POSSIBILIDADES E LIMITES DA ESCOLA ITINERANTE CONTRIBUIR PARA A EMANCIPAÇÃO HUMANA: A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA ITINERANTE NO MST PARANÁ.

Documentos relacionados
O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NAS ESCOLAS ITINERANTES: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES

O CURRÍCULO ESCOLAR E O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA: experiência contra-hegemônica 1

Jose Ronaldo Silva dos Santos 1 INTRODUÇÃO

Educação e ensino na obra de Marx e Engels 1 Education and training in the work of Marx and Engels

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO. Código Nome Carga horária

VIII Semana de Ciências Sociais EFLCH/UNIFESP PÁTRIA EDUCADORA? DIÁLOGOS ENTRE AS CIÊNCIAS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E O COMBATE ÀS OPRESSÕES

UMA IMAGEM VALE MAIS DO QUE MIL PALAVRAS: INTELECTUALIDADE E INTERESSES DE CLASSE

Anais ISSN online:

XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

O ESTADO BURGUÊS E A EDUCAÇÃO

Marx e a superação do Estado, Ademar Bogo. Editora Expressão Popular, 2018, por Luciano Cavini Martorano, da Editoria de marxismo21

ESTADO E MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA: REFLEXÕES ACERCA DESTA RELAÇÃO A PARTIR DA ESCOLA ITINERANTE

ROSA LUXEMBURGO: UMA MULHER NA LUTA PELA EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA

APRENDER E ENSINAR EM ACAMPAMENTOS-MST- TOCANTINS: REFLEXÕES SOBRE SABERES CONSTRUÍDOS NA LUTA PELA TERRA.

A PRÁTICA DA AUTO-ORGANIZAÇÃO NO PROJOVEM CAMPO - SABERES DA TERRA CAPIXABA

Seminário Cenário Contemporâneo: Polêmicas e Desafios ao Serviço Social

NECESSIDADE TEÓRICA PARA A ORGANIZAÇÃO DA DISCIPLINA DE ESTÁGIO OBRIGATÓRIO NO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

EDUCAÇÃO: UMA ABORDAGEM CRÍTICA

EDUCAÇÃO INTEGRAL, PEDAGOGIA HISTÓRICO CRÍTICA E MARXISMO

XI SEPECH FORMAÇÃO DOCENTE: REFLEXÕES SOBRE O PROJETO DOCÊNCIA COMPARTILHADA

DESAFIOS DOS ESTUDOS CURRICULARES CRÍTICOS:

como se deu seu desenvolvimento e identificando quais fatores condicionaram sua manifestação. Duarte (2001), outro pesquisador representante dessa

MATERIALISMO HISTÓRICO (Marx e Engels)

Associação Catarinense das Fundações Educacionais ACAFE Concurso Público de Ingresso no Magistério Público Estadual PARECERES DOS RECURSOS SOCIOLOGIA

PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA E O PAPEL DO ENSINO DE BIOLOGIA NA FORMAÇÃO DA CONCEPÇÃO DE MUNDO

PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO ANDRÉIA JOFRE ALVES

A CONCEPÇÃO DE ENSINO ELABORADA PELOS ESTUDANTES DAS LICENCIATURAS

FILOSOFIA DO SÉCULO XIX

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO CAMPO NAS PESQUISAS ACADÊMICAS

Teorias socialistas. Capítulo 26. Socialismo aparece como uma reação às péssimas condições dos trabalhadores SOCIALISMO UTÓPICO ROBERT OWEN

36ª Reunião Nacional da ANPEd 29 de setembro a 02 de outubro de 2013, Goiânia-GO

Trabalho e Educação 68 horas. Universidade Estadual de Ponta Grossa Curso de Pedagogia 4º ano Professora Gisele Masson

CURRÍCULO BÁSICO PARA A ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL DA AMOP

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO CURRÍCULO DO PPGMPE

VII ENCONTRO ESTADUAL DAS EDUCADORAS E EDUCADORES DA REFORMA AGRÁRIA DO PARANÁ 02 A 04 DE SETEMBRO DE 2015 CASCAVEL PR 46

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CENTRO DE ENSINO E PESQUISA APLICADO À EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA ENSINO FUNDAMENTAL

APRESENTAÇÃO. PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 26, n. 1, 11-15, jan./jun

RELATO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE COMPARATIVA DA DISSERTAÇÃO MARX E FREIRE: A EXPLORAÇÃO E A OPRESSÃO NOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO HUMANA. 1.

Projeto CNPq/CAPES Processo / BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. São Paulo: UNB, 2010.

RELATO DE EXPERIÊNCIA DO GRUPO DE ESTUDOS EM ATUALIDADES

DESIGUALDADES DE GÊNERO E FORMAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL. Resumo: O debate sobre gênero no Brasil se incorporou às áreas de conhecimento a partir do

Marly Cutrim de Menezes.

QUADRO DE TRABALHOS APROVADOS PARA O I ENCONTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE QUESTÃO AGRÁRIA E EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MARANHÃO

ESCOLA DO TRABALHO UMA PEDAGOGIA SOCIAL: UMA LEITURA DE M. M. PISTRAK

PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NA ESCOLA E A FORMAÇÃO DA CIDADANIA: UM DESAFIO PARA A COMUNIDADE ESCOLAR

O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO EM PISTRAK. Eduardo G. Pergher Mestrando TRAMSE/PPGEDU FACED/UFRGS CAPES

Comparação entre as abordagens de classe marxiana e weberiana

TEORIAS SOCIALISTAS MOVIMENTOS OPERÁRIOS NO SÉCULO XIX.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EMANCIPAÇÃO HUMANA

A FORMAÇÃO DOCENTE: PIBID E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO

EMENTA OBJETIVOS DE ENSINO

COOPERATIVISMO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE SÃO PAULO: EMANCIPAÇÃO OU REPRODUÇÃO.

OS COMPLEXOS DE ESTUDO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA RUSSA NAS ESCOLAS DO MST

PEDAGOGIA DO MOVIMENTO: práticas educativas nos territórios de Reforma Agrária no Paraná

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA RESOLUÇÃO Nº 08/2011, DO CONSELHO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Associação Catarinense das Fundações Educacionais ACAFE Concurso Público de Ingresso no Magistério Público Estadual

UM DICIONÁRIO CRÍTICO DE EDUCAÇÃO 1

O CAPITALISMO ESTÁ EM CRISE?

ESTUDO SOBRE A UTILIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E DA IMPRENSA PERIÓDICA COMO FONTES PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PLANO DE ENSINO PERÍODO LETIVO/ANO 2010

A EDUCAÇÃO DO CAMPO E SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO DAS MULHERES EM AGROECOLOGIA NOS ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA NA REGIÃO DE SOROCABA.

ESTADO E EDUCAÇÃO NO BRASIL NO CONTEXTO NEOLIBERAL: EFEITOS NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

OS OBJETIVOS E CONTEÚDOS DE ENSINO. In: LIBÂNEO, J. C. (1994). Didática. São Paulo: Cortez.

A PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS E AS CORRENTES PEDAGÓGICAS NÃO CRÍTICAS: ANOTAÇÕES PELA PERSPECTIVA DO MATERIALISMO HISTÓRICO- DIALÉTICO

7. CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DO CAMPO (UNIOESTE/INCRA/MST) E A FORMAÇÃO DOS COLETIVOS PEDAGÓGICOS DAS ESCOLAS DO MST NO PARANÁ

IDEOLOGIA: ENSINO DE FILOSOFIA E DIFICULDADES DO PENSAMENTO ANTI-IDEOLÓGICO NA ESCOLA INTRODUÇÃO

CLAUDECI APARECIDO MENDES ESCOLAS ITINERANTES NO PARANÁ. UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO ALTERNATIVA

Vol. 1, N 1 (março de 2007) pp

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E INTERDISCIPLINARIDADE: UMA PROPOSTA DE INVESTIGAÇÃO DA PRÁTICA

II SEMINÁRIO DO PPIFOR

CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

POLITICAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL

EDUCAÇÃO DO CAMPO E AGROECOLOGIA COMO MATRIZ PEDAGÓGICA. Adil Sousa Oliveira 1 INTRODUÇÃO

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE O TRABALHO DOCENTE - GEPTRADO

- Foi ele quem introduziu um sistema para compreender a história da filosofia e do mundo,

A Crítica Marxista ao Processo de Trabalho no Capitalismo

PLANO DE DISCIPLINA NOME DO COMPONENTE CURRICULAR: Sociologia III CURSO: Técnico em Edificações Integrado ao Ensino Médio ANO: 3º ANO

PARA QUE E PARA QUEM A ESCOLA CAPITALISTA SERVE? Um olhar sob à luz da teoria Marxiana do valor

ASSENTAMENTO ARAGUAÍ: PARTICIPAÇÃO FEMININA E CONSTRUÇÃO DE SOCIABILIDADES

Da Modernidade à Modernização. Prof. Benedito Silva Neto Teorias e experiências comparadas de desenvolvimento PPGDPP/UFFS

Da relação escola e cultura: algumas considerações sobre os nexos entre desenvolvimento e educação. Carlos Antônio Giovinazzo Jr.

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE EM PERSPECTIVA DE CLASSE

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Educação e Autonomia Processos Educativos no Assentamento Elizabeth Teixeira

LINHA DE PESQUISA E DE INTERVENÇÃO METODOLOGIAS DA APRENDIZAGEM E PRÁTICAS DE ENSINO (LIMAPE)

II CONGRESSO INTERNACIONAL E IV CONGRESSO NACIONAL MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO

FORMAÇÃO CONTINUADA DE DOCENTES DO ENSINO SUPERIOR: POSSIBILIDADES DE CONSTRUÇÃO GRUPAL DE SABERES DOCENTES EM INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE ENSINO

3 A interpretação histórica da luta de classes a partir da Revolução Francesa

Projeto de Auto Avaliação Institucional PROPOSTA DE AUTO AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL

EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS DAS LICENCIATURAS EM EDUCAÇÃO DO CAMPO NO MARANHÃO RESUMO

A PRÁXIS CONSTRUTIVISTA PIAGETIANA E SUA INFLUÊNCIA NOS DOCUMENTOS OFICIAIS DE EDUCAÇÃO. da Paraíba UFPB/PPGE

POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL NO/DO CAMPO NO BRASIL: 1988 a INTRODUÇÃO

A DISCIPLINA DE DIDÁTICA NO CURSO DE PEDAGOGIA: SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL

Para entender uma vez por todas a concepção de Estado em Karl Marx

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA RESUMO

Palavras-Chave: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; Gestão Democrática; Agroecologia; Educação Profissional.

6 Considerações Finais

Transcrição:

POSSIBILIDADES E LIMITES DA ESCOLA ITINERANTE CONTRIBUIR PARA A EMANCIPAÇÃO HUMANA: A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA ITINERANTE NO MST PARANÁ. KNOPF, Jurema de Fatima (UNIOESTE) NOGUEIRA, Francis Mary Guimarães (Orientadora/UEPG) Neste trabalho pretendemos expor em linhas gerais o projeto que orientará nossa pesquisa no programa de pós-graduação em mestrados em educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste de Cascavel. Em virtude de a pesquisa estar ainda em sua fase inicial, apresentamos aqui algumas diretrizes norteadoras, desenvolvidas para inicialização do processo de pesquisa. Salientamos que ao longo de todo o processo esses caminhos poderão ser alterados visando a melhoria e a adequação dos objetivos a serem alcançados. O objetivo da pesquisa requer um tratamento metodológico que vai além de uma descrição dos fatos. Exige um olhar mais atento da realidade em estudo, por ela estar em constante movimento, por uma perspectiva social popular histórica, nesse sentido a elaboração deste trabalho de pesquisa pretende atuar a partir de pressupostos marxianos, compreender os fatos em seu contexto histórico e em suas múltiplas determinações, a fim de elucidar as contradições e os conflitos existentes na realidade focalizada como objeto de pesquisa, no caso em questão, a Escola Itinerante 1 trabalhadores Rurais Sem Terra. do Movimento dos Segundo MARX (2002), apenas os homens reais podem ser produtores de suas representações, idéias, etc, condicionados as determinadas circunstâncias do desenvolvimento das forças produtivas de uma sociedade. A consciência nunca pode 1 Aprovada pelo Conselho Estadual de Educação do Paraná com parecer n 1012/2003 de 08/12/2003, está fortemente vinculada à intitulação de políticas sociais voltadas a Educação do Campo subsidiada via ações das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (publicadas pelo Ministério de Educação). Escola itinerante, significa que esta escola acompanha o itinerário do acampamento até o momento em que as famílias acampadas chegam à conquista da terra, ao assentamento. O nome Itinerante significa também uma postura pedagógica de caminhar junto com os Sem Terra, o que sinaliza um grande avanço no sentido de afinidade entre os processos formais de escolarização e as vivencias e práticas educativas de um movimento social organizado, como MST. 1

ser outra coisa senão o ser consciente, e o ser os homens é o seu processo real de vida (p 22). Sendo assim, um dos pressupostos para a análise é compreender a escola em determinadas relações sociais de produção, atrelada a forma como os homens produzem sua existência. A escola real, inserida nas circunstâncias próprias de seu tempo, é um forte elemento que ajuda a formar as representações e ideias de seu tempo. No Movimento 2 a Escola assume o seu projeto de formação humana e de sociedade e se deixa movimentar pelos anseios dos sujeitos que fazem parte da sua organicidade. A Escola Itinerante está inserida nos acampamentos do MST no Estado do Paraná. Portanto, está vinculada a luta de uma organização política que estabelece objetivos para além das dimensões didáticas pedagógica da própria escola enquanto instituição. Este elemento agrega a ela características específica, próprias das circunstâncias em que está imersa; dentre elas a preocupação com a formação de sujeitos sociais que se reconhecem como classe trabalhadora, possibilitando-lhes a apropriação do conhecimento elaborado e visando a compreensão das contradições da sociedade capitalista. Por assim ser, também questiona o Estado em sua forma de estabelecer a gestão desta instituição. No entanto, esta mesma relação precisa ser indagada a fim de compreender as contradições que são inerentes a este processo. Em que direção a Escola Itinerante caminha ao constituir-se uma política de Estado? Quais os elementos formativos que possibilitam a formação do sujeito social, próprio da relação escola, Movimento e luta? Como tem se materializado a relação entre Estado e Escola Itinerante, uma vez que esta última, sendo uma política de governo exige o reconhecimento oficial no sentido de garantir a legalidade dos estudos e seu financiamento, contudo, o Movimento não abre mão pensá-la de acordo a sua proposta de educação que vem sendo apontada como vinculada aos interesses da classe trabalhadora, e, portanto, contrária aos interesses do Estado burguês? Busca-se com a pesquisa apreender as contradições eminentes nesta relação e a função social atribuída a Escola itinerante no atual contexto do 2 Ao referirmos ao MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, utilizaremos a palavra Movimento, com letra maiúscula ou MST, com todas as letras maiúsculas. 2

enfrentamento de classe, destacando seus limites e possibilidades em contribuir com a emancipação humana dos trabalhadores. No intuito de aprofundar a pesquisa elencamos como hipótese que o espaço do acampamento produz relações sociais coletivas que contribui para a emancipação humana dos sujeitos sociais, em que a escola está inserida, compreendendo que é um espaço de disputa de projeto. Portanto, o princípio de oposição é vivenciado com maior intensidade, ou seja, o enfrentamento com o latifúndio, a resistência e a unidade da coletividade Sem Terra em defesa de objetivos comuns. Neste sentido, aponta a reflexão destacada por Luis Carlos de Freitas, quando afirma que a Escola Itinerante pode ser um espaço privilegiado para contrariar a escola hegemônica, acresce a esta compreensão Bahniuk, (2008, p. 12) que em pesquisa recente afirma: Reconhecemos que as escolas do MST, em particular as escolas itinerantes, possuem potencialidades maiores em questionar o modelo escolar vigente, pois se encontram num espaço de contestação da ordem legal e hegemônica que são os acampamentos. E, ainda, pautam-se em uma proposta educacional questionadora, tendendo a nos trazer maiores elementos para refletirmos sobre as possibilidades concretas de a escola direcionar-se à perspectiva de emancipação humana. No entanto, a própria estrutura estatal capitalista, a qual ela se vincula, imprime contradições que se materializam na sua forma escolar, que demandam estudos aprofundados para compreender e redimensionar alternativas contrárias a dominação capitalista. Para compreender esta relação faz-se necessário compreender o Estado como um produto da sociedade numa certa fase de seu desenvolvimento, sendo assim, em acordo com Lenin (2007) O Estado é o produto e a manifestação do antagonismo inconciliável entre duas classes (p 25), expressa à manifestação de uma força política e militar que emana da sociedade e colocasse acima dela, com a finalidade de atenuar os conflitos no limite da ordem. Neste sentido o Estado institui-se como a expressão das contradições das relações de produção na sociedade civil as quais dele é parte essencial, nelas tem 3

fincado sua origem e são estas contradições que em última instância determina suas ações. A partir destes conceitos busca-se compreender a relação tênua entre Estado, Escola e Política Pública e as possibilidades e limites da Escola Itinerante contribuir para a emancipação humana dos trabalhadores e destacar a função atribuída a esta escola. Entretanto os processos de mudanças estruturais não se efetiva apenas pela escola, acontecem para além dela. Uma sociedade organizada sobre outras formas de sociabilidade humana implicaria na superação histórica do sistema educacional atual, exercício que Décio Saes (2005) denominou de proletarização da educação, através do qual, segundo ele: as massas trabalhadoras tenham de fato acesso a ciência e a cultura, rompendo assim o monopólio exercido pela classe média sobre ambas (p 32). A luta pela escola pública atrelada aos objetivos da luta do MST, que pretendem a transformação da sociedade precisa ser compreendida a partir da lógica da contradição em que o tensionamento do Estado faz-se necessário, inclusive para garantir o que está inerente a sua própria natureza. É nestas circunstâncias que se expressa a prática educativa da Escola Itinerante. A relevância social da pesquisa acentua-se pela importância da abordagem de estudos de uma prática educativa que acontece em acampamentos do Movimento, acrescendo contribuições para que a Escola Itinerante contribua com a luta pela emancipação humana dos trabalhadores. A atualidade da temática investigada é ressaltada pelo interesse dos Movimentos Sociais Populares do Campo e, em especial, a educação na perspectiva do MST, bem como, é relevância a investigações científicas desde as universidades. REFERÊNCIAS BAHNIUK, Caroline, Educação, trabalho e emancipação humana: um estudo sobre as escolas itinerantes nos acampamentos do MST. Florianópolis: UFSC, 2008, 162 p Dissertação (Mestrado em Educação) Programa de pós Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. 4

FREITAS, Luis Carlos, palestra no III Seminário Nacional da Escola Itinerante, Faxinal do Céu, Paraná, 2008. LENIN, Vladimir, O Estado e a revolução: o que ensina o marxismo sobre o Estado e o papel do proletariado na revolução. São Paulo, Expressão Popular, 2007. MARX, Karl e ENGEL, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Centauros, 2002. SAES, Décio Azevedo Marques, in Marxismo e socialismo do século XXI. Campinas, Cemac, 2005. SAVIANI, Demerval, Coleção Polêmicas do nosso tempo, Escola e democracia. São Paulo: Cortez, 1987. 5