A EDUCAÇÃO DOS IMIGRANTES CHINESES NA CIDADE DE CASCAVEL. O Brasil é um país formado pela junção de diversas etnias.



Documentos relacionados
ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

Mídias sociais como apoio aos negócios B2C

GRITO PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

GRUPOS. são como indivíduos, cada um deles, tem sua maneira específica de funcionar.

GÍRIA, UMA ALIADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA ESTRANGEIROS Emerson Salino (PUC-SP) João Hilton (PUC/SP)

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

Família. Escola. Trabalho e vida econômica. Vida Comunitária e Religião

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ANOS INICIAIS: UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL

USANDO A REDE SOCIAL (FACEBOOK) COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Como aconteceu essa escuta?

Educação a distância: desafios e descobertas

V Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da FEUSP Relato de Experiência INSERINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO COPA DO MUNDO.

Educação especial: um novo olhar para a pessoa com deficiência

Respostas dos alunos para perguntas do Ciclo de Debates

PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO SILMARA SILVEIRA ANDRADE

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

Aprendendo a ESTUDAR. Ensino Fundamental II

Você conhece a Medicina de Família e Comunidade?

O estudante de Pedagogia deve gostar muito de ler e possuir boa capacidade de concentração porque receberá muitos textos teóricos para estudar.

difusão de idéias EDUCAÇÃO INFANTIL SEGMENTO QUE DEVE SER VALORIZADO

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO

Tudo o que você precisa saber para ter filhos éticos, inteligentes, felizes e de sucesso

CURSOS PRECISAM PREPARAR PARA A DOCÊNCIA

A ideia inicial é tornar o conteúdo mais dinâmico, menos descritivo e valorizar mais as pesquisas, as atividades lúdicas, artísticas, investigativas

Rousseau e educação: fundamentos educacionais infantil.

> Folha Dirigida, 18/08/2011 Rio de Janeiro RJ Enem começa a mudar as escolas Thiago Lopes

O trabalho voluntário é uma atitude, e esta, numa visão transdisciplinar é:

APRENDER A LER PROBLEMAS EM MATEMÁTICA

A Tecnologia e Seus Benefícios Para a Educação Infantil

Comitê de Autossuficiência da Estaca

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

Educação e inclusão digital

Projeto. Supervisão. Escolar. Adriana Bührer Taques Strassacapa Margarete Zornita

coleção Conversas #20 - MARÇO t t o y ç r n s s Respostas perguntas para algumas que podem estar passando pela sua cabeça.

Visitem a escola de seus filhos sempre que puderem. Conversem com os professores. Perguntem como seus filhos estão nos estudos.

2. METODOLOGIA DO TRABALHO DESENVOLVIDO NA PASTORAL DO MENOR E DO ADOLESCENTE

Freelapro. Título: Como o Freelancer pode transformar a sua especialidade em um produto digital ganhando assim escala e ganhando mais tempo

CartilhaEscola_Final.qxp:escola 9/16/08 6:23 PM Page 1

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Katia Luciana Sales Ribeiro Keila de Souza Almeida José Nailton Silveira de Pinho. Resenha: Marx (Um Toque de Clássicos)

Identificação do projeto

CNS - ISERJ: RETRATOS DA RESISTÊNCIA DISCENTE. Palavras-chave: Curso Normal Superior (CNS), perfil, pretensões e motivações.

PROJETO DE LEITURA CESTA LITERÁRIA

Visitem a escola de seus filhos sempre que puderem. Perguntem como seus filhos estão nos estudos.

PLANTANDO NOVAS SEMENTES NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

A CRIANÇA BILÍNGUE: INFLUÊNCIAS DO BILINGUISMO SOBRE O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ESCOLA PAN AMERICANA DA BAHIA. Profa. Conchita Kennedy Dantas

Resolução de Exercícios Orientações aos alunos

ESTADO DE GOIÁS PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA BÁRBARA DE GOIÁS SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO SANTA BÁRBARA DE GOIÁS. O Mascote da Turma

A EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES -PROBLEMA NA INTRODUÇÃO DO ESTUDO DE FRAÇÕES. GT 01 - Educação Matemática nos Anos Iniciais e Ensino Fundamental

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DO PROGRAMA ESCOLAS EM TEMPO INTEGRAL RIO DE JANEIRO Junho de 2015

Hábitos de Navegação na Internet: será que nossos alunos e educadores navegam com segurança na Internet no Estado da Paraíba?

GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: UM BREVE ESTUDO

ABCEducatio entrevista Sílvio Bock

Há 4 anos. 1. Que dificuldades encontra no seu trabalho com os idosos no seu dia-a-dia?

69% dos pais afirmam conversar com os filhos sobre dinheiro, mostra pesquisa do SPC Brasil

LÍDER: compromisso em comunicar, anunciar e fazer o bem.

Apesar de colocar-se no campo das Engenharias, profissional destaca-se, também, pelo aprimoramento das relações pessoais

ESCOLA ESTADUAL GETÚLIO VARGAS ENSINO FUNDAMENTAL PROJETO RÁDIO ESCOLA

A inserção de jogos e tecnologias no ensino da matemática

O PAPEL DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

#10 PRODUZIR CONTEÚDO SUPER DICAS ATRATIVO DE PARA COMEÇAR A

24 O uso dos manuais de Matemática pelos alunos de 9.º ano

A ERA DIGITAL E AS EMPRESA

PARECER TÉCNICO DA ATIVIDADE:

COMO É O SISTEMA DE ENSINO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO CANADÁ

PODER LEGISLATIVO CÂMARA MUNICIPAL DE MANAUS GABINETE VEREADORA VILMA QUEIROZ

Intercâmbio tem relatos de boas experiências e muita superação

Aspectos Sócio-Profissionais da Informática

TOTAL DE RESPONDENTES: 604 entrevistados. DATA DE REALIZAÇÃO: 11 e 12 de setembro de 2014, nas ruas do Centro do Rio de Janeiro.

A IMPORTÂNCIA DOS FUNCIONÁRIOS NO PROCESSO EDUCATIVO NAS ESCOLAS

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Os encontros de Jesus. sede de Deus

RESUMO. Palavras-chave: Educação matemática, Matemática financeira, Pedagogia Histórico-Crítica

Atividade de Aprendizagem 1 Aquífero Guarani Eixo(s) temático(s) Tema Conteúdos Usos / objetivos Voltadas para procedimentos e atitudes Competências

ED 2180/ maio 2014 Original: espanhol. Pesquisa sobre os custos de transação dos produtores de café

ANEXO I ROTEIRO PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETOS FIA Cada projeto deve conter no máximo 20 páginas

Roteiro de Áudio. SOM: abertura (Vinheta de abertura do programa Hora do Debate )

Caderno do aluno UM POR BIMESTRE: teoria, exercícios de classe, as tarefas de casa atividades complementares.

Novas Tecnologias no Ensino de Física: discutindo o processo de elaboração de um blog para divulgação científica

PERÍODO AMOSTRA ABRANGÊNCIA MARGEM DE ERRO METODOLOGIA. População adulta: 148,9 milhões

EDUCAÇÃO E PROGRESSO: A EVOLUÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO DA ESCOLA ESTADUAL ELOY PEREIRA NAS COMEMORAÇÕES DO SEU JUBILEU

Projeto Ludoteca do Turismo: atuação em escolas de Pelotas

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

UM RETRATO DAS MUITAS DIFICULDADES DO COTIDIANO DOS EDUCADORES

Objetivo: Relatar a experiência do desenvolvimento do software Participar. Wilson Veneziano Professor Orientador do projeto CIC/UnB

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA

INDÍGENAS NO BRASIL DEMANDAS DOS POVOS E PERCEPÇÕES DA OPINIÃO PÚBLICA

Rompendo os muros escolares: ética, cidadania e comunidade 1

A leitura, um bem essencial

INSTITUIÇÕES E FUNDAÇÕES

TIPOS DE RELACIONAMENTOS

Mídias sociais como apoio aos negócios B2B

Transcrição:

A EDUCAÇÃO DOS IMIGRANTES CHINESES NA CIDADE DE CASCAVEL Miao Shen Chen 1 Vilmar Malacarne 2 Introdução O Brasil é um país formado pela junção de diversas etnias. Com a introdução da plantação do chá no Brasil no século XIX, os chineses irão se somar aos demais grupos de imigrantes que formarão, e continuam a formar, a nação brasileira (TEIXEIRA, 1995, p.234). Tal imigração foi sempre relativamente tímida, a tal ponto de que até hoje o número dos imigrantes chineses é incluído na parte de outras nacionalidades, pois o percentual é pequeno para ser considerado como um dos principais grupos de imigrante do Brasil. Mesmo com a mudança da política do governo da China, com uma economia crescendo a uma taxa anual superior a 9%, o desenvolvimento e o fortalecimento da economia no Brasil, somadas as boas relações entre os dois países, estão estimulando mais chineses a imigrarem para o Brasil, mesmo que agora por motivos bastante diferentes daqueles que inicialmente os trouxeram para o país. Para entender a realidade da vida dos imigrantes chineses no Brasil, principalmente no aspecto educacional, esta pesquisa dialogou com os chineses, seus 1 Licenciada em Pedagogia e Especialista em História da Educação Brasileira pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE/Cascavel, PR. chinesacascavel@gmail.com 2 Doutor de Educação. Professor do CECA-UNIOESTE/Cascavel, PR Membro do Grupo de pesquisa Formação de Professores de Ciências e Matemática. mala@unioeste.br

descendentes e os professores dos filhos destes imigrantes, principalmente daqueles que vivem no Paraná e mais especificamente na cidade de Cascavel, com objetivo de compreendermos a cultura chinesa e a prática educacional destas famílias. Na perspectiva da pesquisa, buscamos elucidar os seguintes questionamentos: Quais os motivos que estimularam os chineses a sair da terra natal? Como chegaram ao Brasil? Depois de chegar ao Brasil, quais foram as dificuldades que encontraram e como enfrentaram tais dificuldades para melhorar sua condição? Na área da educação, como se adaptaram ao modelo brasileiro de educar os filhos? Como as famílias de imigrantes planejam a educação dos seus filhos? Há conflitos no processo da educação na família e a escola? Os chineses se adaptaram à cultura brasileira? Encontraram dificuldades nesse processo? Como os chineses orientam seus filhos para conviver na sociedade brasileira? Espera-se com esta pesquisa apontar alguns elementos que possam melhorar tal processo de adaptação para as próximas gerações de imigrantes, quer sejam chineses ou de outras nacionalidade, e que tendem a passar por situações semelhantes daquelas apresentadas neste trabalho. Os imigrantes chineses em Cascavel Cascavel é considerado um município novo no estado do Paraná. Sua emancipação política se deu em 1952. A cidade possui aproximadamente 300.000 habitantes. Os, amarelos, chineses correspondem a apenas 0,016%; são apenas 13 famílias. Por ser uma cidade de porte mediano e de forte apelo agrícola, os imigrantes chineses relatam que encontram muitas dificuldades para se estabelecer e conseguir uma vida financeira tranqüila. Os dados coletados para esta pesquisa apontam que a maioria destes é nascida em Taiwan.

Segundo dados levantados por esta pesquisa, há 47 imigrantes chineses em Cascavel. O senhor Hui, nascido em Xangai, ex-dono de um restaurante, teria sido o primeiro a chegar. Durante a Segunda Guerra mundial, o senhor Hui tinha 18 anos, chegou ao Brasil em 1944, para buscar melhores condições de vida. Depois que chegou ao Brasil, se casou com uma imigrante japonesa, aproximadamente em 1960. Nos primeiros períodos, morou no estado de São Paulo, trabalhando em restaurante como cozinheiro e mais tarde, em 1975, mudou-se para Cascavel. Segundo relato do filho de Hui, o pai foi ajudado pelos amigos e comprou o restaurante atual com o objetivo de ter uma melhor condição de renda. O segundo imigrante a chegar seria o seu sobrinho, Xui, em 1982, também dono de um restaurante, que foi estimulado à imigração pelo próprio tio, Hui. Ele, então, veio para Cascavel diretamente. Ele também começou da mesma forma que muitos outros imigrantes chineses no Brasil: num restaurante, sendo que quando chegou ao Brasil, foi empregado no restaurante do tio e atualmente é dono do próprio negócio em um restaurante de comidas típicas chinesas. Outros chegaram a Cascavel ainda no final do século XX, de 1996 a 2000, são taiwaneses, que vieram da Republica da china, Taiwan. Uma família chegou em 1996, na cidade de Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, mas veio para Cascavel, em 2003, onde reside até hoje. Uma chegou em 1997, em São Paulo, e em 1999 se mudou para Cascavel. Cincos chegaram em 1998, diretamente para Cascavel. Três dessas cinco famílias entraram pela fronteira da Argentina, as outras duas famílias por São Paulo. A outra família chegou em 2000 e também reside na cidade Cascavel. As profissões desses imigrantes em sua terra natal eram: três comerciantes, três professores, dois farmacêuticos, dois cozinheiros, um funcionário público, três engenheiros e um contador. Quando chegaram ao Brasil, eles eram: sete feirantes, dois

vendedores ambulantes, dois cozinheiros, dois professores e um comerciante. Executavam tais trabalhos principalmente devido às condições financeiras. Dois destes não trabalhavam, apenas observavam porque ainda não se sentiam à vontade com a nova realidade e assim eram ajudados pelos outros. Atualmente, as profissões dos entrevistados são: 9 comerciantes, 13 feirantes, 2 professores, 20 estudantes, 1 secretária, 1 contador e 1 aposentado. O grande número de estudante se dá pelo fato dos filhos ainda estarem em idade escolar (o número de filhos dos imigrantes chineses de Cascavel é, em média, de três filhos por família). Também segundo eles, a renda média das famílias é de aproximadamente quatro salários mínimos. Quanto à idade destes imigrantes, com idade acima de 81, há uma pessoa, com idade entre 51 até 60, há sete pessoas (15%), com idade entre 41 até 50, há 13 indivíduos (28%), com idade entre 31até 40, há uma pessoa, entre 21 até 30, há 10 pessoas (21%), entre 11 até 20, há 13 pessoas (28%) e abaixo de 10 anos há 2 pessoas. Tais dados indicam que os pais possuem mais de 41 anos de idade. Os filhos estão no processo de vida escolar, na idade entre 1 e 40. Quanto ao número de gerações, a primeira geração de imigrantes chineses tem 34 pessoas, a segunda geração tem 11 pessoas e a terceira e a quarta gerações têm apenas uma pessoa em cada. A quantidade de homens chineses é de 18 (38%) indivíduos e de 29 (62%) mulheres em Cascavel. Os pioneiros imigrantes chineses estavam buscando uma vida de paz. Já para os recém chegados, a situação é diferente, o que buscam é principalmente melhores condições de vida, mas como chegam com poucos recursos e os diplomas de formação da terra natal não garantem uma renda suficiente, a maioria deste grupo está trabalhando na feira do pequeno produtor: quatro famílias estão produzindo alimentos típicos orientais ou plantando e vendendo flores. Outra família montou uma loja de

informática, vende peças de computador e também faz manutenção e uma família possui restaurante. A realidade da educação dos imigrantes chineses em Cascavel A pesquisa mostrou que os imigrantes chineses têm muita preocupação com a educação. Em Cascavel, quanto à escolarização dos imigrantes chineses e seus descendentes, dois estão cursando pós-graduação, 12 têm a graduação completa (26%), 8 estão se graduando (17%), 10 são formados no ensino médio completo (21%), 4 possuem ensino médio incompleto (9%), 10 estão estudando no ensino fundamental (21%) e um é analfabeto ( por ter sofrido influencia da Segunda Guerra Mundial). Sobre a educação dos imigrantes chineses na cidade Cascavel, no que se refere à educação regular (formal), se as condições financeiras das famílias possibilitam, os pais optam por colocar seus filhos em escolas particulares. Mas, segundo os dados da pesquisa do ano de 2010, em decorrência das atuais condições financeiras, dentre os filhos destes chineses, 12 pessoas estão estudando em escolas públicas, o que representa 70%. Apenas 5 pessoas (30%) estudam em escolas particulares. Apesar disso, há estímulos para a busca de mais conhecimento. Os imigrantes procuram, na educação informal, maneiras de complementar a educação formal. Os pais pensam que permitir que os filhos aprendam a língua chinesa garante a presença da própria cultura, a língua inglesa, outra língua estudada, serviria para completar a base de conhecimento e aprender a tocar um instrumento musical, hábito freqüente entre estes, auxiliaria na qualidade de vida. Como a cultura chinesa valoriza muito a educação e incentiva o esforço na aprendizagem e nos estudos, eles acham que a qualidade da escola brasileira não estimula o interesse das crianças. Sendo assim, os pais procuram acompanhar o estudo

dos filhos para entender melhor o processo de aprendizagem dos filhos, participando também da vida escolar através das reuniões nas escolas. Normalmente, os imigrantes chineses falam a língua materna em casa, o dialeto (taiwanesa) ou mandarim (uma língua oficial da China). As primeiras dificuldades relatadas, e que foram encontradas no Brasil, são aquelas atinentes a língua portuguesa, além das ligadas ao trabalho. Os dados mostraram que a maior parte das famílias de imigrantes chineses de Cascavel ainda está em fase de adaptação à cultura brasileira. Eles também relatam que gostam das duas culturas, pois consideram que ambas tem qualidades positivas. Os entrevistados, contudo, disseram que preferem morar no Brasil, pois estão acostumados e adaptados ao ritmo de vida brasileira. Na educação da língua chinesa, os imigrantes chineses ainda realizam o mesmo tipo de educação gratuita e laica. As crianças chinesas na idade dos 6 à 17 anos frequêntam as aulas na casa de um professor. As aulas são semanais, de três horas e as famílias se revezam para oferecer lanche às crianças. Os professores com experiência profissional são formados no curso de Pedagogia em Taiwan e em Cascavel e trabalham voluntariamente. Este sistema de educação foi usado nos grupos de várias associações de imigrantes chineses no Brasil durante a década de 60, até final de século XX, incluindo a cidade de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Curitiba. As principais diferenças culturais entre chineses e brasileiros se referem aos valores e à religião. Os chineses, na sua maioria são budistas, seguem os preceitos do Confucionismo e Taoísmo, acreditam na reencarnação, tem conceitos de um mundo sagrado e espiritual fundamentados em Deus. Os diálogos com os entrevistados - os pais chineses, os filhos e os professores

A pesquisa foi realizada com o grupo da comunidade de imigrantes chineses e nas escolas dos seus filhos na cidade de Cascavel, no Paraná, incluindo os líderes das 10 famílias (os pais), 22 filhos chineses e 16 professores de Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira, Colégio Ideal, Colégio Marista de Cascavel, Colégio Pacaembu e Escola Municipal Emília Galafassi. Os pais entrevistados relatam que as principais dificuldades encontradas no Brasil, a língua portuguesa e o trabalho, estão relacionados a importância destes dois aspectos nas suas vidas. Com relação à educação, os pais entrevistados apesar das restrições à escola brasileira, aprovam a forma da educação dos filhos, porém gostariam que as escolas melhorassem a qualidade dos professores, buscando um maior cuidado em relação ao conteúdo das aulas e ao relacionamento com os alunos. Entre as sugestões apresentados por eles para a melhoria destas escolas, estão que a escola deveria aumentar às horas de sala de aula, transformando-as em tempo integral, com objetivo de deixar as crianças aprenderem mais conteúdos proporcionando também uma boa orientação no caminho da aprendizagem cidadã. Para os pais chineses, as principais qualidades da educação formal brasileira são a educação gratuita, que proporcionaria uma educação universal, e o diversificado método de ensino, que permite liberdade de pensamento dos alunos. Já sobre os defeitos, os pais chineses pensam que o principal é a pouca pressão e o pouco incentivo aos estudos que, assim, não estimularia as crianças a crescer no processo de aprendizagem. A respeito da aprendizagem na escola dos filhos dos imigrantes chineses, os entrevistados disseram que a língua portuguesa é a matéria mais difícil para os filhos e a matemática a mais fácil. Para tentar superar as dificuldades escolares dos filhos, os pais gostariam de ajudar nas tarefas escolares do cotidiano, mas ficam limitados pela própria

dificuldade da língua portuguesa. Assim, eles ajudam na forma de apoio e de carinho, orientando no método de estudar, pois, para eles, resolver juntos traz melhores resultados; é comum o filho mais velho ensinar o mais novo. Também orientaram os filhos a questionar os professores como forma de resolver as dificuldades na escola. A maioria dos filhos chineses gosta de estudar e ir para a aula, pois, para eles, é a forma mais efetiva de adquirir conhecimento, poder aprender mais e garantir um diploma e um trabalho no futuro, além de poder fazer mais amigos, poder conhecer e interagir socialmente com outras pessoas. Segundo eles, ir para a aula e estudar é um processo da vida pelo qual todos devem passar. Segundo informações dos entrevistados, os filhos de imigrantes chineses têm um bom relacionamento com colegas e professores. A maioria dos filhos chineses relata que não tem problemas de acompanhamento das atividades com seus amigos. Só alguns afirmaram que os amigos não os acompanham quando fazem leituras, tarefas, trabalho da escola, pois os colegas não gostam de ler, também pelo fato de os colegas preferirem coisas mais animadoras como festas. Porém eles gostam de conversar com os amigos para entender melhor a cultura brasileira. Os alunos chineses relatam que recebem informações sobre a China pela TV, Internet, escola e a própria família. Na sua maioria, eles sabem falar, ler e escrever bem a língua chinesa, em decorrência da aprendizagem na comunidade chinesa. Para eles, a China é um país do Oriente, comunista, com muitas histórias e cultura fortes. Os filhos chineses também consideram que há muitas diferenças entre os ensinamentos recebidos dos pais e aqueles da escola, em sua maioria aqueles ligados a cultura, aos valores e a religião. Quando questionados sobre a influencia da cultura brasileira em suas vidas, a maioria dos filhos de imigrantes chineses, principalmente os mais velhos, ainda se acha mais influenciado pela cultura chinesa, principalmente devido ao fato de terem chegado

ao Brasil há pouco tempo e já com alguma vivência em seu país de origem e/ou por sofrerem influencias da cultura da família. Alguns entrevistados se acham mais parecidos com os brasileiros, porque são nascidos e estão crescendo no Brasil, ou pelo fato de a família não ligar muito para a própria cultura. Mas, na realidade, o que pode se observar é que os filhos chineses estão, em sua totalidade, ligados a ambas as culturas, pois convivem com as duas culturas, as duas formas de pensar. Também segundo relatos dos filhos chineses, eles gostam das duas culturas, pois ambas têm suas qualidades positivas, porém, os entrevistados disseram que preferem morar no Brasil, pois estão acostumados e adaptados ao ritmo de vida brasileira. Eles acham que o Brasil pode proporcionar um bom futuro para eles mesmo porquê a maioria está vivendo no Brasil e nunca mais foi (ou sequer conhece) para China. Quando conversado com os professores destes descendentes de chineses, estes disseram que já tiveram diversos estrangeiros em suas salas de aula. Segundo relatos dos professores, os alunos chineses não têm dificuldade na aprendizagem escolar, pois dominam bem a língua portuguesa, apesar de geralmente serem tímidos e mais recatados que os demais alunos, mas tal situação não chega a ponto de atrapalhar seus rendimentos. Alguns professores acreditam que as dificuldades dos alunos estrangeiros mais comuns (também os chineses) ocorrem nas primeiras séries do Ensino Fundamental, principalmente com a linguagem escrita e a fala, na ordenação e na estrutura frasal e com os conhecimentos sobre o costume local, porém, logo se adaptam. Quando na relação das matérias da escola, os professores acham que os alunos chineses têm maiores facilidades nas disciplinas da área de exatas, como matemática e física, e com o inglês. As maiores dificuldades estão na área das humanas, como português, história e geografia, pois envolvem a linguagem escrita e a interpretação. Alguns professores disseram que tanto a facilidade quanto dificuldade depende do

desempenho do aluno, e acreditam que os alunos têm dificuldades de interpretação apenas em alguns assuntos, e não em outras disciplinas. Os professores expuseram que os alunos estrangeiros não deram a perceber nenhum entrave cultural, pois eles se relacionam bem com os colegas da sala de aula, estão muito bem integrados e a escola trata a todos igualmente, independente da cultura de cada um. Comentaram também que os relatos detalhados da cultura chinesa são bem interessantes para os demais alunos. Alguns professores entrevistados disseram que o maior entrave cultural é a adaptação destes alunos com a cultura e com os costumes (horário, gastronomia, etc). Para os professores, os alunos estrangeiros não mostram diferenças nas relações com a ciência e a religião na escola, pois a sala de aula tem a característica heterogênea no que diz respeito à religião, as diferenças e crenças são respeitadas, cada um crê a sua maneira; a própria timidez destes alunos elimina possíveis desavenças. Os entrevistados disseram que a maioria dos alunos chineses não tem nenhuma dificuldade de fazer amizade com os colegas, inclusive os nativos gostam de tê-los nas atividades para aprender e estes são bastante receptivos. Eles também relatam que alguns alunos chineses são mais cuidadosos em suas relações inter-pessoais, sendo mais seletivos e mais reservados. Alguns têm dificuldade de fazer amizade com os colegas pelo preconceito das outras pessoas e pela dificuldade de comunicação, ou pelo fato de que eles são muito fechados, introvertidos, quietos e não se manifestam. De forma geral, os alunos chineses têm certa dificuldade no início, mas depois o relacionamento se torna normal. Os professores disseram que os pais são sempre solicitados a comparecem na escola e participam acompanhando o estudo dos filhos, às reuniões dos pais e eventos da escola. Eles também buscam ajuda extra com aulas particulares ou de reforço em

casa. Com freqüência, ocorrem encontros da escola com as famílias para melhorar a adaptação. Segundo os relatos dos professores, os pais destes alunos dificilmente apresentam alguma queixa para a escola provavelmente pelo caráter cultural de timidez e de introspecção, ou seja, cobram mais de si do que reclamam do outro. Considerações Finais A Educação é um ato de poder ensinar e aprender, que tem o papel de vitalidade, na humanização do ser humano e na transformação da sociedade. Segundo Delors ( 2001, p.82-90), a educação é o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Para ele, o objetivo da educação é cada individuo compreender-se melhor a si mesmo e aos outros, também é para aprender a fazer, a viver juntos e a ser um humano. O investimento na educação é muito importante para os chineses. No pensamento dos pais, a educação dos filhos é essencial para que tracem objetivos e estabeleçam as bases para a vida. Eles também acreditam que a função da educação para a pessoa é de transformá-la em uma pessoa fiel. Com a influencia das idéias do filósofo Confúcio, a pessoa pode ser aperfeiçoada pelos esforços da educação, e pode levar os estudantes ao caminho certo (DELORS, 2001, p.258). Nesta direção é comum a crença das mães asiáticas de que a educação acabaria por poupar os seus filhos da pobreza de que elas próprias tinham sido vítimas, assim, os pais chineses apóiam de forma contundente o estudo dos filhos, quer seja ele formal ou informal, sendo a família o local de onde partem os maiores incentivos para os imigrantes chineses enfrentarem as dificuldades próprias da vida em um país desconhecido. Os pais esperam que os filhos fortaleçam suas capacidades de viver e de se adaptar ao mundo, com as quais possam contribuir com a sociedade e com os outros. Os pais também valorizam a educação moral e ética das famílias, com a intenção de

continuar a educação do confucionismo e da própria cultura chinesa. Para os chineses, o moral e a ética são os valores mais respeitados na família. A idéia dos pais chineses corresponde ao relato de Fairbank, que diz que a função da família é de criar seus filhos para se tornarem leais servidores. (FAIRBANK e MERLE, 2006, p. 35-65). Porém, para estes pais a escola brasileira não valoriza muito estes aspectos, estando aí um de seus maiores defeitos. Os filhos de imigrantes chineses relataram que os amigos não os acompanham em algumas atividades, como leitura, tarefas, trabalho da escola, entre outros, pelo fato de não gostarem de ler, estudar, e preferirem festas aos estudos. Isso, na perspectiva da lógica da cultura chinesa, nos faz questionar o porquê de os jovens não gostarem de estudar e preferirem mais as festas ao estudo. Se o motivo da atração é que as festas são mais divertidas, por que não realizar atividades mais interessantes no âmbito da educação e no espaço da escola? E mais, que tipo de cidadão e qual tipo de sociedade serão formados com esta ausência de incentivo aos estudas? Delors (2001, p. 12) indica que deve-se deixar os jovens compreender que é essencial ter a própria responsabilidade, saber da importância da vida, dos estudos, da sabedoria etc., pois eles são à base de um país e o futuro do homem e de um futuro promissor. Os filhos de imigrantes chineses, do grupo daqueles nascidos em Taiwan ou na própria China, disseram que gostam e conversam mais com pessoas da cultura chinesa, ao contrário do outro grupo, dos nascidos no Brasil, que disseram que preferem a cultura brasileira pelo fato de estarem crescendo no Brasil. Tal resultado mostra que a educação e a cultura local influenciam mais nas crianças menores. As opiniões de todos os descendentes chineses demonstraram que eles preferem viver no Brasil, pois é um país que permite às pessoas ter uma vida mais livre e com uma perspectiva maior de futuro.

Para os professores dos filhos de imigrantes chineses, apesar destes possuírem um caráter tímido e conservarem a própria cultura, não há dificuldade em sua adaptação à cultura brasileira, seus rendimentos de aprendizagem e o relacionamento com os colegas e os professores da escola são perfeitamente normais, passado o processo inicial de adaptação. Na opinião dos pais, dos filhos e dos professores, a educação é muito importante tanto para o aluno brasileiro, quanto para o aluno estrangeiro. Mas, a atual conjuntura educacional estruturada em Cascavel permite que tais alunos possam ter êxito em sua formação? Os professores que hoje atuam nas escolas que estão preparados para lidar com este tipo de diversidade cultural resguardando cada indivíduo em suas crenças? As escolas públicas brasileiras possuem muitos professores de boa qualidade pedagógica, mas, por que ainda existe pais chineses (ou mesmo brasileiros) que preferem buscar uma escola privada? Por que os pais e os alunos buscam as aulas extras além da aula regular da escola? Na verdade, a estrutura da educação brasileira ainda tem um espaço para melhorar a qualidade do professor e o sistema da educação nacional. A lição mais importante é que os pais, os professores e os filhos busquem estimular e ampliar os interesses em aprender, ou como diria Delors colocar a educação ao longo de toda a vida no coração da sociedade (2001, p. 18-19), pois a aprendizagem fortalece a capacidade da pessoa de viver no mundo, também é uma via de cultivação à própria base de desenvolvimento, tanto espiritual quanto material. De forma geral o que se pode apontar com este trabalho é que o processo de adaptação do imigrante chinês na cidade de Cascavel ainda é bastante tímido, tendo na pequena expressividade da etnia seu principal ponto. Apesar desta situação, os filhos destes imigrantes já se inseriram na cultura local e se adaptaram de forma concreta ao

processo educacional brasileiro, tendo nos pais e na escola o apoio para superar as distancias culturais de povos tão diferentes. Resta a comunidade chinesa local o incentivo na divulgação de sua própria cultura e à cidade de Cascavel a tarefa de recebelos, incentivar sua adaptação e proporcionar a este ou a qualquer outro povo condições de se sentirem cascavelenses, mesmo que conservem, pratiquem e divulguem suas próprias crenças e hábitos. Referências Bibliográficas DELORS, J. (Org.) Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 2001. FAIRBANK, J. K. e MERLE, G. China uma nova história. Porto Alegre: L&M, 2006. TEIXEIRA, J. R. L. A China no Brasil: influências, marcas, ecos e sobrevivência: chineses na sociedade e na arte brasileiras. Campinas: Ed. da Unicamp, 1995.