REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E UNICIDADE ORGÂNICA DO TRABALHO: uma perspectiva para os trabalhadores da Mitsubishi Motors Company em Catalão (GO) 1
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- Henrique Osório Carvalhal
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1 X EREGEO SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA. ABORDAGENS GEOGRÁFICAS DO CERRADO: paisagens e diversidades. Catalão (GO), 06 a 09 de setembro de Campus Catalão - Universidade Federal de Goiás. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E UNICIDADE ORGÂNICA DO TRABALHO: uma perspectiva para os trabalhadores da Mitsubishi Motors Company em Catalão (GO) 1 Alex Tristão de Santana 2 Licenciado em Geografia Universidade Federal de Goiás Campus Catalão santanageoufg@gmail.com Marcelo Rodrigues Mendonça 3 Professor Doutor do Departamento de Geografia Universidade Federal de Goiás Campus Catalão mendoncaufg@gmail.com Resumo: O processo de reestruturação produtiva do capital vem provocando transformações espaciais substanciais a nível global. Nações denominadas subdesenvolvidas entraram em pauta na nova divisão internacional do trabalho. A mobilidade geográfica do capital resultou na desconcentração industrial como necessidade das empresas em eliminar as barreiras alfandegárias e assegurar condições adequadas para produzir mercadorias ainda mais baratas. Esse processo intensificou a precarização do trabalho, a degradação ambiental, o aumento da informalidade e do desemprego estrutural, bem como a desterritorialização de milhares de famílias camponesas e o aumento expressivo da miséria e da fome. É nesse contexto, que analisamos a territorialização do capital industrial e financeiro mundializados, a partir da pesquisa sobre o setor automobilístico (montadoras) ao longo dos anos noventa, utilizando como exemplo a Mitsubishi Motors Company, que se instalou na cidade de Catalão (GO), em Um aspecto fundamental, na região de Catalão, é a inexistência de uma força de trabalho com experiência de luta e organização sindical, em comparação com outras regiões do país. Isso significou para a empresa não só redução de custos através do achatamento salarial, mas também a ausência de ameaças de paralisações e greves, que além de prejuízos imediatos, causam danos à estrutura vigente. Nesse sentido, pretende-se analisar a nova configuração territorial do trabalho, decorrente do processo de reestruturação produtiva do capital, a partir da territorialização da Mitsubishi Motors Company em Catalão (GO). Palavras-chave: Reestruturação produtiva. A nova configuração territorial do trabalho. Mitsubishi Motors Company. 1 Introdução A reestruturação produtiva do capital vem provocando transformações espaciais substanciais. O desenvolvimento desigual dos territórios evidencia a inclusão/exclusão de lugares na 1 Este artigo foi elaborado a partir das reflexões empreendidas na realização de um projeto de pesquisa de monografia, apresentado ao Curso de Bacharelado em Geografia, UFG, Campus Catalão, bem como, a partir de reflexões já empreendidas na elaboração de artigo publicado no VII CONGRESO LATINO-AMERICANO DE SOCIOLOGIA RURAL, realizado em Quito Equador, de 20 a 25 de novembro de Membro do GETeM Grupo de Estudos: Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais UFG/Campus de Catalão. 3 Membro do CEGeT Centro de Estudos de Geografia do Trabalho UNESP/Presidente Prudente. Ver Membro do GETeM Grupo de Estudos: Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais UFG/Campus Catalão. Diretor da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB Seção Catalão).
2 2 nova lógica da acumulação destrutiva. A mobilidade geográfica do capital resultou na desconcentração industrial devido à necessidade de as empresas de eliminarem barreiras alfandegárias e assegurarem condições adequadas para produzirem mercadorias ainda mais baratas. Isso implicou numa busca desenfreada por lugares vantajosos para a reprodução ampliada do capital, nos quais destaca-se: adensamento territorial propiciado pelo meio técnico-cientificoinformacional; mão-de-obra barata, abundante e qualificada; benefícios fiscais; políticas de créditos facilitados e legislação trabalhista e ambiental capazes de legitimar sua reprodução sem maiores problemas, o que propiciou, além da livre circulação do capital, a submissão dos Estados e territórios à lógica globalizada. Esse processo intensificou a precarização do trabalho, a degradação ambiental, o crescimento da informalidade e do desemprego no campo e na cidade. É nesse contexto que analisamos a territorialização do capital industrial e financeiro mundializado, na pesquisa sobre o setor automobilístico (montadoras) ao longo dos anos noventa, utilizando como exemplo a Mitsubishi Motors Company, que se instalou na cidade de Catalão (GO) em Catalão, no Sudeste Goiano, possui uma posição geográfica que a coloca em situação vantajosa em relação a outras áreas do país. Além de agregar uma densa malha rodoferroviária que a liga aos principais centros econômicos do país, conta com infra-estrutura adequada para a formação e a qualificação de trabalhadores. Possui ensino superior e profissionalizante de qualidade, destacando-se a Rede S 4. Outro aspecto fundamental, na região de Catalão, é a inexistência de uma força de trabalho com experiência e consciência de luta e organização sindical, em comparação com outras regiões do país, como a região do ABCD paulista. Isso significou para a empresa não só redução de custos, mas também a ausência de ameaças de paralisações e greves, que, além de prejuízos imediatos, causam danos à estrutura vigente. Todavia, a dinâmica expressa na contradição viva não demorou a aparecer. A Mitsubishi Motors Company e suas principais empresas terceirizadas em Catalão: Weldmatic, RCM, MVC, Pronutri e Guardiã contratam aproximadamente 1500 (mil e quinhentos) trabalhadores e a junção dos mesmos, explorados em demasia, fez surgir uma reação, a partir da qual iniciou-se o processo de mobilização e organização sindical, que reivindica melhores salários e melhores condições de trabalho. O Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Catalão (SIMECAT) foi criado no ano de 2004; desde então, vem intermediando as negociações entre os trabalhadores e a 4 SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial; SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial; SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural; SESI Serviço Social da Indústria.
3 3 empresa Mitsubishi Motors Company e algumas dessas empresas terceirizadas localizadas em Catalão. Todos esses fatores citados acima nos levam a analisar a nova configuração territorial do trabalho, decorrente do processo de reestruturação produtiva do capital. Estudar essa dinâmica remete-nos a pensar na profunda transformação que vem sofrendo o mercado de trabalho neste contexto, no qual observa-se, de um lado, a redução do trabalho regular e de outro o crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário, terceirizado e subcontratado. Além da forte tendência à precarização das condições de trabalho, esse processo vem provocando uma profunda fragmentação da classe trabalhadora. A investigação desse fenômeno poderá nos revelar não só as vantagens políticas e econômicas proporcionadas ao capital nessas áreas, como também aspectos territoriais distintos que nos alertam para a necessidade de uma reação por parte da classe trabalhadora frente às mudanças no mundo do trabalho. É no processo de mundialização do capital, portanto, na produção de territórios, que podemos perceber as contradições existentes nas relações capitalistas de produção, que, por sua vez, revelam-nos novas formas de (re)existência e luta social, fazendo com que novos atores surjam no cenário da luta de classes, tanto no espaço urbano como no rural. Assim, pretende-se investigar a nova configuração territorial do trabalho, decorrente do processo de reestruturação produtiva do capital, a partir da territorialização da Mitsubishi Motors Company em Catalão (GO). 2 A Reestruturação Produtiva do Capital e as Mudanças no Mundo do Trabalho Ao longo do século XX, sobretudo após a Segundo Guerra Mundial, a indústria capitalista atingiu altos índices de produtividade e lucratividade. Nesse momento, o fordismo se consolida como modo de produção e se expande por, praticamente, todos os países industrializados. A fábrica fordista se caracterizava por uma extrema verticalização do processo produtivo e pela concentração de uma grande massa de trabalhadores em um mesmo espaço fabril. Todos esses elementos contribuíram para a formação do Welfare State (Estado de Bem Estar Social) do sindicalismo combativo e de um verdadeiro pacto entre empresários e operários, no sentido de se garantir o projeto fordista.
4 4 Contudo, diante da grave crise vivida nos fins dos anos (19)60 e do acirramento da competitividade no mercado internacional, o capitalismo se viu obrigado a passar por um processo de reestruturação. Esse processo além da forte tendência a precarização das condições de trabalho, vem atingindo rapidamente a subjetividade dos trabalhadores, provocando um profundo fenômeno de fragmentação no seio da classe operaria (HARVEY, 1989; ANTUNES, 1995; BIRH, 1998). A necessidade de se buscar novas formas de acumulação fez com que o capital industrial modificasse o sistema produtivo concebido no fordismo para formas mais flexíveis de organização e gestão da produção e da força de trabalho, destacando-se o toyotismo. Todas essas ações adotadas pelo capital levaram a um processo de fragmentação no seio do proletariado fordista, descaracterizando assim seu aspecto homogeneizador, característica singular de seu poder de barganha nas suas negociações com o capital. Bihr (1998, p. 83) mostra que a partir do início da crise, e mais particularmente, a partir do final da década de 19(70), temos assistido a uma fragmentação crescente do proletariado ocidental, que tende a paralisá-lo enquanto força social. Para Harvey (1989) o mercado de trabalho a partir de então se caracteriza em três grupos distintos. O primeiro grupo é formado por trabalhadores em tempo integral, que dispõe de maior segurança no emprego, perspectivas de promoções e de reciclagem, previdência privada e outras vantagens indiretas, este grupo relativamente tende a se reduzir. Já o segundo e o terceiro grupos compõem as chamadas periferias dessa nova configuração do mercado de trabalho. O segundo grupo é formado por empregados com habilidades facilmente disponíveis no mercado de trabalho e tende a se caracterizar por uma alta taxa de rotatividade. O terceiro grupo oferece uma flexibilidade numérica ainda maior e é composto por trabalhadores em tempo parcial, temporários e subcontratados. O autor referindo-se ao terceiro grupo de trabalhadores, diz-nos que (...) as evidências apontam para um crescimento bastante significativo desta categoria de empregados nos últimos anos (HARVEY, 1989, p. 144). Está é a nova configuração territorial do trabalho. Harvey (1989) caracteriza como acumulação flexível este momento de transformações no capitalismo enquanto modo de produção. As conseqüências desse processo vão se refletir de forma global, provocando a inclusão/exclusão de territórios de interesse na acumulação destrutiva do capital mundializado. Essa nova divisão internacional do trabalho subordina nações e territórios aos interesses capitalistas, provocando um desenvolvimento desigual, tanto entre setores econômicos em um mesmo lugar ou território como entre regiões geográficas, com várias
5 5 conseqüências sócio-espaciais e ambientais. Por isso, a recente interiorização da indústria ocorrida no Brasil, sobretudo, da indústria automobilística na década de (19)90, deixa-nos atentos quanto aos seus efeitos (des)territorializantes. Thomaz Júnior (2002, p. 03) nos diz que [...] a cada dia os efeitos desse metabolismo societário do capital fragmenta, complexifica e heterogeneiza o mundo do trabalho redimensionando os sentidos assumidos pela polissemização e promovendo profundos rearranjos territoriais. Isso torna extremamente importante a investigação desses rearranjos territoriais e a (re)localização do conflito capital x trabalho, para, assim, percebermos as novas formas de exploração capitalista assumidas pelo metabolismo do capital e pela reestruturação produtiva, que, sobretudo, intensificam a precarização e promovem uma nova configuração do trabalho. Marx (1848, p. 28, grifo nosso), ao dizer que a burguesia não pode existir sem revolucionar permanentemente os instrumentos de produção; portanto, as relações sociais de produção; e assim, o conjunto das relações sociais, refere-se exatamente ao momento de ascensão da classe burguesa, que constituiu a sociedade capitalista sobre a sociedade feudal, mas também nesse nosso contexto, esta afirmação encontra-se muito atual. Ao revolucionar os instrumentos de produção, a sociedade capitalista também revoluciona o conjunto das relações sociais de trabalho. Sendo assim, é no contexto da reestruturação produtiva do capital que nos propomos a entender a nova configuração territorial do trabalho na empresa Mitsubishi Motors Company, que se territorializou na cidade de Catalão (GO). Essa redefinição dos arranjos territoriais na cidade e no campo, impulsionado pelo processo de mundialização do capital e sua reestruturação produtiva, está atingindo diretamente a classe trabalhadora e promovendo uma nova configuração territorial do trabalho. Quanto à empresa Mitsubishi Motors Company pode-se perceber esse fenômeno desde o momento de sua escolha por Catalão (GO) até às suas formas particulares de organização e gestão do processo produtivo e da força de trabalho, que serão tratados no próximo tópico. 3 A Mitsubishi Motors Company em Catalão (Go): a nova configuração territorial do trabalho Catalão localiza-se no Sudeste Goiano (Figura 01). Segundo Mendonça et al (2005), a explicação para o seu crescimento econômico está na chegada da ferrovia nessa região no início do séc. XX, bem como, na construção das cidades de Goiânia (1937) e de Brasília (1960) e,
6 6 conseqüentemente, na implantação da BR-050 e da GO-330, que cortam seu perímetro urbano, oferecendo perfeitas condições de escoamento da produção agrícola e industrial. Figura 01 LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CATALÃO - GOIÁS 10º S 50º O MA 40º O Palmas PI 10º S TO 153 MT BA Camaçari Salvador 020 Cuiabá GO DF 101 Anápolis 060 Goiânia Catalão º S Campo Grande MS 376 SP Uberlândia Sumaré Uberaba Campinas Indaiatuba Itu 050 São Paulo MG Sete Lagoas Betim Contagem Santos 116 Porto Real Rezende Belo Horizonte Juiz de Fora RJ 101 Porto Rio de Janeiro Rio de Janeiro ES Porto de Vitória Vitória 20º S PR Curitiba São José Campo Largo dos Pinhais 50º O 116 São Bernardo Porto de Santos do Campo Cidades Distância (km) Catalão: Distâncias dos principais centros consumidores (por rodovias) Rio de Janeiro São Paulo Belo Horizonte Uberlândia Anápolis 287 Goiânia Brasília LEGENDA Raio de km a partir da cidade de Catalão-GO Rodovias federais 030 Rodovia estadual Ferrovias Portos Capitais de estado Cidades onde se localizam montadoras de automóveis Outras cidades FONTE: Adaptado de Simielli, Maria E. Geoatlas básico, p. 51. ORGANIZAÇÃO: Ronaldo da Silva Cartografia digital: Elias Ferreira de Barros Loçandra Borges de Moraes
7 7 A proximidade com grandes centros consumidores do país; a presença da BR-050 (que liga a cidade a capital federal Brasília e à região Centro-Sul do país) e da Ferrovia Centro Atlântica (que liga a cidade aos portos de Santos e de Vitória, uma das vias de acesso ao litoral brasileiro) são grandes atrativos para as empresas quando analisam a posição geográfica de Catalão. Em relação aos grandes centros, Catalão está a 260 km de Goiânia (GO), a 287 km de Anápolis (GO), a 298 km de Brasília (DF), a 738 km de São Paulo (SP), a 110 km de Uberlândia (MG), a 560 km de Belo Horizonte (MG), e a km do Rio de Janeiro (RJ). Um setor econômico que se destaca em Catalão é a extração mineral. Atualmente três empresas fazem exploração de nióbio e fosfato no município, sendo elas: a Anglo American (Mineração Catalão Ltda.), a Copebrás S.A e a Fosfértil S.A. A extração mineral tem papel importante na economia da cidade. No final dos anos (19)70 essa atividade dinamizou a utilização da ferrovia que liga Catalão aos portos de Santos (SP) e Vitória (ES). A implantação do Distrito Mínero-Industrial de Catalão (DIMIC), em 1978, através de uma parceria entre o Governo do Estado de Goiás e a Prefeitura de Catalão, atendeu, mais tarde, às necessidades da verticalização das empresas mineradoras e também possibilitou a implantação de outras indústrias. O DIMIC se localiza a sudoeste da cidade de Catalão, às margens da ferrovia e da BR-050. Em 2006 possuia 26 indústrias instaladas, dentre elas a montadora de veículos Mitsubishi Motors Company e a Cameco do Brasil (John Deere), montadora de máquinas agrícolas. A Mitsubishi Motors Company se instalou em Catalão (GO) em 1997 com um investimento, até o ano de 2006, de aproximadamente R$ 450 milhões de reais. Todo esse dinheiro se originou do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), de linhas especiais de financiamento do governo estadual e de recursos próprios 5. Juntamente com suas principais empresas terceirizadas localizadas em Catalão 6 : Weldmatic, RCM, MVC, Pronutri e Guardiã, a Mitsubishi contrata aproximadamente 1500 (mil e quinhentos) trabalhadores no ano de A Weldmatic é responsável pela soldagem das carrocerias dos modelos Pajero TR4, L200 Sport e Pajero Sport. A RCM é responsável pela manutenção e limpeza da fábrica. A MVC é responsável pela produção de 5 PAJERO Sport produzida em Goiás chega ao mercado. Jornal O Popular, Goiânia, Economia, domingo, 19 de março de Essas empresas são as cinco maiores empresas terceirizadas localizadas em Catalão, outras empresas prestam serviços à Mitsubishi, contudo, para esta pesquisa serão analisadas somente essas.
8 8 peças plásticas como pára-choques, molduras de farol e outras. A Pronutri se encarrega da alimentação dos trabalhadores. E a Guardiã, por sua vez, é responsável pela segurança e vigilância das dependências da empresa. Neste contexto, dentre tantos outros aspectos que podem (e devem) ser pesquisados, o enfoque principal de nossa investigação é a nova configuração territorial do trabalho na empresa Mitsubishi Motors Company. Percebemos nesse fenômeno não só as vantagens que a empresa possui em explorar a força de trabalho da região, mas também a necessidade de uma reação por parte dos trabalhadores frente às transformações que vem sofrendo o mundo do trabalho. Atualmente esse processo atinge profundamente sua subjetividade, dificultando a consciência de classe e promovendo um terrível processo que Antunes (1995) classifica de fragmentação, heterogeneização e complexificação da classe trabalhadora. Nesse sentido, nossas preocupações se estendem também aos trabalhadores do campo, uma vez que entendemos como classe trabalhadora todos aqueles que não possuem meios de produção ou os vêem ameaçados. Focalizamos aqui o fenômeno de subcontratação (Gráfico 01) que corresponde a quase 40% da mão-de-obra dispensada na empresa Mitsubishi Motors Company em Catalão (GO). A subcontratação além de aumentar a precarização do trabalho, também promove a fragmentação (não só física como subjetiva) dos trabalhadores fazendo com que os mesmos não se enxerguem como classe trabalhadora. Os impactos desse processo podem ser vistos na ineficiência da ação política devido à ausência do espírito de solidariedade entre os mesmos, que cada vez mais se individualizam. Entre as mais importantes ações políticas realizadas pelos trabalhadores da empresa Mitsubishi Motors Company e suas terceiras podemos citar uma paralisação, seguida de uma passeata realizada no dia 03 de abril de e a deflagração de uma greve realizada nos dias 24 e 25 de abril de Entre as principais reivindicações dos trabalhadores podemos citar: aumento salarial; redução da jornada de trabalho e cumprimento de direitos trabalhistas referentes aos portadores de doenças ocupacionais que estão sendo demitidos arbitrariamente entre outras. Os resultados obtidos com o movimento grevista não foram satisfatórios. Em conversa com o Vice-Presidente do SIMECAT, Rodrigo Alves Carvelo, ficou claro que um dos fatores que levou o fracasso do movimento grevista foi a questão da subcontratação, pois dos 7 MITSUBISHI pára por um dia. Jornal Diário de Catalão, Catalão, p. 07, terça-feira, 04 de abril de TRABALHADORES param fábrica da Mitsubishi. Jornal O Popular, Goiânia, Economia, p. 14, terça-feira, 25 de abril 2006.
9 9 operários que trabalham nas cinco principais empresas subcontratadas situadas na planta da Mitsubishi em Catalão apenas os que trabalham na Weldmatic e na RCM são representados pelo SIMECAT, aumentando ainda mais a desunião entre eles. Este fato constata a fragmentação, física e subjetiva, dos trabalhadores. GRÁFICO 01 - QUANTIDADE (APROXIMADA) DE TRABALHADORES - MITSUBISHI MOTORS COMPANY E SUAS TERCEIRAS EM CATALÃO (GO) 13% 2% 2% 6% 15% 62% MITSUBISHI WELDMATIC RCM MVC PRONUTRI GUARDIÃ Fonte: Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Catalão (SIMECAT). Org. A. T. de Santana (2006). Paradoxalmente, enquanto no espaço fabril os trabalhadores se distanciam cada vez mais, por outro lado percebemos o afloramento de diversos movimentos sociais, tanto nas cidades como no campo, que levam a possibilidade de um possível dialogo entre as categorias fragmentadas. A aproximação, no sudeste goiano, dos movimentos sociais do campo com os trabalhadores metalúrgicos da Mitsubishi (Foto 01), torna-se uma perspectiva de leitura e interpretação da luta de classes que vá além das objeções e dos estranhamentos colocados pelo capital. Pensamos assim em uma possível unicidade orgânica do trabalho.
10 10 Foto 01 - Assembléia realizada no dia 24/04/2006 em frente à fábrica da Mitsubishi Motors Company em Catalão (GO), que aprovaria a deflagração de greve. Logo à frente, de vermelho, algumas lideranças do Movimento dos Pequenos Agricultores MPA apoiando a luta dos trabalhadores metalúrgicos. (Foto: Rherman Souza Pires, 24/04/2006) 4 Por uma Unicidade Orgânica do Trabalho Não que antes dessa fase a situação do trabalho fosse melhor, mas as atuais mudanças no modo de produção capitalista vêm se mostrando bastante prejudiciais para a classe trabalhadora. A subproletarização, a terceirização, a informalidade, a desterritorialização dos camponeses, o desemprego estrutural e as várias formas de subemprego e de precarização vêm aumentando os índices de miserabilidade em largas faixas da sociedade, mas também vêm dando novo sentido para a luta de classes. Este processo somado, às novas formas de envolvimento dos trabalhadores no processo produtivo, atinge ainda mais duramente a identidade e a ação política dos mesmos. As subjetividades do capital e os estranhamentos vividos pelos trabalhadores diante do processo de alienação, do qual agora faz parte as novas formas de gestão e organização do processo produtivo e da força de trabalho, são travagens para emancipação social. Mas, as mudanças
11 11 no conteúdo das classes sociais e os novos rearranjos territoriais provocados pela mundialização do capital são condições potenciais para o processo de emancipação, pois promovem, também, a mundialização da luta de classes, e coloca em sena atores até então não envolvidos na luta pela emancipação social. É o caso dos trabalhadores da empresa Mitsubishi. É preciso pensar em uma ação política inovadora, que busque, sobretudo, formas emancipatórias que vão além do entendimento fragmentado de classe trabalhadora e da dicotomia existente na relação cidade/campo uma ação política com vistas à unicidade orgânica do trabalho. No atual momento de crise pelo qual passa o capitalismo, quando ocorre uma forte transformação no modo de produção e nas formas de organização e gestão dos processos produtivos, ocorre também uma metamorfose no mundo do trabalho, que traz, sobretudo, precarização, fragmentação e heterogeneização do trabalho classe trabalhadora. É preciso perceber que o capital quando se reorganiza no espaço, (re)territorializa também as contradições existentes na relação capital x trabalho. Assim o capital faz a reestruturação produtiva e a conseqüente reorganização sócio-espacial, criando novas relações sociais e garante sua hegemonia, mas a contradição viva sempre persiste em surgir através da (re)existência da classe trabalhadora, que há décadas vem negando a subjetividade e a sociabilidade do capital, que é excludente e incapaz de garantir a preservação do meio natural e de sociabilizar a riqueza que produz. Catalão e a Mitsubishi Motors Company se enquadram, portanto, no contexto da crise vivida pelo capital, conforme demonstramos. Ao fazermos a leitura geográfica desse fenômeno, sabemos que precisamos contar com a valiosa contribuição dos cientistas sociais, em especial, dos sociólogos, dos historiadores, dos economistas e outros que a mais tempo se dedicam em estudar o mundo do trabalho. Sendo assim, quando pensamos em uma Geografia do Trabalho não imaginamos reforçar os fronteiras entre as disciplinas, mas sim buscamos a interdisciplinaridade no entendimento da dinâmica da sociedade. A leitura dos lugares, dos territórios, das mudanças e transformações espaciais ocorridas no processo de reestruturação produtiva é essencial para entendermos a proporção e a dinâmica do metabolismo do capital e seus impactos para a classe trabalhadora. Entendemos, nesse sentido, que a busca pela consciência e pela contribuição para formação de uma sociedade mais justa e igualitária é dever de todas as áreas do saber. 5 Referências
12 12 ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 3 ed. Campinas-SP: Cortez, p.. Os Sentidos do trabalho: ensaios sobre a afirmação e a negação do trabalho. 4º ed. São Paulo-SP: Boitempo, p. BOTELHO, Adriano. Reestruturação produtiva e produção do espaço: o caso da indústria automobilística instalada no Brasil. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, n. 15, p CARVALHAL. Marcelo Dornelis. O engendramento da crise do capital nas redefinições do mundo do trabalho e na reconfiguração territorial. Revista Pegada. Presidente Prudente, v. 2, n. 2, outubro de Disponível em: < Acessado em: dez/ Trabalho, sindicatos e gestão territorial da sociedade. Revista Pegada. Presidente Prudente, v. 1, n. 1, outubro de Disponível em: < Acessado em: dez/2005. HARVEY, David.Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, p. LUNA, Sérgio Vasconcelos. Planejamento de pesquisa: uma introdução, elementos para uma análise metodológica. São Paulo: EDUC, p. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista (1848). Porto Alegre: L&PM, p. MENDES, Leonardo de Oliveira; SUSSUMO, Viviane Pimentel Moscardine. O processo de (re) qualificação da mão de obra industrial: o caso do SENAI Catalão-GO f. Monografia (Bacharelado em Geografia) Curso de Geografia, Universidade Federal de Goiás. Catalão, MENDONÇA, Marcelo Rodrigues. A urdidura espacial do capital e do trabalho no Cerrado do Sudeste Goiano f. Tese (doutorado) Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Campus de Presidente Prudente. Presidente Prudente-SP, MITSUBISHI pára por um dia. Jornal Diário de Catalão, Catalão, p. 07, terça-feira, 04 de abril de PAJERO Sport produzida em Goiás chega ao mercado. Jornal O Popular, Goiânia, Economia, domingo, 19 de março de MENDONÇA, Marcelo Rodrigues. et al. Diagnóstico e monitoramento sócio ambiental da cidade de Catalão (GO) e do entorno f. Monografia e Relatório de Pesquisa Curso de Geografia, Universidade Federal de Goiás, Catalão, SANTANA, Alex Tristão de; MENDONÇA, Marcelo Rodrigues. ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS, XIV, 16 a 21 de julho, Rio Branco. Mitsubishi Motors em Catalão (GO): um olhar sobre as relações sociais 1de trabalho. Rio Branco: AGB Rio Branco, p
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