REQUERIMENTO N o, DE 2009



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Transcrição:

REQUERIMENTO N o, DE 2009 (Do Sr. WASHINGTON LUIZ) Requer o envio de Indicação ao Poder Executivo, sugerindo ao Ministério da Educação a inclusão de conteúdos de empreendedorismo nos currículos das disciplinas de ciências humanas e sociais das escolas da rede pública de ensino do País. Senhor Presidente: Nos termos do art. 113, inciso I e 1 o, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, requeiro a V. Exª. seja encaminhada ao Poder Executivo a Indicação anexa, sugerindo a inclusão, na grade curricular das escolas da rede pública de ensino do País, de conteúdos de empreendedorismo. Sala das Sessões, em de de 2009. Deputado WASHINGTON LUIZ PT/MA

2 INDICAÇÃO N.º, DE 2009 (Do Sr. Washington Luiz) Sugere ao Poder Executivo, por meio do Ministério da Educação, a adoção de providências para incluir, na grade curricular do ensino fundamental e médio das escolas públicas do País, conteúdos de empreendedorismo. Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação: Segundo a Constituição Federal, a República Federativa do Brasil é Estado democrático de direito, fundado na soberania, na cidadania, na dignidade da pessoa humana, nos valores sociais do trabalho, da livre iniciativa e do pluralismo político. Visa à construção de uma sociedade democrática, alicerçada na liberdade, na justiça social, na equidade e na solidariedade, no combate às desigualdades e preconceitos e na erradicação da pobreza e da marginalização social. Em seu Título II explicitam-se os direitos e deveres individuais e coletivos, os direitos sociais entre os quais ressalta a educação bem como os direitos relativos à vida política. Vejamos, nas disposições sobre a Ordem Social, o que estabelece o art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (..). 2

3 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei nº 9.394/1996, por outro lado, em seu art. 26, diz o seguinte sobre os currículos do ensino fundamental e médio: (..)Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. 1º. Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil(..). Já o art. 27 da LDB estabelece que Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática;(..). E no art. 32 se lê: O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (..) II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. da LDB: O ensino médio, por sua vez, é assim tratado, no art. 35 3

4 O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: (..) II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores(...)., Os Parâmetros Curriculares Nacionais, definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação para o Ensino Fundamental (Parecer CNE/CEB 4/98 e Resolução CNE/CEB 2/98), em harmonia com a Carta Magna e a LDB, postulam que se ministre aos alunos uma educação comprometida com a cidadania, baseada nos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da igualdade de direitos, da participação cidadã e da co-responsabilidade pela vida. Os referidos Parâmetros incorporam também os chamados temas transversais, entendendo que a educação para a cidadania requer que questões sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos alunos. Assim, com um tratamento didático apropriado à sua complexidade e dinâmica, e lhe sendo atribuída a mesma importância das áreas convencionais, os temas transversais introduzem flexibilidade e abertura nos currículos. Entre eles, destaca-se o tema TRABALHO E CONSUMO e para seu tratamento, são sugeridos metodologias e conteúdos direcionados a alunos do terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Deve-se lembrar aqui os critérios pelos quais os temas transversais foram selecionados, a saber: a urgência social, a abrangência nacional, a possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental e de favorecer a compreensão da realidade e a participação social. Quanto a este último critério, ele expressa, conforme o texto dos Parâmetros, a finalidade última dos Temas Transversais (..) que os alunos possam desenvolver a capacidade de posicionar-se diante das questões que interferem na vida coletiva, superar a indiferença e intervir de forma responsável. Assim os temas eleitos, em seu conjunto, devem possibilitar uma visão ampla e consistente da realidade brasileira e sua inserção no mundo, além de desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma participação social dos alunos. No texto de apresentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais Ensino Médio, assim é definida esta importante etapa da escolarização formal: 4

5 O Ensino Médio, portanto, é a etapa final de uma educação de caráter geral, afinada com a contemporaneidade, com a construção de competências básicas, que situem o educando como sujeito produtor de conhecimento e participante do mundo do trabalho, e com o desenvolvimento da pessoa, como "sujeito em situação" cidadão. (..) Na perspectiva da nova Lei [a LDB], o Ensino Médio, como parte da educação escolar, "deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social" (Art.1º 2º da Lei nº 9.394/96). Essa vinculação é orgânica e deve contaminar toda a prática educativa escolar. Em suma, a Lei estabelece uma perspectiva para esse nível de ensino que integra, numa mesma e única modalidade, finalidades até então dissociadas, para oferecer, de forma articulada, uma educação equilibrada, com funções equivalentes para todos os educandos: a formação da pessoa, de maneira a desenvolver valores e competências necessárias à integração de seu projeto individual ao projeto da sociedade em que se situa; o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; a preparação e orientação básica para a sua integração ao mundo do trabalho, com as competências que garantam seu aprimoramento profissional e permitam acompanhar as mudanças que caracterizam a produção no nosso tempo; o desenvolvimento das competências para continuar aprendendo, de forma autônoma e crítica, em níveis mais complexos de estudos. E tal como nos Parâmetros Curriculares para o ensino fundamental, também nos relativos ao nível médio prevê-se, além do núcleo básico comum de disciplinas obrigatórias, uma parte complementar e diversificada do currículo, destinada a atender às características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela (Art. 26 da LDB), e que é variável conforme cada sistema de ensino e estabelecimento escolar. Levará em conta, entre outros, as possibilidades de preparação básica para o trabalho e o aprofundamento em uma disciplina ou uma área, sob forma de disciplinas, projetos ou módulos em consonância com os interesses dos alunos 5

6 e da comunidade a que pertencem. O objetivo principal não é profissionalizar; é desenvolver e consolidar conhecimentos das áreas, de forma contextualizada, referindo-os a atividades das práticas sociais e produtivas. Pois bem, Senhor Ministro: como se vê, nossa legislação contém, em diversas passagens, dispositivos que relacionam educação e trabalho, formação educacional e profissional, em um contexto de afirmação dos bons princípios da ética e da dignidade humana, imprescindíveis a uma Nação que se pretende integrada por cidadãos e que visa a garantir democraticamente o direito à cidadania para todos os seus habitantes. Entretanto, flagra-se, ainda em nossos dias, um distanciamento indesejável entre a letra da lei e a realidade cotidiana em que vivem os brasileiros. No nosso entendimento, a capacitação profissional é um tema ainda distante da realidade das salas de aula do ensino básico regular. São raras as oportunidades para desenvolver a matéria no decorrer da jornada escolar. Como consequência, o aluno deixa os bancos escolares em meio a incertezas sobre o seu futuro profissional e sem ao menos desenvolver todas suas habilidades e competências que lhe ajudarão na superação dos desafios na busca do primeiro emprego. A redação do artigo 2º da Lei nº 9.394-LDB, não deixa dúvidas sobre a necessidade de oferecer ao aluno mais do que o conhecimento curricular. A finalidade maior é garantir o pleno desenvolvimento do educando, capacitando-o para torná-lo um cidadão participativo e preparado para atuar no competitivo mercado de trabalho. Por isso trazemos aqui a sugestão de que seja incluída no currículo das disciplinas de ciências humanas e sociais das escolas da rede de ensino público conteúdos de empreendedorismo. Esta inclusão teria como objetivo inserir os alunos em uma cultura empreendedora, a partir dos conceitos de sustentabilidade e crescimento. A idéia é torná-los críticos e preparados para a descoberta de vocações, com criatividade e técnicas motivacionais que auxiliem no desenvolvimento de capacidades e habilidades individuais. Derivado do termo latino imprehendere tomar nas mãos, assumir, fazer o verbo empreender guarda desta origem a conotação de protagonismo, sendo igualmente tributário do sentido da palavra francesa 6

7 entrepreneur 1 e do derivado correspondente, em língua inglesa, entrepreneurship. A partir do século XVIII o termo empreendedor passa a referir-se a indivíduo capaz de criar e conduzir projetos e empreendimentos próprios. Muito utilizado no contexto das escolas e cursos de Administração, os termos empreendedor e empreendedorismo, como sabemos, designam, respectivamente, um tipo especial de empresário, que cria oportunidades de trabalho para si e para outros, inovando no modo de gestão, e o resultado desse novo tipo de atividade. Entretanto, não é raro que hoje em dia o conceito de empreendedorismo esteja também se fazendo cada vez mais presente em colégios de nível médio, em cursos técnicos e profissionalizantes e mesmo em escolas de nível fundamental, espalhados pelo País. Para os dirigentes e orientadores escolares que absorveram o conceito e suas conotações nas grades curriculares, e também para as famílias e autoridades educacionais que têm defendido esta prática, é por meio de uma formação voltada para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras que, desde cedo, a criança e o jovem são preparados para ter uma visão clara e objetiva do que seja o mercado de trabalho e de suas possibilidades de inserção nele. A introdução desde a escola fundamental das principais noções sobre as habilidades e competências empreendedoras, como a visão estratégica, o desenvolvimento pessoal, a capacidade de liderar, de decidir, tomar iniciativas, obter resultados inovadores e agir em busca de soluções para os problemas, que se complementam com a capacidade de identificar, analisar e solucionar problemas; a orientação para processos; para o trabalho em equipe; a capacidade de influenciar pessoas; consciência ética e social e pensamento sistêmico, além do desenvolvimento do senso crítico, integram o conjunto dos conteúdos a que fazemos referência. No ensino superior, há informações de que mais de duas centenas de instituições já incorporaram o empreendedorismo no currículo de vários cursos de graduação e de pós-graduação, e não só nas tradicionais áreas da administração. Senhor ministro: se não for possível introduzir na grade curricular dos ensinos médio e fundamental nova disciplina para especificamente tratar de empreendedorismo, podem-se trabalhar os seus conteúdos relevantes transversalmente, abordando tópicos como os acima citados durante as aulas normais de língua portuguesa, matemática, ciências, história, geografia, educação física e de artes, no ensino fundamental. No 1 Originalmente aplicável àquele que comprava matéria prima e lhe agregava valor, processando-a e depois, revendendo-a. 7

8 ensino médio, podem ser introduzidos de várias maneiras, no estudo das disciplinas da base nacional comum. O que importa é chamar a atenção para uma tese defendida com maestria pelo Prof. Fernando Dolabela, uma das maiores autoridades nacionais em empreendedorismo. Ele afirma que num País como o Brasil, perpassado por profundas desigualdades sociais e econômicas, o tema do empreendedorismo pode e deve expressar-se também como um elemento fundamental na construção do bem estar coletivo. Afirma ele: É claro que para produzir tais resultados, o empreendedorismo não pode ser um instrumento de concentração de renda, de aumento de diferenças sociais ou uma estratégia pessoal de enriquecimento. No Brasil o tema central do empreendedorismo deve ser o desenvolvimento social, tendo como prioridade o combate à miséria, oferecendo-se como um meio de geração e distribuição de renda. Mais do que uma preocupação com o indivíduo, o empreendedorismo deve ser relacionado à capacidade de se gerar riquezas acessíveis a todos. Como geralmente a renda concentrada teima em não se distribuir, é importante que ela seja gerada já de forma distribuída. Quanto à metodologia de ensino e apreensão do empreendedorismo para crianças e adolescentes, ele mostra que: É uma metodologia de Educação empreendedora, que começa na pré-escola e vai até o nível médio. Ela prepara a criança para conceber o futuro e transformá-lo em realidade. Não é uma metodologia de empreendedorismo voltada exclusivamente para a criação de empresas. A criação de empresa é uma das inúmeras atividades empreendedoras. O que se faz é estimular a capacidade mais importante do ser humano que é de criar, de conceber um futuro, e mais do que isso, de transformar em realidade. E isso provoca uma mudança de comportamento, uma nova perspectiva em termos de relacionamento com o mundo. Existe um conteúdo metodológico e outro de gestão do projeto. Essa gestão é feita com a escola, que decide a forma de implantar. Muitas adotam um horário específico, outras partem para a transversalidade. Há uma preparação de todo o corpo acadêmico, e sempre que possível também o não acadêmico, como o porteiro, o faxineiro, o pessoal 8

9 da Secretaria. Todos precisam entender que se trata de outra perspectiva de inserção no mundo do trabalho, onde o empreendedorismo não é vinculado à geração de bens materiais exclusivamente, porque os bens mais importantes são imateriais. Mas como nós temos que comer, morar, então é preciso gerar bens materiais também. Mas, efetivamente os grandes empreendedores, em minha opinião, geram bens imateriais, como a democracia, a esperança, projetos de solução, soluções em termos existenciais, espirituais, entre outros. 2 Assim, trazemos aqui nossa sugestão de que o Ministério da Educação, com seu grande poder de influenciar as secretarias de educação dos estados e municípios, incentive as milhares e milhares de escolas públicas de ensino fundamental e médio de todo o País a introduzirem direta ou transversalmente, conforme sugestão contida nos Parâmetros -, tópicos de introdução ao empreendedorismo nas disciplinas curriculares ministradas às crianças e adolescentes brasileiros. Por meio de cartilhas, campanhas, brincadeiras, concursos e prêmios, tanto os alunos quanto os professoras poderão despertar sua criatividade e se entusiasmar com novos conteúdos ou com novas maneiras de abordar os velhos temas escolares e da vida cotidiana. Acreditamos nos efeitos democratizantes e igualitários de uma boa formação cultural e educacional e sabemos que o apoio e o engajamento do Ministério da Educação podem fazer toda a diferença nas possibilidades de implantação de uma idéia como a que vimos trazer. Esperando sermos atendido em nosso pleito, solicitamos então de Vossa Excelência o encaminhamento das providências pertinentes para que, nos currículos do ensino fundamental e médio das escolas públicas do País, sejam incluídos conteúdos de empreendedorismo de uma forma criativa e original, proporcionando ao alunado de nosso País novas perspectivas e atitudes que venham a modificar suas vidas para melhor. Sala das Sessões, em 03 de novembro de 2009. Deputado WASHINGTON LUIZ PT/MA 2 Uma reflexão sobre Empreendedorismo, por Fernando Dolabela. 2 de Julho de 2008. Acessível no endereço http://gesbanha.blogs.sapo.pt/228437.html 9

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