SERÁ O QUE PARECE? 1- Serviço de Cardiologia, Hospital de Braga, Braga, Portugal 2- Serviço de Radiologia, Hospital de Braga, Braga, Portugal

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Glória Abreu 1, Sérgia Rocha 1, Nuno Bettencourt 1, Catarina Quina Rodrigues 1, Carina Arantes 1, Juliana Martins 1, Sara Fonseca 1, Catarina Vieira 1, Luciana Barbosa 2,Pedro Azevedo 1, Jorge Marques 1 1- Serviço de Cardiologia, Hospital de Braga, Braga, Portugal 2- Serviço de Radiologia, Hospital de Braga, Braga, Portugal

CASO CLÍNICO ANTECEDENTES HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL Hipertensão Dislipidemia Obesidade grau I Hipotiroidismo Colite isquémica Fev 2012 Submetida a cirurgia de Hartman MEDICAÇÃO HABITUAL Crestor 20 mg od; calcium-d od; rabeprazol 20 mg od; eutirox 0.075 mg od; triticum 150 mg od; venlafaxina 75 mg od Mulher 68 Anos - Recorreu ao SU por dor torácica retroesternal, com irradiação dorsal, intensidade 8/10, associada a náusea, diaforese e dispneia, com cerca de 1 hora de duração. - Sem fatores precipitantes, de alívio ou agravamento. Sem contexto infeccioso prévio. - Exame Físico : sem alterações de relevo.

ELETROCARDIOGRAMA NO S. DE URGÊNCIA

Relativamente ao caso apresentado, qual o diagnóstico mais provável? 1. Síndrome coronária aguda com supradesnivelamento de ST; 2. Pericardite aguda; 3. Miocardite; 4. Miocardiopatia de Stress.

CATETERISMO CARDÍACO DE EMERGÊNCIA Video 1 Projecção OAE 27º, Caudal 36º. Video 2 Projecção OAE 20º, Caudal 36º.

CATETERISMO CARDÍACO DE EMERGÊNCIA Video 3 Projecção OAE 30º. Video 4: Ventriculografia

Relativamente ao caso apresentado, qual destas afirmação é falsa: 1. A ventriculografia demonstra um padrão muito sugestivo de Miocardiopatia de Stress; 2. O cateterismo demonstra coronárias sem lesão angiográfica; 3. A evolução clínica esclarecerá a etiologia do quadro apresentado; 4. Trata-se de uma síndrome coronária aguda, pelo que tem de ser tratada como tal.

EVOLUÇÃO CLÍNICA Coronariografia: Artérias coronárias com irregularidades. Obtusa marginal bifurcada, oclusão de ambos os ramos na porção terminal. Depressão moderada da função sistólica global do VE (FE 33%), acinésia do ápex e dos segmentos justa-apicais e médios de todas as paredes, segmentos basais hipercontrácteis. Ritmo sinusal, onda T negativa I, avl, II, III, avf, V2-V6. Pico de marcadores de necrose miocárdica: - TropI 61,3 ng/ml; CK Total 1205 u/l.

Atendendo à evolução clínica, qual destas afirmações é verdadeira: 1. A evolução clínica sugere síndrome coronária aguda, não sendo necessária investigação adicional; 2. A oclusão dos ramos da obtusa marginal não justifica toda a evolução clínica; 3. A realização de ressonância magnética cardíaca não fornecerá informação adicional quanto ao diagnóstico; 4. Trata-se de uma miocardiopatia de stress; os achados encontrados no cateterismo são um epifenómeno.

RESSONÂNCIA CARDÍACA Fig 1 Imagens de eixo curto evidenciando edema intramiocárdico médio-distal. Fig 2 Imagens de 4 e 2 câmaras - Hipersinal em T2, sugerindo edema intramiocárdico.

RESSONÂNCIA CARDÍACA Video 5 Função sistólica global do VE conservada. Hipocinésia de todos os segmentos médio-apicais, excepto acinésia dos segmentos médio-distais a nível inferolateral. Fig 3 - Espessura diminuida dos segmentos médio distal inferolateral, apresentando realce tardio intramural de distribuição subendocárdica.

HIPÓTESE DIAGNÓSTICA PROVÁVEL: Miocardiopatia de Stress secundária a Enfarte Agudo do Miocárdio. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: Presença de fatores de risco cardiovascular; Sem história de fator stressante para além da SCA; Evolução eletrocardiográfica; Pico de TropI objetivado (61,30 ng/ml); Anatomia coronária: Obtusa Marginal bifurcada com oclusão de ambos os ramos na porção terminal; Recuperação da FE do VE em reavaliação imagiológica por RMC; hipocinésia dos segmentos médio-apicais de todas as paredes excepto acinésia da parede inferolateral. Hipersinal em T2 sugestivo de edema intramiocárdico nesses segmentos; Realce tardio transmural, de distribuição subendocárdica, nos segmentos médio-distal inferolateral. No interior, hipossinal sugestivo de obstrução microvascular.