PALEOTEMPERATURA E PALEOSSALINIDADE NO OESTE DO ATLÂNTICO SUL SUBTROPICAL DURANTE OS ÚLTIMOS 53KA

Documentos relacionados
45 mm ESTIMATIVAS DE TEMPERATURA E SALINIDADE DA SUPERFÍCIE DO MAR PARA OS ÚLTIMOS ANOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE DO BRASIL

FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS E SEDIMENTOLOGIA DE CABO FRIO-RJ NOS ÚLTIMOS 13

BIOESTRATIGRAFIA DO INTERVALO PLEISTOCENO FINAL HOLOCENO NA PORÇÃO SUL DA BACIA DE SANTOS, COM BASE EM FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS

45 mm O HOLOCENO MÉDIO NA PORÇÃO SUDESTE DA AMÉRICA DO SUL

ISÓTOPOS DE OXIGÊNIO EM FORAMINÍFEROS BENTÔNICOS: CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DAS AMOSTRAS DO HOLOCENO E DO ÚLTIMO MÁXIMO GLACIAL

ALTERAÇÕES NA DIREÇÃO DE ENROLAMENTO DE GLOBIGERINA BULLOIDES DURANTE O HOLOCENO NA REGIÃO DE CABO FRIO-RJ

ANÁLISE MULTIVARIADA DE FORAMINÍFEROS NA SUBSUPERFICIE DO TALUDE CONTINENTAL INFERIOR DO ESTADO DA BAHIA

Sumário da Aula 4 Prof. Francisco Cruz

RODRIGO DA COSTA PORTILHO RAMOS

OSCILAÇÕES DE TEMPERATURA DO ATLÂNTICO TROPICAL OESTE PARA OS ÚLTIMOS ANOS COM BASE NA TÉCNICA DO ANÁLOGO MODERNO

Palavras-chave: hidrodinâmica de fundo; oscilações da AMOC; deposição de sedimentos; sortable silt

CORRELAÇÃO BIOESTRATIGRÁFICA DE DOIS TESTEMUNHOS A PISTÃO DO TALUDE CONTINENTAL DA BACIA DE CAMPOS, RJ: RESULTADOS PRELIMINARES

Análise fitolítica e palinologia: vegetação e clima na costa norte do Espírito Santo, Brasil

RESPOSTA DAS ASSOCIAÇÕES DE FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS ÀS VARIAÇÕES NA CIRCULAÇÃO OCEÂNICA, NO EMBAIAMENTO DE SÃO PAULO, ATLÂNTICO SUDOESTE.

MODELO DE IDADE COM 230 Th E 234 U E INFLUÊNCIA DE CICLOS ORBITAIS EM UM TESTEMUNHO MARINHO QUATERNÁRIO

- Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, Rua do Lago, 562, Cidade Universitária, , São Paulo, SP

1. INTRODUÇÃO 1.1 Considerações Iniciais

PALEOPLUVIOSIDADE DO SUL E SUDESTE BRASILEIRO DURANTE OS ÚLTIMOS SEIS CICLOS GLACIAIS-INTERGLACIAIS A PARTIR DE REGISTROS ISOTÓPICOS EM ESPELEOTEMAS

PALEOCEANOGRAFIA DO SUDOESTE DO ATLÂNTICO SUL: REGISTRO DE EVENTOS ABRUPTOS NOS ÚLTIMOS ANOS

2. MATERIAL E MÉTODOS

POSICIONAMENTO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL EM ANOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

Resposta da porção oeste do Oceano Atlântico às mudanças na circulação meridional do Atlântico: Variabilidade milenar a sazonal

Escopo do Grupo de Trabalho 1 Base Científica das Mudanças Climáticas

INFLUÊNCIA DE LA NIÑA SOBRE A CHUVA NO NORDESTE BRASILEIRO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T. Ferraz; Andrea de O. Cardoso

RELAÇÕES ENTRE TEMPERATURAS DA SUPERFÍCIE DO MAR SOBRE O ATLÂNTICO E PRECIPITAÇÃO NO SUL E SUDESTE DO BRASIL

RELAÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA SECUNDÁRIA DO ATLÂNTICO SUL SOBRE A OCORRÊNCIA DE SISTEMAS FRONTAIS AUSTRAIS ATUANTES NO BRASIL

1.1. Abordagem Paleoceanográfica

ZONEAMENTO PALEOCLIMÁTICO DO QUATERNÁRIO DA BACIA DE SANTOS COM BASE EM FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS

O LIMITE PLEISTOCENO/HOLOCENO NO CAMPO MARLIM LESTE DA BACIA DE CAMPOS-RJ, COM BASE NA BIOESTRATIGRAFIA DE FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS

Caracterização paleoceanográfica de um testemunho da Bacia de Santos com base em foraminíferos planctônicos durante o Holoceno

Análise do comportamento da circulação oceânica e atmosférica em e- ventos de El Niño e La Niña. Variações decorrentes das oscilações no Atlântico Sul

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA CIRCULAÇÃO OCEÂNICA E ATMOSFÉRICA EM EVENTOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

Gelo e Mudanças. Aluna: Luciane Sato

RELAÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLANTICO TROPICAIS E A PRECIPITAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE PETROLINA (SERTÃO PERNAMBUCANO)

GEOLOGIA GERAL CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Relação da Zona de Convergência Intertropical do Atlântico Sul com El Niño e Dipolo do Atlântico

Fenômeno La Niña de maio de 2007 a abril de 2008 e a precipitação no Rio Grande do Sul

Modulações da ZCAS pelas temperaturas da superfície do mar no Atlântico Sudoeste

Análise do aquecimento anômalo sobre a América do sul no verão 2009/2010

RELAÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLANTICO TROPICAIS E A PRECIPITAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE ARARIPINA (SERTÃO PERNAMBUCANO)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

Quaternary and Environmental Geosciences (2016) 07(1-2):1-5

5.1. Aquisição dos Testemunhos e Cronologia

ANÁLISE PRELIMINAR DA ESTRUTURA TERMAL DAS ÁGUAS DOS OCEANOS ATLÂNTICO SUL E AUSTRAL ATRAVÉS DE DADOS DE XBTs

Interferência da utilização de diferentes metodologias laboratoriais no sinal isotópico de oxigênio em testas de Globigerinoides ruber

VARIABILIDADE DA RESSURGÊNCIA DE CABO FRIO AO LONGO DO HOLOCENO COM BASE NAS ASSOCIAÇÕES DE FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS

Abstract. Introdução:

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO DE VERÃO. Características do Verão

ALTA DO ATLÂNTICO SUL E SUA INFLUÊNCIA NA ZONA DE CONVERGÊNCIA SECUNDÁRIA DO ATLÂNTICO SUL

SUMÁRIO CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 27

A. ESCOLA DE PALEOCLIMATOLOGIA Formulário de inscrição

Insights into paleoprecipitation changes in Brazil based on a stalagmite multi-proxy study

45 mm. Climat : Expérimentation e Approche Numérique / Equipe PALEOPROXUS (IRD/LOCEAN/PALEOPROXUS);

MONITORAMENTO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT) ATRAVÉS DE DADOS DE TEMPERATURA DE BRILHO (TB) E RADIAÇÃO DE ONDA LONGA (ROL)

3. ÁREA DE ESTUDO. 3.1 Localização dos Testemunhos

Resposta da porção oeste do Oceano Atlântico às mudanças na circulação meridional do Atlântico: Variabilidade milenar a sazonal

ANÁLISES FAUNÍSTICA E MULTIVARIADA DE FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS DA BACIA PERNAMBUCO-PARAÍBA: UMA INTERPRETAÇÃO PALEOAMBIENTAL DOS ÚLTIMOS 30 MIL ANOS

INFLUÊNCIA DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLÂNTICO NA VARIABILIDADE DA TEMPERATURA EM BELÉM-PARÁ.

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

45 mm PALEOQUEIMADAS NO HOLOCENO DA REGIÃO DE CABO FRIO, RJ

AULA 1. - O tempo de determinada localidade, que esta sempre mudando, é compreendido dos elementos:

INFLUÊNCIA DE EL NIÑO SOBRE A CHUVA NO NORDESTE BRASILEIRO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T. Ferraz; Andrea de O. Cardoso

Como se estuda o clima do passado?

Depto.Oceanografia Física, Química e Geológica, Instituto Oceanográfico-IOUSP 2

INFORMATIVO CLIMÁTICO

ESTUDO OBSERVACIONAL DA VARIABILIDADE DA TEMPERATURA MÁXIMA DO AR EM CARUARU-PE.

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Palavras-chave: Paleoceanografia. Matéria Orgânica. Isótopos estáveis de carbono. Isótopos estáveis de nitrogênio. Derivados de clorofila.

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Eliana Lopes Ferreira Bolsista CNPq de Iniciação Científica, Grupo de Meteorologia, Departamento de Física, UFPR ABSTRACT

Prognostico da Estação Chuvosa e sua Interpretação para Agricultura

INFLUÊNCIA DE ANO DE LA NINÃ (1996), EL NINÕ (1997) EM COMPARAÇÃO COM A PRECIPITAÇÃO NA MUDANÇA DE PRESSÃO ATMOSFÉRICA NO MUNICIPIO DE TERESINA PIAUÍ

Teleconexões Precipitação

A Mudança do Clima e seu impacto no Oceano Austral

Massas de água. Caracterização das massas de água existentes nos diferentes oceanos. Diagramas T-S.

CARACTERIZAÇÃO BIOESTRATIGRÁFICA DO NEÓGENO SUPERIOR DA BACIA DE SANTOS COM BASE EM FORAMINÍFEROS PLANCTÔNICOS PROVAS

Geografia Física. Turmas: T/R Chicão. Aula 2 Dinâmica Climática

Extensa porção da atmosfera com as mesmas características de temperatura e humidade. Uma massa de ar podede ser fria ou quente, seca ou húmida.

GEOMORFOLOGIA DO QUATERNÁRIO

INFORMATIVO CLIMÁTICO

Novembro de 2012 Sumário

CAMADAS DA ATMOSFERA

Variabilidade Temporal Anual do Campo de Pressão TELECONEXÕES

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SUSTENTABILIDADE MARÍLIA DE CARVALHO CAMPOS

VARIABILIDADE NO REGIME PLUVIAL NA ZONA DA MATA E AGRESTE PARAIBANO NA ESTIAGEM DE

O OCEANO NO CLIMA. Ressurgência Camada de Ekman Giro das circulações, Circulação termohalina ENSO. correntes oceânicas a oeste

Salinity, Ciclo Hidrológico e Clima

Massas de Ar e Frentes. Capítulo 10 Leslie Musk

INFORMATIVO CLIMÁTICO

CICLOS ORBITAIS OU CICLOS DE MILANKOVITCH

et al., 1996) e pelo projeto Objectively Analyzed air-sea Flux (OAFlux) ao longo de um

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA E GEOQUÍMICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

MONITORAMENTO ATMOSFÉRICO NOÇÕES SOBRE A ATMOSFERA TERRESTRE

Fatores climáticos altitude. Inversão de proporcionalidade em relação à temperatura

Variabilidade Diurna dos Fluxos Turbulentos de Calor no Atlântico Equatorial Noele F. Leonardo 12, Marcelo S. Dourado 1

Novembro de 2012 Sumário

Novembro de 2012 Sumário

Tyhago Aragão Dias, Alexandre A. Costa, Felipe V. Pimentel

Transcrição:

PALEOTEMPERATURA E PALEOSSALINIDADE NO OESTE DO ATLÂNTICO SUL SUBTROPICAL DURANTE OS ÚLTIMOS 53KA Rodrigo da Costa Portilho Ramos 1 ; Cátia Fernandes Barbosa 1 1 Departamento de Geoquímica / UFF (rcpramos@yahoo.com.br) Resumo. O presente trabalho apresenta a recontituição da paleotemperatura e paleossalinidade ao longo do testemunho JPC-17 com base nas análises de Mg/Ca, δ 18 O e assembléia de foraminíferos planctônicos. Nossos resultados mostram que a temperatura e salinidade exercem grande influencia na distribuição dos foraminíferos planctônicos, com desaparecimentos e reaparecimentos regionais de determinadas espécies como os plexos menardiforme e Pulleniatina, além da redução/aumento da abundância de Globorotalia inflata e Globorotalia truncatulinoides (espécies de águas frias). Variaçõess na temperatura e salinidade estão possivelmente relacionadas com variações no regime de chuvas na região, fortemente associados a deslocamentos Sul/Norte da ZCIT durante o intervalo de tempo estudado. Palavras-chave: Foraminíferos planctônicos, Atlântico Sul, razão Mg/Ca, isótopos estáveis, paleoceanografia. 1-INTRODUÇÃO A razão Mg/Ca em foraminíferos planctônicos tem se firmado como um excelente método na reconstituição da paleotemperatura superficial dos oceanos (Anand et al., 2003; Carlson et al., 2008). Uma vez que o δ 18 O em carbonatos, que corresponde a um tradicional método de paleotermometria, é influenciado pela salinidade e volume de gelo, sua correlação com Mg/Ca fornece estimativa sobre a paleotemperatura e paleossalinidade das águas oceânicas. Estes fatores exercem forte controle na distribuição espacial dos foraminíferos planctônicos (Boltovskoy et al. 1996). Foraminíferos planctônicos são organismos unicelulares altamente sensíveis a variações oceanográficas (Boltovskoy et al. 1996). No Oeste do Atlântico Sul as oscilações climáticas durante o Quaternário, durante os intervalos glaciais e interglaciais, foram registradas através de desaparecimentos e reaparecimentos regionais de determinadas espécies de foraminíferos planctônicos (Portilho-Ramos et al., 2006). Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi reconstituir a paleotemperatura e paleossalinidade do testemunho JPC-17 (Oeste

do Atlântico Sul subtropical) através da análise da razão Mg/Ca e isótopos estáveis de Oxigênio (δ 18 O), correlacionando-os ao padrão de frequência dos foraminíferos ao longo do testemunho. 2. ÁREA DE ESTUDO A circulação oceânica superficial que ocorre na margem continental sul brasileira, está sob influência da corrente do Brasil (CB), caracterizada por águas quentes e salinas formada por águas tropicais (temperatura >20 C, salinidade >36 ). A Corrente Equatorial Sul (South Equatorial Current - SEC) que flui em sentido Oeste se bifurca próximo ao paralelo 10 o -11 o S em corrente Norte do Brasil (CNB), à Norte e na Corrente do Brasil (CB) à Sul (Stramma, 1991). Fluindo em sentido Sul, a corrente do Brasil encontra a Corrente das Malvinas (CM), uma corrente fria, e rica em nutrientes que flui em sentido Norte adjacente a margem continental da Argentina. A CM transporta águas subantarticas (temperatura = 5 0 a 9 o C, salinidade = 33 a 34.) originadas por uma parte da Corrente Circumpolar da Antártica (CCA) que migra pra Norte após cruzar a Passagem de Drake (Wainer e Venegas, 2002). 3. MATERIAL E MÉTODOS O testemunho a pistão JPC-17 (27 0 52,73 S and 46 0 55,25 W; lâmina d`água de 1627 metros) foi coletado no talude continental Sul brasileiro durante o cruzeiro oceanográfico R/V KNORR 159-5 do Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI, EUA) (Fig. 1). O testemunho possui 15 metros de comprimento dos quais somente os 3.5 metros superiores foram usados nesse estudo. O testemunho foi amostrado a cada 10 cm onde 8cm 3 de cada amostra foi lavada sob água corrente em peneira de 62µm e posteriormente secada em temperatura ambiente. Em seguida, as amostras foram quarteadas e peneiradas a seco em peneiras e 250 µm e 150 µm para triagem e contagem de 300 carapaças de foraminíferos planctônicos. As carapaças foram analisadas sob estereomicroscópio, com aumentos variando de 6 a 66 x. As análises de Mg/Ca e δ 18 O foram feitas em carapaças de Globigerinoides ruber (branca; >250µm). As análises de Mg/Ca seguiram o protocolo de limpeza de Backer et al. (2003) antes de serem medidas no ICP-OES. Para as analises de δ 18 O, cerca de 16 carapaças

foram maceradas, homogeneizadas e pesadas (60µg) antes de serem analisadas no espectrômetro de massa Finnigan MAT 252 com dispositivo de KIEL. O padrão utilizado foi o Vienna Pee Dee Belemnite (VPDB). Os valores de Mg/Ca foram convertidos em temperatura aplicando a equação de paleotemperatura para Globigerinoides ruber (Mg/Ca = 0.45 exp0.09*sst) de Anand et al. (2003), enquanto que a composição isotópica da água do mar (δ 18 O W, um proxy de salinidade), optou-se por aplicar a equação de paleotemperatura para Globigerinoides ruber (T= -4.44 δ 18 O C δ 18 O W ) + 14.20) de Mulitza et al (2003). A correção do volume de gelo foi baseada em Siddall et al. (2003) e Schrag et al. (2002). Figura 1: Mapa de localização do testemunho JPC-17 (27 0 52,73 S and 46 0 55,25 W; lamina d`água de 1627 metros) O modelo cronológico foi feito através da interpolação linear a partir das três datações por AMS 14 C medida em foraminíferos planctônicos auxiliado por resultados bioestratigráficos. As idades foram calibradas (Fairbanks0107) assumindo-se um efeito reservatório de 400. As medidas de AMS 14 C foram realizadas no Laboratoire de Mesure du Carbone 14 (UMS 2572 LMC14 (CEA-CNRS-IRD-IRSN-MCC). 4-RESULTADOS E DISCURSSÕES A reconstituição da TSM e SSM para os 3.5 metros superiores do testemunho JPC-17 (representando os últimos 53 ka cal. BP) são apresentados na figura 2. Pode-se perceber que

as curvas de TSM e SSM apresentaram o mesmo comportamento durante os últimos 53 ka cal. BP, com uma clara tendência de aumento dos valores em direção ao topo do testemunho. A temperatura mínima registrada no testemunho JPC-17 foi de 20 o C durante a glaciação, enquanto a máxima foi de 24.4 o C no início do Holoceno, com uma amplitude média de 2 o C o que é coerente com outras estimativa (Carlson et al., 2008). Já a curva de SSS (δ 18 O W ) apresentou mesmo padrão de flutuação da SST, com valores baixos durante a última glaciação (~0.8 ), e tendência de aumento em direção ao topo do testemunho, chegando ao valor máximo no início do Holoceno (~2.4 ) com posterior queda (figura 2). A B C D E F G H I J 0 1 2 3 4 0 0.2 0.4 0.6 0.8 0 1 2 3 4 0 2 4 6 8 10 0 0.4 0.8 1.2 1.6 0 0.4 0.8 1.2 1.6 0 0.4 0.8 1.2 1.6 20 21 22 23 24 25 0.8 1.2 1.6 2 2.4 2.8 0.8 0.4 0-0.4-0.8-1.2 L Id ad es (k a A P.) 0 10 20 30 40 50 1 3 60 Figura 2: Correlação entre o padrão de frequência dos táxons de foraminíferos planctônicos e estimativas de paleotemperatura e paleossalinidade do JPC-17 em função da idade em Ka AP. (A) plexo menardiforme; (B) plexo Pulleniatina; (C) G. inflata; (D) G. truncatulinoides; (E) G. crassaformis; (F) N. dutertrei; (G) O. universa; (H) TSM estimada; (I) SSM estimada; (J) δ 18 O; e (L) Marine Isotopic Stage. A assembléia de foraminíferos planctônicos acompanhou com forte coerência as variações na paleo TSM e SSM (figura 2). Durante a última glaciação, houve um aumento dos táxons representantes de águas frias como G. truncatulinoides e G. inflata e um desaparecimento regional do plexo menardiforme os quais habitam águas quentes tropicais, o que corrobora com a baixa TSM. Nossos resultados mostram que no Oeste do Atlântico Sul o plexo Pulleniatina tem preferência por águas de baixa temperatura e baixa salinidade e que o desaparecimento do plexo por volta de 42ka AP está fortemente relacionado ao aumento da

paleo TSM e SSM (figura 2). O plexo menardiforme permaneceu ausente durante o glacial, porém apresenta forte ocorrência durante o Holoceno, quando a TSM esteve mais alta (24 0 C) ao longo de todo testemunho. Pode-se notar que o intervalo de ausência do plexo menardiforme dentro do Holoceno (~8ka AP.) ocorre simultaneamente com uma queda de 1 0 C da TSM (fig. 2), evidenciando a forte influencia da temperatura na frequência desse plexo, que prefere águas com temperatura mais elevadas (>24 0 C ou Mg/Ca >3.5mmol/mol). Variações na TSM e SSM observadas durante os últimos 53ka AP podem estar relacionadas à mudanças no regime de chuvas na região. Nossos resultados são coerentes com os encontrados por Cruz et al. (2007), os quais indicam aumento da precipitação durante a última glaciação provocada pela intensificação da monção de verão da América do Sul, como reflexo do deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) para Sul. A intensificação da precipitação durante o glacial aumentou a contribuição de água doce para o Atlântico Sul, reduzindo a paleotsm e paleossm. Durante o Holoceno a ZCIT voltou para a posição atual, reduzindo a precipitação e o aporte de água doce para o oceano, o que é evidenciado pelo aumento da TSM e SSM no início do Holoceno. Porém, no topo do testemunho, a TSM e SSM apresentam comportamento diferente, com a TSM permanecendo constante enquanto a SSM reduz, o que indica influencias globais, como aumento da temperatura do planeta e redução do volume de gelo. Este registro pode possivelmente ser condicionado pelo parâmetro orbital de obliqüidade que gera mudança no angulo de inclinação do eixo da Terra e portanto fortemente influenciador do clima. 5-CONCLUSÕES Os registros de TSM e SSM no testemunho JPC-17 mostram relação com a distribuição dos foraminíferos planctônicos durante os últimos 53 ka cal. BP, com aumento de G. truncatulinoides e G. inflata (espécies de águas frias) e redução do plexo menardiforme e O. universa (espécies de águas quentes) durante a glaciação, enquanto que o oposto foi observado durante o Holoceno. O plexo Pulleniatina apresentou afinidade com águas superficiais de baixa TSM e SSM, estando seu desaparecimento (42ka AP) relacionado ao aumento TSM e SSM. Variações na TSM e SSM possivelmente estão associados a variações

no regime de chuvas da região, no qual é fortemente relacionada a deslocamentos da ZCIT para Sul (Norte) durante o último intervalo glacial (Holoceno). 6-AGRADECIMENTOS Ao projeto RETRO ao Prof. Trond Dokken do Bjerknes Centre for Climate Research (BCCR) Bergen/Noruega pela analises de Mg/Ca e δ 18 O. 7-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anand, P.; Elderfield, H.; Conte, M.H. Calibration of Mg/Ca thermometry in planktonic foraminifera from a sediment trap time series: Paleoceanography, v. 18, doi: 10.1029/ 2002PA000846. 2003. Barker, S.; Greaves, M.; Elderfield, H. A study of cleaning procedures used for foraminiferal Mg/Ca paleothermometry. Geochemistry Geophysics Geosystems. v. 4, n. 9. doi:10.1029/2003gc000559. 2003. Boltovskoy, E.; Boltovskoy, D.; Correa,N.; Brandini, F. Planktic foraminifera from the southwestern Atlantic (30 0-60 0 S): especies-especific patterns in the upper 50m. Marine Micropaleontology. v.28, p. 53-72, 1996. Carlson, A. E.; Oppo, D. W.; Came, R. E.; Legrande, A.N.; Keigwin, L. D.; Curry, W.B. Subtropical Atlantic salinity variability and Atlantic meridional circulation during the last deglaciation. Geology, v. 36; n. 12, p.991 994; doi: 10.1130/G25080A. Cruz, F.W.Jr.; Burns, S.J.; Jercinovic, M.; Karmann, I.; Sharp, W. D.; Vuille, M.. Evidence of rainfall variations in Southern Brazil from trace element ratios (Mg/Ca and Sr/Ca) in a Late Pleistocene stalagmite. Geochimica et Cosmochimica Acta. V. 71, p. 2250 2263. 2007. Mulitza, S.; Boltovskoy, D.; Donner, B.; Meggers, H. Paul, A.; Wefer, G.. Temperature:δ18O relationships of planktonic foraminifera collected from surface waters. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology. V. 202, n. 15, p. 143-152. 2003. Portilho-Ramos, R. C.; Rios-Netto, A., M.; Barbosa, C. F. Caractarização bioestratigráfica do Neógeno Superior da Bacia de Santos com base em foraminíferos planctônicos. Revista Brasileira de Paleontologia. V. 9, n. 3, p. 349-354. 2006. Schrag, D.P.; Adkins, J.F.; McIntyre, K.; Alexander, J.L.; Hodell, D.A.; Charles, C.D.; McManus, J.F. The oxygen isotopic composition of seawater during the Last Glacial Maximum: Quaternary Science Reviews. v. 21, p. 331 342, doi: 10.1016/S0277 3791(01)00110-X. 2002. Siddall, M., Rohling, E.J.; Almogi-Labin, A.; Hemleben, C.; Meischner, D.; Schmelzer, I.; Smeed, D.A. Sea-level fluctuations during the last glacial cycle. Nature. v. 423, p. 853-858. 2003. Stramma, L. Geostrophic transport of the South Equatorial Current in the Atlantic. Journal of Marine Research. v. 49, p. 281-294. 1991. Wainer, I.; Venegas, S. A.. South Atlantic Multidecadal Variability in the Climate System Model. Journal of Climate. V. 15, p. 1408 1420. 2002.