GÊNERO: ENTRE ASPECTOS DA TEORIA SOCIAL E A TEORIA DA LINGUAGEM.

Documentos relacionados
ENSINO DE HISTÓRIA E TEMAS TRANSVERSAIS: UMA ABORGAGEM PÓS-ESTRUTUTAL A PARTIR DO EIXO NORTEADOR RELAÇÕES DE GÊNERO.

SEMANA 2 A NOÇAO MODERNA DA SEXUALIDADE. Autora: Cristiane Gonçalves da Silva

1 Livros usados na pesquisa: A primeira vez a gente nunca esquece, de Patrícia Barbosa; De menina a

EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL EM GOIÂNIA: UM OLHAR ANTROPOLÓGICO SOBRE A PEDAGOGIA DO CORPO

RELAÇÕES DE GÊNERO NA DOCÊNCIA.

A REPRESENTAÇÃO DE IDENTIDADES DE GÊNERO E DE DIVERSIDADE SEXUAL NA PRODUÇÃO LITERÁRIA PARA JOVENS LEITORES

GÊNERO E GOVERNAMENTALIDADE: UMA ARTICULAÇÃO TEÓRICO- METODOLÓGICA PARA ANALISAR PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO Maria Cláudia Dal Igna UNISINOS

Gênero e Saúde: representações e práticas na luta pela saúde da mulher

SER MULHER NA POLÍCIA CIVIL: DESIGUALDADES DE GÊNERO NO CURSO DE FORMAÇÃO POLICIAL DA ACADEPOL/SC

Construindo Caminhos para Análise de Políticas de Saúde no Brasil: o debate sobre a perspectiva do ciclo de política

O MUNDO DAS MULHERES Alain Touraine

FRIDAS: UMA PROPOSTA DE GRUPO DE ESTUDOS SOBRE GÊNERO E DIVERSIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR.

Quais são os objetivos mais comuns da pesquisa social?

DISCUTINDO O CONCEITO DE GÊNERO: O QUE PENSA O EDUCADOR DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL?

POLÍTICAS DE CURRÍCULO PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL ( ): DISPUTAS DISCURSIVAS PARA A FIXAÇÃO DE UMA IDENTIDADE PARA O PROFESSOR

sexo, sexualidade, gênero, orientação sexual e corpo

Referências bibliográficas

Escolarização de pessoas com deficiência: questões de gênero

GÊNERO E SINDICALISMO DOCENTE: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PRODUÇÃO PUBLICADA NA CAPES

6. Conclusão. Contingência da Linguagem em Richard Rorty, seção 1.2).

DISCIPLINA. Requisitos do pesquisador

A escola como local de reprodução e reafirmação de estereótipos de gênero: é possível romper com essa lógica?

A MEMÓRIA DO TRABALHO DAS MULHERES NO ESPAÇO PRIVADO: UMA ABORDAGEM TEÓRICA. Thainá Soares Ribeiro 1 Rita Radl Philipp 2 INTRODUÇÃO

PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS 2 a ETAPA DO VESTIBULAR 2007

Submissão de Resumos Sessões de Comunicação Coordenada. Dados Gerais da Sessão de Comunicação Coordenada

Silvani dos Santos Valentim 1 Luna Oliveira 2

FORMAR PARA A DIVERSIDADE: A QUESTÃO DE GÊNERO E SEXUALIDADE NA FORMAÇÃO GERAL DE PSICÓLOGOS E PSICÓLOGAS NA CIDADE DE PELOTAS

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Educação

Problematizando as Relações de Gênero na Escola: da Necessidade de se Perceber a Historicidade do Tema na Sociedade Atual

Aula 2: Cultura e Sociedade: Objeto e método das Ciências Sociais.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA DISCIPLINA SOCIOLOGIA E ÉTICA NATUREZA, CULTURA E SOCIEDADE

ANÁLISE DOS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE GEOGRAFIA E PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE FURG NA BUSCA DAS QUESTÕES DE GÊNERO

CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA CIENTÍFICA. Prof. Renato Fernandes Universidade Regional do Cariri URCA Curso de Tecnologia da Construção Civil

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP&A, RESENHA

Compreender o conceito de gênero e as questões de poder implícitas no binarismo;

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA

História das Mulheres, Gênero e Educação: Reflexões sobre o Ensino de História no Brasil ( )

Palavras-Chave: Gênero; Monografias; Ensino de História, Livro Didático.

GÊNERO EM PERSPECTIVA: ESTUDOS HISTÓRICOS A PARTIR DAS AUTORAS JOAN SCOTT E MARIA ODILA DIAS. Natália Nogueira de Camargo, Profª Drª Edilene Toledo

COMPREENSÃO DAS MÚLTIPLAS REPRESENTAÇÕES CULTURAIS E SIMBÓLICAS DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NOS ESPAÇOS DOS ASSENTAMENTOS RURAIS.

A IDENTIDADE SUBJETIVA DA MULHER. Graça Castell Portugal - Pt

A construção do conhecimento e do objeto nas Ciências Sociais. Métodos e Técnicas de Pesquisa I 2015 Márcia Lima

ATORES SOCIAIS DA ESCOLA

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE HISTÓRIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Relatório Perfil Curricular

A EDUCAÇÃO INTERCULTURAL E A PERSPECTIVA DE GÊNERO

Palavras-Chave: Gênero Textual. Atendimento Educacional Especializado. Inclusão.

RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADES NO ESPAÇO GEOGRÁFICO

POLÍTICA LINGUÍSTICA: A IDENTIDADE DO PROFESSOR DE PORTUGUÊS SOB A FORÇA DA LEI

Análise dos conceitos básicos de eletroquímica à luz da epistemologia de Bachelard. Santos, J. E 1 ; Silva, F. J. S 2

REFLEXÕES SOBRE O ESTUDO DE GÊNERO E SEXUALIDADE NA FORMAÇÃO ACADÊMICA DE PROFESSORES.

Unidade 01. Prof.ª Fernanda Mendizabal Instituto de Educação Superior de Brasília

DISCRIMINAÇÃO RACIAL NOS DISCURSOS DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL 1

Artigo Diversidade e Equidade de Gênero nos Institutos de Ombudsman/Ouvidoria no Brasil, é uma realidade?

Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes PROVA GLOBAL DE INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 10º ANO ANO LECTIVO 2001/2002

AS CONSTRUÇÕES DE GÊNEROS E OS JOGOS INFANTIS

PROFESSOR: MAC DOWELL DISCIPLINA: FILOSOFIA CONTEÚDO: TEORIA DO CONHECIMENTO aula - 02

sábado, 11 de maio de 13 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Especialização em Estudos Culturais, História e Linguagens

Letramentos sociais: abordagens. críticas do letramento no. desenvolvimento, na etnografia e na. educação. BARROS, Raquel de Maria Queiroz.

IDENTIDADES DE GÊNERO, RAÇA E SEXUALIDADE E O ENSINO- APRENDIZADO DE LÍNGUA INGLESA: REFLEXÕES TEÓRICAS

Os grupos musicais juvenis e a participação das jovens mulheres

A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE DO PROFESSOR ATRAVÉS DAS IMAGENS PROPAGADAS PELA MÍDIA

O PROBLEMA DA INTENÇÃO NOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS Prof. Me. Newton Paulo Monteiro Faculdade Alfredo Nasser

PROBLEMÁTICA E PROBLEMA DE PESQUISA

ANÁLISE DE DISCURSO de origem francesa. Circulação e textualização do conhecimento científico PPGECT maio 2015 Henrique César da Silva

GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO: UMA PERSPECTIVA PÓS-ESTRUTURALISTA

Psicologia Aplicada à Nutrição

GÊNERO E EMPODERAMENTO DE MULHERES. Marlise Matos - UFMG

TESE DE DOUTORADO MEMÓRIAS DE ANGOLA E VIVÊNCIAS NO BRASIL: EDUCAÇÃO E DIVERSIDADES ÉTNICA E RACIAL

Documentos de Identidade

Conteúdo programático: 1-Discutindo conceitos de cultura e de práticas culturais. 2-Sociedade, civilização e costumes: entre a História Cultural e a S

Violências Contra Crianças e Adolescentes: Representações de Gênero em Desenhos de Alunas e Alunos de Escolas Públicas

O LEGADO DE EVA: O DISCURSO DO GÊNESIS NOS CARTUNS

SEMANA 5 DISCRIMINAÇAO DE GÊNERO NO CONTEXTO DA DESIGUALDADE SOCIAL ÉTNICO-RACIAL

GÊNEROS, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO

E DIFERENTES: DISCUTINDO REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO

A PERSONAGEM FEMININA NA LITERATURA INFANTIL. Palavras-chave: Literatura infantil. Personagem feminina. Anos Iniciais do Ensino Fundamental

AS ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DESCONSTRUINDO A INFLUÊNCIA PATRIARCAL E OS ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO

RELAÇÕES DE GÊNERO NA FORMAÇÃO E PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO Doi: /8cih.pphuem.3695

Existem autores que colocam a transexualidade fora dos marcos patologizantes, considerando-a apenas uma experiência idenitária.

Método de Pesquisa: Estudo de Caso. Baseado no livro do YIN. Elaborado por Prof. Liliana

NOTAS DE AULA CONSTRUÇÃO DO MARCO TEÓRICO CONCEITUAL 1

CONFERÊNCIA REGIONAL DE POLÍTICAS PARA MULHERES

GÊNERO E RENDIMENTO ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO DA UNIDADE MUNICIPAL DE ENSINO THEREZINHA DE JESUS SIQUEIRA PIMENTEL, SANTOS (SP)

Metodologia de Dissertação II. Renata Lèbre La Rovere IE/UFRJ

Modelo de ensino, aprendizagem e da formação por abordagem e competências José Carlos Paes de Almeida Filho 1 Marielly Faria 2

Sororidade - A essência e limite do conceito de solidariedade entre as mulheres

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE HUMANIDADES RETIFICAÇÃO

Teoria e Análise das Organizações. Prof. Dr. Onofre R. de Miranda Setembro, 2014

Revista Estudos Feministas ISSN: X Universidade Federal de Santa Catarina Brasil

TEORIA DA HISTÓRIA: O ENSINO NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE HISTÓRIA. A preocupação com o ensino da História tem recaído sobre a finalidade e a

A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA

QUESTÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NA ESCOLA DE ENSINO INTEGRAL

Níveis de Pesquisa. Delineamentos das Pesquisas. Métodos de Pesquisa. Ciência da Computação Sistemas de Informação

5 Conclusão Sumário do Estudo

Apresentação - Helena Maria Marques Araújo APRESENTAÇÃO. Helena Maria Marques Araújo *

TIPOS DE PESQUISA. 1 Quanto à abordagem 1.1 Pesquisa qualitativa 1..2 Pesquisa quantitativa

TÍTULO: DIVERSIDADE DE GÊNEROS NO MERCADO DE TRABALHO CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS SUBÁREA: CIÊNCIAS SOCIAIS

Transcrição:

GÊNERO: ENTRE ASPECTOS DA TEORIA SOCIAL E A TEORIA DA LINGUAGEM. Karina de Fª Visentin Bochnia 1 Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar como ocorrem as considerações a respeito dos aspectos do conceito de Gênero através da perspectiva da história social entre a análise da historiadora Carla B. Pinsky, e do conceito de gênero através da perspectiva da teoria da linguagem pósestruturalista da historiadora Jhoan Scott. Palavras chave: Gênero, história social, teoria da linguagem. O conceito de Gênero pode ser observado sobre o olhar de diversas teorias, nesta análise proponho-me a debruçar-me sob duas propostas: primeiramente busquei compreender o conceito de gênero sob a perspectiva da história social, através do artigo da historiadora Carla B. Pinsky e a reflexão da mesma, sobre o posicionamento em relação ao conceito de gênero elaborado pela historiadora Jhoan Scott, posteriormente busco observar o conceito elaborado com base na teoria pós- estruturalista. A perspectiva da história Social: Ao observar as vantagens em se adotar o conceito de Gênero a historiadora Carla B. Pinsky 2 relembra que a história das mulheres adquiriu expressão a partir da década de 1970, inspirada por questionamentos feministas e por mudanças que ocorriam na historiografia. Momento em que ocorreu a ênfase a temáticas como família, sexualidade, representações e grupos excluídos e teve seu sucesso atrelado 1 Graduada em história pela UNICENTRO (2007) e em Ciências Sociais pela Faculdade Guarapuava (2014). Karina_bochnia@hotmail.com 2 http://www.scielo.br.br/pdf/ref/v17n1/a09v17n1.pdf< Acesso em 08/jan/2015> 1

aos avanços da Nouveile Histoire, da Social History, e dos Estudos de População. Ao se referir sobre a produção historiográfica da história das mulheres destaca que esta é bastante diversificada, mas todas possuem em comum o reconhecimento de que a condição feminina é construída histórica e socialmente. Se referindo ao termo Gênero a historiadora destaca que, em algumas reflexões o termo sexo foi questionado por remeter ao biológico e a palavra gênero passou a ser utilizada para enfatizar os aspectos culturais relacionados às diferenças sexuais. Dessa maneira define o termo como: [...] Gênero remete a cultura, aponta para a construção social das diferenças sexuais, diz respeito ás classificações sociais de masculino e feminino [...] 3 Nesse viés, é perceptível a ênfase como a historiadora faz a definição do termo, frisando as relações de Gênero ao contexto social. O destaque principal está na relação com o social e não com o próprio sentido do termo em si. Sobre os pressupostos metodológicos da categoria gênero Pinski, enfatiza que as teorias do patriarcado e as teorias feministas marxistas, não ajudam a explicar historicamente a diversidade das formas de relações entre os sexos e as representações distintas do masculino e do feminino existentes em vários contextos e culturas. Porém, ressalta que a categoria gênero ajuda a levar em conta as transformações históricas e sociais. Dessa maneira deve-se incorporar na pesquisa e na análise variáveis como: com etnia, raça, classe, grupo etário, nação entre outras. 4 Para a historiadora Joan Scott: [...] a história social defende que a diferença de gênero só pode ser entendida dentro do seu quadro explicativo (econômico) [...] A historia social segundo Scott adotou a ideia de que categorias de identidade refletem uma experiência objetiva, assim determinações objetivas e efeitos subjetivos constituem esferas separadas. 3 PINSKY, 2009, p.162 4 Idem, p.163 2

Logo determinações objetivas servem mais para confirmar visões preestabelecidas sobre as mulheres que para modifica-las. O conceito sob o olhar pós-estruturalista e as considerações de uma teoria social. Ao analisar a ideia adotada pela historia social, Scott procurou uma nova abordagem teórica, que fosse capaz de romper com o conceito da filosofia ocidental sustentando o mundo hierarquicamente, em termos de universalidades masculinas e especificidades femininas. Dessa maneira foi na teoria da linguagem, empregadas pelos pós-estruturalistas que ela encontrou uma epistemologia capaz de tratar as mulheres como sujeitos da história e gênero como uma categoria analítica. 5 Nessa abordagem, a linguagem pode ser analisada não somente através das ideias sobre determinados assuntos, mas também através das representações e organizações da vida e do mundo. Através da linguagem é possível investigar discursos que possuem uma estrutura de proposições, termos, crenças e categorias: histórica, social e institucionalmente específicas. È a noção de diferença que demonstra o significado, o que a diferença representa para tais discursos em determinadas situações. Portanto, segundo Pinski (2009) è através da desconstrução que a analise de Scott empreende seus esforços, buscando os modos pelos quais os significados são postos para funcionar nos textos. Desse modo para Scott: [...] gênero é a organização social da diferença sexual. Os significados estabelecidos por gênero podem ser contestados politicamente, e é por meio deles que as relações de poder são constituídas. (IDEM, p.169) 5 Idem, p.168 3

Ao analisar discursos é imprescindível estabelecer o conhecimento sobre o que constitui as diferenças através das relações sociais (instituições, estruturas, práticas, rituais). Ao desconstruir ideias preestabelecidas através dessas relações, é necessário compreender que o conhecimento é uma forma de ordenar o mundo e está atrelado á organização social. Assim, a disputa por significados ocorre dentro de campos de força discursivos e podem aparecer como função legitimadora do poder. Dessa maneira Pinski destaca que ao analisar a categoria gênero, Joan Scott a observa por meio de jogos de poder constituídos de identidade e experiência, pois, são fenômenos organizados discursivamente em contextos e configurações particulares. Sendo assim trata-se de um fato, sobretudo político. 6 Ao salientar o modo pelo qual Joan Scott desempenha seus estudos através da categoria gênero, a historiadora Carla B. Pinski estabelece algumas críticas em relação à ênfase na diferença, ás ferramentas teóricas e principalmente em relação à abordagem pós-estruturalista. Segundo ela, para alguns pesquisadores a ênfase nas diferenças culturais entre homens e mulheres é perigosa a movimentos sociais contrários a discriminação, pois as diferenças acabam sendo tomadas como permanentes e irredutíveis. Outro aspecto observado por ela é a respeito da deficiência das ferramentas teóricas do pós-estruturalismo diante da questão da ação humana, principalmente ao casar essa abordagem com um projeto político, mesmo que tente romper com os determinismos e fazer das mulheres sujeitos históricos fornecendo-as elementos para questionarem as desigualdades de gênero. E por fim, afirma que a abordagem pós-estruturalista não é clara ao afirmar a possibilidade de intervenção dos sujeitos agentes, mencionando a instabilidade de significados dos conceitos que resultam dos processos de contestação e suas múltiplas definições. 6 Idem, p.169. 4

Ao mesmo tempo em ocorre essa instabilidade, Pinsky enfatiza que a teoria pós-estruturalista nega a possibilidade de intervenção dos sujeitos agentes, diante da impessoalidade das forças discursivas que constroem o significado e que são favorecidas pela ausência literal do sujeito na exposição das teorias de produção do significado, caindo no determinismo da estrutura da linguagem. 7 Em defesa da história social, a historiadora reconhece os ideais marxistas ao afirmar que: Os homens fazem sua história, mas não nas condições que escolheram, e sim nas que lhes foram legadas pelo passado ou as circunstâncias fazem os homens na mesma medida em que os homens fazem a circunstâncias ( PINSKI, 2009, p.181). Nesta defesa, Pinski corrobora com a intenção de que os sujeitos são estudados em sua relação com as determinações (sociais, políticas, econômicas e até culturais) e as possibilidades de agir; o pressuposto é de que, na história, as pessoas atuam dentro de condições objetivas determinadas (se as condições são favoráveis, as ações são viáveis). Deste modo consequentemente as possibilidades de ação do sujeito são limitadas. Para Scott a tentativa de vários historiadores em teorizar a questão de gênero, não fugiu das formulações antigas que propõem explicações causais universais. Nesse sentido, essas teorias tiveram um caráter limitado, pois a tendência dessas foi de incluir generalizações redutoras ou simplistas, minando o sentido da causalidade social e o engajamento feminista de uma analise que permitisse observar elementos que propusessem mudança. 8 Conforme a visão dessa historiadora é através da linguagem que a identidade de gênero se constrói, visto que a imposição das regras de 7 Idem,p.176. 8 SCOTT, Joan. 1990, p. 06. 5

interação social é inerente e especificamente de gênero e a interação feminina com o falo 9 é diferente da relação masculina. Mas a questão da identificação de gênero, aparentemente fixa é instável. Pois, segundo Scott: [...] os desejos reprimidos são presentes no inconsciente e constituem uma ameaça permanente para a instabilidade da identificação de gênero, negando sua unidade e subvertendo sua sensação de segurança. (IDEM, p.16) Portanto, a questão da identidade de gênero não é simplesmente imposta pelas condições sociais e sim construída através da linguagem. Já a identificação de gênero é determinada a partir do momento em que percebemos que as ideias conscientes de feminino e masculino não são fixas e variam conforme o contexto. È necessário admitir que o sujeito encontra-se em um processo de construção constante e deste modo oferece um meio sistemático de interpretar o desejo consciente e inconsciente sendo a linguagem o lugar adequado para realizar tais análises. Para Scott, é necessário rejeitar o caráter fixo e permanente da oposição binária, é necessário historicizar e desconstruir os termos da diferença sexual, atentando-nos ao nosso vocabulário de análise e o material que queremos analisar. O historiador deve examinar os seus métodos de análise, clarificar as hipóteses e explicar como pensamos que a mudança ocorre. 10 Considerações 9 Falo nesse contexto refere-se ao sentimento de empoderamento. 10 Idem, p. 20. 6

As discussões a respeito de gênero tanto em teoria na história social quanto na teoria pós estruturalista demonstram a preocupação com o sujeito na história. Porém, a análise da historiadora Carla Bassanezi Pinsky permite compreender o conceito de Gênero, através das transformações culturais e sociais em determinados períodos históricos. Averiguando como ocorrem as diferenças sexuais através de classificações sociais, utilizando-se das categorias de identidade para investigar experiências objetivas em cada contexto. Compreendendo dessa maneira, o sujeito como ator da cultura e do social, preso a condições determinadas sendo estas decisivas para sua ação enquanto sujeito da história. Jhon Scott procurou na teoria da linguagem uma base para compreensão de gênero como uma categoria de análise, capaz de conceber o mundo de forma a romper com a ideia de universalidades masculinas e especificidades femininas. Utilizando da linguagem para depreender não somente de ideias sobre determinados assuntos, mas, também da acepção das representações e organizações da vida e do mundo. Além da percepção sobre o conhecimento sobre as diferenças, a historiadora busca desenvolver sua análise não somente de maneira a buscar dados objetivos, mas de modo a observar as subjetividades construídas pelos atores sociais, bem como a forma como o conhecimento de maneira ordenada constrói significados dentro de campos de força, aparecendo como funções legitimadoras do poder. Desse modo o conceito de gênero formulado por Scott, demonstra-se uma definição completa, pois, ao captar como os sujeitos perfazem-se em suas representações e organizações de vida, é possível analisar também o papel do sujeito como ator político da sua própria história. 7

Referencias: HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 1997. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Petrópolis: Vozes, 1997 PINSKY, Carla, Bassanezi. Estudos de gênero e História Social. Estudos Feministas, Florianópolis, Janeiro. Abril. 2009. p. 160-185. SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Realidade, vol. 16, n 2, Porto Alegre, jul./dez. 1990. Educação e 8