Ramona: Como podemos traduzir isso? Seria uma unidade de refino?



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Estrutura de Refino: até quando o Brasil importará derivados de petróleo?

O que é Água Filtrada?

Autor: Marcelo Maia

Transcrição:

Entrevista do diretor Paulo Roberto Costa para o jornal O Globo Data: 21/05/2010 Paulo Roberto: No dia 17 de maio de 2009 estivemos com o presidente Lula na Arábia Saudita, depois na China e na Turquia e onde nós assinamos um Memorando de Entendimentos com a empresa Modern Mining para avaliarmos oportunidades de negócio, em duas vertentes. Coinsidentemente no dia 17 de maio de 2010, exatamente um ano depois, assinamos um acordo preliminar para avaliar a possibilidade da Petrobras participar na Arábia Saudita de uma unidade de calcinação de coque verde de petróleo. Ramona: Como podemos traduzir isso? Seria uma unidade de refino? Paulo Roberto: Não, o coque é uma pedra, um sólido. É uma unidade de conversão das refinarias, onde se processa petróleo pesado. Em vez de produzir óleo combustível, produz destilados médios, como diesel, gasolina, GNP e destrói o óleo combustível para produr mais esses derivados leves e no fundo do barril produz um sólido que é chamado Coque Verde de Petróleo. Colocamos a nossa última unidade de coque na Reduc e até o final deste ano colocaremos em operação a unidade de coque da Revap, em São José dos Campos e, no ano seguinte, a da Repar. E as refinarias novas (Nordeste, Comperj, Premium I e Premium II) todas também terão a unidade de conversão que irá produzir coque. Hoje o Brasil consome em torno de 4 milhões de tonelada/ano de coque e a Petrobras produz 2 milhões e 600 mil toneladas/ano. Portanto, ainda há um déficit grande de coque, que é importado por terceiros e é um coque com alto grau de enxofre. O nosso coque possui baixo teor de enxofre, porque o petróleo do Brasil possui baixo teor de enxofre. Ramona: E o coque sai na forma de pedra mesmo? Paulo Roberto: Isso mesmo. Onde se usa o coque? O coque de melhor qualidade é usado para calcinação, ou seja,retirar toda a parte mais volátil e líquida. É quase uma secagem do produto. O coque calcinado, de melhor qualidade e normalmente de baixo teor de enxofre, é usado na indústria de alumínio para produzir anodos, que são peças de um metro e meio a dois metros de altura, usadas no processamento da bauxita para a produção do alumínio. Esse anodo é consumido no processo de produção de alumínio. Temos hoje no Brasil apenas uma unidade de calcinação, que é 50 % da Petrobras e 50 % da Unimetal, uma empresa de São Paul, localizada próxima à refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão. Ramona: A produção brasileira de coque é somente nesta unidade? Paulo Roberto: Não. Esta unidade é para produção do coque calcinado. Atualmente temos unidades de coque na Regap, em Minas, na Reduc, na Replan temos duas unidades, uma em Cubatão e outra na Refap, no Rio Grande do Sul, todas operando. Esse ano entra uma unidade em São José dos Campos, na Revap, e no ano que vem outra na Repar, no Paraná. Depois virão Reneste, Comperj, Premium I e Premium II. Cubatão é a única refinaria que produz coque calcinado no Brasil atualmente. Temos um projeto em andamento para mais duas unidades de calcinação no Brasil. Para isso foi criada a empresa Coquepar. Uma unidade será instalada em Seropédica, Rio de Janeiro, utilizando o coque da Reduc e do Comperj, e outra unidade no Paraná, que utilizará o coque da Repar. Ramona: Para o consumo da indústria, é preciso calcinar o coque?

Paulo Roberto: Além da calcinação, o coque é usado na indústria siderúrgica, misturado ao carvão vegetal, e também para a geração de energia. Com a produção de coque, há cada vez menos consumo de óleo combustível no Brasil e no mundo. A Arábia Saudita, assim como o Brasil, está mudando radicalmente a maneira de conduzir sua política industrial: ainda é a maior exportadora de Petróleo e tem capacidade para se tornar também a maior produtora mundial, posição hoje ocupada pela Rússia. A Arábia Saudita chegou à conclusão de que não é bom ter apenas um só produto de exportação, no caso o petróleo. Por isso, iniciou um processo de industrialização muito rápido, através de refinarias integradas com complexo petroquímico, para processar a matéria-prima exportada. E vem, também, investindo na indústria de alumínio, através de uma joint venture com a Alcoa. Além disso, a Arábia Saudita tem descoberto jazidas de minério, como ouro, bauxita e investido em parcerias com Egito, Sudão e outros, oferecendo fertilizantes e assistência técnica em troca da produção dos países vizinhos. Há toda uma preocupação em gerar emprego e diversificar as exportações, e não continuar apenas como exportadora de petróleo cru. Daí o interesse dos sauditas pelo coque, visando alimentar a indústria de alumínio. Então, no dia 17 de maio de 2009, assinamos, na presença do presidente Lula um memorando para estudar isto. Um ano depois, após estudarmos e levantarmos vários indicadores, em 17 de maio de 2010, assinamos estes acordo preliminar, para a criação de uma empresa na Arábia Saudita, 50 % Petrobras e 50 % Modern Mining Holding Company. Ramona: A Moderning Mining é uma empresa estatal? Paulo Roberto: Sim, na Arábia Saudita há várias empresas estatais administradas pela Família Real. A Modern Mining é ligada estruturalmente à SABIC, um conglomerado da indústria petroquímica do Estado, a equivalente à nossa Petroquisa. Ramona: Já foram feitos estudos preliminares. Já está decidido mesmo? Paulo Roberto: A idéia e fazer uma fábrica para processar 350 mil toneladas ano de coque calcinado. Para isso vamos exportar coque, cerca de 30 por cento mais de Coque verde, além das 350 mil toneladas, porque com a calcinação se perde 30 por cento. Então vai ser de uns 420, 450 que vamos mandar de Coque Verde pra lá. Ramona: Mas daqui pra lá? Lá eles não têm capacidade para produzir isso? Paulo Roberto: Lá eles não têm Coque. Porque a grande parte do petróleo da Arábia Saudita, do Kuait, desses países da região, é petróleo leve que não produz Coque. Por que é importante para a Petrobras? Primeiro: vamos fornecer 100 por cento do Coque Verde de petróleo. Então é o Coque que será retirado principalmente da Reneste, em Pernambuco. Ramona: Quantas toneladas? Você fez uma conta aí de 400 mil? Paulo Roberto: 455 mil toneladas de Coque Verde. Então esse volume de Coque Verde será levado para a Arábia Saudita. Lá será descarregado e usado na fábrica que vamos construir. Será um contrato comercial de longo prazo entre a Petrobras e a empresa a ser criada e seremos os supridores de todo Coque Verde a ser calcinado e usado na indústria local de alumínio. Vamos agregar valor ao Coque nacional, o que vai ser muito mais vantajoso do que queimar o Coque na siderurgia como combustível. Vamos produzir mais de 4 milhões de Coque por ano. A Petrobras ganhará duas vezes com essa operação: primeiro é através do produto, da matéria

prima que vamos exportar e o segundo ganho na área de produção, porque vamos vender esse coque para produzir alumínio. Ramona: Em princípio o consumidor dessa empresa de alumínio é lá mesmo? É em outros países também, não é? Porque quando eu li essa notícia de que havia fechado, eu achei que ainda era um memorando de entendimento... Qual vai ser o nome da empresa? Paulo Roberto: Ainda não tem nome. A fábrica de alumínio esta sendo construída em Ras az zawr, onde também tem uma unidade de fertilizantes que vai começar a operar em agosto. Ramona: Então vai ser em Ras az zawr? Paulo Roberto: E eu já acertei com os sauditas para reservar o terreno para colocar a nossa fábrica ao lado da fábrica de alumínio Ramona: Quais são os investimentos estimados? Paulo Roberto: A previsão é de 450 milhões de dólares e estamos prevendo que a fábrica de coque calcinado deve entrar em operação até dezembro de 2012. Ramona: É o primeiro grande negócio da Petrobras, em termos de valores, na Arábia Saudita? Paulo Roberto: Não é só da Petrobras. É do Brasil. O Brasil não tem nenhum investimento industrial na Arábia Saudita. Ramona:A Arábia Saudita já foi o maior fornecedor de petróleo para o Brasil? Paulo Roberto: Há muito tempo. Hoje ela continua nos fornecendo petróleo. Ainda compramos cerca de 160 mil barris por dia de lá. Por que é importante para o Brasil e para a Petrobras? Primeiro: a Arábia Saudita é um país com um desenvolvimento fabuloso dos próximos tempos. É o dono da maior reserva de petróleo do mundo: 250 bilhões de barris. E, obviamente, estar lá é muito importante, porque esse primeiro negócio pode alavancar outros negócios. Quais são os próximos passos? Eu falei do passado, presente e agora o futuro. A nossa intenção é até o final desse ano fechar todo esse pacote para começar a parte de investimento. Com a intenção de em dois anos 2011, 2012, estar com essa planta operando, processando matéria-prima e vendendo para a produção de alumínio. Então tem o apelo que é a primeira bandeira da Petrobras lá, porque não tem nenhum investimento do Brasil lá e obviamente que isso pode abrir portas. Ramona: E um fornecedor ativo mesmo. Paulo Roberto: E que tem a maior reserva de petróleo do mundo. Ramona: Daqui a pouco vocês vão querer explorar petróleo do... Paulo Roberto: Por que não? Ramona: Mas os Estados Unidos tem interesses na Arábia Saudita.

Paulo Roberto: Obviamente que os Estados Unidos têm interesse. A Saudi Armaco é um grande fornecedor de petróleo para eles. Mas por que eles vieram aqui no Brasil e não foram nos Estados Unidos para esse projeto de coque? Porque eles querem diversificar, não querem ficar dependendo de um só país. Por que eles procuraram a Petrobras? Porque a Petrobras é uma empresa de grande porte, de referência, de conhecimento, de tecnologia. Então eu acho que é uma excelente oportunidade para a Petrobras, para o Brasil para novos mercados. Ramona: E essa área que o senhor falou, pelo que eu estou entendendo é nova. É tudo deserto. Paulo Roberto: É areia. Os chineses é que estão construindo o porto. Eles contrataram uma empresa da China. Eles começam do zero e daqui a pouco estão com uma fábrica de fertilizante gigantesca, um porto e a fábrica de alumínio. Eles estão construindo uma vila para o pessoal morar. Mas é impressionante porque do zero, eles estão construindo uma cidade. Ramona: Aí o senhor voltou bastante otimista, não é? Paulo Roberto: Muito. Ramona: Está fechado isso? Paulo Roberto: Está. Ramona: Segunda história é a do Comperj. Paulo Roberto: O Comperj é um projeto de 2006 que previa uma refinaria para 150 mil barris por dia de petróleo pesado para produzir petroquímicos com polietileno, polipropileno. O que aconteceu de lá para cá? Nós fomos atualizando os projetos. Ramona: Era 8,5 bilhões, não é? Paulo Roberto: É. O valor, a previsão era de US$ 8,5. Hoje eu não vou falar de valor porque nós estamos fechando o valor. Mas o que aconteceu de 2006 lá para cá? Verificamos um aumento muito grande de, 2006 para 2010, da demanda no mercado brasileiro de diesel e QAV (querosene de aviação). O Comperj está em uma área, em um centro geográfico que tem condição de atender o Rio de Janeiro, principalmente, mas também pode atender Minas, São Paulo e Espírito Santo. Ramona: Centro e Sudeste, né? Paulo Roberto: Então, reavaliando isso o que nós replanejamos: em vez de ter uma refinaria de 150 mil, essa mesma capacidade pode ser aumentada para 165 mil com os mesmos equipamentos. Então, na realidade, é 165 mil em vez de 150. E, em vez de ter uma refinaria, vamos fazer duas. Nós vamos ter duas de 165 mil. Moduladas. Faremos o primeiro um módulo, de 165 mil e depois faz o segundo módulo. E a parte petroquímica vai ter não tem redução nenhuma dos petroquímicos aqueles petroquímicos todos que planejamos. Ramona: Vai aumentar a produção de eteno? Paulo Roberto: Isso. Vai aumentar e nós vamos produzir então novos produtos. Estamos ainda discutindo internamente.

Ramona: E com 165 a mais vai produzir diesel e QAV? Paulo Roberto: Exatamente. Então vamos produzir a mesma quantidade de petroquímico que estava planejada, mas produzir também outros produtos petroquímicos de maior valor agregado. Mas com essa duplicação do refino, eu vou produzir muito mais diesel e muito mais querosene de aviação que é uma demanda crescente no Brasil. Ramona: E as duas refinarias Premium não serão para exportar? Paulo Roberto: Uma é para exportar e outra é para atender ao mercado interno. Ramona: A do Maranhão? Paulo Roberto: Será utilizada para exportar. Então, a gente fez uma reavaliação do projeto como um todo. Em termos de cronograma - de valor eu não tenho como lhe falar - mas em termos de cronograma como fica? A primeira unidade do Comperj,que será uma refinaria, vai entrar com até o final de 2013. Ramona: E a produção de petroquímicos? Paulo Roberto: A parte de petroquímica vai entrar no final de 2015. Então o Comperj vai começar produzindo diesel e QAV. Ramona: Mas vai começar ainda produzindo combustíveis? Paulo Roberto: Vai. Começando com os produtos derivados de petróleo. A parte petroquímica entra no final de 2015. A planta de polietileno, de polipropileno vai entrar no final de 2015. E a segunda refinaria entra em 2017. Ramona: O mercado de petroquímicos? Paulo Roberto: Fizemos uma reavaliação de mercado. Ramona: Quer dizer, vocês viram de um lado que é possível adiar a entrada em produção dos petroquímicos, que era agora para 2013? Paulo Roberto: Era final de 2013. A refinaria era final de 2012 e a primeira fase petroquímico para final de 2013. Agora passou para final de 2015. Ramona: Essa entrada também de grandes petroquímicas até na Arábia Saudita, no Oriente também não serviu, não foi...? Paulo Roberto: Obviamente que em 2006 não tinha crise, não tinha esses projetos todos. Então por isso que nós fizemos essa reavaliação geral. Agora tem um fato interessante em relação à petroquímica na Arábia Saudita. Em termos de preço, que é um negócio importante. O gás na Arábia Saudita, obviamente, é muito barato. Então, as petroquímicas lá estavam com a oportunidade de receber matéria-prima muito barata. Mas tem uma particularidade muito importante, que é a seguinte: eles não tem rio; não tem geração hidroelétrica; não tem carvão. Então como é que eles geram energia elétrica? É gerada toda com derivados de petróleo,

principalmente gás. Então como eles conseguem água? Retirando sal da água do mar. Tem unidades grandes de dessalinização. Só que essas unidades de dessalinização consomem muita energia elétrica gerada com gás e vão consumir muito mais. Então, o que está acontecendo? O gás, que era abundante e barato, a tendência é ele ser mais restritivo e mais caro porque ele é usado para duas coisas que são vitais: dessalinização da água do mar e energia elétrica. O que significa isso? O setor de energia elétrica é gerado a gás. A planta de alumínio que eles estão construindo também e um demandador de energia elétrica gigante. O Comperj, em termos de refino, vai dobrar de valor e capacidade. E vai ter condições de produzir muito diesel. E diesel 10ppm. Ramona: Mas assim, objetivamente, o que pesou para essa decisão foi também esse quadro todo de aumento da oferta mundial, crise mundial que reduz o consumo? Paulo Roberto: Foi tudo: crise, oferta, necessidade nossa de mais diesel, mais QAV. Mas o importante disso é o seguinte: a Petrobras não desistiu ou vai reduzir a produção petroquímica e o Comperj não está mudando em virtude do petróleo leve do pré-sal, porque vamos processar petróleo pesado. É importante lembrar que 60 % dos 14 bilhões das reservas atuais de petróleo da Petrobras são de petróleo pesado, sem considerar uma gota do pré-sal. Então, mesmo com o pré-sal, o petróleo pesado ainda será abundante no Brasil para esta e as próximas gerações. Ramona: Dos 165 mil, há uma separação do que será petróleo pesado? Paulo Roberto: Todo ele será pesado, pois as reservas de petróleo pesado ainda são gigantescas, e a melhor maneira de agregar valor a ele é aqui, produzindo derivados e em vez de exportar petróleo cru. Ramona: Essa aplicação já está aprovada na diretoria? Paulo Roberto: Já está tudo aprovado. Ramona: E a estimativa de investimentos? Paulo Roberto: Sobre isso não posso falar. Ramona: Mas o mercado estima que deve ser 20 bilhões de dólares, é isso? Paulo Roberto: Não sei... Ramona: E a capacidade dos petroquímicos será maior? Paulo Roberto: A capacidade dos petroquímicos será a mesma, mas iremos produzir alguns produtos de maior valor agregado, além da produção de polipropileno, polietileno e faremos outros produtos sobre os quais não posso falar detalhes agora. Ramona: Então continua aquele volume? Paulo Roberto: De petroquímicos não há mudanças, só haverá no diesel e no QAV. Ramona: E de QAV diesel?

Paulo Roberto: Sobre isso posso informar, mas não tenho a informação aqui no momento. Ramona: E a Braskem vai entrar no diesel? Paulo Roberto: A Braskem começou a examinar para conhecer o projeto e eles têm 120 dias para se pronunciar. Ramona: Eles entrariam na segunda geração? Paulo Roberto: Entrariam na primeira geração na segunda geração toda. Entrariam na produção do eteno e do propeno, que é a central de matéria-prima como eles participam hoje. Ramona: E há algum outro sócio? Paulo Roberto: Pelo acordo que temos com a Braskem atualmente, se eles acharem que este não é um bom projeto para participarem, eu tenho a liberdade de procurar outros parceiros. Até o momento outros já nos procuraram, mas tenho que seguir este caminho. Ramona: Com relação à novidade da primeira geração? Paulo Roberto: Não na refinaria, mas na produção de eteno e propeno. Vamos mudar de assunto... vamos agora para a EBN: Empresa Brasileira de Navegação Quando o Lula assumiu o compromisso de reativação da indústria naval, a Petrobras foi o carro chefe dessa reativação. Com isso, várias plataformas estão sendo construídas, novos estaleiros foram criados. Na Petrobras lançamos dois programas: que foi chamado de programa de modernização da frota PROMEF 1 e PROMEF 2. No PROMEF 1 foram 26 navios. e no PROMEF 2 foram 23 navios. Estão todos já contratados com os estaleiros, há vários em construção e um já flutuando. Então são programas da Petrobras. A Transpetro é a operadora das embarcações. Com isso vamos renovar a frota da Transpetro que tem navios já antigos que estão sendo ano a ano alienados. Ano passado aprovamos aqui na diretoria outro programa em paralelo ao PROMEF, chamado Empresa Brasileira de Navegação (EBN) que tem uma diferença em relação ao PROMEF. Qual é a diferença? No PROMEF, os navios são da Transpetro. A Petrobras contrata um estaleiro, o estaleiro e os navios são dela, ela que opera. No EBN, os navios não são da Petrobras. Então eu utilizo a indústria naval brasileira do mesmo jeito. Não tem nenhuma diferença em relação à indústria naval. De vez em quando vejo na imprensa, Agora não vai mais fazer o PROMEF 3 e a empresa vai ficar prejudicada. Quem fala isso não entende nada do que está falando, porque os navios todos da EBN vão ser contratados aqui, com duas grandes vantagens. Primeiro, estamos reativando as empresas de navegação no país. Não só ter a Transpetro como empresa brasileira de navegação, mas ter também privados. É muito importante ter empresas reativadas fortes com navios com bandeira brasileira, porque os navios vão ser todos construídos no Brasil, o que significa que a tripulação do navio tem que ser brasileira. Então não haverá nenhuma interferência ou prejuízo em relação à construção naval brasileira com a EBN. Às vezes, falam assim Agora estão hibernando o PROMEF, o que vai trazer prejuízo na continuidade do projeto dos estaleiros brasileiros. Errado, porque vão ser construídos aqui, só que em vez de ser propriedade da Petrobras, vão ser de propriedade de terceiros. É muito bom também porque vamos ter como comparar os custos que temos da Transpetro com os custos de uma companhia que presta o mesmo serviço.

Ramona: Mas aí vão surgir várias empresas? Paulo Roberto: No primeiro programa EBN foram 19 navios contratados por várias empresas. Como a Pan Coast a King Fish, a Global, a Elcano, a Belima e a San Miguel. São seis empresas que vão ser proprietárias de navios que vão ter com a Petrobras contrato de 15 anos. Essas empresas, com o contrato na mão, vão contratar um estaleiro e utilizar os recursos do fundo da Marinha Mercante, do BNDES, etc.. Porque têm um contrato de garantia da Petrobras de 15 anos. E eu começo a pagar essas empresas na hora que elas me entregarem o navio e eles começarem a operar. Então até a construção do navio, até o início da operação, é problema das empresas. Se, por hipótese, uma empresa dessas der problema, vamos ao mercado e contrato outra. Mas o que é bom para o Brasil nesse aspecto? Primeiro, estamos reativando as empresas brasileiras e não é só a Transpetro. Vão surgir novos empreendedores, novas empresas para fortalecer a atividde marítima do Brasil. Segundo, ponto importantíssimo: quando eu fazemos um contrato de longo prazo, não estamos gravando nosso orçamento, que já está muito grande. O PROMEF é dinheiro nosso. Quando você fala assim, mas o PROMEF eu estou pegando dinheiro do fundo da Marinha Mercante, sim, está me emprestando dinheiro para fazer o PROMEF só que isso entra como dívida da Petrobras. Entrou no balanço da Petrobras aparece como divida. O programa EBN não entra como dívida porque vamos pagar em tarifa, quando receber o contrato. O custo é operacional, não é custo de investimento. Entrevistador: Então vocês vão pagar o frete? Paulo Roberto: Vamos pagar o frete no futuro, então não grava o balanço. Na situação que estamos hoje, de necessidade de recursos gigantes para o Pré-Sal, para as refinarias, para a petroquímica e outros projetos, qualquer coisa que venha a gravar mais o balanço é ruim para a empresa. Com o EBN estamos abrindo o mercado brasileiro para outras empresas, sem prejuízo para os estaleiros nacionais porque todos os navios têm que ser feitos aqui. A diretoria aprovou e já encaminhamos para o mercado o EBN 2 que são mais 20 navios. Somando ao EBN 1 são 39 navios neste programa e mais 49 e no PROMEF 1 E PROMEF 2. Então nós estamos hoje com 88 para serem construídos nos próximos anos para a Petrobras, todos no Brasil. Ramona: Isso deve gerar uma encomenda de quantos? Paulo Roberto: Vou te dar os navios aproximadamente. NO EBN 2 são três Aframax, três Panamax, seis MRs, quatro Handymax e quatro Gazeiros. O valor aproximado é de 900 milhões de dólares. Ramona: Já foi lançado o EBN 2? Paulo Roberto: Nós já encaminhamos para o mercado para ver quem tem interesse de participar. Ramona: É convite? É carta convite? Paulo Roberto: Não é carta convite. Primeiro é uma sondagem no mercado para ver quem tem interesse de participar. Nós vamos fazer uma seleção para ver quem tem interesse e quem tem capacidade de fazer. Com isso nós vamos fazer um bid para apresentar a proposta de tarifa. Porque nós vamos examinar a tarifa, não o custo do navio.

Ramona: Quanto cada um vai oferecer pelo serviço? Paulo Roberto: Taxa diária. Uma empresa x, por exemplo, oferece para um navio Panamax uma taxa diária em dólares e vamos comparar com o preço de outras para fazer a avaliação. Ramona: Esse navio MRs que nunca ouvi falar nesse nome? Paulo Roberto: São navios para cabotagem, ou seja, vão pegar produtos claros e escuros e transferir entre portos no Brasil. Não são para operar fora do Brasill. Ramona: Porque permite surgirem empresas novas... Paulo Roberto: Empresas novas de navegação com bandeira brasileira e tripulação brasileira Ramona: E isso tinha acabado... Paulo Roberto: Tinha acabado. Quem eram os armadores brasileiros? Não tinha mais nada, era a Transpetro e a Login que era da Vale, a antiga Docenave. Os poucos que tinham fecharam. Só tinha navio velho. Agora vão aparecer vários outros. Mesmo as empresas estrangeiras, mas vão ter que construir no Brasil, criar uma empresa brasileira, gerar empregos aqui, e a tripulação também será brasileira. Ramona: Os petroleiros de longo curso estão fora da Transpetro? Paulo Roberto: A Transpetro não tem nenhum petroleiro para longo curso. Todos os navios da Transpetro operam no Brasil. Ramona: São afretados? Paulo Roberto: São afretados pela área de Abastecimento. A Transpetro não tem operação de longo curso.