Estudo de Caso do Programa Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos no Assentamento Nhundiaquara, Gleba Pantanal Morretes, PR

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Transcrição:

15528 - Estudo de Caso do Programa Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos no Assentamento Nhundiaquara, Gleba Pantanal Morretes, PR Case Study Paranaense Program Certification of Organic Products in Settlement Nhundiaquara, Gleba Pantanal - Morretes, PR CAVALLET, Luiz Ermindo 1 ; SIQUEIRA, Jussara Cristiane Costa 2 ; RIBEIRO, Heloy Ignacio 3 ; ROCHA, José Roberto Caetano da 4 ; ARAUJO, Carolina Beê 5 ; RODRIGUES, Rogério 6 ; REIS, Camila Salles dos 7 1 UNESPAR, luiz.cavallet@fafipar.br; 2 UNESPAR, jussarac.ga@gmail.com; 3 UNESPAR, heloy.ribeiro@gmail.com; 4 UNESPAR, jrcaetanorocha@ig.com.br; 5 UNESPAR, carolbee91@gmail.com; 6 INCRA, rogerio.rodrigues@cta.incra.gov.br; 7 UNESPAR, caamila.salles@hotmail.com Resumo Nesse trabalho são descritas as principais diretrizes e fundamentação da segunda fase do Programa Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos (PPCPO Fase II), bem como esse programa surgiu e como ele é mantido financeiramente. Posteriormente realizouse a avaliação dos estudos de casos realizados no Assentamento Nhundiaquara - Gleba Pantanal localizado no município de Morretes, no litoral paranaense. Nessa avaliação é discutida a história desse assentamento, assim como se relatam as características, potencialidades e dificuldades observadas durante o processo avaliativo que antecede o encaminhamento ao Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR). Durante esse processo de visitas e estudos de caso se percebeu que os proprietários rurais necessitavam desse processo de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) realizado pelos técnicos do PPCPO Litoral, para que os produtores rurais compreendessem a possível certificação dos mesmos.. Palavras-chave: Agricultura orgânica; Assentamento; Agroecologia; Unespar/campus Fafipar; Litoral do Paraná. Abstract: In this work we describe the main guidelines and rationale of the second phase of the Paranaense Program Certification of Organic Products (PPCPO - Phase II), and how this program came about and how it is kept financially. Later there was the review of case studies from the Settlement Nhundiaquara - Gleba Pantanal located in Morretes the coast of Paraná. In this review the history of this settlement is discussed, as well as reports the characteristics, strengths and difficulties encountered during the evaluation process prior to the submission to the Institute of Technology of Paraná (TECPAR). During this process of visits and case studies it was realized that landowners required such Dept. Rural process performed by technicians PPCPO - Coastline so that farmers understand the possible certification of the same. Keywords: Organic Agriculture; Settlement; Agroecology; Unespar/Fafipar campus; Coast of Parana. Introdução O núcleo Agrobiologia da UNESPAR/Paranaguá atua na região litorânea paranaense buscando incentivar o processo de certificação de propriedades agrícolas de produção orgânica. Esse processo é possível devido ao Programa Paranaense de Certificação de Produtos Orgânicos - PPCPO, implantado pelo governo do estado a Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 9, No. 1, 2014 1

partir de 2009 em conjunto com o Instituto de Tecnologia do Paraná - TECPAR e instituições de ensino superior localizadas nas diferentes regiões do Paraná (MICHELLON et al, 2011). Nesta segunda fase, o referido programa terá duração prevista de trinta e um meses. Seu início foi em novembro de 2012 com término determinado para junho de 2015. O processo de certificação se inicia pelo contato com instituições públicas e privadas atuantes na região e com produtores interessados em obter certificação na produção orgânica. Após os primeiros contatos são realizados estudo de caso conforme o segmento produtivo do agricultor. Os técnicos orientam os mesmos na adequação de práticas segundo a legislação vigente e instruções normativas determinadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA. Posteriormente, quando os técnicos constatam que todos os pré-requisitos para o processo de certificação foram cumpridos, os estudos de caso são encaminhados ao TECPAR para avaliação da documentação enviada e posterior auditoria da propriedade em estudo. O litoral paranaense demonstra ter forte tendência e grande potencial para a agricultura orgânica, visto que na primeira fase do Programa, o TECPAR emitiu sessenta e uma certificações de conformidade em produção orgânica. Desse total, vinte certificações foram para a região litorânea, ou seja, 32,8% das certificações emitidas no estado do Paraná (MICHELLON et al, 2011). Este potencial também se dá devido ao mosaico de unidades de conservação ambiental existentes na região, composta por uma área física de 6.057 km 2. Outro fator importante a ser citado é que os municípios em questão estão localizados na Serra do Mar e no Litoral, sendo que essas regiões apresentam maiores diversidades geográficas. Nelas ocorrem morros e serras de até 1.600 m de altitude, remanescentes de antigos planaltos, planícies e leques aluviais, planícies costeiras, grandes ilhas costeiras e amplos complexos estuarinos (PIERRI et al, 2006). Essa relação produz resultados recíprocos, de maneira que a própria produção orgânica não impacta negativamente, nem oferece riscos ambientais, propiciando a proteção das unidades de conservação e manutenção de biodiversidade, devido ao manejo natural da atividade agrícola (ROCHA et al, 2013). Nessa segunda fase do PPCPO, algumas das propriedades que mais chamam a atenção estão na gleba Pantanal do assentamento Nhundiaquara, localizado no município de Morretes (FIGURA 1). Esse fato se dá principalmente pelo número de pessoas envolvidas no processo e também pelo retorno social e financeiro para essa comunidade após a certificação. Dessa forma o objetivo principal deste trabalho é relatar as características, potencialidades e dificuldades observadas durante o processo avaliativo que antecede o encaminhamento ao TECPAR. Segundo Alano (2008) o assentamento Nhundiaquara apresenta uma área total de 1.274,20 hectares, sendo que destes, 249,00 hectares pertencem à reserva legal coletiva através da emissão de posse judicial em 1985. As famílias desse assentamento são de origem muito variada, existindo pessoas de diferentes regiões brasileiras, porém a sua maioria são de nativos da região litorânea. Todos os assentados são cadastrados no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 9, No. 1, 2014 2

MST. O assentamento possui 145 lotes no total, bem como três associações de assentados, entre elas, a Associação Prosperidade da Comunidade Pantanal onde são realizados os estudos de casos. FIGURA1: No mapa menor é representada a localização do município de Morretes. No mapa maior estão representadas, por pontos, as propriedades do Assentamento Nhundiaquara que fazem parte dos estudos de casos avaliados pelo PPCPO Litoral. Fontes: Google Earth e IBGE, adaptados pelos autores. As glebas dessa associação foram as últimas ocupadas, devido ao fato que o local apresentava problemas de alagamentos. A área possui 234,53 hectares e ficou abandonada no início por falta de recursos para drenagem do solo. Em 2001, devido à falta de terras na região, iniciou-se uma ocupação desordenada do local (ALANO, 2008). Em 2003 fundou-se a Associação Prosperidade e a partir daí a mesma reivindicou ao INCRA o processo de regularização da gleba Pantanal. O fato aconteceu em 2005, quando foram criados 42 lotes. Descrição dos Estudos de Casos O processo de assistência técnica rural do Assentamento Nhundiaquara teve início em março de 2013, quando aconteceu uma reunião na Câmara Municipal de Morretes intermediada pela EMATER local. Nessa reunião onde os técnicos expuseram aos produtores rurais interessados como aconteceria a certificação da Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 9, No. 1, 2014 3

produção orgânica por auditoria no município, bem como o público alvo do projeto e por sua vez do TECPAR. A partir de uma lista de produtores rurais presentes, se agendaram as visitas conforme a disponibilidade dos produtores. Para auxiliar nesses primeiros contatos com os produtores rurais a EMATER transmitiu informações prévias sobre essas propriedades. Durante o período de outubro de 2013 a janeiro de 2014, as atividades de campo estiveram paralisadas devido a um acidente envolvendo o veículo disponível para o Projeto, quando o mesmo permaneceu inativo para reparos. As visitas foram realizadas em oito propriedades, cujos produtores possuem predominantemente produção primária vegetal, destacando-se hortaliças, frutíferas e palmáceas. Destes, cinco optaram por certificar suas propriedades que, juntas, ocupam uma área aproximada de 12 ha. Praticam o sistema de agrofloresta em consonância ao projeto realizado por uma cooperativa do município de Barra do Turvo, organizam-se em grupos e realizam mutirões semanais em propriedades escolhidas aleatoriamente. Quatro dos produtores interessados já haviam passado pelo processo de certificação de produção orgânica através da Ecovida, sendo que três desses produtores foram certificados, porém os certificados perderam a validade por terem excedido ao tempo de renovação. Nesse período de estudos de caso se percebeu que as principais dificuldades de produção orgânica na gleba Pantanal estão relacionadas com a fertilidade do solo. Esse fato é provocado pela propensão da área em questão sofrer constantes alagamentos e dessa forma a água solubiliza e retira os macronutrientes presentes no solo. Segundo Alano (2008), a denominação da gleba como Pantanal ocorreu devido a estas características. A área possuía diversos canais de drenagem em toda sua extensão. Devido a fortes chuvas e o processo de erosão os mesmos foram obstruídos ao longo do tempo, dificultando a drenagem do solo por parte dos assentados e inviabilizando o plantio de algumas culturas. O solo possui carência de fosfato, conforme análises de solo solicitadas pela EMATER em algumas propriedades. Os produtores ainda dependem consideravelmente de recursos externos - utilizam calcário, pó-de-rocha e outros insumos agrícolas, em sua maioria obtidos via EMBRAPA. Verificou-se ainda que o acesso ao crédito, para alguns produtores, é escasso devido à falta de informação. Outro fator muito questionado é a dificuldade de escoamento de produção, visto que é pequeno o número de canais de comercialização e a maioria desses produtores não possuírem veículos próprios para transporte da produção. A comercialização dos produtos é feita, em maior parte, através de venda direta em feiras e mercados locais, mas não conseguem agregar valor ao produto por falta de certificação e por desconhecimento, por parte do consumidor, da importância dos alimentos produzidos de forma agroecológica. Alguns ainda conseguem acessar o mercado institucional, comercializando através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), porém relatam ter dificuldades no recebimento das notas devido principalmente à falta de documentação. O processo de rastreabilidade é outro ponto preocupante, visto que os produtores não tem o hábito de produzir o caderno de campo. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 9, No. 1, 2014 4

Já as potencialidades da produção orgânica na gleba Pantanal estão sedimentadas no fato de que a área da mesma está próxima a unidades de conservação ambiental que possibilitam a proteção contra fontes potencialmente poluidoras. Os produtores interessados se esforçam para atender as normas da produção orgânica, participando de eventos organizados pela EMATER e outras instituições, bem como participando de cursos relacionados a agricultura orgânica e auxiliam uns aos outros através dos grupos de agrofloresta. Buscam instalar uma unidade de processamento comunitária, para processar produtos com potencial de produção, como geleias, compotas, sucos, etc. Esses produtores possuem barreiras vegetais com as propriedades que possuem produção convencional, embora achem injusto tal procedimento. Reivindicam que o isolamento das áreas por barreiras deva ser feito principalmente pelos agricultores que utilizam insumos químicos. Alguns desses produtores participam ativamente do MST, o que propicia a troca de informações e saberes, além de promover articulação política no Assentamento. Conclusões Parciais Desde a primeira aproximação na gleba Pantanal foi possível perceber a carência de informações técnicas por parte dos produtores. Assim, o núcleo Agrobiologia do PPCPO Litoral está auxiliando os produtores através da atuação junto a outras instituições que trabalham na comunidade, realizando o mapeamento georreferenciado das propriedades e auxiliando na produção do plano de manejo orgânico das propriedades, entre outras ações. Agradecimentos Ao Fundo Paraná da Secretaria de Estado da Ciência Tecnologia e Ensino Superior que disponibiliza os recursos para a execução do Programa. Referências: ALANO, E. R. C. Espaço Rural e suas possibilidades empreendedoras: O Assentamento Nhundiaquara no Litoral Paranaense. 2008. 130 f. Dissertação. (Mestrado em Ciências). Curitiba, Universidade Federal do Paraná. 2008. MICHELLON, E. et al. (Orgs). Certificação pública de produtos orgânicos: a experiência paranaense. Maringá: Clichetec, 2011. PIERRI, N.; ANGULO, R. J.; SOUZA, M. C. de; KIM, M. K. A ocupação e o uso do solo no litoral paranaense: condicionantes, conflitos e tendências. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, n. 13, p. 137-167, jan/jun, 2006. ROCHA, J. R. C da; CAVALLET, L. E.; SIQUEIRA, J. C. C.; KALB, S. A., RIBEIRO, H. I. A experiência da certificação pública de produtos orgânicos no litoral do Paraná: entraves e desafios. Resumos do VIII Congresso Brasileiro de Agroecologia. Cadernos de Agroecologia. Porto Alegre: v. 8, n. 2, nov. 2013. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 9, No. 1, 2014 5