso nos diferentes cursos?
Referencial teórico Sociologia da Educação em diálogo com políticas educacionais para o ensino superior: Bourdieu, Hasenbalg e Silva, Nogueira, Ristoff, Foracchi, Schwartzman, Spósito, dentre outros.
Estratégia metodológica Análise de dados quantitativos. Para discutir a origem social do aluno, os indicadores selecionados foram: escolaridade dos pais, cor, origem do ensino médio e condição de trabalho. Com relação aos cursos, selecionamos: Medicina, Direito, Relações Internacionais e Engenharia, de um lado, e de outro, fazendo um contraste, os cursos de Ciências Biológicas, Matemática, e Letras, considerados cursos de menor prestígio social. Série temporal: 2004 a 2011.
UFF: Fonte COSEAC: Banco de dados (questionário sociocultural). Dificuldades de acesso. VESTIBULAR: editais dos vestibulares da UFF de 2004 até 2011. UFF/REUNI. MEC/INEP: Censos do ensino superior ENADE
Resultados Analisando variáveis socioeconômicas de ingressantes de sete cursos e atentos ao possível impacto das políticas aplicadas a partir de 2008, identificamos: Padrão elitista dos ingressantes; Empilhamento dos cursos(hierarquia de carreiras); Estabilidade do padrão ao longo da série; Ponto de inflexão em 2008, retornando ao padrão anterior nos anos subsequentes. Na qualidade de curso novo, o curso de Relações Internacionais atraiu um perfil socioeconômico mais favorecido, caracterizando o fenômeno da Desigualdade Maximamente Mantida DMM(HASENBALG e SILVA, 2003).
Gráfico 1 Não trabalham 120,0% Alunos que "não trabalham" - Ingressantes 100,0% 80,0% 60,0% 40,0% 20,0% 0,0% BIOLOGIA DIREITO ENG.CIVIL LETRAS MATEMÁT. MEDICINA R. INTERNACIONAIS 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Gráfico 2 Consideram-se brancos 120,0% Consideram-se "BRANCOS" - Ingressantes 100,0% 80,0% 60,0% 40,0% 20,0% 0,0% BIOLOGIA DIREITO ENG.CIVIL LETRAS MATEMÁT. MEDICINA R. INTERNACIONAIS 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Gráfico 3 Ensino médio em instituição privada 90,0% Ensino médio em instituição privada - Ingressantes 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% BIOLOGIA DIREITO ENG.CIVIL LETRAS MATEMÁT. MEDICINA R. INTERNACIONAIS 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Gráfico 4 Pai com ensino superior 90,0% Pai com ensino superior - Ingressantes 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% BIOLOGIA DIREITO ENG.CIVIL LETRAS MATEMÁT. MEDICINA R. INTERNACIONAIS 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Conclusões preliminares A desinformação sobre as novas oportunidades. A manutenção de hierarquias com mesmos perfis socioeconômicos(schwartzman, BOURDIEU). A incapacidade das famílias de prolongar a escolaridade de seus membros na universidade (HERINGER, PORTES). Finalmente, consideramos que para a concretude dos caminhos para a democratização, o acesso e a permanência nas Universidades dependem de esforços conjuntos, políticas públicas efetivas e o acompanhamento crítico da pesquisa educacional (RISTOFF). Continuidade da pesquisa: anos 2012 e seguintes (Lei 12711/12).
Referências BASTOS, Ana Paula Barbosa Leite. Herdeiros ou sobreviventes: mobilidade social no ensino superior no Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado. IFICS/UFRJ, 2004. BOURDIEU, Pierre. Classificação, desclassificação, reclassificação. In: NOGUEIRA, Maria Alice e CATANI, Afrânio. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2012. HERINGER, Rosana (Org.). Caminhos Convergentes: Estado e Sociedade na superação das desigualdadesraciaisnobrasil.1.ed.riodejaneiro: ActionAideHBS,2009.v.1.292p. HASENBALG, Carlos e SILVA, Nelson do Valle. Origens e destinos. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003. NOGUEIRA, Maria Alice e NOGUEIRA, Cláudio M. Martins. Bourdieu e a Educação. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. RISTOFF, D. I.. A expansão da educação superior brasileira: tendências e desafios. In: Norberto Fernandez Lamarra e Maria de Fátima Costa de Paula. (Org.). La democratización de la educación superior en América Latina. Buenos Aires: Eduntref, 2011, v., p. 151-166. SCHWARTZMAN, Simon. A diferenciação do ensino superior no Brasil. 1990. Disponível em http://www.schwartzman.org.br/simon/diferent.htm. Acesso em 28 ago. 2006. SOUZA, Letícia e PORTES, Écio. As políticas de ação afirmativa nas universidades públicas. RBEP, 2012. SPÓSITO, Marília dos Santos. Os jovens no Brasil: desigualdades multiplicadas e novas demandas políticas. São Paulo: Ação Educativa, 2003. UFF. VALLE e SILVA, Nelson e HASENBALG, Carlos. Origens e destinos. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003.