O TRABALHO DO ENFERMEIRO: A RELAÇÃO ENTRE O REGULAMENTADO, O DITO E O FEITO, NO COTIDIANO DO HOSPITAL 1

Documentos relacionados
A PRÁTICA DO DIMENSIONAMENTO DE RECURSOS HUMANOS DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL PÚBLICO FEDERAL DE ENSINO, EM CUIABÁ MT 1

PROGRAMA DE DISCIPLINA. DISCIPLINA: Estágio Curricular em Unidades de Saúde de Média e Alta Complexidade CÓDIGO: EFMO64 COORDENADOR:

AGUIAR. Vânia Deluque¹, LIMA. Solange da Silva², ROCHA. Aline Cristina Araújo Alcântara³, SILVA. Eliana Cristina da 4, GREVE. Poliana Roma 5.

Processo de Enfermagem

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

ARTICULAÇÃO DA GERÊNCIA E CUIDADO DE ENFERMAGEM. Profa. Dra. Ana Maria Laus

ASSUNTO: PRESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO

Solicitação de Parecer Técnico ao COREN MA sobre O que é necessário para o profissional de Enfermagem realizar atendimento domiciliar particular

ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste Campus de Cascavel ISSN

Hospital Universitário da USP Processo de Enfermagem

A importância da anamnese e do exame físico para a prática de enfermagem: relato sobre a experiência acadêmica

CARACTERIZAÇÃO DOS COLABORADORES DE ENFERMAGEM E LEVANTAMENTO DAS NECESSIDADES PARA EDUCAÇÃO PERMANENTE

ENFERMAGEM LEGISLAÇÃO EM ENFERMAGEM. COFEN Parte 5. Profª. Tatiane da Silva Campos

Análise da demanda de assistência de enfermagem aos pacientes internados em uma unidade de Clinica Médica

PROCESSO DE ENFERMAGEM E A ATUAÇÃO DO TÉCNICO / AUXILIAR DE ENFERMAGEM

RESUMO DOS 120 ANOS DA EEAP A INOVAÇÃO NA FORMAÇÃO: A IMPORTANCIA DO CONHECIMENTO ACADÊMICO SOBRE SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Implantação da Prescrição de Enfermagem Eletrônica nas Unidades de Internação

LEVANTAMENTO SOBRE AS AÇÕES DE ENFERMAGEM NO PROGRAMA DE CONTROLE DA HANSENÍASE NO ESTADO DE SÃO PAULO*

Auditoria Farmacêutica. Unimed Federação Minas

A DIMENSÃO QUALITATIVA E O DIMENSIONAMENTO QUANTITATIVO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO AMBIENTE DO CUIDADO/CONFORTO DA UTI.

SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Uso da informática para a prática da Sistematização da Assistência de Enfermagem

Teorias de Enfermagem

Processo de Enfermagem

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PREVENÇÃO DE QUEDAS DOS PARTICIPANTES DE UM CURSO DE SEGURANÇA DO PACIENTE: USO DE QUESTIONÁRIO PRÉ E PÓS-TESTE

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO. PARECER COREN-SP 017/2014 CT Ticket n

Palavras-chave:Assistência Integral à saúde; Direitos do Paciente; Direito à Saúde; Hospitalização.

PROGRAMAÇÃO DA DISCIPLINA 1 o.semestre de 2013

Uso da crioterapia para redução de laceração perineal de 1º grau Materno Infantil/Obstétrico Hospitalar

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE ÚLCERA DE PRESSÃO: PROPOSTAS PARA O CUIDADO DE ENFERMAGEM¹ RELATO DE EXPERIÊNCIA

AS ATRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO NO CENTRO CIRÚRGICO

RESOLUÇÃO Nº 468, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2014

Educação permanente em saúde e implementação de diagnósticos de enfermagem: estudo descritivo

Discussão teórica acerca do significado da administração dada à enfermagem segundo a opinião de graduandos em período de estágio curricular

Conceitos, características e desenvolvimento dos Hospitais e da Gestão Hospitalar

PROCESSO DE ENFERMAGEM

ASSUNTO: NUTRIÇÃO ENTERAL POR BOMBA DE INFUSÃO EM DOMICILIO.

Tecnologia da Informação como ferramenta para a Sistematização da Assistência de Enfermagem

A METODOLOGIA ASSISTENCIAL DE ENFERMAGEM NA PRÁTICA HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA USP

EXIJA QUALIDADE NA SAÚDE

PROCESSO DE ENFERMAGEM

TÍTULO: O ACOLHIMENTO DO ENFERMEIRO DO SERVIÇO DE PROCURA DE ÓRGÃOS E TECIDOS AOS FAMILIARES DO POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS.

PROGRAMA DE SEGURANÇA DO PACIENTE EM TERAPIA SEMI INTENSIVA: ESTRATÉGIAS DE ENFERMEIRAS EM UMA ORGANIZAÇÃO PÚBLICA

UFPB PRG X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

IMPLANTAÇÃO DE INDICADORES DE QUALIDADE NA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO DE UM CENTRO CIRÚRGICO AMBULATORIAL. ATENÇÃO ESPECIALIZADA

O SABER ADMINISTRATIVO E A ENFERMAGEM 1. 1 Objetivos Refletir sobre a origem, a filosofia e a evolução do saber administrativo na enfermagem;

PERCEPÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS RESIDENTES SOBRE IDOSOS CUIDADORES DE IDOSOS EM UM AMBULATÓRIO DE FISIOTERAPIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

PARECER COREN RO Nº. 008/2015

ENFERMAGEM: REALIDADE E PERSPECTIVA NA ASSISTÊNCIA E NO GERENCIAMENTO*

Faculdade da Alta Paulista

CRITÉRIOS DE ADMISSÃO, ALTA E TRANSFERÊNCIA DA UNIDADE DE APOIO PSIQUIÁTRICO (UAP) DO NÚCLEO DE MEDICINA PSICOSSOMÁTICA E PSIQUIATRIA

ENFERMAGEM LEGISLAÇÃO EM ENFERMAGEM. LEI DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Dimensionamento de pessoal de enfermagem

Programa Institucional de Cursos de Capacitação e Aperfeiçoamento Profissional PICCAP

Implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem SAE, no Serviço de Enfermagem: Revisão Integrativa

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA GESTÃO DE PROGRAMAS DA ESTRATÉGIA DA SAÚDE DA FAMÍLIA NA CIDADE DE CRISÓPOLIS BA RESUMO

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DO RIO GRANDE DO SUL Autarquia Federal - Lei nº 5.905/73

PARECER SETOR FISCAL COREN-CE Nº 39/2015

ANEXO I NORMAS DE HABILITAÇÃO PARA A ATENÇÃO ESPECIALIZADA NO PROCESSO TRANSEXUALIZADOR

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRÃO PRETO ENFERMAGEM GERAL E ESPECIALIZADA CRONOGRAMA DA DISCIPLINA

ENFERMAGEM ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM. Gestão de Processos e Equipes de Trabalho Aula 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e dá outras providências

Art. 2º - As instituições e serviços de saúde incluirão a atividade de Enfermagem no seu planejamento e programação.

PROGRAMA DE DISCIPLINA

RELAÇÕES DE TRABALHO E SUBJETIVIDADE EM EQUIPES INTERDISCIPLINARES DE ATENÇÃO À SAÚDE 1 ELIANE MATOS 2 DENISE PIRES 3

ENFERMAGEM E A PRÁTICA TRANSFUSIONAL UM HOSPITAL DE ALTA COMPLEXIDADE EM MACEIÓ-AL. Enfermeira do HUPAA,

ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM: ESTUDO BIBLIOMÉTRICO DOS RESUMOS APRESENTADOS NOS ANAIS DO 62º CBEN. Ricardo Quintão Vieira 1 Maria Cristina Sanna 2

Universidade Pública na Formação de Professores: ensino, pesquisa e extensão. São Carlos, 23 e 24 de outubro de ISBN:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CAMPUS JATAÍ CURSO DE ENFERMAGEM. Carga Horária Semanal. Profª Ms. Suelen Gomes Malaquias

QUALIFICAÇÃO PARA O TRABALHO EM TERAPIA INTENSIVA: ANÁLISE DAS NECESSIDADES DE ENFERMAGEM DA UTI PEDIÁTRICA HU-UFGD/EBSERH

Administração de Recursos Materiais, Físicos e Ambientais. Raquel Silva Assunção

INTRODUÇÃO OBJETIVO METODOLOGIA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENFERMAGEM CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ANO ACADÊMICO º SEMESTRE PROGRAMA DA DISCIPLINA

A enfermagem deve privilegiar suas ações específicas/próprias junto ao cliente e atuar como parceira dos demais profissionais, NÃO APENAS como

A INSERÇÃO DO EGRESSO DO CURSO DE ENFERMAGEM DA NOVAFAPI NO MERCADO DE TRABALHO: PERSPECTIVAS, E DESAFIOS.

Recursos Humanos em Centro Cirúrgico Profa.Dra. Rita Burgos

PRESCRIÇÃO DE CUIDADOS

CERTIFICADOS DIGITAIS PARA O. Visão do Conselho Federal de Enfermagem

Prescrição Eletrônica: Vantagens e desvantagens.

Ingrid Mikaela Moreira de Oliveira¹ Samyra Paula Lustoza Xavier 2

DISTRIBUIÇÃO DA CARGA HORÁRIA HORÁRIA TOTAL TEÓRICA EXERCÍCIO LABORATÓRIO OUTRA

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SANTA CATARINA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO PROGRAMA DE DISCIPLINA

VIII JORNADA DE ESTÁGIO DE SERVIÇO SOCIAL.

MODELO ASSISTENCIAL HOSPITAL SAMARITANO -SP

Aula Lei 7.498/86 e do Decreto /87. Questões Fundação Carlos Chagas FCC. Professora: Natale Souza

PÓS-OPERATÓRIO DOMICILIAR: A FAMILIA COMO CUIDADOR 1

HABILITAÇÃO ACADÊMICA DO ENFERMEIRO ASSOCIADA À AUTONOMIA PROFISSIONAL

RESOLUÇÃO COFEN-293/2004

ENFERMAGEM ADMINISTRAÇÃO EM ENFERMAGEM

Joint Comission International - JCI

TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO

A integração dos Núcleos de Segurança do Paciente com os Setores e Comissões Hospitalares. Antonio da Silva Bastos Neto

Plano de Ação para diminuição das taxas de cesáreas através da Classificação de Robson

ARTHUR ARTEAGA DURANS VILACORTA A INFLUÊNCIA DO NÍVEL DE PERCEPÇÃO DE RISCO DA POPULAÇÃO NAS ESTATÍSTICAS DE INCÊNDIOS URBANOS NA CIDADE DE BELÉM

Saúde Pública, contabilizando 48 horas semanais. Os cursos que surgiram posteriormente seguiram este padrão. Observa-se que, muitas vezes, estas

ATIVIDADES DE ASSISTÊNCIA DIRETA DO ENFERMEIRO E RESPECTIVA ANOTAÇÃO

PARECER COREN-SP 007/2016 CT. Tíckets nºs: ; ; ; e

Emoções da equipe multiprofissional na entrevista para doação de órgãos: estudo descritivo

Grupo EB dia 05 de julho, 17 horas, sala vinho.

Transcrição:

O TRABALHO DO ENFERMEIRO: A RELAÇÃO ENTRE O REGULAMENTADO, O DITO E O FEITO, NO COTIDIANO DO HOSPITAL 1 Antônio César Ribeiro 2 Lais Helena Ramos 3 Edir Nei Teixeira Mandú 4 A enfermagem tem suas ações identificadas pelo cuidado e deve assistir ao indivíduo/comunidade, monitorando seus carecimentos, que se expressam a partir das alterações das necessidades humanas básicas no transcurso do processo saúde-doença, o que define a finalidade do seu trabalho (1,2). Tendo sua ação dirigida ao indivíduo necessitado, ao tempo em que se preocupa com a educação para o auto-cuidado, assume, como seu objeto de trabalho, no espaço do hospital, o corpo humano sadio ou doente (1,2). Toda sua a ação, incluindo aquelas relativas à organização do espaço da assistência, deve convergir para o atendimento das necessidades do seu objeto, o que torna o cuidado o núcleo central de sua prática (1). Para a apropriação do seu objeto, a enfermagem tem estruturado o seu saber. Reunindo conceitos das diversas ciências, seu saber dá direcionalidade ao seu trabalho, se constituindo num dos seus instrumentos de trabalho (1,2). A Enfermagem está organizada e inserida num processo de trabalho coletivizado, marcado pela divisão social e técnica no ato de produzir seus serviços (3). Conforme definido na Lei que Regulamenta o Exercício Profissional da Enfermagem brasileira (LEPE) (4), podem exercê-la: o enfermeiro, o técnico de enfermagem, o auxiliar de enfermagem e a parteira. Segundo a LEPE, ao enfermeiro, detentor do saber de enfermagem (1), cabe as ações que requerem tomadas de decisão imediatas e de alta complexidade. A ele compete, privativamente, a organização e o planejamento da 1 Estudo síntese de uma pesquisa que se constituiu na Tese de Doutorado do primeiro autor, defendida em Dezembro/2009 no Programa de Pós-Graduação stricto senso do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP. Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso FAPEMAT. 2 Enfermeiro, Doutor em Ciências, Professor Adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso anceri@terra.com.br. Rua das Azaléias, 54 Condomínio Florais Cuiabá Ribeirão do Lipa 78.049-408 Cuiabá MT. 3 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo - lais.ramos@unifesp.br, 4 Enfermeira, pós-doutora em Saúde Pública, Professora Associada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso e nmandu@terra.com.br. 2635

assistência de enfermagem, além da assunção dos cuidados mais complexos. A partir da definição do plano individual de cuidado o enfermeiro deve delegar tarefas aos seus pares de nível médio respeitados os níveis de formação e competência e controlar a eficiência, pela da supervisão direta (4). Assim deve planejar a assistência de enfermagem que é composta pelo histórico de enfermagem; exame físico; diagnóstico de enfermagem; prescrição da assistência de enfermagem; evolução da assistência de enfermagem; e relatório de enfermagem (5). O enfermeiro deve ainda assumir os cuidados mais complexos e a assistência direta dos pacientes graves e em risco de vida (4). Neste sentido, assumindo o trabalho da enfermagem como resultante de determinantes econômicos, sociais, políticos e ideológicos (1), coloca-se em destaque o trabalho do enfermeiro, organizado por um estatuto social e mediado por um saber específico o saber de enfermagem, expresso no cotidiano das práticas que compõem o processo de trabalho em saúde, considerando o seu papel de protagonista na produção do cuidado de enfermagem (1,4). Nesta perspectiva, o estudo teve como objetivo compreender a relação entre a forma de trabalho do enfermeiro no espaço do hospital e o conteúdo das normas legais que conferem institucionalidade do seu trabalho. Trata-se de um Estudo de Caso, com abordagem qualitativa, realizado em um hospital público no município de Cuiabá MT. Participaram como sujeitos os enfermeiros das unidades de internação de clínica médica e cirúrgica. O trabalho de campo, realizado entre junho de 2008 e março de 2009, foi encaminhado em duas etapas: I. Aplicação de questionário fechado, onde se buscou a caracterização sócio-demográfica e profissional do quadro geral dos enfermeiros do hospital - cenário; observação não-participante do tipo livre; e análise documental (prontuários). II. Entrevista semi-estruturada, utilizando-se o critério de saturação das informações na definição do número de sujeitos. O tratamento e análise dos dados foi realizado com os recursos da técnica de análise de conteúdo, do tipo temática, e os recursos do processo de triangulação de dados. O Projeto pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética da UNIFESP, sendo aprovado com Protocolo N.º CEP/UNIFESP/09 N.º 1.398/09. Da análise identificou-se a seguintes categorias: 1) a externalidade do cuidado e do gerenciamento do cuidado ao trabalho do enfermeiro 8) evidenciada exatamente durante as suas ausências, pode-se constatar que, em nenhuma das situações em que um dos enfermeiros-assistentes esteve ausente, sua presença fora reclamada pelos Agentes de Nível médio do Trabalho da Enfermagem (6, 7, 2636

(ANMTE), que encaminham o trabalho de assistência à revelia da presença do enfermeiro, ou por outro profissional da equipe de saúde. Percebeu-se ainda o cuidado como ação secundária com relação às ações administrativas e que, a forma como a enfermagem cuida, prescinde da presença ou permanência do enfermeiro na unidade. 2) a percepção do enfermeiro acerca do seu trabalho ao fazerem referência à forma de encaminhamento do trabalho de enfermagem, na tentativa de explicarem com se dá a organização do cuidado, encontrou-se mais o tipo padrão idealizado que a coerência entre o dito e o feito, evidenciado nos momentos de observação, onde percebeu-se o distanciamento do enfermeiro do cuidado e/ou de seu comando (6, 9). Além de assumir que seu trabalho é focado na burocracia as enfermeiras deixaram claro que o cuidado é parte do trabalho dos ANMTE e estes, pela prática, assumem, inclusive, as decisões acerca do que fazer e como fazer no encaminhamento do cuidado (1). Mesmo evidenciando traços da hierarquia presente no trabalho em equipe de enfermagem, as enfermeiras invertem os papéis quando assumem que o suporte da equipe nas questões relacionadas aos cuidados está na própria vivência prática dos ANMTE, ainda que estes estejam subordinados à sua autoridade técnica. 3) a relação do trabalho do enfermeiro com o conteúdo das normas legais que o regulamentam (4, 10) os depoentes foram unânimes nas respostas acerca do conhecimento da lei (4), em que pese à evidência de graves equívocos com relação ao seu conteúdo e entendimento, sempre fazendo referência e confundido a LEPE com a normatização do Conselho Federal de Enfermagem sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem SAE (5). Ao fazerem referência à LEPE o fazem como se a regulamentação do seu trabalho fosse algo externo à corporação e seus dispositivos fossem impostos como um constrangimento sem a devida contrapartida, citando a baixa remuneração como não condizente ao cumprimento do real papel do enfermeiro. As opiniões se dividiram no que diz respeito à execução do trabalho em conformidade com a LEPE, trazendo, de forma unânime, a questão polêmica da SAE como expressão do trabalho apenas idealizado. À guisa de conclusão do estudo, tem-se que a organização e o conteúdo do trabalho do enfermeiro no cotidiano do hospital, apreendidos por meio da observação direta e da documentação da assistência, em forma dos registros do trabalho da enfermagem o feito e pela própria representação dos sujeitos por meio das suas falas o dito, evidencia uma cisão com a institucionalidade deste trabalho, expressa nas 2637

normas legais que regulamentam e regulam o exercício profissional da enfermagem brasileira. Considerando o sentido inacabado do processo de construção do conhecimento, sugere-se que outros estudos necessitam ser desenvolvidos naquele espaço, como forma de melhor compreender os fatores determinantes do modo de ser do enfermeiro no seu trabalho. Palavras-chave: 1.Enfermeiros; 2. Trabalho; 3. Legislação de Enfermagem. Área Temática: Produção social e trabalho em Saúde e Enfermagem. 1. Almeida, MCP, Yazlle Rocha, JS. O saber da enfermagem e sua dimensão prática. 2a ed. São Paulo: Cortez; 1989. 2. Sanna, MC. Os processos de trabalho em enfermagem. Rev. Brasileira de Enfermagem, Brasília, 2007;60(2):221-4. 3. Pires, D. Hegemonia médica na saúde e a enfermagem: Brasil 1500 a 1930. São Paulo: Cortez; 1989. 4. Brasil. Lei 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a Regulamentação do Exercício da Enfermagem e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde; 1986. [citado em 05 mai 2008]. Disponível em: http://www2.camara.gov.br/internet/legislacao/legin.htm 5. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução n. 272, de 27 de agosto de 2002. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE - nas instituições brasileiras. Rio de Janeiro: COFEN; 2002. Disponível em:http://www.bve.org.br/portal/materis.asp?articleid=1256&sectionid=194& SubSection ID=194&SectionParentID=189. 6. Hausmann, M, Peduzzi, M. Articulação entre as dimensões gerencial e assistencial do processo de trabalho do enfermeiro. Rev. Texto Contexto Enferm. Florianópolis, 2009 Abr-Jun; 18(2): 258-65. 7. Lima, MADS, Almeida, MCP. O trabalho de enfermagem na produção de cuidados de saúde no modelo clínico. Rev. Gaúcha Enferm., 1999;20(n. esp.):86-101. 8. Silva EM, Ribas Gomes EL, Anselmi ML. Enfermagem: realidade e perspectiva na assistência e no gerenciamento. Rev Latino-Am Enf. 1993;1(1): 59-63. 2638

9. Rossi FR, Silva MAD. Fundamentos para processos gerenciais na prática do cuidado. Escola Enfermagem USP 2005; 39(4):460-468. 10. Oguisso, T, Schmidt, MJ. O exercício da enfermagem: uma abordagem éticolegal. 2ª ed. atual. e ampl. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 2007. 2639