Religiões Afro-Brasileiras



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Transcrição:

Religiões Afro-Brasileiras

Apresentação Em continuidade ao Estudo Multidisciplinar Baía de Todos os Santos (Projeto BTS), estão sendo realizadas investigações com foco nas baías da Bahia, com envolvimento de pesquisadores de todas as universidades públicas do Estado. Estas pesquisas em conjunto formaram a Rede Baías da Bahia que tem como projeto articulador o Projeto Pesquisando Kirimurê. O Pesquisando Kirimurê atua alinhado com as propostas do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Energia e Ambiente e do Núcleo de Excelência em Química Analítica da Bahia. Dentre as ações voltadas para as baías da Bahia, encontra-se a Coleção Cartilhas, cuja primeira coleção, com oito volumes, foi publicada em 2010 pelo projeto BTS. Esta segunda Coleção Cartilhas prossegue na busca de favorecer a divulgação de conhecimento científico em temas importantes, de maneira simples, voltada para jovens e professores da educação básica. A cartilha Religiões Afro-Brasileiras apresenta as origens do candomblé, as mais antigas casas na Bahia, sua devoção, as nações, seus cultos, o sincretismo afro-católico e as contribuições da cultura afro-brasileira. Um tributo ao maravilhoso legado que estas religiões dão a país. Boa leitura! Jailson Bittencourt de Andrade Coordenador do projeto Pesquisando Kirimurê e da Rede Baías da Bahia

origens Aformação do candomblé na história brasileira tem origem nos séculos 18 e 19, quando africanos de diferentes etnias e crioulos criaram laços de solidariedade e de ajuda mútua através, principalmente, das irmandades.

comunidades religiosas As comunidades religiosas afro-brasileiras, tal como as conhecemos hoje, não se formam antes do começo do século 19, junto com a consolidação da rede social dessas congregações extra domésticas. A partir dessa época, consolidaram-se verdadeiras sistematizações religiosas de tipo comunitário, indo além da oferta de serviços terapêuticos, práticas divinatórias e procedimentos rituais variados.

Os candomblés As denominações do nascente candomblé são constituídas por grupos étnicos diferenciados. O candomblé de origem jeje-nagô pode ser identificado pela fusão de elementos da cultura jeje (de origem daomeana, atual Benin), com elementos da cultura nagô (ioruba). A apelação keto (nome que provém da antiga capital iorubana) é, por sua vez, usada como indicação de uma identidade mais geral, para marcar, por contraste, a diferença do candomblé Nagô com o candomblé Angola (de origem banto).

Casas de Candomblés As casas de candomblé mais antigas e conhecidas da Bahia são: Casa Branca, Gantois, e Axé Opô Afonjá, em Salvador, de tradição nagô; Roça do Ventura (Sejá Hundé), em Cachoeira, de tradição jeje; Bate-Folha, em Salvador, de tradição congo-angola.

Candomblé e culto de Egun As diferentes tradições são conhecidas como nações, sendo este um termo usado para designar a língua e a estrutura litúrgica de um terreiro de candomblé. No entanto, apesar das diferenças entre as nações, existem semelhanças no modelo de culto. Os adeptos, geralmente chamados de povo-de-santo, cultuam entidades que são denominadas orixás, voduns e inquices, dependendo da nação (respectivamente nagô, jejê e angola).

A Devoção Ainiciação prepara o devoto para a possessão pela divindade, que exerce uma função protetora e adquire um caráter pessoal. A vida comunitária é marcada pela hierarquia religiosa e o calendário litúrgico prevê cerimônias públicas onde o canto, a música e a dança estão profundamente interligados.

Nação caboclo e umbanda Outra nação conhecida na Bahia é chamada de caboclo e cultua também espíritos ameríndios. Essas entidades também estão presentes na umbanda. Considerada uma religião afro-brasileira, a umbanda também apresenta elementos do catolicismo e do espiritismo.

Os negros iorubanos também trouxeram o culto dos ancestrais, chamados de Babá Egun. Nos terreiros, prevalentes na Ilha de Itaparica, são invocados os espíritos dos ancestrais masculinos que se manifestam publicamente sob roupas litúrgicas compostas de tiras de pano e enfeitadas de búzios, espelhos e contas. O culto, embora relativamente aberto, acaba reforçando vínculos entre famílias extensas. Babá Egun

Sincretismo afro-católico Os povos africanos escravizados no Brasil tinham suas crenças e sistemas religiosos próprios. O encontro destes elementos com o catolicismo produziu formas de sincretismo.

Otermo sincretismo indica como os africanos e seus descendentes conseguiram encontrar semelhanças entre diferentes formas de compreensão do mundo sagrado. O reconhecimento de características parecidas envolveu os santos e divindades de origem africana: Ogum/Santo Antônio; Oxóssi/São Jorge; Cosme e Damião/Ibeji; Obaluaê/São Lázaro; Omolu/São Roque; Oxum/ Nossa Senhora da Guia; Iemanjá/Nossa Senhora da Conceição, dentre outros. Sincretismo

Encontro de Tradições Adevoção católica também foi enriquecida pelo encontro com as tradições africanas. Na Bahia, o mesmo famoso caruru, prato de origem africana que constitui a comida ritual dos Ibejis (orixás gêmeos) no candomblé, é oferecido pelos devotos católicos aos santos Cosme e Damião.

Contribuições da cultura afro-brasileira As religiões afro-brasileiras marcam fortemente a cultura brasileira e a Baía de Todos os Santos em especial, sendo cada vez mais reconhecida a importância de seu patrimônio material e imaterial. A visibilidade dessa cultura passa tanto pela culinária das baianas de acarajé quanto pelo tombamento de vários terreiros pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Contribuições culturais Acontribuição dessa cultura enriquece o espaço público baiano em suas manifestações religiosas e laicas. Nos afoxés do carnaval, nas lavagens das procissões religiosas, na celebração ao caboclo durante a comemoração da Independência da Bahia presenciamos expressões festivas afro-brasileiras transformadas em ícones da cultura local.

Valorização da cultura Também podemos destacar a presença dessa cultura nos desafios do cotidiano. Movimentos sociais preocupados com a saúde da população negra têm buscado a valorização dos terreiros de candomblé como agências terapêuticas, intensificando os esforços para a melhoria das condições de vida de parte da população. Uma contribuição importante reside, por exemplo, no conhecimento do poder das folhas e os diferentes usos a elas atribuídos, através de suas propriedades curativas e de purificação do corpo.

Para saber mais Alabê - Título do sacerdote músico nos terreiros de nação nagô Axé - Energia, poder, força da natureza Babalorixá - Homem que dirige um terreiro (nação nagô) Huntó - Título do sacerdote músico nos terreiros de nação jeje Ialorixá - Mulher que dirige um terreiro (nação nagô) Iaô - Iniciada com menos de sete anos de feitura (nação nagô) Mameto de Inquice - Mulher que dirige um terreiro angola Muzenza - Recém iniciada na tradição angola Ogâ - Dignitário masculino que não recebe orixá (nação nagô) Ojá - Sacerdote do culto de Egun Tata de inquice - Homem que dirige um terreiro angola Xicarangoma - Título do sacerdote músico no candomblé de nação angola Xirê - Festa durante a qual são cantadas as cantigas Obs: No candomblé de nação jeje, o termo para designar os líderes dos terreiros religiosos varia de acordo com a tradição de cada terreiro.

Realização Ficha Técnica Texto Fátima Tavares Francesca Bassi Cleidiana Ramos Revisão e Supervisão Núbia Moura Ribeiro Arte e Diagramação Igor Queiroz Capa e Ilustrações Naiara Rezende Fotos Cedidas pelo Jornal A Tarde Domínio Público

Coleção Cartilhas.... Abelhas Corais Esponjas Macroalgas Bentônicas Manguezais Peixes de zonas rasas da BTS Própolis Religiões afro-brasileiras.