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Transcrição:

MULHER E TRABALHO: uma análise geográfica a partir do trabalho nas mineroquímicas em Catalão/GO Kelly Cristina da Silva 1 Marcelo Rodrigues Mendonça 2 Introdução Um breve histórico sobre Catalão e das mineradoras Catalão é um município brasileiro do Estado de Goiás. Localiza-se a latitude 18 9' 57" sul e a longitude 47 56' 47" oeste e possui altitude em torno de 835 metros. Possui área de aproximadamente 3.778 km 2. Catalão também dá nome a sede do município e possui dois Distritos Administrativos (Pires Belo e Santo Antônio do Rio Verde). Ainda empresta nome a uma Microrregião do Estado de Goiás, formada pelos municípios de Catalão, Ipameri, Ouvidor, Três Ranchos, Davinópolis, Goiandira, Cumari, Nova Aurora, Anhangüera e Corumbaíba. O crescimento econômico de Catalão começou a ser delineado no final do século XIX e início do século XX com a chegada da ferrovia e os imigrantes, mas é a partir de 1950, com a construção de Brasília e a expansão da malha viária (construção da BR-050) é que se destaca no cenário nacional pela importância das jazidas de nióbio, fosfato e outras atraindo as mineradoras Anglo American South Ltda (antiga Mineração Catalão e Copebrás S/A), produtoras respectivamente de liga ferro-nióbio, fertilizantes e ácidos) e a Fosfértil (produtora de fosfato). A implantação das empresas atendia a política de integração e desenvolvimento nacional dos governos militares, com o objetivo de explorar os recursos minerais disponíveis na Microrregião de Catalão e intensificar as exportações, bem como atender a demanda de fertilizantes diante da expansão da agricultura intensiva nas áreas de Cerrado. (MENDONÇA, 2004). Atualmente, a cidade encontra-se em grande crescimento econômico e de industrialização, sobretudo, nos setores míneroquímico, mecânico e de confecções. No entanto, ao que se refere ao setor industrial, pode-se dizer que as indústrias da cidade encontram-se instaladas em duas áreas distintas. Uma dessas áreas está próxima à divisa com o município de Ouvidor/GO, onde situam as transnacionais: Anglo American, bem como a Fosfértil, uma empresa do Grupo Ultrafértil S/A. Essas mineradoras, atualmente, estão em processo de verticalização da produção e também de expansão de suas instalações. Uma outra área, onde está concentrada a maior parte das indústrias do município é no DIMIC (Distrito Mínero-Industrial de Catalão) criado na década de 1980 pela Goiás Industrial, onde se concentra maior parte das indústrias, que abriga empresas como: Mitsubishi Motors (montadora de veículos); Agroquímica, ADM (fertilizantes); Cerâmica Catalão; Cameco do Brasil (montadora de colheitadeira), Hebert e Hegert Jonhanssen (recuperadora de resíduos industriais) e muitas outras. Catalão possui uma grande quantidade de empresas, que vem recrutando mão-de-obra especializada e qualificada para atender as demandas do processo produtivo, e nesse mercado competitivo as mulheres estão se propondo a 1 Aluna do Curso de Pós-Graduação do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Goiás/Campus Catalão. Pesquisadora membro do Grupo de Pesquisa GETeM- Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais, CAC/UFG. 2 Orientador e Prof. Doutor dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Goiás/Campus Catalão. Pesquisador membro do Grupo de Pesquisa GETeM Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais, CAC/UFG. Membro do Grupo de Pesquisa CEGeT Centro de Estudos de Geografia do Trabalho, UNESP/Presidente Prudente.

realizar essas especializações para disputarem as oportunidades que a cada dia crescem e são mais exigentes. Diante dessa teia de indústrias em Catalão, a presente pesquisa tem como objeto o estudo da mão-de-obra feminina nas empresas mineradoras, pois é visível o crescimento dessas empresas e o capital internacional investido nelas. Desse modo buscar-se-á a compreensão do processo de inserção das mulheres no mercado de trabalho, percebendo como o capital se apropria das habilidades femininas, se ocorreram mudanças no perfil dos trabalhadores assalariados com a presença feminina, conhecer o perfil dessa mão-de-obra e as novas dinâmicas espaciais. Mulher e trabalho Fazer uma leitura do espaço geográfico, a partir da dinâmica urbana e industrial e sua dinamicidade, cabe-nos compreender as relações de trabalho construídas nesse espaço. Sabe-se que as transformações espaciais são constantes, principalmente a partir das recentes mudanças ocorridas no mundo do trabalho, mediante a reestruturação produtiva do capital. Através do trabalho o homem consegue modificar o meio em que vive para dele retirar o que for necessário a sua sobrevivência, percebe-se então que, com a presença do homem fazendo interferências no meio, este por sua vez altera o ritmo de movimento. Diante do desafio de propor uma Geografia do trabalho, deve-se refletir e ter em mente que a classe trabalhadora do século XXI é bem diferente. Essa classe se amplia vendendo sua força de trabalho a qualquer preço e aceitando qualquer tipo de serviço, pois o aumento do desemprego estrutural e as crises resultantes da territorialização das políticas neoliberais (final do século XX) mergulharam milhões de trabalhadores na informalidade e no desemprego. As lutas colocadas pelos trabalhadores sempre foram a busca de melhores condições de trabalho, melhorias salariais, redução da jornada de trabalho. Hoje diante da gigantesca produção e do avanço da tecnologia, a luta se faz para a manutenção, pela não dispensa do emprego. Diante desse contexto, aqueles que Antunes (2007) chamou de a classe-que-vive-do-trabalho se sujeitam aos tipos mais degradantes de trabalho. Há então um emaranhado de apontamentos teóricos, metodológicos e mudanças no mundo do trabalho, norteiam a discussão sobre a Geografia do trabalho, dentre essas modificações uma que cabe ressaltar é o processo de inserção, precisamente nas mineroquímicas instaladas em Catalão/GO das mulheres no mercado de trabalho, uma vez que, a economia até recentemente era centrada na agropecuária e as mulheres reclusas aos trabalhos domésticos. O estudo de gênero é uma variável como tantas outras, como etnias, classes sociais. O diferencial sobre o estudo de gênero é conceber a mulher, assim como o homem, sujeitos de um processo dinâmico e inacabado. Sabe-se que a idéia de masculinidade/feminilidade são processos construídos socialmente, para que se possa assim diferenciar tarefas de homens e tarefas de mulher. Ao se fazer um estudo de gênero, não se pode perder de vista a questão gênero, enquanto análise de fenômenos sociais e históricos, pois ao se fazer essa abordagem é possível perceber como se dão as construções nos valores sociais, culturais, políticos, religiosos entre homens e mulheres. Ainda, não se deve perder de vista que a questão de gênero não pode ser pensada dissociada da construção da classe trabalhadora e dos papéis que homens e mulheres, historicamente, assumiram como sujeitos produtivos no modo de produção capitalista.

Diante do exposto há que se considerar que o Município de Catalão/GO está inserido no processo de transformação do trabalho e que há nesse contexto muitas mulheres que estão assumindo de forma veloz, mais e mais postos de trabalho. Assim, estudar a questão de gênero relacionado com as categorias de base da Geografia (trabalho, paisagem, espaço e lugar) e sem perder de vista as transformações socias, é perceber como se deu o processo de inserção das mulheres nas empresas míneroquímicas de Catalão. Percebe-se que, ao propor um estudo sobre o espaço geográfico em todas as dimensões, mas especificamente para o que se chama de Geografia do trabalho, há que se considerar diversos aspectos como: trabalho informal, trabalho infantil, trabalho temporário, entre outros, onde crianças, mulheres e homens vendem sua força de trabalho em condições de absoluta precarização. De acordo com Antunes e Alves (2004, p. 14) há [...] um descentramento da categoria trabalho, da perda da relevância do trabalho enquanto estruturante da sociedade, tendo assim o que chamam de mutações no mundo do trabalho. No que se refere as mutações no mundo do trabalho, percebe-se que provocam modificações em diversos setores. Mas ressaltamos o aumento do trabalho feminino, conforme afirmam Antunes; Alves (2004): Há uma tendência enorme no mundo do trabalho contemporâneo: trata-se do aumento significativo do trabalho feminino, que atinge mais de 40% da força de trabalho em diversos países avançados, e que tem sido absorvido pelo capital, preferencialmente no universo do trabalho part-time, precarizado e desregulamentado. No Reino Unido, desde 1998 o contingente feminino tornou-se superior ao masculino, na composição da força de trabalho britânica. (ANTUNES; ALVES, 2004, p. 04). Neste sentido Thomaz Junior (2002) afirma: [...] uma das formas de heterogeinização do trabalho tem, na crescente incorporação do trabalho feminino no interior da classe trabalhadora, expressão, em especial, quando se pensa em termos de expansão do trabalho precarizado, terceirizado, sub-contratado, part-time, etc. (THOMAZ, 2002, p. 80). O crescimento do trabalho feminino não trouxe consigo mudanças significativas no que se refere aos aspectos positivos para as mulheres. Um exemplo são os salários e os benefícios sociais, que em geral são defasados quando comparados aos dos homens, mesmo quando desempenham a mesma função. Antunes; Alves esclarecem: Esta expansão do trabalho feminino tem, entretanto, um movimento inverso quando se trata da temática salarial, na qual os níveis de remuneração das mulheres são em média inferiores a aqueles recebidos pelos trabalhadores, o mesmo ocorrendo com relação aos direitos sociais e do trabalho, que também são desiguais. (ANTUNES; ALVES, 2004, p. 04). Assim como existe relação de poder entre raças e classe social, o estudo de gênero fundamenta-se, justamente, nessa relação de poder, pois é algo

construído socialmente, pois as relações de gênero e classe permitem constatar que há efetivamente, uma nova divisão sexual do trabalho. Percebe-se que as relações sociais, o movimento do capital, as transformações no mundo do trabalho são constantes, portanto inacabadas. Desse modo, investigar quais são as condições de trabalho em que as mulheres estão envolvidas, seu envolvimento no sindicato e na sociedade de forma geral, como atuantes e construindo seu espaço de vivência, é perceber a construção contínua do espaço social. Antunes (2007) nos esclarece: As relações entre gênero e classe nos permitem constatar que no universo do mundo produtivo e reprodutivo, vivenciamos também a efetivação de uma construção social sexuada, onde homens e as mulheres que trabalham são, desde a família e a escola, diferentemente qualificados e capacitados para o ingresso no mercado de trabalho. E o capitalismo tem sabido apropriar-se desigualmente dessa divisão sexual do trabalho. (ANTUNES, 2007, p.109) Diante do que foi exposto, cabe-nos investigar como a mulher foi aos poucos conquistando seu espaço no mercado de trabalho, nas políticas e em vários setores da sociedade, como afirma Lênin apud Carvalhal (2002, p. 36): Com o trabalho da mulher na fábrica se ampliam os horizontes da operária, ela se transforma em uma pessoa instruída e mais independente e, vai se libertando das travas da família patriarcal. Percebe-se então que, com o desenvolvimento da grande indústria desenvolve-se uma favorável oportunidade de emancipação da mulher, que a partir desse momento, busca horizontes ainda impensáveis para ela. Após esse avanço da mulher no mercado de trabalho ocorreram ainda outros avanços nos setores: sindicais, políticos e até mesmo religiosos, demonstrando assim que, a mulher busca uma igualdade social em relação aos homens, Carvalhal esclarece: Alguns autores apontam a contribuição das feministas e do movimento das mulheres na retomada de discussões a respeito da mulher, seja nas questões específicas como, sexualidade, corpo e opressão. Vemos que concomitante a isso, houve uma crescente atuação da mulher no mercado de trabalho, como a inserção nos mais diversos movimentos sociais, seja o movimento pelo fim da carestia implantada nos países pelos planos econômicos, como o movimento da anistia política de filhos e maridos desencadeada no regime militar, além de diversos outros movimentos de pequena amplitude espalhados pelo resto de todo o país. (CARVALHAL, 2002, p. 28). Cabe ainda ressaltar o caso brasileiro, onde deve-se considerar as importantes mudanças ocorridas no campo cultural e estrutural da sociedade, pois a partir do momento em que o homem não é mais o único provedor da família e que a mulher passa a contribuir para o sustento da família, há uma perturbação na tradicional divisão sexual do trabalho. Essa mudança nos aspectos sociais e culturais no mundo do trabalho trouxe uma mudança significativa no universo feminino, pois as mulheres, que antes tinham principalmente os trabalhos domésticos para realizarem, passam agora para uma dupla jornada (trabalho assalariado e funções domésticas) e diante da necessidade das lutas sindicais, aquelas que passam a se dedicar a ação política, chegam a assumir uma

terceira jornada. As mulheres iniciam uma luta pela equiparação de salários e jornada de trabalho, pois não basta conquistar seu espaço no processo produtivo, tem ainda que conquistar direitos que muitas vezes são oferecidos aos homens e não a elas. Carvalhal (2002) afirma: Veremos que quando a mulher ingressa no mercado de trabalho, passa a realizar funções ditas femininas, recebendo baixos salários em relação aos dos homens mesmo realizando funções similares. Associado, a isso, a função remunerada pressupôs a existência de jornada dupla de trabalho e o conflito interno por deixar a casa e filhos em busca de trabalho remunerado e profissionalização. E no processo sindical há o surgimento da terceira jornada de trabalho, com a inserção das mulheres na política sindical, no trabalho remunerado, quando não obtém afastamento temporário para se dedicar a essa função somente e a função doméstica de cuidar da casa e dos filhos. (CARVALHAL, 2002, p. 36). Com essa pesquisa se busca um entendimento da relação gênero e ciência geográfica, pois há autores que consideram gênero como apenas uma mera distinção entre sexos, entretanto há autores que afirmam que gênero é formado a partir das relações de poder estabelecidas na sociedade. Scott apud Garcia (2004, p. 25) afirma: Um primeiro nível estipula gênero como elemento constitutivo das relações sociais, baseado nas diferenças perceptíveis entre os sexos e, em um segundo nível toma gênero como forma primária de representar relações de poder. Assim, a análise de gênero na ciência geográfica nos permite analisar as diferenças existentes entre homem e mulher, as responsabilidades, conhecimentos, acesso, uso do poder, necessidades, prioridades, além de perceber como essas relações permeiam o mundo do trabalho e como essas relações são concretizadas nos lugares de vivência, como esclarece Valenciano (2006): A análise da questão de gênero como processo teórico-prático na pesquisa geográfica, permite-nos analisar diferencialmente entre homem e mulher, os papéis, cargos, noções, promoção acesso, e obstáculos, demandas e prioridades que compreendam o processo de luta pela terra e suas conquistas profissionais em vários setores sociais. (VALENCIANO, 2006, p. 17) Com a inserção da mulher no mercado de trabalho as famílias tiveram profundas transformações na estrutura familiar patriarcal. A mulher com novos espaços, novas conquistas passa também a prover a família, propiciando alterações nas relações de poder entre o marido e a esposa, conforme os papéis tradicionais. Essa mudança ocorreu devido ao acelerado processo de inserção da mulher no mercado de trabalho, especialmente das mulheres casadas, rápido avanço da escolaridade feminina e a baixa taxa de fecundidade, fatores que contribuem por mudanças nas representações e práticas familiares. Nesse aspecto Carvalhal (2002) esclarece: A mulher tem convivido com essa situação e como tem se dado sua inserção no mercado de trabalho, haja vista que, como

vimos as mulheres são as únicas responsáveis pela manutenção da reprodução da família. Importante frisar que a inserção no mercado de trabalho pode trazer de certa forma a autonomia financeira, sendo que, muitas mulheres tem sido as principais responsáveis pelo sustento da casa, seja pelo falecimento do marido ou pela sua própria opção pessoal. A inserção no mercado de trabalho tem trazido novas experiências para as mulheres acostumadas a terem seus horizontes restritos a manutenção da família. A família, nesse sentido, tem tomado novas configurações, com o surgimento da família mono parental, onde somente um dos cônjuges vive no domicílio, surgindo o que Castells (1999) fala da crise da família patriarcal, na medida em que o comando da casa deixa de ser função exclusivamente do homem. Segundo uma pesquisa feita por Góis (2001) baseada nos primeiros dados obtidos com o censo 2000, a mulher atualmente, é a responsável por um em cada quatro domicílios no Brasil, com cerca de 11,1 milhões de mulheres (ou 24,9% do total) e essa presença é maior no Nordeste, onde, por conta da migração dos maridos, acaba ficando para a esposa a responsabilidade da casa e dos filhos. Os maiores índices são nas cidades de Maceió em Alagoas com 47,9% e em Teodoro Sampaio no estado da Bahia com 42,7% dos domicílios sendo comandados pelas mulheres. Em Sucupira Tocantins, temos o maior percentual de crianças que vivem em domicílios chefiados somente por mulheres (42,1%). (CARVALHAL, 2002, p. 40) Breves considerações metodológicas Diante da problemática exposta, a pesquisa em andamento busca tratar essas questões a partir de etapas, sendo a primeira a pesquisa teórica, que se inicia com o levantamento bibliográfico e, ainda, a contextualização com a pesquisa e a incorporação das categorias de análise da Geografia, especialmente a que contempla a Geografia do trabalho. Ainda nesta etapa, estão sendo realizadas pesquisas em relatórios governamentais e não governamentais sobre assuntos relacionados com a temática: trabalho, capital, mercado de trabalho, índices de população etc. Numa etapa será realizada a pesquisa de campo, pois sabe-se que o campo é fundamental no processo de pesquisa. Nesta etapa será permitida uma observação mais direta da real situação dos problemas e vantagens que cercam as mulheres em seus locais de trabalho. Essa observação se dará da seguinte forma: serão aplicados questionários junto às trabalhadoras das empresas mineradoras, a fim de obter respostas que nos auxiliem na catalogação dos dados relacionados com os problemas e vantagens que as mesmas enfrentam em seus locais de trabalho. A pesquisa segue no que se chama de pesquisa de laboratório e nesta etapa a pesquisa será fundamentada na interpretação e no tratamento das informações obtidas em campo, utilização de mapas para a localização da área de pesquisa e uma breve revisão bibliográfica, assegurando a redação preliminar da Dissertação. Por fim, há que se considerar as mutações no mundo do trabalho a precarização da inserção feminina no mercado. Resultantes do movimento do capital,

denominado reestruturação produtiva do capital e da mobilidade geográfica (HARVEY, 1998) em busca das condições mais adequadas para a produção e reprodução. Essa situação chama a atenção, pois, essa inserção dá-nos a falsa sensação de emancipação conquistada pelas mulheres, as quais são exploradas pelo capitalismo, duplamente, no seu serviço assalariado e em seu serviço doméstico. Desse modo, a presente pesquisa se propõe a fazer um estudo de gênero, dando ênfase às empresas mineroquímicas de Catalão, pois é sabido que a cada dia, estas empresas tem procurado mais a mão-de-obra feminina. Investigar quais são os cargos ocupados por essas mulheres, jornada de trabalho, salários e o envolvimento nas lutas sindicais, tendo a oportunidade de (des)cobrir a relação dessas mulheres com o mercado de trabalho é uma tarefa da Geografia, principalmente esta, que busca compreender os homens e as mulheres como sujeitos sócio-históricos eivados de sentidos e significados, os quais não podem ser compreendidos sem compreender a dinâmica das relações capital x trabalho no processo permanente de produção social do espaço. Referências ANTUNES, R. Adeus ao trabalho. São Paulo: Cortez, 1995. ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2007. ANTUNES, R.; ALVES, G. As mutações na era da mundialização do capital. Educação e Sociologia, Campinas, Vol. 25, nº 87, p. 335-351. maio/ago. 2004. CARVALHAL, T. B. A questão de gênero nos sindicatos de Presidente Prudente, São Paulo. 2003. 205 f. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Ciências e tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente.. A inserção da mulher no mercado de trabalho e a questão de gênero. Revista Pegada, Presidente Prudente: Universidade Estadual Paulista, 2002, n. 1 v. 3 Presidente Prudente. GARCIA, M. F. A luta pela terra sob enfoque de gênero: Os lugares da diferença no Pontal do Paranapanema. 2004. 227 f. Tese (Doutorado) Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo, Loyola, 1992. MARTINS, N. H. T. A geografia da violência doméstica: um estudo das relações de gênero. 2007. 78 f. Monografia (Bacharelado) Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão, Catalão. MENDONÇA, M. R. A urdidura do capital e do trabalho no Cerrado do Sudeste Goiano. 2004. 457 f Tese (Doutorado) Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. THOMAZ JUNIOR, A. Por uma Geografia do trabalho! Revista eletrônica de Geografia y Ciências Sociais, Barcelona, vol. VI, n.119, p1-22, ago. 2002. VALENCIANO, R.C. A participação da mulher na luta pela terra: discutindo relações de classe e gênero. 2006. 146 f. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente.