Artigo Publicado na revista Eletrônica F@pciência, Apucarana-PR, v.1, n.1, 61-66, 2007. Resumo INCLUSÃO DIGITAL Leandro Durães 1 A inclusão digital que vem sendo praticada no país tem abordado, em sua maioria, apenas a necessidade de fazer com que os alunos aprendam a usar as tecnologias com o objetivo de inseri-los no mercado de trabalho. Para isso, considera-se que, para alcançar a inclusão digital, é necessária uma política de universalidade do acesso à Internet. Porém acesso não significa apenas conexão física e acesso ao hardware, ou melhor, não é o acesso à tecnologia que promoverá a inclusão, mas sim a forma como essa tecnologia vai atender às necessidades sociais das comunidades locais, com uma apropriação crítica, pois o papel mais importante do processo de inclusão digital deve ser a sua utilidade social. O que se defende neste artigo é uma mudança na maneira de ver a tecnologia, não apenas como um instrumento solucionador imediato de problemas, mas um conjunto de ações integradas e abrangentes que através de uma apropriação crítica provoque mudanças comportamentais perante a própria tecnologia, mostrando como o uso de computadores pode auxiliar no processo de aprendizagem dos alunos. Palavras-chave: Inclusão Digital. Tecnologia. Aprendizagem. Inclusão escolar. Desenvolvimento escolar. Introdução Tendo como cenário a realidade educacional no contexto dos avanços tecnológicos, o presente artigo dedica-se à discussão do tema inclusão digital. Na sociedade da informação, ambiente globalizado baseado em comunicação, informação, conhecimento e aprendizagem, o papel da disseminação da informação torna-se fundamental para a construção do conhecimento e para a formação do cidadão (OLIVEIRA, 2000). As tecnologias da informação e comunicação (TIC) trazem a possibilidade de democratização e universalização da informação com grande potencialidade para diminuir a exclusão social, embora paradoxalmente tenham produzido, nos países não desenvolvidos, um novo tipo de exclusão, a digital. No Brasil, a exclusão digital 1 Aluno do 4 Ano de Matemática com ênfase em Informática, Faculdade de Apucarana FAP.
62 é um problema social e político, pois é decorrente da escassez de recursos devido à péssima distribuição de renda no país. Visando à inserção do Brasil na Sociedade da Informação, foi lançado oficialmente, em dezembro de 2000, o Livro Verde, elaborado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Ele apresenta uma espécie de plano diretor, com análises e diretrizes para a implantação de ações objetivando o desenvolvimento social com inclusão digital. O Livro Verde e o MCT reconhecem que (apud TAKARASHI, 2000, p. 05): O conhecimento tornou-se, hoje mais do que no passado, um dos principais fatores de superação de desigualdades, de agregação de valor, criação de emprego qualificado e de propagação do bem-estar. A nova situação tem reflexos no sistema econômico e político. A soberania e a autonomia dos países passam mundialmente por uma nova leitura, e sua manutenção - que é essencial depende nitidamente do conhecimento, da educação e do desenvolvimento científico e tecnológico. Eles também acreditam que: Na era da Internet, o Governo deve promover a universalização do acesso e o uso crescente dos meios eletrônicos de informação para gerar uma administração eficiente e transparente em todos os níveis. A criação e manutenção de serviços eqüitativos e universais de atendimento ao cidadão contam-se entre as iniciativas prioritárias da ação pública. Ao mesmo tempo, cabe ao sistema político promover políticas de inclusão social, para que o salto tecnológico tenha paralelo quantitativo e qualitativo nas dimensões humana, ética e econômica. A chamada alfabetização digital é elemento-chave nesse quadro. O Livro Verde admite que, para alcançar a inclusão digital da maioria da população brasileira, é necessária uma política de universalização do acesso à Internet. Assim, proliferam iniciativas que visam alfabetização digital e acesso às TIC, particularmente ao computador e à Internet. A inclusão digital que vem sendo praticada hoje no país tem abordado, em sua maioria, apenas a necessidade de fazer com que o cidadão aprenda a usar as tecnologias com o objetivo de inseri-lo no mercado de trabalho. E com este objetivo são realizados cursos que, por utilizarem o modelo fordista de transmissão de 62
63 informação, não garantem a construção do conhecimento com apropriação crítica da tecnologia que provoque mudança comportamental no indivíduo e em seu grupo social. O acesso não significa apenas conexão física e acesso ao hardware, ou melhor, não é o acesso à tecnologia que promoverá a inclusão, mas sim a forma como essa tecnologia vai atender às necessidades dos alunos, pois o papel mais importante do processo de inclusão digital deve ser a sua utilidade social. É preciso pensar na contribuição para um desenvolvimento contínuo e sustentável, com a melhoria da qualidade do ensino e desenvolvimento progressivo no aprendizado dos alunos, através da redução das desigualdades sociais e econômicas. Uma Definição de inclusão Digital Pode-se definir inclusão digital como a falta de capacidade técnica, social, cultural, intelectual e econômica de acesso às novas tecnologias e aos desafios da sociedade da informação. Essa incapacidade não deve ser vista de forma meramente técnica ou econômica, mas também cognitiva e social. A perspectiva meramente tecnocrática deve ser abandonada em prol de uma visão mais complexa do processo de inclusão. O capital técnico é importante, mas não o único. A ação de incluir deve ser vista como uma ação complexa que visa à ampliação dos capitais técnico, cultural, social e intelectual. Na base desse processo, está a autonomia econômica mínima para acesso aos bens e serviços tecnológicos. O capital cultural é a memória de uma sociedade; o social, a potência política e identitária; o intelectual é a competência individual; e o técnico a potência da ação e da comunicação (LEMOS, 2004). A visão defendida por este trabalho (e a matriz de análise de projetos de inclusão digital daí deriva) parte da premissa de que o processo de inclusão deve ser visto sob os indicadores econômico (ter condições financeiras de acesso às novas tecnologias), cognitivo (estar dotado de uma visão crítica e de capacidade independente de uso e apropriação dos novos meios digitais), e técnico (possuir conhecimentos operacionais de programas e de acesso à 63
64 Internet). Nesse sentido, incluir é um processo amplo que deve contar com ações nos quatro capitais explicitados. Incluir não deve ser apenas uma simples ação de formação técnica dos aplicativos, como acontece na maioria dos projetos, mas um trabalho de desenvolvimento das habilidades cognitivas, transformando informação em conhecimento, transformando utilização em apropriação. A reflexão crítica da sociedade deverá gerar práticas criativas de recusa de todas as formas de exclusão social. A apropriação dos meios deve ocorrer de forma ativa. Por isso, as categorias econômica e cognitiva são tão ou mais importantes que a categoria técnica nos processos de inclusão digital. Conclusão Considerando que a exclusão no Brasil já atingiu níveis muito altos, é necessário despender esforços para evitar que novas formas contribuam com o aumento das estatísticas da exclusão social, e que o tamanho das desigualdades provoque a irreversibilidade do processo. A educação de qualidade é o primeiro caminho para superar esses problemas, e se a tecnologia e os materiais que privilegiam novas leituras do mundo já estão disponíveis nas escolas, não utilizá-los em prol do processo de ensinoaprendizagem e da inclusão é agir na contramão da cidadania, não colaborando para a inclusão digital de uma parcela importante da sociedade. É necessário e urgente que a escola pública inclua em seus currículos conteúdos para obtenção da competência informacional e da inclusão digital, de modo que seus egressos sejam digitalmente incluídos. Assim, acreditamos que, na busca da inclusão digital, o uso da Internet de modo contextualizado contribuirá para a formação de sujeitos críticos e reflexivos que, através da apropriação tecnológica, serão capazes de intervir em suas comunidades provocando crescimento social através de mudanças comportamentais perante a tecnologia e a aquisição de conhecimento. 64
65 REFERÊNCIAS DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 2002. LEMOS, André. Cibercultura. Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002.. Dogmas da inclusão digital. In: Correio Brasiliense, Caderno Pensar, publicado no dia 13 de dezembro de 2003 http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos (acesso em 07/10/06).. Cibercidade. Um modelo de inteligência coletiva. In: LEMOS, André (org). Cibercidade: as cidades na cibercultura. Rio de Janeiro: Editora E-Papers Serviços Editoriais, 2004, pp. 19-26. MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva, 2002. OLIVEIRA, Maria Odaísa E. de. A disseminação da informação na construção do conhecimento e na formação da cidadania. In: XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO, 2000, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre: PUCRS, 2000. TAKARASHI, T. (Org.). Sociedade da Informação no Brasil: livro verde. MCT, Brasília, 2000. 65