Trançados musculares: análise das exigências musculares sobre as extremidades inferiores (EEII) durante a prática do frevo

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Transcrição:

Trançados musculares: análise das exigências musculares sobre as extremidades inferiores (EEII) durante a prática do frevo SOUZA, Giorrdani G. Q. de; VICENTE, Ana Valéria. Resumo: Sendo o frevo um Patrimônio Imaterial do Brasil nada mais justo que o interesse por esta expressão artística cresça. Tendo em vista a carência de pesquisas que o abordem pelo viés da ciência e partindo do pressuposto de que o complexo mioarticular das extremidades inferiores (EEII) recebe grande sobrecarga durante a prática do frevo, realizamos análises qualitativas de nove movimentos do frevo com o intuito de tentar identificar a veracidade da nossa hipótese. Através destas análises, encontramos indícios de que a musculatura e as articulações das EEII são sobrecarregadas durante a prática do frevo. Tomando como base os resultados das análises qualitativas e os relatos de outros autores, nós encontramos indícios de que exercícios específicos de fortalecimento muscular podem ajudar esta musculatura a estabilizar as articulações das EEII e, com isto, prevenir lesões durante a prática do frevo. Introdução O frevo é uma dança originária da cidade do Recife, com surgimento datado entre o final do século XIX e início do Séc. XX, e é constituída de um acúmulo de conhecimentos corporais sobre equilíbrio, impulso, agilidade, explosão e deslizamentos (VICENTE, 2007). No ano de 2007, o frevo foi 1

oficializado Patrimônio Imaterial do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN. No entanto, existem poucas pesquisas voltadas para a dança frevo e, apesar de a mesma ser praticada por um grande número de pessoas e da existência de uma escola municipal de frevo, localizada no bairro Torreão, em Recife, inexistem, até o momento, pesquisas que abordem as exigências musculares e articulares durante a prática dessa dança, assim como pesquisas que se proponham a discutir a metodologia de ensino utilizada atualmente pelos professores de frevo. Sistematizada na década de 1970, por Francisco do Nascimento Filho, conhecido como Nascimento do Passo, essa dança popular pernambucana passou por um processo de escolarização e difusão, que foi ampliado pelo trabalho do Balé Popular do Recife (OLIVEIRA, 2003). Apesar de seu ensino acontecer em escolas públicas e particulares, e em situações formais e não formais de ensino, não há registros de uma discussão mais profunda sobre qual a preparação corporal apropriada dentro do ensino desta modalidade de dança. O Mestre Nascimento do Passo, através do seu Método Nascimento do Passo (MNP) para ensino do frevo, esboçou movimentos que teriam esse objetivo (QUEIROZ, 2009), no entanto, não foram desenvolvidos a ponto de servirem a seu propósito. Diferentes estilos de dança solicitam diferentes habilidades motoras e, de acordo com Magil (1984), existe a necessidade de compreender os processos envolvidos na aprendizagem e desempenho de habilidades motoras para que instrutores possam desenvolver métodos apropriados para satisfazer necessidades peculiares de diferentes situações de ensino. Aqui no Brasil, no entanto, a dança em geral, ainda produz poucas pesquisas que abordem, discutam ou questionem o treinamento físico do bailarino. Com o objetivo de abordar o frevo pela ótica da Ciência do Esporte, da Fisiologia do Exercício e da Cinesiologia, foi proposta a realização da pesquisa cultural Trançados musculares: saúde corporal e ensino do frevo, da qual o 2

presente artigo é um dos resultados. A pesquisa Trançados musculares, parte da ideia de que a proposição de um treinamento para o frevo, assim como para as demais danças, deve ser baseada em conhecimentos advindos de áreas como a Cinesiologia, Biomecânica, Fisiologia do Exercício, Anatomia Funcional e Aprendizagem Motora. Acreditamos que assim se possa compreender melhor a atividade conjunta do sistema neuromusculoesquelético envolvida na realização dos movimentos durante a prática da dança. Com essa compreensão, podemos então ser capazes de melhor desenvolver e programar estratégias que tornem o aprendizado e execução destes movimentos mais econômicos energeticamente, executando-os de forma a incorporar princípios da Cinesiologia e Fisiologia do Exercício e, com isso, melhorar qualitativamente o processo de aprendizagem, assim como diminuir o risco de lesões durante a prática do frevo. Estudos que possam demonstrar, através da fundamentação teórica e embasamento científico, a importância da utilização desse tipo de conhecimento por parte dos professores se fazem necessários. Dessa forma, professores poderão aperfeiçoar a elaboração do treinamento prescrito para bailarinos, contribuindo para que esses possam exercer sua atividade com menor comprometimento de sua estrutura física, melhorando também sua performance artística. Utilizando-se de conhecimentos advindos das áreas supracitadas e da análise qualitativa dos movimentos do frevo, é possível identificar quais são as habilidades físicas reais que o aprendiz de frevo precisa adquirir no intuito de melhor desenvolver seu potencial físico, melhor cultivar o seu fazer artístico, assim como prevenir lesões. O presente artigo apresenta e discute os resultados do estudo cinesiológico de nove movimentos de frevo que integram o Método Nascimento do Passo, com o objetivo de analisar a atividade dos grupos musculares das EEII e identificar os tipos de contração desses músculos durante as diferentes fases desses movimentos. A identificação do tipo de contração nos ajuda a 3

direcionar o olhar para o tipo de treinamento adequado a esse estilo específico de dança. Para que a amostra atingisse o maior grau possível de representatividade das demandas do frevo, foram escolhidos nove movimentos que demandam maior esforço muscular e apresentam, em conjunto, grande variação de formas de apoio e transferência de peso. Os mesmos foram registrados em vídeo e, posteriormente, analisados qualitativamente. Materiais e métodos DEFINIÇÃO DO RECORTE Os movimentos do frevo são usualmente chamados de passos. No intuito de definir os movimentos a serem estudados para avaliação das demandas mioarticulares, foi elaborada uma lista de movimentos do Método Nascimento do Passo (MNP). O MNP é composto por 40 passos que são vivenciados em todas as aulas, seguindo uma ordem pré-definida. A esses movimentos são acrescidos outros, os quais variam de acordo com o enfoque dado por cada professor. Esses passos, apesar de não integrarem a parte estruturada do Método, são usados de forma recorrente em aulas e apresentações dos alunos. Para identificar esses movimentos, consultamos Queiroz (2009), Araújo (2009) e observamos registros de aulas e apresentações de alunos do Mestre Nascimento do Passo nos anos de 1999, 2001 e 2003, assim como do grupo Guerreiros do Passo no ano de 2007. Dessa forma, foi possível listar 67 passos que de forma recorrente são utilizados por professores do Método Nascimento do Passo. Passamos, então, a identificar subconjuntos de movimentos de acordo com diferentes exigências à musculatura e articulações. Assim, os mesmos foram redivididos em cinco categorias: movimentos no nível médio com 4

diferentes apoios; movimentos com apoio sobre o dorso 1 dos pés; movimentos com inversão e eversão dos pés; movimentos que envolvem flexão total das pernas e suspensão com apoios nos pés; e saltos, como mostra a tabela abaixo: Movimentos no nível médio com diferentes apoios Movimentos com apoio sobre o dorso dos pés Movimentos com inversão e eversão dos pés Movimentos que envolvem flexão total das pernas e suspensão Na onda do passo; ponta de pé-calcanhar; trocadilho; cruzeta; chapa quente; gaveta; faz que vai, mas não vai; ferrolho; dobradiça; chã de barriguinha; massapé; sapateando no gelo; passeando na pracinha; tesoura simples; tesoura tramelando; espalhando brasa; banho de mar para frente; banho de mar para trás; guerreiro; abre-alas; pulando corda; rojão; pisando em brasa; metrô de superfície; tubarão; ginasta no frevo; saci pererê; serrote; chutando com o pé; chutando de frente; chutando de lado; pernada; pontilhando; passa-passa em cima. Pontinha de pé; alegria do salão; festival de bailarinas; britadeira em movimento; britadeira parada; britadeira passando a sombrinha; pé de vento; plantando mandioca; patinho; alicate; caindo nas molas. Parafuso; apertando a porca; chave de cano. Abre o leque; folha seca; rã eletrizada; carrossel; ligadura; locomotiva; tesourão; passo do Zé; enxada; tramela; passa-passa em baixo; metrô 1 Dorso do pé refere-se ao que os bailarinos comumente chamam de peito do pé. 5

com apoios nos pés Saltos subterrâneo. Tesoura passando a sombrinha; tesoura em retrospecto; tesoura no ar; tesoura cruzando em vice-versa; voo da andorinha; pulo do grilo; coice de burro. Tendo em vista que uma análise cinesiológica para cada um desses 67 passos seria inviável ao escopo deste projeto, nós decidimos escolher apenas alguns movimentos que dentro dos nossos objetivos fossem mais significativos e representativos das demandas físicas a que o corpo está sujeito ao dançar o frevo. Para a definição de quais movimentos seriam estudados e com o objetivo de possibilitar uma análise das demandas do frevo em sua complexidade, decidimos priorizar, dentro dessas categorias, os movimentos de maior esforço muscular. Ainda focando na representatividade e diversidade, foram selecionados movimentos que são realizados nos níveis alto, médio e baixo e que apresentam variações de formas de apoio e transferência de peso. Assim, chegou-se a lista dos nove movimentos analisados. Foram eles: Movimentos no plano médio com diferentes apoios: tesoura e ferrolho; Movimentos com apoio sobre o dorso dos pés: caindo nas molas e patinho; Movimentos com inversão e eversão dos pés: parafuso e apertando a porca; Movimentos que envolvem flexão total das pernas e suspensão com apoios nos pés: tramela, tesourão e ligadura. Portanto, pode-se considerar a amostra escolhida como representativa das demandas mioarticulares do frevo no que concerne às EEII, dando enfoque 6

aos seguintes pontos: amplitude articular necessária para realização dos movimentos, identificação dos músculos mais utilizados e os tipos de contração realizados pelos mesmos. EXPLICAÇÃO RESUMIDA DA ANÁLISE Este tipo de análise cinesiológica foi concebido para análises de movimentos que acontecem em um único plano e, por esse motivo, tivemos que realizar algumas pequenas mudanças de abordagem para que a pudéssemos utilizar para analisar os passos do frevo, visto que os mesmos em sua maioria acontecem em mais de um plano (frontal, sagital, transversal). As análises são realizadas em oito etapas. Na primeira etapa, é descrito o objetivo da análise, que neste projeto foi quase idêntico para todos os movimentos. Nosso objetivo foi o de analisar a atividade dos seguintes grupos musculares: flexores, extensores, adutores, abdutores e rotadores externos do quadril; flexores e extensores do joelho; dorsiflexores e flexores plantares do tornozelo; e, para alguns movimentos, a ação dos inversores e eversores do pé (articulação subtalar), durante a execução dos passos do frevo selecionados. Além de identificar os tipos de contração desses grupos musculares durante as diferentes fases do movimento. Na segunda etapa, é apresentada uma descrição do movimento do ponto de vista cinesiológico e uma orientação para realização do movimento do ponto de vista da dança. O plano de análise, ou seja, de onde o movimento foi observado (frontal, sagital ou transversal), é definido na terceira etapa e, na quarta etapa, são apresentadas as fases em que o movimento foi dividido. Cada movimento possui uma posição a mais que o número de fases nas quais ele foi dividido, ou seja, a fase 1 de qualquer movimento é composta pela passagem da posição 1 para a posição 2, assim como a fase 2 é composta pela passagem da posição 2 para a posição 3, e assim sucessivamente. 7

Até então, todas as etapas têm a função de apresentar o movimento, descrevê-lo e definir de que ponto de vista ele será analisado. A partir da quinta etapa, a análise propriamente dita se inicia com a descrição das forças externas que atuam no movimento e como elas o influenciam, para logo em seguida, na sexta etapa, realizarmos a descrição das forças internas que atuam no movimento. Queremos deixar claro que a nossa identificação (visual) do tipo de contração muscular é apenas aproximada, pois para podermos afirmar com exata precisão seria necessária a utilização de eletromiografia. A etapa sete é utilizada para apresentar os resultados da etapa anterior em forma de tabelas, onde os tipos de contração muscular dos grupos envolvidos no movimento das articulações do quadril, joelho e tornozelo são expressos na forma de porcentagens. Embora ao observar as tabelas de contrações musculares tenha-se a impressão de que estes movimentos precisam de muito tempo para acontecer, este não é o caso, pois na realidade subdividimos os movimentos em fases para permitir uma análise detalhada dos mesmos. Por exemplo, o movimento denominado tesoura foi dividido em 25 fases (quatro fases de descarga de peso com apoio duplo, três fases de impulso rotacional, quatro fases de transferência de peso, quatro fases de apoio simples, seis fases de mudança de plano e quatro fases aéreas) e o que, aparentemente, toma muito tempo para acontecer, na realidade, acontece em alguns poucos segundos. Para a análise e para fins didáticos, nós isolamos o movimento em uma unidade básica que é o passo, em sua maioria, realizado para os lados esquerdo e direito. Quando dançada, a mesma unidade básica se repete indeterminadamente, dependendo da vontade e habilidade do passista/aluno. E, por final, na oitava etapa apresentamos a nossa conclusão, ou seja, o que é que a análise realizada nos diz com relação ao nosso objetivo. Dependendo do percentual de um tipo específico de contração em uma determinada musculatura, nós podemos identificar se o movimento acontece 8

por inércia, se é um movimento de aceleração ou desaceleração, e isso tem significância na identificação da possibilidade de risco de lesão para aquela articulação que está sendo movida. Segundo Trew e Everett (2010), teoricamente, a massa de um segmento se distribui por todo ele e a gravidade (peso = massa x aceleração da gravidade) atua em todas as partículas de massa do segmento. Esses autores também afirmam que é quase impossível realizar qualquer cálculo considerando tudo isso. Assim, é utilizado o centro de massa (CM), que é o ponto imaginário onde a massa do segmento está igualmente distribuída. O CM está intimamente relacionado com o ponto de incidência da força da gravidade. O centro de gravidade (CG) é o ponto imaginário onde a massa dos segmentos corporais está igualmente distribuída. Na posição anatômica, acredita-se que esteja localizado na altura da segunda vértebra sacral no interior da pelve. Contudo, assim que o corpo desfaz a posição anatômica, o CG se desloca podendo se localizar fora do corpo. Por exemplo, se estamos em pé e flexionarmos os braços à 90º com o tronco, o CG se deslocará para frente e para cima. Na quinta etapa da nossa análise, nós descrevemos a trajetória aproximada do centro geral de massa (CGM) em cada fase do movimento. Na figura 1, vemos um exemplo das variáveis avaliadas durante a análise das forças externas que atuam sobre o corpo durante a fase 3 do movimento parafuso. É descrito se a velocidade do CGM aumenta, diminui ou permanece a mesma durante a fase observada; descreve-se o deslocamento do CGM; e define-se em qual direção ele se desloca predominantemente, se na vertical ou na horizontal. Essas descrições oferecem àquele que avalia a análise uma ideia aproximada de como o CGM está se deslocando durante a execução do movimento. É evidente que apenas com a observação visual é impossível determinar com precisão a localização do CGM, porém, pode-se definir em que direção ele está se deslocando e se a velocidade permanece a mesma, ou ainda, se ele está em aceleração. Isso tem utilidade prática quando precisamos 9

determinar se há uma sobrecarga articular durante a execução de um determinado movimento. Figura 1: fase 3 da análise do CGM durante a realização do parafuso. Na sexta etapa, são avaliadas as forças internas (ação muscular), que atuam nas articulações durante o movimento. Na figura 2, podemos observar a análise das forças internas atuando sobre a articulação do tornozelo. Como se pode ver nesse exemplo, há uma breve observação inicial seguida da descrição do que está acontecendo nas articulações subtalares direita e esquerda com relação ao ângulo de inversão/eversão. Para cada passo, foi escolhido o movimento que nos parecia mais relevante para a articulação em questão e, para o leitor da análise, isso esclarece que tipo de movimento está acontecendo na articulação durante aquela fase. Logo em seguida, é descrita a direção da velocidade (ω) e da aceleração (α) angular, que podem acontecer no sentido horário ou anti-horário. Para identificar a direção da velocidade e da aceleração angular das articulações, foi levado em consideração o que acontece na articulação durante o movimento no plano onde esse seria mais visível. Utilizamos como parâmetro de convenção que a descrição desses dois elementos do movimento seria sempre realizada como se fossem vistos no lado em que o movimento está acontecendo. Dependendo do movimento que é observado e qual o plano escolhido, isso faz muita diferença na hora da 10

interpretação do movimento e do que está acontecendo na articulação. Por exemplo, na figura 2, a velocidade da flexão plantar do tornozelo esquerdo permanece a mesma durante esta fase e a aceleração acontece no sentido horário. Esta definição do sentido da aceleração é feita como se o corpo como um todo fosse visto no plano sagital esquerdo, uma vez que o foco da observação é o tornozelo esquerdo. Isso nos diz que mesmo que não haja movimento (velocidade) existe uma aceleração, ou seja, os músculos dorsiflexores estão ativos para direcionar e manter a articulação naquela direção angular. No tornozelo direito, porém, a velocidade da flexão plantar acontece no sentido anti-horário e a aceleração no sentido horário, o que nos informa que o movimento angular que acontece na articulação devido ao peso do corpo no sentido da dorsiflexão está sendo desacelerado (contraposto) pela musculatura flexora plantar. 11

Figura 2: análise de forças internas atuando sobre a articulação do tornozelo durante a fase 2 do movimento ferrolho. Na sétima etapa, é apresentado o resumo da sexta etapa através de tabelas que nos informam a porcentagem de cada tipo de contração durante o movimento. Na figura 3, podemos ver o resultado dos tipos de contração que acontecem nos músculos que atuam sobre os quadris direito e esquerdo durante a execução do ferrolho. Neste caso, a tabela nos informa que, durante a realização desse movimento, os rotadores externos do quadril atuam predominantemente estabilizando a articulação, uma vez que em todas as fases do movimento eles estão contraídos isometricamente. Um músculo está contraído isometricamente quando é gerada tensão interna no músculo (força muscular), mas não há movimento aparente nos seguimentos em que esses 12

músculos atuam. Esse tipo de contração acontece quando o corpo precisa estabilizar uma articulação, ou seja, evitar que haja movimento nela. Figura 3: tabela mostrando os tipos de contração muscular que acontecem nos músculos que atuam sobre o quadril durante o movimento ferrolho. ABRANGÊNCIA DAS ANÁLISES, POTENCIAIS E LIMITAÇÕES A análise cinesiológica, embora não envolva cálculos e precisão quanto à mensuração da força utilizada pela musculatura, como acontece com análises biomecânicas, é capaz de identificar quais músculos estão envolvidos na mobilização dos segmentos corporais e quais os tipos de contração são necessários para que o movimento articular aconteça na amplitude e velocidade desejadas. Uma análise cinesiológica é considerada qualitativa, pois envolve a observação de um movimento in vivo ou através de vídeos, sua divisão em partes e a descrição das forças internas e externas que atuam no corpo sem uma mensuração quantitativa. Professores de dança, ginástica, esportes, treinadores físicos e profissionais que atuem ensinado algum tipo de habilidade física estão sempre, consciente ou inconscientemente, realizando esse tipo de analise quando trabalham com seus alunos, bailarinos ou atletas. Esses profissionais precisam observar os movimentos realizados, identificar os erros e ajudar os seus alunos 13

a corrigi-los. Posteriormente, o conteúdo dessas análises pode ser incorporado a análises biomecânicas que, por sua vez, são mais quantitativas e envolvem técnicas e equipamentos específicos que, em sua grande maioria, só são encontrados em grandes laboratórios de biomecânica em universidades, grandes times de futebol ou grandes centros de treinamento esportivo. O conteúdo cinesiológico pode, então, ser usado como precursor do estudo biomecânico, este envolve o estudo do efeito e mensuração das forças que agem sobre diferentes partes de um organismo vivo (HAMILL, 1999). A utilização de análise qualitativa cumpre adequadamente a sua função de indicar quais músculos são mais utilizados na prática do frevo e, por essa razão, nos fornece informações sobre quais musculaturas precisam de uma atenção especial no que se refere ao seu fortalecimento. No sistema articular humano, estabilidade e mobilidade são inversamente proporcionais, ou seja, quanto mais móvel é uma articulação, mais instável ela é (HAMILTON, 2002). Para conferir estabilidade às articulações, o corpo humano, em seu desenvolvimento, aprimorou dois mecanismos principais: um passivo e outro ativo. Sobre estabilidade passiva e ativa, é importante frisar que o termo passivo aqui é utilizado para especificar estruturas não contráteis e que apenas são movimentadas quando alguma força é aplicada sobre elas, seja pelas outras estruturas a sua volta, seja pela manipulação externa, como por exemplo, uma mobilização; já o termo ativo é aplicado aos tecidos musculares por serem estruturas contráteis capazes de gerar tensão interna e, com isso, movimentar, estabilizar e direcionar segmentos corporais. As estruturas anatômicas responsáveis pela estabilidade passiva são os ligamentos, cápsula articular, cápsula sinovial, superfícies articulares e a própria congruência das estruturas ósseas em uma articulação; além desses, a gravidade e o vácuo na articulação, gerado pela pressão atmosférica negativa, 14

também contribuem para estabilizar as articulações (HAMILL, 2008). A estabilidade ativa fica a cargo dos músculos, que são capazes de contrair-se e alongar-se de acordo com a necessidade, agindo de modo a estabilizar e proteger ativamente as articulações de movimentos potencialmente danosos. Todas essas estruturas trabalham em conjunto para estabilizar as articulações durante os movimentos do corpo. Quanto mais os movimentos expõem as articulações a grandes amplitudes, e se esses movimentos expõem essas articulações à descarga de peso e aceleração angular, mais a musculatura é requisitada para ajudar na estabilização (HAMILL; KNUTZER, 1999). As três funções dos músculos esqueléticos relacionadas ao movimento humano são: a assistência à estabilidade articular; a manutenção da postura e posicionamento corporal; e a contribuição para o movimento humano (HAMMIL; KNUTZER, 1999). Cada articulação possui suas possibilidades específicas de movimento, de acordo com a sua forma e graus de liberdade, sendo que, para cada movimento, diferentes músculos são solicitados com funções distintas. A descrição das ações musculares que são realizadas por cada músculo em relação a uma articulação específica encontra-se disponível na literatura especializada. Com base na observação dos movimentos, podemos identificar qual ou quais músculos estão sendo ativados em cada uma das etapas do movimento. Os movimentos foram realizados pelo passista Gil Silva, professor do projeto Guerreiros do Passo, que transmite o Método Nascimento do Passo, em 15 de setembro de 2010, no Teatro Capiba, no SESC Casa Amarela. Os mesmos foram filmados em dois planos (frontal e sagital) com duas câmeras semiprofissionais (câmera Panasonic PV, modelo GS120, e câmera Panasonic, modelo NV-GS300), dispostas à distância frontal de 8 metros e 90 cm, em relação ao modelo, e à distância lateral de 4 metros e 65 centímetros, em relação ao modelo. Depois de filmados, os movimentos foram observados por 15

um fisioterapeuta treinado na análise de movimentos. Após essa observação, os movimentos foram divididos em fases. Para a análise, as fases de movimento foram capturadas do vídeo como fotografias digitais, através do programa Adobe Premiere Elements. As análises tiveram como foco as articulações e musculatura das EEII, uma vez que a maior sobrecarga acontece nas mesmas que, por consequência, ficam mais expostas a lesões. Cada fase foi analisada nos quesitos: deslocamento do centro geral de massa; direção dos movimentos articulares; velocidade e aceleração angular das articulações; e tipo de contração muscular necessário para realização dos movimentos. Os resultados se referem à realização de cada movimento uma única vez; não foram avaliados diferentes tempos de execução ou a quantidade de passos realizados. Essas análises foram realizadas baseadas no método qualitativo de análise do movimento descrito pelo professor Bert Loosen, da European School of Physiotherapy, instituto pertencente a Hogeschool van Amsterdam, na Holanda (LOOSEN, 2006; VAN INGEN S. G. J. et al., 1994). Os resultados foram apresentados em forma de tabelas nas quais estão especificadas as fases do movimento, os músculos analisados (divididos por articulação) e os tipos de contração desses músculos durante a execução dos movimentos (ver anexos). Dessas tabelas, foram extraídas as porcentagens dos tipos de contração dos músculos (concêntrica, excêntrica, isométrica), assim como a ausência de contração muscular visível. As articulações analisadas foram os quadris, os joelhos, os tornozelos e, em alguns movimentos, as articulações subtalares. A nomenclatura e a função dos músculos foram descritas tendo como referência Kendall e Kendall (1993). Resultados Aqui apresentamos os resultados acerca da atividade muscular das EEII em cada um dos nove passos do frevo que foram analisados em nossa 16

pesquisa. Descrevemos, quando necessário, as particularidades do movimento, como o passo foi dividido e o que as tabelas que apresentam as contrações musculares significam no que se refere à utilização da musculatura e da eventual sobrecarga articular durante o movimento. O quadro das porcentagens dos tipos de contração será apresentado em cada passo para que se possa melhor visualizar os resultados que apresentamos 2. 1. Tesoura Diagramas com as porcentagens dos tipos de contrações da musculatura que cruza as articulações das EEII durante o passo: O passo tesoura acontece em dois planos, o frontal e o sagital, o que torna a nossa análise mais complexa. A tesoura foi dividida em 25 fases organizadas da seguinte forma: quatro fases de descarga de peso com apoio duplo, três fases de impulso rotacional, quatro fases de 2 Sempre que houver alguma dúvida sobre como o movimento é realizado, nós sugerimos que o leitor se dirija ao anexo 1 do artigo e observe exatamente o que estamos relatando nos resultados. 17

transferência de peso, quatro fases de apoio simples, seis fases de mudança de plano e quatro fases aéreas. Como pode se perceber nos quadros acima, que mostram os tipos de contração muscular realizados pelos músculos analisados nas respectivas articulações, percebe-se uma predominância (37,2%) de contrações isométricas na musculatura que atua no quadril, o que demonstra um forte componente estabilizador na musculatura a volta dessa articulação durante esse movimento. Em seguida, com 31,2%, estão as contrações excêntricas, o que indica que nesse movimento os músculos que atuam no quadril realizam frequentemente a tarefa de desaceleração e direcionamento das articulações. Nos joelhos, existe um equilíbrio entre contrações concêntricas, normalmente utilizadas para movimentar (acelerar) os segmentos corporais, e excêntricas, que têm a principal função de desacelerar ou contrapor um torque específico. No tornozelo, em 42% do tempo, os músculos, principalmente os dorsiflexores, não apresentam contrações visíveis, o que indica que grande parte do movimento dos pés, durante a tesoura, acontece por inércia. Em 28% do tempo, os músculos se comportam como desaceleradores do movimento (contrações excêntricas). 2. Ferrolho Diagramas com as porcentagens dos tipos de contrações da musculatura que cruza as articulações das EEII durante o passo: 18

O ferrolho foi dividido em quatro fases, duas de rotação para esquerda e duas de rotação para a direita, com variações de plano. Durante as passagens das fases 1 e 4, existe um momento de força (torque) em direção à flexão (segundo Hamill, aceleração angular negativa sentido horário) da articulação do joelho da perna que recebe maior parte do peso corporal, ou seja, a perna que está apoiada nos dedos e articulações metatarsofalangeanas. Isso acontece com a função de amortecer o impacto sobre o tornozelo e quadril, assim como de armazenar energia e transmiti-la para o tornozelo, a qual será utilizada como alavanca para o impulso necessário à mudança de direção do movimento nessa articulação. Durante a execução do ferrolho, há um equilíbrio entre contrações excêntricas e concêntricas dos músculos flexores, extensores, adutores e abdutores da articulação do quadril, demonstrando igual participação da musculatura nas funções de aceleração e 19

desaceleração e de contrações isométricas nos rotadores externos para manter a angulação da articulação (estabilização). Já no joelho, há uma predominância de contrações excêntricas, principalmente nos extensores, o que mostra claramente tanto uma função de oposição ao torque flexor quanto de desaceleração da velocidade angular nesse mesmo sentido para essa musculatura durante a execução desse movimento. Em vários momentos desse passo, os músculos que cruzam os tornozelos, seja por apresentarem função antagonista ou por não precisarem mover o segmento em nenhuma direção, não apresentam contrações visíveis. As articulações dos tornozelos, enquanto mantidas em dorsiflexão pela a ação da gravidade sobre o corpo, funcionam como uma mola, acumulando energia elástica para impulsionar o corpo. A maior variação da amplitude de movimentos acontece na articulação coxofemoral e, por essa razão, os músculos que cruzam essa articulação apresentam uma maior função motora que os músculos que estão atuando no joelho e tornozelo, os quais estão sendo utilizados predominantemente para conceder vantagem mecânica às alavancas dessas articulações e estabilizá-las durante a desaceleração e impulsão. O joelho como articulação intermediária está amortecendo o impacto nas duas extremidades do membro inferior e transferindo energia, através dos músculos biarticulares (sartório, reto femoral, isquiotibiais e gastrocnêmico), do quadril para o tornozelo que utiliza essa energia para propulsão do corpo durante a mudança de direção da pelve/tronco. 20

3. Caindo nas molas Diagramas com as porcentagens dos tipos de contrações da musculatura que cruza as articulações das EEII durante o passo: O movimento caindo nas molas é um movimento que visualmente parece muito perigoso tanto para os tornozelos quanto para os joelhos. Ele consiste basicamente em uma trajetória descendente do corpo sobre o dorso dos pés, com os joelhos e quadris flexionados. É preciso bastante prática para que se possa realizá-lo sem se lesionar. Deve-se ter muito cuidado quando se está dançando o frevo em um concurso ou no carnaval ou em algum local com terreno instável, irregular ou áspero, pois, nessas situações, o caindo nas molas estará inserido entre outros passos e, no fervor da dança, a lesão pode acontecer. O perigo aqui é o de não controlar a desaceleração e bater com os joelhos no chão, o que, dependendo da velocidade de impacto, 21

pode lesionar gravemente os joelhos. Além disso, se no momento de transferência de peso da face plantar para a dorsal do pé, essa não for feita com precisão e cuidado, pode-se também lesionar os pés. O passo foi dividido em doze fases organizadas da seguinte forma: duas fases de impulso inicial, duas de transferência de peso, sete fases descendentes (desaceleração) e uma fase de descarga de peso. As tabelas que mostram as porcentagens dos tipos de contração muscular nos revelam que na articulação do quadril e do tornozelo há uma predominância visível de contrações isométricas, o que nos revela uma necessidade do corpo de proteger e estabilizar essas duas articulações durante o movimento. Quanto ao joelho, há uma predominância de contrações excêntricas dos extensores, denotando o caráter desacelerador que essa articulação tem na realização desse passo. Enquanto os joelhos vão flexionando até o máximo, os adutores e abdutores do quadril direcionam e estabilizam a coxa através de contrações isométricas. Os flexores do joelho não apresentam contrações visíveis quase que durante todo o movimento, uma vez que a descida do tronco, através da flexão dos joelhos, acontece por aceleração da gravidade. 4. Patinho Diagramas com as porcentagens dos tipos de contrações da musculatura que cruza as articulações das EEII durante o passo: 22

De toda esta série de movimentos que nos propusemos a estudar, o patinho é provavelmente o mais difícil de analisar devido à escolha do plano de análise. O movimento consiste basicamente em uma caminhada no plano baixo, onde as pernas permanecem flexionadas nos joelhos e quadris durante toda a execução do mesmo. No plano frontal, seria quase impossível a análise qualitativa desse movimento e, no plano sagital, para uma análise que oferecesse maior fidedignidade, seria necessário observar o movimento pelos dois lados, pelo esquerdo e pelo direito. Como não tínhamos a imagem captada pelos dois lados, decidimos realizar a análise apenas pelo plano sagital esquerdo. O passo foi dividido em dez fases organizadas da seguinte forma: duas fases de impulso, quatro de transferência de apoio e quatro fases de descarga de peso. 23

Como se pode perceber nos quadros acima, que mostram os tipos de contração muscular realizados nas respectivas articulações, há uma predominância de contrações isométricas na articulação do quadril (61%). Essas acontecem principalmente nos músculos adutores, abdutores e rotadores externos que atuam como estabilizadores da articulação, enquanto os extensores são utilizados predominantemente de forma concêntrica para impulsionar o CGM no sentido cranial. Os músculos flexores do quadril apresentam grande porcentagem de ausência de contração visível, uma vez que o movimento acontece no plano baixo com os quadris flexionados pela ação da gravidade sobre o corpo. Na articulação do joelho, observamos a ausência de contrações dos flexores e um equilíbrio entre contrações concêntricas e excêntricas nos músculos extensores, que durante o movimento têm a função de acelerar o corpo cranialmente e desacelerar no sentido caudal. Isso nos mostra que durante a realização do patinho a flexão dos joelhos acontece passivamente, devido à atuação do peso do corpo sobre os joelhos que permanecem flexionados durante todo o movimento, ou seja, extremo de amplitude articular com descarga de peso. No tornozelo, acontece flexão plantar e dorsiflexão e, na articulação subtalar, acontece predominantemente inversão. Nas fases de descarga de peso, o tornozelo em flexão plantar também é invertido para que o dorso e a borda externa do pé possam ser utilizados como superfície de contato. 24

O patinho é um movimento que coloca alta carga sobre a patela e superfícies articulares do joelho devido à descarga de peso colocada sobre essa articulação enquanto flexionada. É um movimento que deveria ser ensinado e realizado apenas por alunos dos níveis intermediário e avançado com maior controle e força muscular nas EEII. 5. Parafuso Diagramas com as porcentagens dos tipos de contrações da musculatura que cruza as articulações das EEII durante o passo: De toda a série de movimentos que foram analisados neste projeto, o parafuso é provavelmente o mais simples no que diz respeito à análise cinesiológica, pois não há variação de plano nem de nível. O movimento consiste basicamente na transferência de peso de um pé para outro, com as pernas cruzadas uma a frente da outra. Os pés, 25

durante essa troca, vão da eversão (posição de descarga de peso) para a inversão (posição quase sem descarga de peso). Essa troca de base de apoio é realizada quase sem força muscular por parte dos músculos normalmente utilizados para movimentar os pés, mas sim através da rotação da pelve e joelhos, que são quem direcionam o movimento, direcionando os pés para suas respectivas posições. O passo foi dividido em sete fases organizadas da seguinte forma: duas fases de impulso, três de transferência de peso e duas fases de descarga de peso. Como se pode perceber nos quadros acima, que mostram os tipos de contração muscular realizados pelos músculos analisados nas respectivas articulações, observamos uma predominância de contrações excêntricas nos músculos que atuam nos joelhos e nos quadris. Isso nos indica que nesse movimento os músculos realizam frequentemente a tarefa de desaceleração, direcionamento dos segmentos corporais e transferência de carga mais do que a tarefa motora propriamente dita, ou seja, a de movimentação dos segmentos corporais. Outro ponto diferencial é que o tornozelo não foi analisado, pois essa é a articulação onde ocorre a flexão/extensão, e esse não é o movimento predominante nesse passo. O movimento predominante é a inversão/eversão, que acontece na articulação subtalar, que também recebe o nome de articulação talocalcaneonavicular. Nessa articulação, durante a maior parte da execução do movimento, os músculos não apresentam contração visível, indicando maior utilização dos tecidos não contráteis para estabilizar a articulação. Ou 26

seja, essa articulação tem menos movimentos ativos que passivos durante a execução do parafuso. Como os movimentos analisados foram a inversão e a eversão, levamos em consideração os músculos que são responsáveis por esses movimentos: os inversores (tibial anterior, extensor longo do hálux, tibial posterior, flexor longo dos dedos, flexor longo do hálux) e os eversores (extensor longo dos dedos, fibular terceiro, fibular longo, fibular curto). 6. Apertando a porca Diagramas com as porcentagens dos tipos de contrações da musculatura que cruza as articulações das EEII durante o passo: O movimento foi dividido em 17 fases, sendo elas organizadas da seguinte forma: cinco fases de transferência de apoio, seis fases de apoio unipodal e seis fases de apoio duplo. 27

Durante as fases de apoio simples, o peso do corpo é colocado em sua maioria sobre o pé de base, porém, o outro pé também recebe um pouco de peso, necessário para equilibrar o corpo. Nas fases de transferência de peso, é utilizado o impulso das fases precedentes para que a inércia ajude na transição da descarga de peso. Nas fases de apoio duplo, a maior parte do peso se encontra sobre o pé que tem sua face plantar no chão, e uma parte menor do peso se encontra sobre o pé que está invertido. As articulações coxofemorais permanecem na mesma posição de semiflexão durante a fase no nível alto e, durante a fase descendente, essa flexão aumenta gradualmente até o corpo chegar ao nível baixo. Durante a maior parte do movimento, os flexores do quadril não apresentam contrações visíveis, enquanto os extensores atuam ora desacelerando o movimento com contrações excêntricas, ora acelerando a articulação com contrações concêntricas. Os adutores, abdutores e os rotadores externos apresentam uma predominância de contrações isométricas, o que evidencia o seu caráter estabilizador da articulação. Nas articulações dos joelhos, os seus flexores, durante a maior parte do movimento, não apresentam contrações visíveis, pois desde o início essas articulações estão semiflexionadas e, durante a execução do movimento, só aumentam o grau de flexão. Os extensores, por sua vez, apresentam visível predominância de contrações excêntricas, denotando o seu caráter desacelerador durante o movimento. Os tornozelos, durante grande parte do movimento apertando a porca, se encontram dorsiflexionados através da atuação da gravidade sobre 28

o corpo e, por essa razão, os dorsiflexores não apresentam contração visível durante a maior parte do movimento. Enquanto isso, os flexores plantares, por precisarem desacelerar e controlar o torque dorsiflexor, apresentam predominância de contrações excêntricas. Nesse movimento, a articulação subtalar ou talocalcânea é exposta a grande estresse devido ao torque inversor a que é submetida. Além de essa articulação ser invertida passivamente durante as fases de apoio unipodal, sendo levada a um extremo de angulação, ela também recebe parte da descarga de peso sobre ela. Isso pode aumentar o risco de lesão se o passista não estiver consciente na hora de executar o movimento e se a sua musculatura não for preparada e aquecida adequadamente. Durante a execução do apertando a porca, todas as articulações das EEII são colocadas sobre extremos de amplitude articular. O quadril vai até próximo de seu máximo de flexão nas fases em que o corpo se encontra no nível baixo, assim como o joelho também é maximamente flexionado durante essas fases do movimento. Os tornozelos e as articulações subtalares são expostos a grande amplitude de dorsiflexão e flexão plantar com inversão, respectivamente. Por essa razão, é imprescindível que o passista ou aluno esteja muito consciente de seu corpo durante a execução desse movimento para que lesões sejam evitadas. 7. Tramela Diagramas com as porcentagens dos tipos de contrações da musculatura que cruza as articulações das EEII durante o passo: 29

A análise do movimento tramela torna-se bastante complexa por envolver dois planos de análise no mesmo movimento, o frontal e o sagital. Com o objetivo de simplificar a nossa análise desse movimento, decidimos realizá-la apenas no plano frontal. O passo foi dividido em 18 fases, sendo elas organizadas da seguinte forma: duas fases de impulsão antes de iniciar a trajetória ascendente, duas fases de impulsão antes de iniciar a trajetória descendente, duas fases ascendentes rotacionais (logo após os impulsos ascendentes), quatro fases descendentes, quatro fases aéreas, duas fases de apoio lateral com descarga de peso, seguidas de duas fases de suspensão com rotação (mudança de plano). Durante as fases de apoio, os músculos que cruzam os quadris, os joelhos e os tornozelos; as cápsulas articulares; os ligamentos; e os 30

tendões armazenam energia elástica, obtida durante o alongamento atingido nessas posições, e a utilizam para impulsionar o corpo para cima e atingir sua fase aérea, tanto ascendente quanto descendente. Os músculos envolvidos nos movimentos realizados pelos pés, assim como os ligamentos, cápsulas articulares e tendões estão quase que 100% do tempo de realização do movimento sobre alguma forma de tensão, seja ela ativa, através da contração muscular, seja ela passiva, por alongamentos dessas estruturas. O corpo é impulsionado por inércia e acelerado em direção as respectivas posições finais durante as fases aéreas. Essa aceleração da massa corpórea aumenta a carga a que são expostas as articulações das EEII, principalmente, os joelhos e articulações dos pés. Os músculos, durante a maior parte do tempo, em todas as três articulações dos membros inferiores, estão contraídos excentricamente, o que configura um movimento com um componente de desaceleração muito evidente. O maior número de movimentos acontece na articulação coxofemoral, e as maiores amplitudes de movimentos acontecem principalmente nos joelhos, que vão de uma máxima flexão a uma hiperextensão, com descarga de peso nesses dois extremos de amplitude articular. Por essa razão, os músculos que cruzam essa articulação apresentam tanto função motora, principalmente os extensores dos joelhos, quanto função estabilizadora. Os tecidos contráteis e não contráteis que cruzam as articulações dos joelhos e dos tornozelos têm a função de estabilizar essas articulações, assim como armazenar energia elástica para ser utilizada na propulsão do corpo no sentido cranial. 31

8. Tesourão Diagramas com as porcentagens dos tipos de contrações da musculatura que cruza as articulações das EEII durante o passo: O que esta análise nos evidencia é que, durante o movimento tesourão, todos os músculos dos membros inferiores trabalham em uníssono, uns com função predominantemente motora, outros funcionando como transmissores de energia, outros ainda estabilizando as articulações e outros recebendo a energia transmitida para utilizá-la para propulsão. Um trabalho perfeitamente coordenado pelo sistema nervoso central para que o corpo realize a tarefa desejada de forma coordenada e eficiente. O passo foi dividido em dez fases, sendo elas organizadas da seguinte forma: duas fases de apoio para propulsão, quatro fases aéreas, duas 32

ascendentes, duas descendentes e duas fases de descarga de peso. Durante a fase de apoio, os músculos que cruzam os joelhos e os tornozelos, assim como os ligamentos e tendões armazenam a energia elástica obtida durante o alongamento inicial. Essa energia é utilizada para impulsionar o corpo para cima e, assim, atingir sua fase aérea. Os joelhos se encontram esticados ao fim da fase ascendente, o que faz com que, na fase de descarga de peso, os isquiotibiais assumam a mesma função de propulsão através da utilização de energia elástica armazenada. Essa energia é utilizada para suspender o corpo apenas o suficiente para que ele atinja a fase aérea descendente e volte à posição inicial, onde as articulações funcionam mais uma vez como uma mola propulsora. As maiores amplitudes de movimento acontecem nas articulações dos joelhos e coxofemorais. Nas últimas, a predominância de contrações é do tipo isométrica, indicando uma atividade estabilizadora; já os joelhos vão de uma máxima flexão a uma hiperextensão com descarga de peso nesses dois extremos de amplitude articular, onde a desaceleração acontece durante a trajetória descendente. Os músculos que cruzam a articulação do joelho apresentam tanto função motora (aceleradora), no início do movimento, onde há predominância de contrações concêntricas, quanto desaceleradora nas fases finais, principalmente os extensores dos joelhos, que atuam excentricamente. Os tecidos contráteis e não contráteis que cruzam as articulações dos joelhos e dos tornozelos têm a função de estabilizar essas articulações tanto passiva quanto ativamente e acumular energia elástica para ser utilizada na propulsão do corpo para cima. 33

Os músculos flexores plantares à volta do tornozelo são utilizados predominantemente de forma excêntrica, principalmente quando esses se encontram dorsiflexionados com descarga de peso, controlando o torque dorsiflexor e armazenando energia elástica para a propulsão. Esse fato nos indica que os músculos flexores plantares precisam ser bem aquecidos e alongados antes da execução desse movimento para evitar distensões. 9. Ligadura Diagramas com as porcentagens dos tipos de contrações da musculatura que cruza as articulações das EEII durante o passo: O passo ligadura exige bastante das articulações dos joelhos que, durante o movimento, precisam receber o peso do corpo enquanto totalmente flexionados. Essa é uma situação que impõe muito 34

estresse compressivo sobre a patela e tensivo nos tendões do quadríceps. O movimento foi dividido em 13 fases, sendo elas organizadas da seguinte forma: duas fases de troca de apoio, oito fases de apoio unipodal e três fases de apoio duplo. Durante as fases de apoio duplo, no início, meio e final do movimento, o peso do corpo é descarregado sobre os dois pés, porém, não de forma homogênea. A maior parte do peso estará sempre sobre a perna que tem o joelho flexionado. Durante as duas fases de troca de base de apoio, o peso do corpo diminui sobre a base devido à inércia do movimento no sentido cranial, e os pés tocam o solo com descarga de peso mínima. É durante as fases de apoio unipodal, ou apoio simples, que o peso é descarregado sobre apenas uma perna enquanto a outra se movimenta livremente no espaço. A perna que recebe a descarga total de peso utiliza a musculatura extensora do joelho para contrapor o torque flexor gerado pela força da gravidade. Os pés utilizam da vantagem mecânica de sua alavanca para transmitir energia para as pernas e as coxas, e recebem, durante todas as fases de apoio simples, uma imensa força compressiva sobre suas estruturas ósseas, ligamentares e articulares. A articulação coxofemoral, que permanece quase que na mesma posição de abdução horizontal e rotação externa durante todo o movimento, apresenta uma predominância de contrações isométricas (66,2%), que nessa situação têm função de estabilização da articulação. 35

A articulação do joelho apresenta predominância de contrações concêntricas (28,8%) e excêntricas (25%), denotando funções tipicamente motoras e desaceleradoras, respectivamente. Motora quando flexiona e estende o joelho, e excêntrica (desaceleradora) quando controla a velocidade do movimento. Os tornozelos apresentam predominância de contrações isométricas (46,2%), principalmente pelos flexores plantares, nos momentos em que precisa contrapor o torque dorsiflexor gerado pela gravidade agindo sobre o corpo. Nos períodos onde a contração muscular é imperceptível (36,4%) e as estruturas não contráteis são alongadas pela grande carga tensiva colocada sobre elas, a energia elástica é armazenada nessas estruturas para serem utilizadas nos momentos de impulsão. A maior amplitude de movimentos acontece nas articulações coxofemorais e, principalmente, nos joelhos, os quais vão de uma máxima flexão a uma hiperextensão com descarga de peso nesses dois extremos de amplitude articular. Por essa razão, os músculos que cruzam essa articulação apresentam tanto função motora, principalmente os extensores e flexores dos joelhos, quanto função estabilizadora. Os tecidos contráteis e não contráteis que cruzam as articulações dos joelhos e tornozelos têm uma função muito importante nessas articulações enquanto cumprem a função de estabilizá-las e acumular energia elástica para ser utilizada na propulsão do corpo para cima. 36