Projetos Escolas de Paz, Horta Comunitária e Bairro Limpo



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Transcrição:

Projetos Escolas de Paz, Horta Comunitária e Bairro Limpo Colégio Estadual Professor Maria Nazareth Santos Silva Juliana Ap. Matias Zechi - UNESP Maria Suzana De Stefano Menin - UNESP Relatores da escola: Maria Emília de Barros Loio O contexto O Colégio Estadual Professor Maria Nazareth Santos Silva situa-se no município de Barra do Piraí no estado do Rio de Janeiro e a 79 KM da cidade do Rio. No projeto pedagógico da escola se pode ler que Barra do Piraí é uma comunidade extremamente carente, com problemas de infra-estrutura onde ainda temos grande parte do bairro sem rede de esgoto adequada, com dificuldade para receber água devidamente tratada e pontos pouco iluminados ou sem nenhuma iluminação. A população local sofre com o desemprego, o alcoolismo, o envolvimento com drogas, a falta de opções de lazer, a violência familiar e a falta de creches...com relação à habitação, temos grande índice das famílias pagando aluguel e/ou vivem em submoradias. Temos ainda famílias que moram na rua...e que vivem constantemente ameaçadas de enchentes. O grau de escolaridade que prevalece é o Ensino Fundamental, muitas vezes incompleto, sendo que ainda temos casos de adultos analfabetos. Aqueles que conseguem algum tipo de ocupação, trabalham em serviços braçais, informais, comércio e industria.. A escola fica localizada na periferia do município, numa região muito pobre e suas instalações são também muito modestas; há pouco espaço para salas da administração e de aulas e o pátio para os alunos é pequeno, embora tenha uma quadra de esportes.

A escola foi criada em 1973. Tem, hoje, um total de 450 alunos e 40 funcionários, sendo desses, 20 professores em efetiva regência de classe. Dois desses professores têm duas matrículas. A escola oferece o Ensino Fundamental do 1º ao 9º ano de escolaridade. Recentemente, passou de Escola a Colégio e com isso obteve autorização para ampliar os cursos e pretende-se oferecer, em 2011, o Ensino Médio Regular. Maria Emília de Barros Loio é quem os relata o projeto Escolas da Paz que descrevemos. Ela é atualmente professora do 3º ano do 1º ciclo do Ensino Fundamental, mas quando implantou o projeto era coordenadora pedagógica da escola. Emília nos conta que o projeto Escolas da Paz aconteceu devido a uma parceria da escola com a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, UNESCO e membros da comunidade, buscandose abrir a escola nos finais de semana para o oferecimento de oficinas, atividades esportivas e alimentação para jovens. A finalidade maior do projeto foi possibilitar aos jovens uma formação para a não violência, pois a violência nos arredores da escola era muito grande, assim como Afirma Emília: A violência era muito grande, muita briga, confusão todos os dias entre os alunos. Muita confusão com professor, brigas e agressões aos professores. Houve até agressão física contra uma professora e, meses depois, o aluno que agrediu estava envolvido em uma morte (Emília Loio) O projeto Escolas da Paz Embora a escola Maria Nazareth Santos Silva tenha realizado outros projetos como o Horta Comunitária e o Bairro limpo, constatamos, em nossa visita que o trabalho de maior destaque, que produz efeitos mais marcantes e que continua acontecendo ano a ano, é o projeto Escolas da Paz. Segundo o relato de Maria Emília, o que levou a escola a aceitar o projeto Escolas de Paz, proposto pelo governo estadual da época (2001 e 2002), foi a análise dela, como coordenadora na época, da diretoria da escola e de outros professores, de que estavam caminhando a passos largos para uma situação de grande violência na escola e em suas proximidades. Outras medidas haviam sido buscadas anteriormente, como uma parceria com a Polícia Militar para ter policiamento 24 horas dentro da escola e rondas periódicas no entorno da mesma. Diz Emília: era preciso fazer alguma coisa, pois entendemos ser a escola fundamental num processo de mudança. O projeto Escolas de Paz tem como principal estratégia abrir a escola para alunos (até 14 anos) e comunidade (jovens até 18 anos) oferecendo oficinas de dança, artesanato, vídeos, pintura e esportes. Complementando tudo isso, o programa ainda oferece alimentação (lanche e almoço).

Como a instituição é localizada na periferia urbana, para a realização do projeto a escola trabalha em parceria com duas grandes escolas centrais (Barão do Rio Bonito e Joaquim de Macedo). Em nossa visita à escola, em outubro de 2010, Emília nos disse que o programa não acontece mais com o nome original Escolas da Paz e nem como parceria ou iniciativa da Secretaria da Educação, mas permanece agora como hábito da escola:... uma vez abertas as portas da escola, não foi mais necessário fechá-las. Como se pode ver, o programa não continua com o mesmo nome, mas a escola incorporou ao seu calendário atividades que antes eram comuns apenas ao programa. Atualmente, a escola cede espaço para diferentes iniciativas, em parceria com outras instituições que oferecem atividades diferentes para escola e comunidade, todas gratuitas. As atividades são as seguintes: Aulas de Karatê duas vezes por semana sendo o professor um ex oficineiro do programa Escolas de Paz ; Aulas de Capoeira duas vezes por semana; Ativaidade duas vezes por semana, em parceria com a prefeitura local atende a população da 3ª idade. Futsal nos finais de semana eventualmente a escola cede o espaço para a comunidade. Festival de Cinema em parceria com a prefeitura local, um grupo de alunos participou de uma formação que durou 6 meses (em 2009) e que culminou na produção de um filme para o I Festival Estudantil de Cinema local. Artes em 2010 em parceria com uma universidade local um grupo de alunos participa durante todo o ano letivo de uma formação específica em artes plásticas. Para o 2º semestre de 2010, Emília nos relata que estão previstas as seguintes atividades: Projeto SUDERJ 2010 proposto pela Câmara dos deputados e no qual professores de educação física atenderão alunos e comunidade quatro vezes por semana com atividades esportivas para crianças, jovens e 3ª idade; Mais Educação (MEC) que deverá ampliar em três horas a carga horária dos alunos do 6º ao 9º ano de escolaridade, oferecendo alimentação e atividades de: teatro, dança, esportes, produção de texto e elaboração de vídeos (laboratório de informática); Festival de Cinema nova formação visando participação no II Festival de Estudantil de Cinema local. Poderão ocorrer, ainda, outras atividades complementares; como a realização, duas vezes por ano, de Ações Sociais de Saúde, Educação e Cultura em benefício da comunidade (parceria com o Clube Rotary local, posto de saúde da família, igrejas, comunidade e universidades locais). É importante destacarmos, como faz Emília, que essas atividades envolvem tanto alunos da escola, como seus familiares e outras pessoas da comunidade.

Projetos Horta Comunitária e Bairro Limpo Além desse projeto voltado á educação para a não-violência, desde 2001 a escola participa de outros projetos como o Horta Comunitária e o Bairro limpo. O projeto Horta Comunitária aconteceu em parceria com o 10 Batalhão de Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro e seu objetivo foi o de tornar produtiva uma área anteriormente desocupada e produzir alimentos de qualidade em benefício da comunidade. Quando iniciou, os alunos iam até a horta, participavam na sua conservação, e a comunidade tinha cursos direcionados a esse trabalho.o trabalho contou com o apoio do Núcleo de Desenvolvimento Comunitário do bairro Arthur Cataldi. Atualmente, o projeto ainda existe, mas não há mais uma participação tão efetiva da escola; as mesmas pessoas da comunidade ainda participam e tudo que lá é produzido é vendido uma vez por semana na escola (que apenas cede o espaço) e o dinheiro é revertido em benefícios para algumas famílias mais carentes da comunidade e na manutenção da mesma. No projeto Bairro Limpo a escola fez parceria com a associação de bairro da comunidade e buscou a construção de uma consciência em educação ambiental a partir da reciclagem de alguns materiais. A idéia original do projeto era educar para a coleta seletiva de lixo, e a comunidade aproveitaria esses materiais: coletando, transformando e gerando uma fonte alternativa de renda. O lixo orgânico recolhido, como cascas e restos de alimentos, eram aproveitados na criação de animais, na comunidade. Mas, segundo Emília, o município ainda não oferece uma estrutura para a coleta seletiva de lixo, e não existem empresas interessadas nisso na região; o que limitou as iniciativas do projeto. A escola é posto de coleta de pilhas e baterias em parceria com uma escola particular local, e realiza campanhas periódicas relacionadas à Dengue; o que passa pela limpeza e conservação do bairro com a contribuição dos alunos. Fazendo cinema: um projeto inovador Uma das atividades que destacamos foi a voltada à elaboração de um filme por alunos da escola para o I Festival de Cinema Local em parceria com a Prefeitura local e que passou a acontecer recentemente na cidade. A prefeitura de Barra do Piraí, em sua secretaria Municipal de trabalho, Turismo e Lazer, tem como projeto cultural, desenvolver o cinema na região. Assim, de dois anos para cá vem incentivando as escolas a participarem da produção de filmes. Emília e a direção da escola se interessaram muito pelo projeto, conseguiram um monitor, voluntário da secretaria Municipal que ofereceu um curso de direção em cinema durante seis meses,

ministrado para 25 alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Foi organizado um movimento na escola para ver que alunos se envolveriam e que roteiros apresentariam para um eventual filme. Após algumas ofertas, selecionaram um roteiro de uma aluna Natália Borges do 8º ano do Ensino Fundamental que contava a história de um negro, muito sábio e culto, pois gostava muito de estudar, mas que sofria as agruras da escravidão e, devido a elas, acaba enlouquecendo. A história da Natália venceu, mas todos colaboram com idéias. Foi uma produção coletiva (Emília Loio). Era um assunto polêmico, e gostaríamos de trazer o assunto de volta, para acabar de vez com a escravidão. (Natália Borges). O filme, e seu roteiro, venceu o I Festival de Cinema da cidade. Na visita, pudemos conversar com os alunos participantes desse projeto e notamos que esse grupo de alunos não foi constituído pelos melhores estudantes alunos; ao contrário, alguns deles apresentavam, antes do projeto, diversos problemas de indisciplina e de fracasso escolar. Para nós, foi gratificante notar que, graças a essa atividade, muito bem sucedida, esses alunos passaram a gostar mais da escola, a melhorar a visão que tinham de si mesmos e a interessar-se mais por sua aprendizagem e seu futuro. Alguns alunos falaram em continuar sua formação em mídias, no Centro de vocação tecnológica que oferece cursos nessa área. Achei muito interessante fazer o filme, foi importante fazer o curso, pois podemos virar alguém na vida, virar ator algum dia. (Aluno)

Principais resultados e formas de avaliações Segundo Maria Emilia, as experiências dentro desse projeto de escola aberta à comunidade foram bem sucedidas: a partir do momento que são ações que vem acontecendo ao longo dos últimos anos demonstrando, a cada ano, mudança de comportamento e melhoria na qualidade de vida da comunidade. A professora relata que a relação aluno/aluno, aluno/professor, professor/professor, escola/comunidade tem-se mostrado muito boa. Embora nem todos possam participar mais ativamente, somos uma comunidade escolar com baixo índice de indisciplina e violência... Acompanhando detalhes das ações desenvolvidas, vejo o resgate da auto estima; (e isso devido) a uma escola mais aberta, atendendo as necessidades da comunidade e servindo a ela de referência. De fato, em depoimentos de alunos, notamos uma forte adesão às iniciativas da escola e certos reflexos do desenvolvimento de uma auto-estima promovido pela participação em atividades do projeto. Mudei meu comportamento, era muito bagunceiro na escola. Hoje sou uma pessoa boa e honesta [...] penso em ser ator (Aluno) Quando perguntamos à Emília qual formação ela e a escola tiveram para a realização do Projeto Escolas de Paz, ela nos contou que receberam uma formação no Curso em Educação e Valores da Secretaria de Educação e da UNESCO. O Curso foi elaborado pela Associação Palas Athena (São Paulo) e as escolas interessadas eram convocadas. Emília nos conta que os professores escolhidos para fazer o curso passaram alguns dias planejando atividades relacionadas aos seis pontos principais do Manifesto 2000 por uma cultura de paz e não-violência: Respeitar a vida; Rejeitar a violência; Ser generoso; Ouvir para compreender; Preservar o planeta; Redescobrir a solidariedade; Esses pontos foram abordados por meio da apostila Paz, como se faz?: semeando cultura de paz nas escolas

Limites, possibilidades e dificuldades dos projetos Ao perguntarmos à Emília, como coordenadora dos projetos, em que eles mais incluem educação em valores e que dificuldades mais estiveram presentes, ela nos respondeu: No mundo em que vivemos, educação moral e em valores é uma questão de postura; na maioria das vezes, o profissional de educação já está voltado para a realização desse tipo de trabalho, outros precisam ser trabalhados para isso. A escola hoje, tem a estrutura de uma empresa; as questões administrativas são bastante complicadas e tomam quase todo o tempo de todos e nos faltam recursos humanos na área pedagógica. Eu coordeno sozinha uma escola com 17 turmas; uma infinidade de projetos nos é oferecida; alguns deles são obrigatórios. Com uma carga horária de 25 horas semanais, não consigo atender a escola da maneira como gostaria. Mas a equipe de direção da escola acredita numa proposta voltada para educação moral e resgate de valores. A boa relação entre funcionários, professores e alunos é estimulada a todo tempo. O atendimento aos problemas pessoais de todos é sempre priorizado; procuro levar informações que despertem reflexões em conselhos de classe, reuniões de pais e professores... Trabalhamos no sentido de fazer ver ao aluno que é necessário o respeito às regras de boa convivência, ao respeito pelo professor e a importância da família. Com isso acreditamos estar valorizando o essencial. Os professores mais antigos na escola já abordam naturalmente essas questões em suas aulas e os novos estão sendo conduzidos a isso. Temos ainda problemas como alto índice de reprovação em algumas séries críticas, mas estamos sempre diagnosticando e discutindo em busca de soluções, mas a relação entre as pessoas com certeza é melhor do que era há 10 anos. Nessas palavras de Emília, podemos ver as dificuldades que mais se destacam: as urgências das ações, a insuficiência do tempo para trabalhar os projetos que seriam interessantes e necessários, obrigatórios ou não; o preparo necessário e a adesão de todos os professores para a educação em valores; a necessária atenção ao fracasso escolar. No entanto, notamos, também nas afirmações de Emília e nas descrições de seus projetos, algumas formas de vencer as dificuldades mais prementes: o trabalho coletivo dentro da escola; o cuidado com a manutenção de relacionamentos bons e respeitosos dentro da escola; o apoio da direção aos projetos e iniciativas em educação em valores; as freqüentes e fortes parcerias da escola com outras instituições e a comunidade; e, relevância dessa educação em valores. finalmente, uma forte crença na necessidade e Referências Blog da escola: http://marianazarethssilva.blogspot.com/ Diskin, L. Paz, como se faz? Semeando cultura de paz nas escolas. Rio de Janeiro: Governo do Estado do Rio de Janeiro, UNESCO, Associação Palas Athena, 2002. 95p. Disponível em: <http://www.palasathena.org.br/files/pazcomosefaz.pdf>