RELAÇÕES ENTRE TEMPERATURAS DA SUPERFÍCIE DO MAR SOBRE O ATLÂNTICO E PRECIPITAÇÃO NO SUL E SUDESTE DO BRASIL
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1 RELAÇÕES ENTRE TEMPERATURAS DA SUPERFÍCIE DO MAR SOBRE O ATLÂNTICO E PRECIPITAÇÃO NO SUL E SUDESTE DO BRASIL RESUMO Alice M. Grimm (1); Valdeci R. Feuser (1) Grupo de Meteorologia - Universidade Federal do Paraná Depto de Física Caixa Postal CEP Curitiba Paraná grimm@fisica.ufpr.br Fax: (041) A correlação entre precipitação e temperatura da superfície do mar no Oceano Atlântico é analisada para regiões no Sul e Sudeste do Brasil, cujo impacto sob eventos El Niño e La Niña é conhecido, a fim de verificar possível influência desse Oceano sobre as anomalias de precipitação. ABSTRACT The correlation coefficient between precipitation and sea surface temperature in the Atlantic Ocean is analyzed for regions in South and Southeast Brazil, whose impact under El Niño and La Niña events is known, in order to verify the influence of this Ocean on the precipitation anomalies. Palavras-chave: Previsão de tempo e clima, precipitação, TSM no Atlântico. 1. Introdução A Região Sul do Brasil é uma das regiões subtropicais mais afetadas pelos eventos El Niño (EN) e La Niña (LN) (Grimm et al., 1998). Nesta região há 4 sub-regiões com anomalias de precipitação coerentes e consistentes durante eventos EN. Grimm et al. (1996) mostraram que a precipitação nestas regiões é significativamente correlacionada com a temperatura da superfície do mar (TSM) no Oceano Pacífico, principalmente nas áreas mais sujeitas a anomalias de TSM durante eventos EN. Grimm et al. (1998) sugerem a possível influência de anomalias de TSM no Atlântico sobre as anomalias de precipitação no Sul do Brasil, principalmente aquelas que ocorrem no inverno do ano seguinte a EN. No presente trabalho é verificada a correlação entre precipitações mensais em duas dessas áreas coerentes no Sul do Brasil e médias mensais de TSM sobre o Oceano Atlântico. Para comparação, foi incluída uma área no sudeste do Brasil. Diaz et al. (1998) reportaram relação entre anomalias de TSM no sudoeste do Atlântico e anomalias de precipitação no Uruguai e Rio Grande do Sul durante os períodos outubro-dezembro e abril-julho, além da relação com as anomalias relacionadas a EN no Pacífico tropical. Enfield e Mayer (1997) indicaram que há, no Atlântico tropical norte (principalmente em abril-maio-junho) e no Atlântico subtropical oeste (durante todo o ano, mas mais forte em junho-julho-agosto), anomalias de TSM associadas com ENSO no Pacífico. Estas anomalias estariam defasadas em relação às do Pacífico em 4-5 meses. Uma vez que anomalias no Pacífico e no Atlântico não são independentes e ambas estão relacionadas a certos padrões de chuva, qual oceano tem uma verdadeira relação causaefeito com a chuva? No presente trabalho a relação estatística chuva-tsm no Atlântico é explorada para uma área estendida (em relação a Diaz et al.), cujo impacto sob EN e LN é conhecido.
2 2. Dados e procedimentos As regiões escolhidas apresentam comportamento coerente das anomalias de precipitação durante eventos EN, mas com características diferenciadas entre si. A região 1 (Fig.1) apresenta anomalias positivas consistentes de chuva na primavera do ano EN (ano 0) e inverno do ano seguinte (ano +). A região 2 apresenta as mesmas características, com uma influência menor (região 2), mas ainda significativa. Para comparação, foi escolhida ainda uma área que apresenta anomalias opostas de precipitação durante a primavera-verão de EN, embora de forma menos consistente (região 3). Ela situa-se no Sudeste, na zona de convergência do Atlântico Sul (ver Grimm e Ferraz, 1998). Para cada área foi montada uma série média de precipitação. Os dados de TSM cobrem o período e tem resolução de 1º1º. O período usado para a correlação é Resultados e discussão As Figuras 2, 3 e 4 apresentam as isolinhas de correlação entre TSM e precipitação em cada região para meses de maior interesse. As áreas sombreadas tem correlação significativa ao nível de 95%. Em novembro, quando as anomalias positivas de precipitação são as mais fortes e consistentes nas regiões 1 e 2 durante EN, é também forte e positiva a correlação com a TSM junto a costa sudeste e sul do Brasil. Isto é consistente com os resultados de Enfield e Mayer (1997), indicando anomalias positivas nesta região durante EN. A correlação com a precipitação na região 3, apresenta-se negativa, mas não significativa, coerentemente com o fato de que suas anomalias durante novembro de EN são negativas, mas não significativas. Contudo, não se pode afirmar que as anomalias de TSM tem relação causal com as anomalias de precipitação, pois estas podem ser explicadas pelas anomalias de circulação associadas com EN nesta época (Grimm e Barros, 1998). Esta relação estatística significativa não se mantém durante setembro-outubro, quando as anomalias de precipitação são mais fracas. Em janeiro as correlações para as regiões 1 e 2 são positivas e significativas junto ao Sudeste, mas há também valores significativos próximos à região de referência, indicando uma possível influência local, independente de EN, visto que não há anomalias significativas de precipitação durante janeiro de EN nestas regiões. Para a região 1 a área de maior correlação se estende mais ao sul. Para a região 2, se restringe mais ao norte, junto da costa. A correlação é significativamente negativa para a região 3 na mesma área, indicando relação oposta entre anomalias de precipitação e TSM, o que também ocorre em fevereiro. Em maio e junho a correlação positiva aparece forte entre precipitação na região 1 e TSM junto da costa sul-sudeste. Nesta região ocorrem as maiores anomalias de precipitação durante outono-inverno (+) de EN. Tendo em vista que nesta época as anomalias são mais fortes e consistentes no litoral sudeste desta região, é provável que elas sejam influenciadas pelas anomalias de TSM, embora as anomalias de circulação associadas a EN sejam também favoráveis (Grimm e Barros, 1998). Para as regiões 2 e 3 não há correlações significativas nas proximidades. Há indicações de que em janeiro existe uma relação entre TSM e chuva independente de EN e em novembro a correlação deve-se as fortes anomalias de precipitação e ao padrão de TSM associado a EN, mas não necessariamente envolvendo uma relação causal. Em maiojunho a correlação é forte pelos mesmos motivos que em novembro, mas é mais provável uma relação causal. Agradecimentos. Ao CNPq, pelo suporte à pesquisa e também ao auxílio da Funpar (UFPR). A Rodrigo Siqueira, pelo suporte técnico. A ANEEL pela cessão dos dados de precipitação.
3 Referências Bibliográficas Diaz, A. F., Studzinski, C. D. e C. R. Mechoso, 1998: Relationships between precipitation anomalies in Uruguay and Southern Brazil and sea surface temperature in the Pacific and Atlantic Oceans. J. Climate, 11, Enfield, D. B. e D. A. Mayer, 1997: Tropical Atlantic sea surface temperature variability and its relation to El Niño-Southern Oscillation. J. Geophys. Res., 102, Grimm, A.M., C. H. Patsko e V. R. Feuser, 1996: Identificação de anomalias de temperatura da superfície do mar no Pacífico relacionadas com anomalias de precipitação na Região Sul do Brasil. Anais do IX Congresso Brasileiro de Meteorologia, v. 1, Grimm, A. M., and V. R. Barros, 1998: Processes leading to precipitation anomalies in Southern South America during El Niño and La Niña cycles. Anais do X Congresso Brasileiro de Meteorologia. Sociedade Brasileira de Meteorologia. Grimm, A. M. e S. E. T. Ferraz, 1998: Sudeste do Brasil: uma região de transição no impacto de eventos extremos da Oscilação Sul. Parte I: El Niño. Anais do X Congresso Brasileiro de Meteorologia. Sociedade Brasileira de Meteorologia. Grimm, A M., S. E. T. Ferraz and J. Gomes, 1998: Precipitation anomalies in Southern Brazil associated with El Niño and La Niña events. J. Climate (em publicação).
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