II SEMINÁRIO DO PPIFOR

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1 EDUCAÇÃO ESCOLAR PARA OS POVOS DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE ROSANA-SP Geandro de Souza Alves dos Santos 1 Elias Canuto Brandão 2 Resumo O presente artigo é fruto das discussões realizadas no trabalho de pesquisa sobre a educação escolar para os povos do campo no município de Rosana-SP, em que abordamos a história, a complexidade e os dados colhidos em análise da educação daquele município com ênfase nas escolas rurais, nas quais segundo os documentos oficiais da rede municipal de Rosana-SP, deve ser desenvolvida a Educação do Campo. Em todo caso, os apontamentos indicam que tal perspectiva não se faz presente, nem nas políticas públicas, nem na concepção dos professores e comunidade escolar. Palavras-chave: Pesquisa, Educação do Campo, politicas públicas. Introdução e Discussão Este artigo é resultado das discussões realizadas em dissertação de mestrado, em pesquisa sobre a educação desenvolvida para os povos do campo no município de Rosana-SP e traz os apontamentos e análise, sobre os dados colhidos na referida pesquisa, cujo objetivo foi o de Analisar a realidade da educação para os povos do campo no município de Rosana/SP, amparado pelas orientações do sistema nacional de ensino, com vistas a identificar os desafios para a implantação de uma Educação do Campo naquele município (SANTOS, p.15, 2016). Tal consideração se dá pelo fato de os documentos oficiais que amparam a educação daquele município engendrar a educação desenvolvida para os povos do 1 Mestre em Ensino: Formação Docente Interdisciplinar da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR- Campus de Paranavaí-PR); Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação da Diversidade do Campo (GEPEDIC-UNESPAR-Paranavaí-CNPq); geandroalves@hotmail.com. 2 Doutor em Sociologia; Docente do Colegiado de Pedagogia e do Mestrado em Ensino: Formação Docente Interdisciplinar da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR-Campus de Paranavaí-PR); Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação da Diversidade do Campo (GEPEDIC-UNESPAR-Paranavaí- CNPq); Membro da Articulação Paranaense de Educação do Campo. eliasbrandao.unespar@gmail.com

2 campo, como sendo de Educação do Campo. Em todo caso, as ações e práticas pedagógicas da rede municipal de ensino, tendem a destoar das propostas teóricas de Educação do Campo, sobretudo pela utilização de material apostilado, que é apontado como aparentemente educação corporativa. No primeiro capítulo, realizamos uma abordagem histórica que permeia as questões da educação para os povos do campo a partir da década de 1930, com a égide do no ruralismo pedagógico, movimento importante da educação rural, fundamentado nos pressupostos da Escola Nova e do manifesto dos pioneiros. Sobre este modelo educacional, apontamos que o mesmo está aparentemente ligado aos interesses de contenção do êxodo rural, interessante às oligarquias agrárias que necessitavam de força de trabalho para sustentação de sua via produtiva de capital com a exploração da terra. A educação para o meio rural, a exemplo de outros modelos e perspectivas educacionais, nasce não da demanda dos agentes diretos, ou seja, daqueles que participam e se inserem nela, mas dos interesses daqueles que demandam o poder e isto é também observado no Pontal do Paranapanema, em São Paulo. (SANTOS, p. 23, 2016) Tal perspectiva encontra amparo também nas arguições defendidas por Ramal (2010), entre outros, que observam a educação rural como proposta vinculada aos interesses elitistas, desconsiderando a participação dos sujeitos na sua construção. No decorrer do início do século XX, a república traz a educação para o meio rural nas bases do movimento chamado ruralismo pedagógico, que veio referenciar a ação pedagógica para os povos do campo, com propostas que evidenciassem e se adequassem à realidade do campo, com base nos interesses de grupos hegemônicos (RAMAL, 2010). Esta temática, pelo que temos, parece percorrer as proposições educacionais para os povos do campo por todo período republicano, passando pelo período desenvolvimentista, década de 1950, pela ditadura militar, décadas de , chegando à década de 1990, período de abertura política, onde continuam as discussões sobre uma proposta educacional que pudesse revelar uma concepção diferente de educação para os povos do campo. Que

3 considerasse seus interesses e perspectivas e que fosse construída por estes e a partir de sua realidade, a Educação do Campo. A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. (BRASIL, apud, SANTOS, 2002, Art. 2º, único) Neste sentido, é preciso discutir as questões que dão identidade a esta proposta educacional, que ganha novo sentido quando se contrapõe aos antigos modelos de educação rural, como expresso no enxerto extraído da II Conferência Nacional Por Uma Educação do Campo, que se configuram NO campo, no sentido de presença, compensação. Assim, a proposta de uma Educação DO Campo, ao contrário, expressaria as demarcações construídas pelos sujeitos do campo, considerando sua cultura, identidades e interesses. No segundo capítulo, apresentamos e caracterizamos o território que deriva o objeto estudado, qual seja a educação para os povos do campo desenvolvida pela rede municipal do Município de Rosana-SP. Figura 02 - Localização do município de Rosana-SP Fonte:Thomaz Jr, A. Localizado na região do Pontal do Paranapanema, considerado um território de lutas, desde as primeiras expedições que o desbravaram, caracterizando assim uma região de

4 interesse para o avanço do capitalismo estatal. É neste contexto, que é fundada a cidade de Rosana-SP que mais tarde vem a se tornar Município de Rosana-SP, que compõe uma realidade ímpar, considerando sua característica de possuir três realidades distintas: a cidade de Rosana, a cidade de Primavera (Distrito) e os Assentamentos Rurais, estes últimos, onde se encontram as escolas rurais da rede municipal de Rosana, objeto de nossos estudos. Os dados foram colhidos por revisão bibliográfica, com os estudos feitos por Ramal (2016), Casa (2005), Hespanhol (1985) entre outros, mas, sobretudo por meio de entrevistas com antigos moradores e professores, que nos forneceram suas impressões e narraram fatos importantes para a composição deste trabalho. Com o objetivo de conhecer a realidade das escolas da rede municipal de Rosana-SP, que estão localizadas na zona rural, o terceiro capítulo fruto de um trabalho de campo, de coleta de dados e depoimentos que permitiram conhecer aquela realidade e o trabalho desenvolvido em educação para os povos do campo. Os documentos utilizados e que referenciam a educação municipal de Rosana-SP, tratam esta educação para os povos do campo como sendo Educação do Campo. Em todo caso, tal perspectiva, apesar de documental, não pode ser revelada, nem nas práticas pedagógicas desenvolvidas, nem na concepção dos professores que atuam nestas escolas, destacada em algumas falas que tendem a revelar a importância da formação de professores na construção de uma educação verdadeiramente Do Campo. Outra questão importante a destacar, foi à constatação da disparidade de investimentos existentes entre as escolas rurais do município e as escolas urbanas, bem como, a precarização do trabalho docente, por meio das condições de acesso e transporte, do trabalho com salas multisseriadas mesmo utilizando material apostilado e das condições físicas das escolas rurais. Apesar de aparente esforço legal para o desenvolvimento de uma Educação do Campo, como aponta os documentos oficiais analisados, o município adota o sistema de ensino apostilado, de cunho corporativo, cujo objetivo é o preparo do indivíduo para o mercado de trabalho, segundo os interesses do mercado, (TIRADENTES, 2012).

5 Considerações Finais II SEMINÁRIO DO PPIFOR Por fim, podemos considerar que ainda há um distanciamento entre a modalidade de ensino praticada na referida rede e as diretrizes da Educação do Campo, bem como a necessidade de uma formação de professores, sólida, crítica, capaz de entender a dinâmica de uma politica pública em Educação do Campo e que seja construída pelo campo e não para o campo. REFERÊNCIAS: CASA, Volmar Meia. Políticas educacionais no município de Rosana: a municipalização da educação nas escolas de ensino fundamental do assentamento Gleba XV de Novembro um projeto de política social?. Dissertação de mestrado UNIVERSIDADE Estadual Paulista, Faculdade de Filosofia e ciências, HESPANHOL, Antonio N. O Distrito de Rosana: Alguns Aspectos f. Monografia (apresentada ao final do curso de geografia) Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus Experimental de Presidente Prudente, Presidente Prudente: [s.l], RAMAL, Camila Timpani. A Educação do Campo e a realidade do município de Vitória da Conquista. Dissertação de Mestrado. UFSCAR, São Carlos-SP, RAMIRO, Patricia Alves. Assentamentos rurais: O campo das sociabilidades em transformação. O caso dos assentados do Nova Pontal. Tese de doutorado. UFSCAR, 2008 SANTOS, Geandro de Souza Alves dos. Educação Escolar para os povos do campo no município de Rosana-SP. 126 f. Dissertação (Mestrado em Ensino) Universidade Estadual do Paraná Campus de Paranavaí: Paranavaí, TIRADENTES, Aparecida. Educação Corporativa. In: CALDART, R. S.; PEREIRA. I. B.; ALENTEJANO, P.; FRIGOTTO, G. (Orgs.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012.