AGROBIODIVERSIDADE E PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS COMO ESTRATÉGIAS DE MANEJO DO AGROECOSSISTEMA NO ASSENTAMENTO CUNHA, EM CIDADE OCIDENTAL (GO).

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Transcrição:

AGROBIODIVERSIDADE E PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS COMO ESTRATÉGIAS DE MANEJO DO AGROECOSSISTEMA NO ASSENTAMENTO CUNHA, EM CIDADE OCIDENTAL (GO). Cynthia Torres de Toledo Machado 1, Altair Toledo Machado 1 ( 1 Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Caixa Postal 08223, 73010-970 Planaltina, DF. e-mail: cynthia@cpac.embrapa.br; altair@cpac.embrapa.br) Termos para indexação: caracterização participativa de agroecossistemas, estratégias agrecológicas, diversidade de cutivos, manejo de agroecossistemas. Introdução As atividades conduzidas em assentamentos de reforma agrária e em comunidades de pequenos produtores devem ser integradas, estruturantes e participativas. Portanto, a premissa dessa proposta foi a de conhecer os ambientes, as pessoas, suas necessidades e demandas, através de informações complementares que servissem de subsídios para projetos em andamento e para iniciativas e parcerias futuras. O presente trabalho apresenta o resultado do diagnóstico participativo do manejo de agroecossistemas na área do Grupo Coletivo Carajás do Assentamento Cunha, situado em Cidade Ocidental (GO), que se encontra em transição para o sistema de produção baseado em princípios agroecológicos. O objetivo principal do diagnóstico foi a caracterização local considerando os aspectos relacionados à agrobiodiversidade e às práticas agroecológicas, as características ambientais e as questões sócio-culturais, econômicas e organizacionais, utilizando uma abordagem metodológica que priorizou os enfoques participativo, ecossistêmico e temporal. Com o enfoque participativo, pretendeu-se favorecer a expressão do ponto de vista dos agricultores envolvidos e estimular reflexões para a priorização das demandas. Com o enfoque ecossistêmico, o objetivo foi lançar o olhar sobre a agrobiodiversidade local, englobando as diferentes dimensões dos agroecossistemas. Com a abordagem temporal fizeram-se referências ao passado, presente e às perspectivas futuras, de modo a ter uma idéia da dimensão da erosão ambiental, cultural, da agrobiodiversidade, do relacionamento entre as perdas ocorridas e das expectativas quanto à recuperação de conhecimentos, práticas agrícolas e espécies cultivadas.

Material e Métodos O trabalho baseou-se na metodologia proposta por Machado & Machado (2006). Com o diagnóstico da agrobiodiversidade avaliou-se a situação atual, a situação no passado e as perspectivas futuras quanto à: (1) diversidade inter e intra-específica de animais e de plantas cultivadas, incluindo os sistemas de adotados para os cultivos e criações, o destino da produção; (2) diversidade de espécies nativas; (3) diversidade de animais silvestres, aves, insetos e organismos da macrofauna do solo. Foram preenchidas matrizes com as espécies e seus usos e os locais na unidade produtiva onde são encontradas e/ou cultivadas. Com o diagnóstico das práticas e/ou técnicas agroecológicas, fez-se um levantamento dos sistemas de produção existentes na área coletiva e das experiências dos agricultores no manejo das lavouras, identificando práticas e técnicas relativas ao preparo do solo, fertilização orgânica, policultivos, cultivos em contorno, rotações e sucessões, diversificação dos cultivos e utilização da diversidade genética, uso de água na irrigação, manejo de pragas e doenças, manejo da vegetação espontânea e integração dos cultivos com criações de animais. Resultados e Discussão 1) Diversidade inter e intra-específica de animais, seu uso e manejo. Na área do grupo coletivo são criados gado de leite, galinhas e abelhas. Os peixes dos riachos e córregos também são utilizados na alimentação das famílias. As galinhas são do tipo caipira comum e, por ocasião do diagnóstico, o plantel era de aproximadamente 120 aves. A produção de carne e ovos se destina ao consumo doméstico das famílias e o excedente é comercializado em mercados locais. As aves são criadas semiconfinadas em um grande galinheiro ou no espaço central de uma mandala. A alimentação é feita com milho, sobras da horta e capim, além dos ciscos do quintal e restos de comida. As aves não são vacinadas e as doenças são tratadas e ou prevenidas com terramicina, neen e caule da bananeira (colocado na água dos animais). O gado leiteiro é criado em uma área de pasto coletiva, que inclui área de reserva, e é cuidado por uma pessoa, responsável pelo setor. Carrapatos, verminoses e mosca do chifre são controlados com neen.

2) Diversidade inter e intra-específica de culturas de subsistência, seu uso e manejo. As culturas de subsistência plantadas pelo grupo coletivo do Assentamento Cunha são arroz (agulhinha), feijões comum (branco, preto, carioca, barra preta e chumbinho), verde, guandu, de porco e de corda, milho (Sol da Manhã) e mandioca (amarela, Americana, Vassourinha). Toda a produção é destinada à alimentação humana e animal, e os feijões são utilizados como adubos verdes. O manejo dessas culturas, bem como dos demais plantios, pode ser caracterizado com sendo de transição para sistema de produção orgânico e/ou agroecológico. Não são utilizados defensivos nem fertilizantes químicos de alta solubilidade. 3) Diversidade inter e intra-específica de hortaliças seu uso e manejo. As hortaliças plantadas pelo grupo coletivo do Assentamento Cunha são apresentadas na Tabela 1. Toda a produção é destinada à subsistência do grupo, sendo utilizada na alimentação humana e animal. Diferentes tipos ou variedades de abóboras (menina, moranga, de porco), alface (lisa, americana, crespa, roxa), alho (comum, porró), tomate (cereja, tomatinho) e pimentas (malagueta, de cheiro, cumari) são cultivados, mas para as demais espécies apenas um tipo é plantado. São feitas conservas com as pimentas, o jiló, o pimentão e a jurubeba, enquanto que a manjerona e sálvia são utilizadas para fazer temperos. As hortaliças são plantadas em canteiros retangulares em área destinada à horta e em outro espaço num sistema tipo mandala. Neste, um reservatório de água e um galinheiro ocupam o espaço central, em torno do qual os canteiros são dispostos em forma circular onde as hortaliças são consorciadas com temperos e ervas medicinais. A horta e a mandala são cercadas por plantas que formam quebra-ventos como girassol, bananeira, capins e mamão. Como para as culturas de subsistência, para as hortaliças também não se faz uso de defensivos químicos e a correção da acidez do solo e adubação fosfatada são feitas com calcário dolomítico e termofosfato. A adubação orgânica é feita com compostos orgânicos e biofertilizantes preparados no próprio assentamento. O composto é feito misturando-se a palhada com esterco de gado e galinha. Os biofertilizantes são usados também contra doenças e pragas. As mudas das hortaliças são produzidas no próprio assentamento, a partir de

sementes adquiridas no comércio. O plantio, desbaste e controle da vegetação espontânea são feitos manualmente. Tabela 1. Hortaliças legumes verduras, condimentos e ervas. Outubro de 2006. Culturas Abóboras Cará moela Inhame Pimentão Alecrim Jurubeba Alface Cebola Jiló Quiabo Capim santo Manjericão Alho Cebolinha Maxixe Rabanete Carqueja Manjerona Almeirão Cenoura Milho verde Repolho Coentro Mastruz Batata doce Chicória Mostarda Serralha Erva cidreira Pimentas Berinjela Couve Nabo branco Taioba Funcho Sálvia Beterraba Couve flor Pepino Tomate Hortelã Salsa 4) Diversidade inter e intra-específica de espécies perenes, incluindo fruteiras, espécies nativas e forrageiras, seu uso e manejo. As espécies de frutas plantadas são abacate, abacaxi, acerola, ameixa, amora, ata, banana (nanica, prata, ouro, marmelo, maçã), cajá manga, caju, cidra, framboesa, goiaba, graviola, jabuticaba, jaca, laranja (seleta, pêra, bahia, lima), limão (tahiti, china), lima da pérsia, mamão (papaia e formosa), manga, maracujá, melancia, melão, morango, pitanga, romã, sirigüela, tamarindo, tangerina (comum e pokán) e uva. Toda a produção é destinada à subsistência do grupo, utilizadas tanto na alimentação humana como animal. Algumas delas, como abacaxi, amora, caju, cidra, graviola, jabuticaba, jaca, maracujá, pitanga e tamarindo possuem processamento caseiro. As fruteiras não recebem, além das podas necessárias, nenhum outro cuidado mais específico. A capina é manual e a adubação é feita colocando-se os restos das capinas e coberturas mortas, bem como adubo orgânico nos pés das plantas. As frutas não são irrigadas e algumas mudas são produzidas no viveiro do Assentamento. Gramíneas forrageiras como a Brachiaria brizantha, capim Jaraguá (Hyparrhenia rufa), capim meloso ou gordura (Melinis minutiflora), capim amargoso (Elionurus candidus), capim gambá (Andropogon gayanus) e capim elefante cv. mineiro (Pennisetum purpureum) são destinadas à alimentação animal. O capim cortado é utilizado na formulação dos compostos e como cobertura morta nos canteiros das hortaliças. Existem também alguns pés de café e neen, destinados, respectivamente ao consumo das famílias e ao controle de parasitas. A cana é utilizada para o consumo humano in natura, para a fabricação de aguardente e na alimentação animal.

Várias espécies de plantas nativas são encontradas como angico, araticum, aroeira, bacupari, baru, buriti, cagaita, gabiroba, ingá, ipê amarelo, jatobá, jequitibá, lobeira e mangaba. Elas estão dispersas pela área, no pasto, na beira dos córregos e riachos e na área da reserva legal. Destinam-se à própria conservação, além de fornecerem sombra, abrigo e alimentos para aves e animais silvestres. Não são realizadas coletas sistemáticas de frutos para consumo humano ou processamento. 5) Diversidade de animais silvestres, aves, insetos e organismos de solo Vários tipos de animais silvestres, aves e insetos podem ser encontrados no Assentamento Cunha, tais como: tatu, raposa, capivara, quati cotia, catitu ou cateto, teiú, gambás e cobras. Os agricultores não têm o hábito de caçar, mas quando o fazem, a caça é destinada à alimentação humana. Sobre a ocorrência de insetos, existem abelhas, cupins e formigas, não havendo relatos de danos severos causados nas culturas plantadas. 6) Práticas e técnicas agroecológicas empregadas Um conjunto de estratégias vem sendo implementado na área de produção do grupo coletivo a partir de projetos participativos. Essas estratégias constituem os elementos técnicos básicos de um planejamento agroecológico e a primeira delas é a promoção da agrobiodiversidade. Nesse sentido, a diversificação genética e dos cultivos vem acontecendo paulatinamente, com a avaliação, uso e multiplicação de diferentes variedades, sobretudo para o milho e a mandioca, conservação e regeneração das espécies nativas, bem como o uso de consórcios, rotações e sucessões de culturas. Isso promove a diversificação de inimigos naturais, polinizadores e organismos de solo em todo o agroecossistema. A integração dos plantios com a criação de animais e a reciclagem dos nutrientes e da matéria orgânica, a partir do aproveitamento da biomassa das plantas, considerando os adubos verdes e os resíduos das colheitas e uso de estercos na formulação de compostos e biofertilizantes completam essa estratégia de planejamento da área dentro de um enfoque agroecológico. Campos de produção de sementes de plantas de cobertura utilizadas como adubos verdes são instalados anualmente e essas espécies vêm sendo introduzidas em

consórcios e rotações, bem como em áreas em pousio para regeneração da fertilidade do solo e controle de invasoras. Assim, as práticas agroecológicas utilizadas são: diversificação de cultivos, integração da produção vegetal com a criação de animais, adubação orgânica por meio de compostos e biofertilizantes, consórcio e rotação de culturas, incluindo os adubos verdes e cobertura do solo. Alternativas para o preparo dos solos, de modo a reduzir a necessidade do uso de implementos pesados como a grade aradora, devem ser viabilizadas, bem como métodos de coleta e conservação de água e manejo de irrigação mais adaptados às condições locais. A energia para a captação de água é, em parte, fornecida pela roda d água. Conclusões As atividades do grupo coletivo Carajás do Assentamento Cunha refletem a origem e os hábitos de seus componentes. O interesse no plantio de lavouras como milho, feijão, arroz e mandioca indicam os costumes alimentares dos que vieram do sul do país e de Goiás, enquanto que a criação de gado de leite e a fabricação dos derivados são de responsabilidade de um dos assentados vindo de Minas Gerais. Essa diversidade de origens permite a troca de experiências e a inclusão de novas práticas, bem como a incorporação de algumas espécies à dieta, como as hortaliças e alguns feijões como o de corda, o guandu e o feijão verde. A plena segurança alimentar das famílias garantida pela produção do assentamento, bem como a geração de renda a partir das atividades agropecuárias desenvolvidas continuam sendo as principais metas dos agricultores. Isso é de suma importância para viabilizar definitivamente a fixação desses agricultores à terra e evitar que muitos deles tenham que complementar a renda com serviços prestados em propriedades ou cidades vizinhas. O presente trabalho poderá, portanto, auxiliar os agentes de desenvolvimento a visualizar possibilidades de ação e de demandas concretas, diante das quais deve-se ter uma postura flexível que permita reavaliar constantemente as ações em curso, refletir sobre os resultados e alterar práticas e atividades para o alcance dos objetivos propostos. Referências bibliográficas

MACHADO, C.T.T.; MACHADO, A.T. Roteiro para diagnóstico participativo de agroecossistemas: proposta para avaliações com enfoque na agrobiodiversidade e em práticas agroecológicas. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2006. (Documentos). No prelo.