COOPERATIVISMO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE SÃO PAULO: EMANCIPAÇÃO OU REPRODUÇÃO.
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- Fátima Balsemão Barbosa
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1 COOPERATIVISMO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE SÃO PAULO: EMANCIPAÇÃO OU REPRODUÇÃO. Maria Cristiani Gonçalves Silva - UNICAMP A presente pesquisa localiza-se no grupo de pesquisas PAIDÉIA, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, mais especificamente na linha de pesquisa denominada Ética, Política e Educação, nucleada nas políticas educacionais e seus pressupostos. Trata-se de uma investigação que pretende analisar a expansão do Cooperativismo Educacional como uma forma de organização escolar a partir dos anos de 1980 e analisar os pressupostos filosóficos, pedagógicos e políticos do Cooperativismo na Educação de Jovens e Adultos. O cooperativismo educacional ocupou um lugar de destaque nos anos de 1980 e 1990, com um discurso aparentemente renovador de uma escola que pretendia formar o indivíduo integralmente, superar a ética da competição pela ética da cooperação, organizar-se pedagogicamente com participação plena dos professores como colegiado, superar a tradição administrativa hierárquica da escola pública e privada e apresentar, inclusive, disposições políticas emancipatórias, para todos os envolvidos no processo de ensino aprendizagem, desde os gestores, professores, funcionários, alunos, pais e comunidade. As cooperativas educacionais sejam elas formadas por profissionais em educação, por pais ou até por alunos, estão organizadas dentro do estado de São Paulo pela OCESP - Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo, que, por sua vez, está vinculada à OCB - Organização das Cooperativas do Brasil, que se encontra ligada à ACI Aliança Cooperativa Internacional. Sendo que todas essas entidades estão fundamentadas pelo princípio da Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, quando 28 tecelões, buscando formas de melhorar sua precária situação econômica, fundaram essa primeira cooperativa de consumo, cujos princípios posteriormente constituíram os fundamentos da doutrina cooperativista mundial praticada nos dias atuais. A pedagogia freiriana tem servido de base para muitas cooperativas educacionais que na procura por justiça e pela afirmação de suas comunidades, através do processo educativo, tornou-se traço constitutivo dos movimentos de contestação e busca pela educação libertadora.
2 Em Marx encontramos um avanço fundamental para o que está proposto. Em O manifesto comunista, Marx, ao defender a busca pela conquista do poder político por parte dos setores sociais proletarizados, fecunda os movimentos de libertação, em todo o século XX. (Marx; Engels, 1998). Para tanto nos questionamos: Será o cooperativismo educacional uma possibilidade transformadora ou até revolucionária da educação? Teria o cooperativismo condições políticas de gerar uma nova escola a partir de novas relações entre os envolvidos no processo educacional? Que elementos éticos, estéticos e políticos estariam presentes na educação cooperativista? Por outro lado: não seria o cooperativismo um reformismo adequado aos interesses de classe, moldados à necessidade de consumo da classe média, reproduzindo os elementos competitivos e autoritários do sistema educacional anterior? As duas possibilidades não são excludentes, é possível que haja escolas com alguma novidade pedagógica institucional e também é possível que seja um mascaramento da pedagogia freiriana e cooperativista. A partir dessa contradição buscaremos identificar os elementos constituintes das diretrizes pedagógicas cooperativistas nas escolas de São Paulo, analisando seu eventual alcance, seus referenciais e suas potencialidades, chegando ao fim, numa diagnose crítica do cooperativismo na EJA em São Paulo. JUSTIFICATIVAS Em todas as fases históricas da humanidade a cooperação e o trabalho coletivo estiveram presentes na produção da vida humana, seja de forma explicita (maneira de viver em comunidade numa dada sociedade) ou implícita (ações humanas isoladas, independentes da forma em que a sociedade estava organizada). Portanto, o cooperativismo não consiste em um ramo privado estreito. Os princípios cooperativistas estão enraizados no homem a partir do momento em que este se organizou em comunidade, está claro que o modo de vida cooperativista é algo natural a ser vivido pelo homem. Não trataremos neste objeto do modelo de educação cooperativista apresentado nos projetos educativos do capital, tais como: a) Educação para a empregabilidade (para tornar vendável a força de trabalho no mercado); b) Educação para o empreendedorismo (para estimular a gestão do próprio negócio ) e 2
3 c) Educação para o (falso) cooperativismo (para garantir a nova cadeia produtiva requerida pela acumulação flexível). 1 Durante os mais de 160 anos de existência do movimento cooperativista, o mesmo já foi objeto de estudos sob diversos aspectos, o que possibilitou o aprimoramento do movimento e a sua divulgação no meio acadêmico e leigo, no entanto, devido a sua complexidade, muitos outros aspectos precisam ser explorados para permitir que o arcabouço teórico se aprimore buscando atingir uma compreensão mais apuradas de seus fenômenos. O cooperativismo educacional é apontado como um dos ramos mais recentes, uma vez que só foi reconhecido em meados da década de Houve algumas experiências anteriores, mas elas não eram reconhecidas como experiências cooperativistas ou eram tratadas sem a diferenciação necessária. Por isso ainda há poucos estudos sobre o assunto, justificando assim a pertinência dessa pesquisa. Referencial Teórico Salientamos que a compreensão básica que fundamentou esta proposta ancora-se, inicialmente, no pensamento marxista quando discute o cooperativismo como doutrina social. Para Marx o cooperativismo não pode ser considerado uma terceira via de organização social, um sistema econômico possível de viabilidade prática, semelhante ao capitalismo ou ao socialismo, mas deve ser entendido como uma atividade que busca, mediante ação coletiva dos cooperados, meios materiais para a valorização das pessoas e não do capital. Sua realização pode se efetivar tanto em uma sociedade capitalista quanto em uma sociedade socialista. É uma prática humana, não econômica ou política. Apenas na coletividade [de uns e outros] é que cada indivíduo encontra os meios de desenvolver suas capacidades em todos os sentidos; somente na coletividade, portanto, torna-se possível a liberdade pessoal. Nos sucedâneos da coletividade existentes até aqui, no Estado etc., a liberdade pessoal tem existido apenas para os indivíduos desenvolvidos dentro das relações da classe dominante e apenas na medida em que eram indivíduos dessa classe [...] Na coletividade real, os indivíduos adquirem sua liberdade na e através de sua associação (Marx, 1984, pp ). Quanto à forma de organização das escolas cooperativistas de São Paulo, vamos nos ancorar no pensamento gramsciano de organicidade das instituições. Constata-se no pensamento de Antonio Gramsci uma particular preocupação com a questão educacional. Sua 1 LIA TIRIBA: Ciência econômica e saber popular: reivindicar o popular na economia e na educação. In Tiriba, Lia e Picanço, Iracy. Trabalho e educação.arquitetops, abelhas e outros tecelões da economia popular solidária. Aparecida; SP: Idéias e letras, 2004:
4 dimensão de análise mais contundente está centrada sobre a função política e, portanto, filosófica e histórica da Educação e vê a escola como um dos aparelhos de hegemonia privilegiada na organização de uma nova cultura objetivado pelo Intelectual Coletivo, partido amplo articulador da prática e de elaborações teóricas que vão permitir o rompimento com a hegemonia burguesa e a construção de outra nova. Na década de 60, quando o movimento de educação popular aparece no cenário nacional, ele apenas busca o atendimento às necessidades básicas do alfabetizando. Caracterizada primariamente como assistencial, a educação popular anteriormente atuava somente na alfabetização de jovens e adultos. Nessa mesma década, Paulo Freire começa a trabalhar com conscientização. A educação popular deve ser não apenas alfabetizadora, mas também libertadora: [...] Educação Popular é, sobretudo, o processo permanente de refletir a militância; refletir, portanto, a sua capacidade de mobilizar em direção a objetivos próprios. A prática educativa, reconhecendo-se como prática política, se recusa a deixar-se aprisionar na estreiteza burocrática de procedimentos escolarizantes. Lidando com o processo de conhecer, a prática educativa é tão interessada em possibilitar o ensino de conteúdos às pessoas quanto em sua conscientização (FREIRE, 2003b, p. 28) Deste modo, Paulo Freire introduziu no conceito da educação popular a questão da conscientização social. Ao partir para a união da alfabetização a um processo de conscientização, ele ensinou não só a escrita e leitura, mas pregou também a libertação do povo oprimido. Assim, Ivo não apenas via a uva, mas queria saber de onde ela vinha e para onde a riqueza daquele produto era destinada. As teorias utilizadas como referencial teórico integram-se, apontando caminhos para a construção emancipatória da educação, dentro da perspectiva materialista dialética, o que entendemos ser de extrema necessidade para a prática da verdadeira educação cooperativista. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Editora Paz e Terra. São Paulo Pedagogia do oprimido. 32. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002b. GAMBOA, Silvio Anázar Sanches. A Dialética na Pesquisa em Educação: elementos de contexto. Cap. 7. In: FAZENDA, Ivani (org.). Metodologia da Pesquisa Educacional. São Paulo: Cortez, (Biblioteca da Educação. Série 1. Escola; v.11)
5 GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. (tradução de Carlos Nelson Coutinho). 4.ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira GRAMSCI, Antonio. Poder, Política e Partido. (tradução Gilberto D Angelo Braz). 2.ª ed. São Paulo: Editora Brasiliense MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Abril, 1984 MARX, Karl; ENGELS, F. O Manifesto Comunista. São Paulo: Paz e Terra A Ideologia Alemã,1º capitulo:seguido das Teses Sobre Feuerbach. São Paulo: Centauro MÉSZÁROS, I. A educação para além do capital. São Paulo, Boitempo Editorial NUNES, César. Educar para a emancipação. Florianópolis. Sophos PINHO, Diva Benevides. A Doutrina Cooperativa nos Regimes Capitalistas e Socialistas. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Ed. Comemorativa. Campinas, SP: Autores Associados
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