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Transcrição:

DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 60/ CC /2016 N/Referência: P.º R P 98/2016 STJ-CC Data de homologação: 03-11-2016 Recorrente:. Cristina Santos, Notária Recorrido: Conservatória do Registo Predial de.. Assunto: Palavras-chave: Aquisição de ex-cônjuge de prédio urbano identificado na escritura pública como bem comum do casal Inventário por óbito do outro ex-cônjuge em que foi determinada a venda por negociação particular Princípio do trato sucessivo Invalidade do negócio jurídico Objeto legalmente impossível. Aquisição Dissolução Partilha Meação Trato sucessivo Invalidade Objeto legalmente impossível. DELIBERAÇÃO Relatório 1. Em 3 de junho de 2016, foi efetuado por via eletrónica um pedido de registo de aquisição a favor de Edneia., divorciada, sobre o prédio descrito sob o n.º 884/19970919, da freguesia de V, concelho de C, pedido esse que foi distribuído através do mecanismo aleatório round robin à Conservatória do Registo Predial de., tendo originado a AP. 3... desse dia. 1.1. O pedido de registo foi instruído com escritura pública de compra e venda efetuada no Cartório Notarial da Sr.ª Notária Cristina Santos, a qual foi a apresentante na qualidade de sujeito da obrigação de registar. Consta do citado documento, inter alia, que: Amílcar M. [ ] na qualidade de encarregado da venda nos termos do artigo 833.º do Código de Processo Civil na redação dada pela Lei 41/2013 [ ], em execução do despacho proferido nos autos de processo de Inventário (herança) [ ] em que é inventariado Jaime... R... [ ], pelo preço de quarenta mil euros, na qualidade em que outorga, vende à segunda outorgante [Edneia., divorciada], o prédio urbano [ ] descrito na Conservatória do Registo Predial de C sob o oitocentos e oitenta e quatro, da dita freguesia de V..., registado a favor do casal comum formado pelo inventariado e sua ex-mulher, a segunda outorgante [ ]. Que do referido preço já foi paga a quantia de vinte mil euros, estando a compradora dispensada do depósito de metade do preço correspondente ao seu direito no identificado bem comum do casal, conforme consta das mencionadas certidões judiciais. 1/8

1.2. A situação jurídica do prédio descrito sob o n.º 884/19970919, da freguesia de V..., à data da apresentação do registo de aquisição, era a que se expõe: AP... de 2003/08/28 Aquisição CAUSA: Compra Sujeitos ativos: EDINEIA R.. e JAIME... R..., casados no regime de comunhão de adquiridos. AP... de 2003/08/28 - Hipoteca Voluntária - Sujeito ativo: BANCO., S.A. AP... de 2003/08/28 - Hipoteca Voluntária - Sujeito ativo: BANCO.., S.A. As inscrições hipotecárias foram, entretanto, objeto de cancelamento. 2. A Sr.ª Adjunta de Conservador entendeu que o caso concreto configurava uma situação de suprimento de deficiências por violação do princípio do trato sucessivo e solicitou, via e-mail, a junção ao processo de registo, em cinco dias, da certidão do processo de inventário, devidamente transitada em julgado. 2.1. O referido e-mail deu origem a outros, os quais se sintetizam assim: da parte da Sr.ª Notária, parecendo-lhe não haver qualquer deficiência a suprir, mas antes a realização de uma venda por ordem do Tribunal no âmbito de um processo de inventário (herança), o pedido de aclaração sobre as disposições violadas; do lado da Sr.ª Adjunta de Conservador a informação de que o título não enferma de qualquer vício, mas que Jaime... R... e Edineia. constam do registo como casados em comunhão de adquiridos e são identificados no título como divorciados, pelo que o documento pedido servirá para comprovar o trato sucessivo, e a base legal é a constante do pedido de suprimento de deficiências [artigos 73.º, 34.º e 35.º do Código do Registo Predial (CRP)]; novamente por parte da Sr.ª Notária o pedido de especificação do documento em falta, evidenciando que poderá juntar a ordem de venda; em resposta, a Sr.ª Adjunta de Conservador comunica que o documento solicitado é a certidão do processo de inventário (herança) referida na escritura pública; no seguimento, a Sr.ª Notária remete cópia dos autos que basearam a escritura, mas declara que não será efetuada apresentação complementar, pois o processo de registo não enferma de qualquer deficiência, não tendo [o] cartório que ser onerado com os custos de uma apresentação complementar, nem tão pouco o cliente, com o que, a seguir-se o entendimento de que o processo de registo contém deficiências, deverá o registo ser efetuado de acordo com as mesmas; por fim, a Sr.ª Adjunta de Conservador, evidenciando o estudo detalhado que fez sobre o processo, por uma questão de colaboração e ética informa que continuam a surgir questões que, no seu entender, são motivo de provisoriedade por dúvidas, sinalizando-as, comunicando que decorrido o prazo legal o registo será efetuado como provisório por dúvidas. 2.2. Não emergindo resposta da Sr.ª Notária, o registo foi qualificado como provisório por dúvidas, tendo originado o despacho que se reproduz (o qual, na sua generalidade, representa o que deixou dito a Sr.ª Adjunta de Conservador no último e-mail): PROVISÓRIO POR DÚVIDAS - Nos termos do artigo 68.º e 70.º do CRP, porquanto, 2/8

Na escritura apresentada a registo, o Administrador da herança, devidamente mandatado para o efeito no âmbito do processo de inventário, procede à venda da totalidade do imóvel, (1/1). O bem levado ao processo de inventário, deixado por óbito daquele, é a meação, que o falecido detinha no prédio no 884 da freguesia de V..., em comum com a ora adquirente, de quem se havia divorciado, sem que tivessem feito partilha. Nos termos do artigo 1688.º CC, as relações patrimoniais entre os cônjuges cessam pela "dissolução do casamento". Refere o artigo 1689.º CC (...que cessando as relações patrimoniais entre os cônjuges, estes ou os seus herdeiros recebem os seus bens próprios e a sua meação no património comum (...). Trata-se de processo de Inventário por morte de Jaime... R... e não de uma partilha por divórcio. Nos termos do artigo 1788.º CC, o divórcio dissolve o casamento e tem juridicamente os mesmos efeitos da dissolução por morte. O património deixado pelo autor da herança é apenas a meação no referido prédio, objeto do pedido de registo, pelo que não se percebe como pode o administrador da herança vender a totalidade do mesmo e como pode a compradora adquirir a totalidade de algo que já lhe pertencia na proporção de metade ideal. Nos termos do artigo 73.º CRP, foram feitos suprimentos e nesse âmbito, suscitada a apresentação da certidão do processo de inventário ou/e o instrumento de venda lavrado pelo administrador da herança, no sentido de suprir as deficiências invocadas, sendo que a apresentante declarou não o pretender fazer. 3. No recurso hierárquico, tempestivo, o qual se dá aqui por integralmente reproduzido, argumenta-se, entre o mais: - Que se confunde o direito à meação num património conjugal, que coloca os cônjuges meeiros numa situação de comunhão conjugal, com o direito a metade de um bem, que coloca os cônjuges numa situação de compropriedade. Ora, no caso concreto o bem é comum e pertence assim à comunhão conjugal não podendo nenhum dos ex-cônjuges dispor, em vida ou por morte de um deles, de parte especificada ou de uma quota parte determinada em bens determinados (artigos 1682.º, 1682.º-A e 1685.º, todos do Código Civil); - Que no processo de inventário é relacionado efetivamente metade do imóvel, no entanto, por se entender existir um erro, ordena o Exmo. Sr. Juiz a venda do todo, tendo a adquirente, como titular de um direito à meação sido dispensada do depósito de metade do preço que lhe pertencia; - Que sendo a venda realizada nos termos do artigo 833.º do Código do Processo Civil [...] dever-se-á ter em atenção que ao princípio do trato sucessivo consignado no artigo 9.º do CRPredial estabelece o próprio artigo exceções, desde logo as transmissões realizadas em venda executiva. Ora, apesar de não se tratar de uma venda em processo de execução, são, salvo melhor opinião, aplicáveis as mesmas regras. 3/8

3.1. Termina-se por requerer que seja ordenado à Conservatória recorrida a realização como definitivo do registo requerido pela AP. 3... de 03/06/2016. 4. Em face do disposto no artigo 142.º-A, n.º 1, do CRP, foi, pela Sr.ª Adjunta de Conservador em substituição, proferido despacho de sustentação, no qual se dá conta que, perante a necessidade de qualificar o registo, várias questões surgiram, a saber: O titular inscrito morreu? Morreu divorciado? Casado? Quem são os seus herdeiros? O bem foi relacionado? Ou apenas a meação do falecido? E as dívidas ao Banco., S.A.? Todos os herdeiros tiveram intervenção no processo de inventário? Houve partilha por divórcio entre os titulares inscritos? A ora compradora/interessada é também titular inscrita do prédio, teve intervenção no processo de inventário? Que o processo de suprimento de deficiências se terá destinado a suprir as referidas dúvidas, requerendo-se a junção da certidão do processo de inventário judicial, mencionado na escritura, porém, não tendo sido feita a apresentação complementar do documento, com o pagamento do emolumento correspondente, decide não o considerar. Remete para os fundamentos constantes do despacho de qualificação, para os fundamentos invocados pela recorrente no requerimento de interposição de recurso, sem extrair consequências dos mesmos, decidindo manter a decisão recorrida. 5. O processo é o próprio, as partes têm legitimidade e o recurso é tempestivo, pelo que emitiremos a seguinte DELIBERAÇÃO I O princípio do trato sucessivo, na modalidade da continuidade das inscrições, está consagrado no artigo 34.º, n.º 4, do Código do Registo Predial e determina que a intervenção do titular inscrito, no facto cujo registo esteja sob apreciação, ocorra nos precisos termos em que o registo defina a respetiva titularidade 1. 1 Começamos por dar conta da distinção entre o princípio da legitimação de direitos e o princípio do trato sucessivo, previstos, respetivamente, no artigo 9.º e no artigo 34.º, ambos do CRP. O artigo 9.º consagra o princípio da legitimação de direitos. Deste princípio decorre, em síntese, o seguinte: é o titular inscrito que está legitimado para alienar ou onerar o prédio em causa e, por isso, deve demonstrar que o prédio está registado a seu favor (cfr. MOUTEIRA GUERREIRO, Temas de Registos e de Notariado, Coimbra: Almedina, 2010, pp. 44-48). Portanto, este princípio dirige-se fundamentalmente a quem tem a tarefa de titular as disposições sobre imóveis, elaborando os correspondentes documentos, como o Notário (escritura pública), o Solicitador, o Advogado ou o Notário (documento particular autenticado sujeito a depósito eletrónico), o Conservador (no âmbito do procedimento especial de transmissão, oneração e registo imediato de imóveis, vulgarmente designado por Casa Pronta), entre outros. Assim, os factos de que resulte transmissão de direitos ou constituição de encargos sobre imóveis não podem ser titulados sem que os bens estejam definitivamente inscritos a favor da pessoa de 4/8

quem se adquire o direito ou contra a qual se constitui o encargo - artigo 9.º, n.º 1 do CRP e 54.º, n.º 2 do Código do Notariado (CN). A regra geral condiciona a titulação do ato dispositivo à existência do registo a favor do alienante. Porém, a norma contém exceções à necessidade de registo a favor do alienante: i) a partilha, não sendo necessária a primeira inscrição a favor do autor do património hereditário ou do património conjugal, para se efetuar aquela e quer se trate de prédio não descrito ou descrito na Conservatória [artigo 9.º, alínea a) e 55.º, a) do CN]; ii) os atos de aquisição forçados, tais como a expropriação, que é uma aquisição originária, e a venda executiva, a penhora, arresto, declaração de insolvência e outras providências que afetem a livre disposição dos bens, que como atos judicialmente determinados, cabe ao juiz do processo averiguar a legitimação [artigo 9.º, alínea b)]; iii) os atos de transmissão ou oneração por quem tenha adquirido no mesmo dia os bens transmitidos ou onerados [artigo 9.º, alínea b) do e 54.º, n.º 3, a) do CN]; iv) as situações de urgência devidamente justificada [artigo 9.º, alínea c) e 54.º, n.º 3, b) do CN]; v) os casos em que o outorgante queira dispor do prédio situado em área onde não tenha vigorado o registo obrigatório, se for o primeiro ato de transmissão posterior a 1 de outubro de 1984, em que basta juntar ao titulador documento comprovativo de que é o titular ou fazer a simultânea justificação, se não tiver título [artigo 9.º, n.º 3 e 55.º, b) do CN] (sobre este princípio e o princípio do trato sucessivo vide JOÃO BASTOS, A Reforma do Registo Predial no âmbito dos princípios da legitimação e do trato sucessivo, acessível em http://www.cenor.fd.uc.pt/site/). O princípio do trato sucessivo, de natureza formal (no sentido de que o seu cumprimento deve ser observado no momento do registo e não no momento da constituição do ato, cfr. CATARINO NUNES, Código do Registo Predial Anotado, Coimbra: [S.n.], 1968, pp. 233-237), está consagrado no artigo 34.º do CRP. Do preceito decorre que o direito do adquirente tem de se basear no do transmitente. Este princípio destina-se a quem tem de efetuar o registo, essencialmente ao Conservador, e encerra duas vertentes. Na primeira, falamos do princípio do trato sucessivo na modalidade da inscrição prévia ou primeira inscrição, visando os registos que incidem sobre prédios não descritos na conservatória ou os prédios descritos mas sem uma inscrição de aquisição em vigor (artigo 34.º, nºs 1, 2 e 3). Ora, no caso de o registo incidir sobre um daqueles tipos de prédios, de acordo com o n.º 1 do artigo 34.º, é obrigatória a inscrição prévia em nome do onerante para a constituição de encargos por negócio jurídico. Exemplificando, o prédio terá de ter um registo de aquisição a favor daquele que pretende constituir uma hipoteca voluntária. No que concerne à aquisição de direitos, ainda nesta modalidade, o registador tem de exigir o registo prévio em nome de quem transmite primeira parte do artigo 34.º n.º 2 mas se for apresentado ao serviço de registo o documento comprovativo do direito do transmitente ou tratando-se de aquisição baseada em partilha, não é necessário efetuar o primeiro registo última parte do artigo 34.º, n.º 2 e n.º 3. Na segunda modalidade, o princípio respeita à continuidade das inscrições e refere-se aos registos solicitados sobre prédios descritos e com inscrição de aquisição ou reconhecimento de direito suscetível de ser transmitido (v.g., por decisão judicial) ou mera posse, em vigor (artigo 34.º, n.º 4). Nesse caso, há uma obrigatoriedade de intervenção do titular inscrito de forma a poder ser lavrada nova inscrição definitiva. Note-se, no entanto, que o princípio do trato sucessivo demanda a intervenção do titular inscrito na exata medida em que consta do registo (cfr. Processos R.P. 173/99 DSJ-CT, BRN n.º 4/2003, II Caderno (http://www.irn.mj.pt/sections/irn/legislacao/publicacaode-brn/docs-brn/2003/brn-4-de-2003/), e R.P. 42/2013 STJ-CC (http://www.irn.mj.pt/irn/sections/irn/doutrina/pareceres/predial/2013/). Como lembra CARVALHO FERNANDES (cfr. Lições de Direitos Reais, 6.ª Ed. (reimpressão), Lisboa: Quid Juris, 2010, p. 122), o princípio do trato sucessivo corresponde, sem dúvida, a um dos traços fundamentais do sistema do registo predial português, não só por presidir a aspetos muito relevantes da sua orgânica, mas também por ser uma das vias de efetiva realização da sua função e finalidade. Assim, a garantia do respeito do trato sucessivo enquanto cadeia ininterrupta de inscrições de alienações ou onerações relativas a certa coisa demanda a intervenção do titular inscrito de forma a poder ser lavrada nova inscrição definitiva, na medida em que, quando o titular inscrito não tem intervenção no título sujeito a registo, a inscrição não se efetua definitivamente, mas como provisória por dúvidas (artigo 70.º do CRP). Isto é, quem tem uma inscrição a seu favor tem a confiança de que não pode, à sua revelia, ser lavrada uma nova inscrição definitiva sobre o prédio. 5/8

II O pedido de registo de aquisição que tenha por base uma venda por negociação particular, ordenada judicialmente em inventário instaurado por morte de um dos membros de casal dissolvido por divórcio, quando comprador nessa venda seja o membro sobrevivo do casal, o bem objeto da venda se encontre registado a favor da comunhão conjugal e resulte do próprio título que se trata de um bem comum do casal, não levanta qualquer problema de violação do princípio do trato sucessivo na referida modalidade já que, no título, os titulares inscritos intervêm nos exatos termos em que o registo de aquisição em vigor define a respetiva titularidade, isto é, como titulares, cada um, do direito à meação no património comum em que o bem se integrava antes suscita um problema de validade do negócio jurídico, portanto de âmbito substantivo 2. Assim, o trato sucessivo alicerça-se não só no princípio da prioridade do registo (artigo 6.º do CRP), determinando que o direito registado em primeiro lugar prevaleça sobre os subsequentes, relativamente aos mesmos bens, por ordem da data dos registos e, dentro da mesma data, pelo número de ordem das apresentações correspondentes, e na presunção de que o direito existe e pertence ao titular que tem o registo inscrito a seu favor, nos precisos termos em que o registo o define (artigo 7.º do CRP), mas é também o caminho para a concretização dos fins do registo (artigo 1.º do CRP). 2 Existindo inscrição de aquisição em vigor a favor de Jaime... R... e Edineia R.., casados sobre o regime da comunhão de adquiridos, por compra, o bem presume-se comum, pois adquirido depois do casamento e a título oneroso [artigo 1724.º, b) do Código Civil (CC)]. Ora, a comunhão conjugal ajusta-se, doutrinalmente, à figura da propriedade coletiva, sendo um dos seus aspetos mais importantes o facto de, antes de estar dissolvido o casamento ou de ser decretada a separação de pessoas e bens entre os cônjuges, não poderem estes dispor da sua meação nos bens comuns, bem como não lhes é permitido pedir a partilha dos bens antes da dissolução do casamento (sobre a natureza jurídica da comunhão conjugal vide MANUEL A. DOMINGUES DE ANDRADE, Teoria Geral da Relação Jurídica, Vol. I, (Reimpressão), Coimbra: Almedina, 1992, pp. 224-226 e FRANCISCO PEREIRA COELHO e GUILHERME DE OLIVEIRA, Curso de Direito da Família, Vol. I, 4.ª Ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2008, pp. 506-510). A partilha dos bens comuns do casal é a consequência normal da cessação das relações patrimoniais entre os cônjuges, entendendo-se então que é apenas permitida depois da dissolução do vínculo conjugal, da separação de pessoas e bens ou da simples separação judicial de bens (artigo 1770.º do CC). Com efeito, as relações patrimoniais entre os cônjuges cessam com a dissolução, a declaração de nulidade ou a anulação do casamento ou com a separação de pessoas e bens (cfr. artigos 1688.º, 1625.º, 1627.º, 1631.º e 1795.º-A, todos do CC). A dissolução do casamento tanto pode dar-se por morte de um dos cônjuges como por divórcio (artigo 1788.º do CC). Extintas as relações patrimoniais, entre os casados, por divórcio, procede-se à partilha dos seus bens comuns. Em virtude do disposto no artigo 1689.º, n.º 1, do CC, cada um receberá na partilha os seus bens próprios e a sua meação no património comum, conferindo previamente o que dever a este património (cfr. artigo 1697.º, n.º 2 do CC). A partilha subsequente a divórcio destina-se assim a pôr fim à indivisão de uma determinada massa de bens ainda não integrada no património de cada um dos interessados, isto é, de uma universalidade de bens (universalidade de direito), como é, designadamente, a comunhão conjugal. Contudo, enquanto o património conjugal se conservar indiviso, após a dissolução por divórcio, o que subsiste, em relação a cada excônjuge, é o direito à meação, integrado por todos os bens que por força do regime de bens e respetivas regras imperativas sejam 6/8

III Com efeito, em princípio, o conteúdo do negócio jurídico trazido a registo é desaprovado pela ordem jurídica, já que nos termos do disposto no artigo 280.º, n.º 1, do Código Civil são nulos os negócios jurídicos cujo objeto seja legalmente impossível 3, devendo o registo ser recusado ao abrigo do artigo 69.º, n.º 1, alínea d), do Código do Registo Predial. IV Todavia, considerando o facto de que o negócio jurídico assim celebrado, nos seus pressupostos subjetivos e objetivos, o foi no âmbito de um processo de inventário judicial, não podendo por isso excluir-se, à partida, que aqueles mesmos pressupostos tenham sido objeto de validação por parte do Meritíssimo Sr. Juiz, em despacho(s) transitado(s), afigura-se adequado, nestas particulares circunstâncias, que o registo de aquisição em causa, em vez de ser recusado, se qualifique como provisório por dúvidas 4-5. comuns, nomeadamente bens móveis, imóveis e participações sociais, e que, portanto, faziam parte daquele património coletivo, de acordo com a regra constante do artigo 1730.º, n.º 1 do CC. É que, se o regime de bens era de comunhão, deixa de haver um património comum ou um património coletivo. O que não quer significar que os bens lhes pertençam em compropriedade, podendo cada um dispor de metade de cada um desses bens em concreto, já que antes da partilha não se sabe com que bens será preenchida a meação de cada um dos ex-cônjuges. No entanto, no período que decorre entre a cessação das relações patrimoniais dos cônjuges e a partilha, cada um dos ex-cônjuges pode dispor da sua meação, pois a situação passa a ser idêntica à da herança indivisa. O entendimento de que a natureza desta nova contitularidade se aproxima mais da indivisão hereditária do que da compropriedade, conduz, nomeadamente, a duas ilações: a primeira, já abordada, de que a cessação da indivisão entre os cônjuges se faz por partilha e não por divisão de coisa comum; e a segunda, de que na fase que precede a partilha a alienação da meação do cônjuge, admitida portanto, seguirá o regime da alienação de quota da herança (artigos 2124.º e ss. do CC) e não da alienação da quota em compropriedade (artigo 1408.º do CC). Donde se conclui que, naquele período, o que qualquer dos ex-cônjuges pode alienar a terceiro ou ao próprio ex-cônjuge é a sua meação e não um bem ou bens concretos. Registalmente, far-se-á um averbamento, com a natureza de subinscrição (artigo 101.º, n.º 1, do CRP), à inscrição de aquisição a favor da comunhão conjugal. 3 No entendimento de HEINRICH EWALD HÖRSTER, A Parte Geral do Código Civil Português, Coimbra: Almedina, 1992, p. 523, o objeto é legalmente impossível quando a ordem jurídica não prevê tipos negociais ou meios para a sua realização ou quando não o admite sequer em relações jurídicas privadas, dando como exemplo de prestação legalmente impossível aquela em que há transferência da propriedade para quem já é proprietário. 4 A escritura pública foi o único documento apresentado e, dela, nada é possível concluir acerca da existência duma eventual apreciação favorável, por parte do juiz do inventário, acerca dos pressupostos da compra e venda, nos exatos termos em que ela veio a ser formalizada. 5 No âmbito da qualificação registal, estando em causa uma venda por negociação particular, o princípio da legalidade (artigo 68.º do CRP) não se encontra balizado pelas questões que incidam sobre o mérito da causa e as que se relacionem com a verificação dos pressupostos processuais da ação, como quando estamos em face de uma decisão judicial. Pode é acontecer que esse negócio jurídico se encontre recoberto por uma decisão judicial, transitada em julgado, onde os seus exatos pressupostos (no caso, a transferência de propriedade para quem já é proprietário) tenham sido sindicados pelo Tribunal. 7/8

Em conformidade, propomos a improcedência do recurso. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Consultivo de 21 de outubro de 2016. Blandina Maria da Silva Soares, relatora. Esta deliberação foi homologada em 03.10.2016 pelo Senhor Vogal do Conselho Diretivo, em substituição. 8/8