BREVE ESTUDO SOBRE RESOLUÇÃO DE CONTRATO ccj.adv.br /ccj/2011/03/03/breve-estudo-sobre-resolucao-de-contrato/ Muitas das vezes situações supervenientes a assinatura do contrato impedem que o mesmo seja executado. Temse, então, a extinção por resolução, resilição ou rescisão. A resolução cabe nos casos de inexecução por um dos contratantes, classificando-se pela falta de cumprimento ou inadimplemento, mora e cumprimento defeituoso. A inexecução pode ser imputável ou inimputável ao devedor. Resolução é para Gomes um remédio concedido a parte, para romper o vínculo contratual mediante ação judicial 1. Como mencionado, a inexecução pode ser culposa, ou não. Se o devedor não cumpre as obrigações contraídas, pode o credor exigir a execução do contrato, ou o pagamento de perdas e danos, cumulado com a resolução. Entendem alguns que, se a inexecução é convertida em dever de indenizar, não há propriamente resolução, porque o pagamento da indenização é uma das formas de execução dos contratos, mas, na verdade a condenação não se encaixa como o cumprimento do contrato e sim ao contrário, sendo praticada como uma sanção pela falta do inadimplente. Nos contratos bilaterais a interdependência das obrigações justifica a sua resolução quando uma das partes se torna inadimplente. Portanto, cada contratante tem a faculdade de pedir a resolução se o outro não cumpre as obrigações contraídas, e tal faculdade é chamada de estipulação, que pode estar expressa no contrato como cláusula resolutiva, ou tácita. Por disposição legal, em todo contrato bilateral, há implicitamente uma cláusula resolutiva, que autoriza a outra parte a pedir resolução em caso de inexecução. O direito pátrio, em tal situação, adota o sistema francês, em que o contrato pode ser cumprido em outra data, ou se optado por resolver concomitante com indenização de perdas e danos, é necessário que a parte prejudicada pleiteie ao juiz este pedido. E nesta prática, identifica-se a diferença da resolução decorrente de cláusula contratual expressa. Havendo este pacto comissório expresso, o contrato se resolve de pleno direito, porém se opera ipsu jure, por via de que a parte em favor da qual se deu a resolução não pode preferir a execução do contrato. Mesmo sendo a prática adotada, há entendimentos de que em qualquer das hipóteses, expressa ou tácita, a resolução do contrato há de ser requerida ao juiz. Nos contratos plurilaterais, o inadimplemento de uma das partes não implica em resolução a respeito dos outros, a menos que a obrigação que não foi cumprida seja essencial. Na resolução do contrato de sociedade há regras especiais. Em contratos aleatórios não há resolução. Além da inexecução culposa, o contrato pode ser resolvido em conseqüência de inexecução involuntária, e, ainda, por onerosidade excessiva. A modalidade especial de resolução é a redibição, aplicável a certos contratos onerosos, notadamente os de compra e venda. A dissolução do contrato pela redibição tem como causa a inexecução parcial em forma específica, ou seja, existência de vícios redibitórios. A resolução por inadimplemento é própria dos contratos sinalagmáticos; só se justificando quando o não cumprimento tem importância considerável. A resolução pressupõe inadimplemento, ilicitude, culpa, dano e nexo causal entre o fato e o prejuízo. 1/11
Havendo pacto comissório expresso ou não, a resolução produz efeitos entre as partes e com relação a terceiros. Extinto o contrato por resolução, apenas não se apaga o que se executou, voltando ao estado originário se for de trato sucessivo, pois neste, a resolução não tem efeito com relação ao passado. O efeito da resolução entre as partes pode variar conforme o tipo de execução, única ou de duração. No primeiro caso a resolução opera-se ex tunc e no segundo ex nunc. A resolução por inexecução culposa, sujeita à extinção do contrato para o passado e o pagamento das perdas e danos pelo inadimplente, sendo que estas abrangem os danos emergentes e os lucros cessantes. No caso das partes terem estipulado cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta se converte em alternativa a benefício do credor. Estando o contrato subordinado a termo essencial para uma das partes, sua decadência resulta em resolução automática do contrato. Tratando-se de terceiros que hajam adquirido direitos entre a conclusão e a resolução do contrato, apenas há reparação se tiver a tratar de direitos de crédito. Tendo adquirido direitos de natureza real, o credor terá de solicitar indenização do dano que sofreu, sendo que os efeitos da resolução se aplicam igualmente às partes e aos terceiros. O termo involuntário é tratado pela submissão da vontade do devedor a motivos alheios e superiores, que impedem a satisfação e o cumprir da obrigação. Oriundo de um comportamento estranho a seu desejo, a causa de resolução do contrato não é imputada à parte inadimplente. As conseqüências de tal desvio variam conforme o contrato sendo unilateral ou bilateral, no passo que a sistemática legal dita as regras desta antinomia, dentro da chamada teoria dos riscos. A inexecução involuntária caracteriza-se pela impossibilidade superveniente de ser cumprida a obrigação básica, deixando evidente que não se confunde impossibilidade com dificuldade, pois aquela ocorre sempre que, para o cumprimento, o devedor tenha de fazer sacrifícios consideráveis. A impossibilidade, no entanto, pode ser parcial, facultando ao credor a execução restante do contrato (tal fato se aplica em contratos com várias coisas principais ou acessórias). Por possuir também, uma característica definitiva, a impossibilidade temporária, mais verificada nos contratos de execução continuada, acarreta apenas a suspensão do instrumento. O resultado da extinção da obrigação por força maior, ou caso fortuito, difere-se nos casos de contrato unilateral e bilateral. No primeiro, quem suporta o risco é o credor, uma vez que a prestação não podendo ser satisfeita, a parte vê-se privada do proveito que esperava. Já no bilateral, há interdependência das obrigações, onde a exoneração de uma parte acarreta a de outra. Extingue-se a pretensão de quem deixou de cumprir, mas fica impossibilitado de exigir a contraprestação, rompendo-se o vínculo de conexão entre as obrigações, pois, de modo contrário, haveria enriquecimento sem causa. O contrato para resolver-se em virtude de causas de inexecução opera de pleno direito, ou seja, dispensa a intervenção judicial. A diferença entre a inexecução voluntária e involuntária remonta-se em suas conseqüências, sendo que além de na segunda, a parte inadimplente não responde por perdas e danos, os prejuízos resultantes do caso fortuito, ou força maior também não são de sua alçada. Admitem ( ) como causa de resolução dos contratos comutativos de execução diferida, continuada ou periódica, a excessiva onerosidade que, em virtude de acontecimento extraordinário e imprevisível, sobrevenha, dificultando extremamente o cumprimento de obrigação de um dos contratantes conceitua Gomes.2 A onerosidade excessiva não se trata de inexecução por impossibilidade, mas traduz-se apenas como obstáculo ao 2/11
cumprimento da obrigação. Na sociedade contemporânea, a vida é cercada de inúmeras variáveis possuidoras de força suficiente para alterar o equilíbrio econômico, social e político do país. A análise mercadológica destes fatores possibilita que se trace um panorama no momento da assinatura do contrato, a ser mantido tendo em vista uma margem de segurança, até que o mesmo esteja findo. Resultado é a posição implícita da cláusula rebus sic stantibus em todos os contratos comutativos, que menciona a não alteração do contrato enquanto não se alterarem as circunstâncias fáticas, presentes no momento da contratação. Anteriormente a justiça se preocupava em cumprir com exatidão os preceitos do contrato, não importando eventuais distorções, porém hoje, o princípio da justiça comutativa, surgiu como estandarte de um movimento, que propõe o contrato como uma troca igualitária de riquezas, não servindo como fonte de renda pela imponência da desigualdade. E neste sentido, o direito deve manter a ordem natural das coisas, intervindo para evidenciar o equilíbrio nas relações sociais. Para a efetivação desta resolução, antes chamada de teoria da imprevisão, é necessário certos requisitos, como a existência já mencionada de um contrato comutativo de execução diferida, ou continuada. Tratado na presença de uma equivalência entre as prestações, em que, o contrato pode ser para pagamento a prazo, ou envolvendo obrigações cumpridas periodicamente. O fato tem de ser imprevisível, tendo que uma pessoa normal não poderia prever tal desfecho, e extraordinário, diferente da normalidade praticada. Os dois últimos requisitos são a onerosidade excessiva, contrapondo-se com a vantagem exagerada, distribuída entre as partes. A fim de promover o princípio da conservação do negócio jurídico, a legislação menciona a possibilidade de revisão, se for do interesse do prejudicado permanecer com o contrato, e a própria resolução, que apenas pode ser argüida se não haja proposto uma revisão justa pela outra parte. Mesmo com os traços fortes e inconfundíveis de qualquer das causas de resolução, tal prática possui certa semelhança com a anulação e nulidade relativa. No modo de exercício, anulação e resolução se parecem, por necessitarem de ação judicial para suas realizações. Assim também nos efeitos, tratada anulação e resolução de forma retroativa. Por outra via, as distinções são marcantes e se processam pela causa. Enquanto, a anulação surge da incapacidade relativa de uma das partes e do vício do consentimento, a resolução é conseqüência do inadimplemento das obrigações assumidas contratualmente. As causas determinantes do primeiro caso são anteriores ou contemporâneas à formação do contrato, já na resolução, supervenientes. Do mesmo modo, a resolução não se confunde com a nulidade relativa. Não bastando ser insanável e imprescritível, determinada nulidade não tira do contrato toda a relevância jurídica, enquanto os legitimados não promovem a ação de invalidação. Wiliam Carvalho 1º sem. 2004 ASSIS, A. Resolução do contrato por inadimplemento. 2ª ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. GOMES, O. Contratos. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. ROPPO, E. O contrato. Trad.: Ana Coimbra e M. J. C. Gomes. Coimbra Portugal: Almeida, 1988. 1 Resolução num contexto geral 3/11
Muitas das vezes situações supervenientes a assinatura do contrato impedem que o mesmo seja executado. Temse, então, a extinção por resolução, resilição ou rescisão. A resolução cabe nos casos de inexecução por um dos contratantes, classificando-se pela falta de cumprimento ou inadimplemento, mora e cumprimento defeituoso. A inexecução pode ser imputável ou inimputável ao devedor. Resolução é para Gomes um remédio concedido a parte, para romper o vínculo contratual mediante ação judicial. Como mencionado, a inexecução pode ser culposa, ou não. Se o devedor não cumpre as obrigações contraídas, pode o credor exigir a execução do contrato, ou o pagamento de perdas e danos, cumulado com a resolução. Entendem alguns que, se a inexecução é convertida em dever de indenizar, não há propriamente resolução, porque o pagamento da indenização é uma das formas de execução dos contratos, mas, na verdade a condenação não se encaixa como o cumprimento do contrato e sim ao contrário, sendo praticada como uma sanção pela falta do inadimplente. Nos contratos bilaterais a interdependência das obrigações justifica a sua resolução quando uma das partes se torna inadimplente. Portanto, cada contratante tem a faculdade de pedir a resolução se o outro não cumpre as obrigações contraídas, e tal faculdade é chamada de estipulação, que pode estar expressa no contrato como cláusula resolutiva, ou tácita. Por disposição legal, em todo contrato bilateral, há implicitamente uma cláusula resolutiva, que autoriza a outra parte a pedir resolução em caso de inexecução. O direito pátrio, em tal situação, adota o sistema francês, em que o contrato pode ser cumprido em outra data, ou se optado por resolver concomitante com indenização de perdas e danos, é necessário que a parte prejudicada pleiteie ao juiz este pedido. E nesta prática, identifica-se a diferença da resolução decorrente de cláusula contratual expressa. Havendo este pacto comissório expresso, o contrato se resolve de pleno direito, porém se opera ipsu jure, por via de que a parte em favor da qual se deu a resolução não pode preferir a execução do contrato. Mesmo sendo a prática adotada, há entendimentos de que em qualquer das hipóteses, expressa ou tácita, a resolução do contrato há de ser requerida ao juiz. Nos contratos plurilaterais, o inadimplemento de uma das partes não implica em resolução a respeito dos outros, a menos que a obrigação que não foi cumprida seja essencial. Na resolução do contrato de sociedade há regras especiais. Em contratos aleatórios não há resolução. Além da inexecução culposa, o contrato pode ser resolvido em conseqüência de inexecução involuntária, e, ainda, por onerosidade excessiva. A modalidade especial de resolução é a redibição, aplicável a certos contratos onerosos, notadamente os de compra e venda. A dissolução do contrato pela redibição tem como causa a inexecução parcial em forma específica, ou seja, existência de vícios redibitórios. A resolução por inadimplemento é própria dos contratos sinalagmáticos; só se justificando quando o não cumprimento tem importância considerável. 4/11
2 Resolução por inexecução voluntária A resolução pressupõe inadimplemento, ilicitude, culpa, dano e nexo causal entre o fato e o prejuízo. Havendo pacto comissório expresso ou não, a resolução produz efeitos entre as partes e com relação a terceiros. Extinto o contrato por resolução, apenas não se apaga o que se executou, voltando ao estado originário se for de trato sucessivo, pois neste, a resolução não tem efeito com relação ao passado. O efeito da resolução entre as partes pode variar conforme o tipo de execução, única ou de duração. No primeiro caso a resolução opera-se ex tunc e no segundo ex nunc. A resolução por inexecução culposa, sujeita à extinção do contrato para o passado e o pagamento das perdas e danos pelo inadimplente, sendo que estas abrangem os danos emergentes e os lucros cessantes. No caso das partes terem estipulado cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta se converte em alternativa a benefício do credor. Estando o contrato subordinado a termo essencial para uma das partes, sua decadência resulta em resolução automática do contrato. Tratando-se de terceiros que hajam adquirido direitos entre a conclusão e a resolução do contrato, apenas há reparação se tiver a tratar de direitos de crédito. Tendo adquirido direitos de natureza real, o credor terá de solicitar indenização do dano que sofreu, sendo que os efeitos da resolução se aplicam igualmente às partes e aos terceiros. 3 Resolução por inexecução involuntária O termo involuntário é tratado pela submissão da vontade do devedor a motivos alheios e superiores, que impedem a satisfação e o cumprir da obrigação. Oriundo de um comportamento estranho a seu desejo, a causa de resolução do contrato não é imputada à parte inadimplente. As conseqüências de tal desvio variam conforme o contrato sendo unilateral ou bilateral, no passo que a sistemática legal dita as regras desta antinomia, dentro da chamada teoria dos riscos. A inexecução involuntária caracteriza-se pela impossibilidade superveniente de ser cumprida a obrigação básica, deixando evidente que não se confunde impossibilidade com dificuldade, pois aquela ocorre sempre que, para o cumprimento, o devedor tenha de fazer sacrifícios consideráveis. A impossibilidade, no entanto, pode ser parcial, facultando ao credor a execução restante do contrato (tal fato se aplica em contratos com várias coisas principais ou acessórias). Por possuir também, uma característica definitiva, a impossibilidade temporária, mais verificada nos contratos de execução continuada, acarreta apenas a suspensão do instrumento. O resultado da extinção da obrigação por força maior, ou caso fortuito, difere-se nos casos de contrato unilateral e bilateral. No primeiro, quem suporta o risco é o credor, uma vez que a prestação não podendo ser satisfeita, a parte vê-se privada do proveito que esperava. Já no bilateral, há interdependência das obrigações, onde a exoneração de uma parte acarreta a de outra. Extingue-se a pretensão de quem deixou de cumprir, mas fica impossibilitado de exigir a contraprestação, rompendo-se o vínculo de conexão entre as obrigações, pois, de modo contrário, haveria enriquecimento sem causa. 5/11
O contrato para resolver-se em virtude de causas de inexecução opera de pleno direito, ou seja, dispensa a intervenção judicial. A diferença entre a inexecução voluntária e involuntária remonta-se em suas conseqüências, sendo que além de na segunda, a parte inadimplente não responde por perdas e danos, os prejuízos resultantes do caso fortuito, ou força maior também não são de sua alçada. 4 Resolução por onerosidade excessiva Admitem ( ) como causa de resolução dos contratos comutativos de execução diferida, continuada ou periódica, a excessiva onerosidade que, em virtude de acontecimento extraordinário e imprevisível, sobrevenha, dificultando extremamente o cumprimento de obrigação de um dos contratantes conceitua Gomes. A onerosidade excessiva não se trata de inexecução por impossibilidade, mas traduz-se apenas como obstáculo ao cumprimento da obrigação. Na sociedade contemporânea, a vida é cercada de inúmeras variáveis possuidoras de força suficiente para alterar o equilíbrio econômico, social e político do país. A análise mercadológica destes fatores possibilita que se trace um panorama no momento da assinatura do contrato, a ser mantido tendo em vista uma margem de segurança, até que o mesmo esteja findo. Resultado é a posição implícita da cláusula rebus sic stantibus em todos os contratos comutativos, que menciona a não alteração do contrato enquanto não se alterarem as circunstâncias fáticas, presentes no momento da contratação. Anteriormente a justiça se preocupava em cumprir com exatidão os preceitos do contrato, não importando eventuais distorções, porém hoje, o princípio da justiça comutativa, surgiu como estandarte de um movimento, que propõe o contrato como uma troca igualitária de riquezas, não servindo como fonte de renda pela imponência da desigualdade. E neste sentido, o direito deve manter a ordem natural das coisas, intervindo para evidenciar o equilíbrio nas relações sociais. Para a efetivação desta resolução, antes chamada de teoria da imprevisão, é necessário certos requisitos, como a existência já mencionada de um contrato comutativo de execução diferida, ou continuada. Tratado na presença de uma equivalência entre as prestações, em que, o contrato pode ser para pagamento a prazo, ou envolvendo obrigações cumpridas periodicamente. O fato tem de ser imprevisível, tendo que uma pessoa normal não poderia prever tal desfecho, e extraordinário, diferente da normalidade praticada. Os dois últimos requisitos são a onerosidade excessiva, contrapondo-se com a vantagem exagerada, distribuída entre as partes. A fim de promover o princípio da conservação do negócio jurídico, a legislação menciona a possibilidade de revisão, se for do interesse do prejudicado permanecer com o contrato, e a própria resolução, que apenas pode ser argüida se não haja proposto uma revisão justa pela outra parte. 5 Resolução, anulação e nulidade relativa 6/11
Mesmo com os traços fortes e inconfundíveis de qualquer das causas de resolução, tal prática possui certa semelhança com a anulação e nulidade relativa. No modo de exercício, anulação e resolução se parecem, por necessitarem de ação judicial para suas realizações. Assim também nos efeitos, tratada anulação e resolução de forma retroativa. Por outra via, as distinções são marcantes e se processam pela causa. Enquanto, a anulação surge da incapacidade relativa de uma das partes e do vício do consentimento, a resolução é conseqüência do inadimplemento das obrigações assumidas contratualmente. As causas determinantes do primeiro caso são anteriores ou contemporâneas à formação do contrato, já na resolução, supervenientes. Do mesmo modo, a resolução não se confunde com a nulidade relativa. Não bastando ser insanável e imprescritível, determinada nulidade não tira do contrato toda a relevância jurídica, enquanto os legitimados não promovem a ação de invalidação. Wiliam Carvalho 1º sem. 2004 6 Documentos Consulados ASSIS, A. Resolução do contrato por inadimplemento. 2ª ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. GOMES, O. Contratos. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. ROPPO, E. O contrato. Trad.: Ana Coimbra e M. J. C. Gomes. Coimbra Portugal: Almeida, 1988. 1 Resolução num contexto geral Muitas das vezes situações supervenientes a assinatura do contrato impedem que o mesmo seja executado. Temse, então, a extinção por resolução, resilição ou rescisão. A resolução cabe nos casos de inexecução por um dos contratantes, classificando-se pela falta de cumprimento ou inadimplemento, mora e cumprimento defeituoso. A inexecução pode ser imputável ou inimputável ao devedor. Resolução é para Gomes um remédio concedido a parte, para romper o vínculo contratual mediante ação judicial 1. Como mencionado, a inexecução pode ser culposa, ou não. Se o devedor não cumpre as obrigações contraídas, pode o credor exigir a execução do contrato, ou o pagamento de perdas e danos, cumulado com a resolução. Entendem alguns que, se a inexecução é convertida em dever de indenizar, não há propriamente resolução, porque o pagamento da indenização é uma das formas de execução dos contratos, mas, na verdade a condenação não se 7/11
encaixa como o cumprimento do contrato e sim ao contrário, sendo praticada como uma sanção pela falta do inadimplente. Nos contratos bilaterais a interdependência das obrigações justifica a sua resolução quando uma das partes se torna inadimplente. Portanto, cada contratante tem a faculdade de pedir a resolução se o outro não cumpre as obrigações contraídas, e tal faculdade é chamada de estipulação, que pode estar expressa no contrato como cláusula resolutiva, ou tácita. Por disposição legal, em todo contrato bilateral, há implicitamente uma cláusula resolutiva, que autoriza a outra parte a pedir resolução em caso de inexecução. O direito pátrio, em tal situação, adota o sistema francês, em que o contrato pode ser cumprido em outra data, ou se optado por resolver concomitante com indenização de perdas e danos, é necessário que a parte prejudicada pleiteie ao juiz este pedido. E nesta prática, identifica-se a diferença da resolução decorrente de cláusula contratual expressa. Havendo este pacto comissório expresso, o contrato se resolve de pleno direito, porém se opera ipsu jure, por via de que a parte em favor da qual se deu a resolução não pode preferir a execução do contrato. Mesmo sendo a prática adotada, há entendimentos de que em qualquer das hipóteses, expressa ou tácita, a resolução do contrato há de ser requerida ao juiz. Nos contratos plurilaterais, o inadimplemento de uma das partes não implica em resolução a respeito dos outros, a menos que a obrigação que não foi cumprida seja essencial. Na resolução do contrato de sociedade há regras especiais. Em contratos aleatórios não há resolução. Além da inexecução culposa, o contrato pode ser resolvido em conseqüência de inexecução involuntária, e, ainda, por onerosidade excessiva. A modalidade especial de resolução é a redibição, aplicável a certos contratos onerosos, notadamente os de compra e venda. A dissolução do contrato pela redibição tem como causa a inexecução parcial em forma específica, ou seja, existência de vícios redibitórios. A resolução por inadimplemento é própria dos contratos sinalagmáticos; só se justificando quando o não cumprimento tem importância considerável. 2 Resolução por inexecução voluntária A resolução pressupõe inadimplemento, ilicitude, culpa, dano e nexo causal entre o fato e o prejuízo. Havendo pacto comissório expresso ou não, a resolução produz efeitos entre as partes e com relação a terceiros. Extinto o contrato por resolução, apenas não se apaga o que se executou, voltando ao estado originário se for de trato sucessivo, pois neste, a resolução não tem efeito com relação ao passado. O efeito da resolução entre as partes pode variar conforme o tipo de execução, única ou de duração. No primeiro caso a resolução opera-se ex tunc e no segundo ex nunc. A resolução por inexecução culposa, sujeita à extinção do contrato para o passado e o pagamento das perdas e danos pelo inadimplente, sendo que estas abrangem os danos emergentes e os lucros cessantes. No caso das partes terem estipulado cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta se converte em 8/11
alternativa a benefício do credor. Estando o contrato subordinado a termo essencial para uma das partes, sua decadência resulta em resolução automática do contrato. Tratando-se de terceiros que hajam adquirido direitos entre a conclusão e a resolução do contrato, apenas há reparação se tiver a tratar de direitos de crédito. Tendo adquirido direitos de natureza real, o credor terá de solicitar indenização do dano que sofreu, sendo que os efeitos da resolução se aplicam igualmente às partes e aos terceiros. 3 Resolução por inexecução involuntária O termo involuntário é tratado pela submissão da vontade do devedor a motivos alheios e superiores, que impedem a satisfação e o cumprir da obrigação. Oriundo de um comportamento estranho a seu desejo, a causa de resolução do contrato não é imputada à parte inadimplente. As conseqüências de tal desvio variam conforme o contrato sendo unilateral ou bilateral, no passo que a sistemática legal dita as regras desta antinomia, dentro da chamada teoria dos riscos. A inexecução involuntária caracteriza-se pela impossibilidade superveniente de ser cumprida a obrigação básica, deixando evidente que não se confunde impossibilidade com dificuldade, pois aquela ocorre sempre que, para o cumprimento, o devedor tenha de fazer sacrifícios consideráveis. A impossibilidade, no entanto, pode ser parcial, facultando ao credor a execução restante do contrato (tal fato se aplica em contratos com várias coisas principais ou acessórias). Por possuir também, uma característica definitiva, a impossibilidade temporária, mais verificada nos contratos de execução continuada, acarreta apenas a suspensão do instrumento. O resultado da extinção da obrigação por força maior, ou caso fortuito, difere-se nos casos de contrato unilateral e bilateral. No primeiro, quem suporta o risco é o credor, uma vez que a prestação não podendo ser satisfeita, a parte vê-se privada do proveito que esperava. Já no bilateral, há interdependência das obrigações, onde a exoneração de uma parte acarreta a de outra. Extingue-se a pretensão de quem deixou de cumprir, mas fica impossibilitado de exigir a contraprestação, rompendo-se o vínculo de conexão entre as obrigações, pois, de modo contrário, haveria enriquecimento sem causa. O contrato para resolver-se em virtude de causas de inexecução opera de pleno direito, ou seja, dispensa a intervenção judicial. A diferença entre a inexecução voluntária e involuntária remonta-se em suas conseqüências, sendo que além de na segunda, a parte inadimplente não responde por perdas e danos, os prejuízos resultantes do caso fortuito, ou força maior também não são de sua alçada. 4 Resolução por onerosidade excessiva Admitem ( ) como causa de resolução dos contratos comutativos de execução diferida, continuada ou periódica, 9/11
a excessiva onerosidade que, em virtude de acontecimento extraordinário e imprevisível, sobrevenha, dificultando extremamente o cumprimento de obrigação de um dos contratantes conceitua Gomes.2 A onerosidade excessiva não se trata de inexecução por impossibilidade, mas traduz-se apenas como obstáculo ao cumprimento da obrigação. Na sociedade contemporânea, a vida é cercada de inúmeras variáveis possuidoras de força suficiente para alterar o equilíbrio econômico, social e político do país. A análise mercadológica destes fatores possibilita que se trace um panorama no momento da assinatura do contrato, a ser mantido tendo em vista uma margem de segurança, até que o mesmo esteja findo. Resultado é a posição implícita da cláusula rebus sic stantibus em todos os contratos comutativos, que menciona a não alteração do contrato enquanto não se alterarem as circunstâncias fáticas, presentes no momento da contratação. Anteriormente a justiça se preocupava em cumprir com exatidão os preceitos do contrato, não importando eventuais distorções, porém hoje, o princípio da justiça comutativa, surgiu como estandarte de um movimento, que propõe o contrato como uma troca igualitária de riquezas, não servindo como fonte de renda pela imponência da desigualdade. E neste sentido, o direito deve manter a ordem natural das coisas, intervindo para evidenciar o equilíbrio nas relações sociais. Para a efetivação desta resolução, antes chamada de teoria da imprevisão, é necessário certos requisitos, como a existência já mencionada de um contrato comutativo de execução diferida, ou continuada. Tratado na presença de uma equivalência entre as prestações, em que, o contrato pode ser para pagamento a prazo, ou envolvendo obrigações cumpridas periodicamente. O fato tem de ser imprevisível, tendo que uma pessoa normal não poderia prever tal desfecho, e extraordinário, diferente da normalidade praticada. Os dois últimos requisitos são a onerosidade excessiva, contrapondo-se com a vantagem exagerada, distribuída entre as partes. A fim de promover o princípio da conservação do negócio jurídico, a legislação menciona a possibilidade de revisão, se for do interesse do prejudicado permanecer com o contrato, e a própria resolução, que apenas pode ser argüida se não haja proposto uma revisão justa pela outra parte. 5 Resolução, anulação e nulidade relativa Mesmo com os traços fortes e inconfundíveis de qualquer das causas de resolução, tal prática possui certa semelhança com a anulação e nulidade relativa. No modo de exercício, anulação e resolução se parecem, por necessitarem de ação judicial para suas realizações. Assim também nos efeitos, tratada anulação e resolução de forma retroativa. Por outra via, as distinções são marcantes e se processam pela causa. Enquanto, a anulação surge da incapacidade relativa de uma das partes e do vício do consentimento, a resolução é conseqüência do inadimplemento das obrigações assumidas contratualmente. As causas determinantes do primeiro caso são anteriores ou contemporâneas à formação do contrato, já na resolução, supervenientes. Do mesmo modo, a resolução não se confunde com a nulidade relativa. Não bastando ser insanável e imprescritível, determinada nulidade não tira do contrato toda a relevância jurídica, enquanto os legitimados não promovem a ação de invalidação. 10/11
Wiliam Carvalho 1º sem. 2004 6 Documentos Consulados ASSIS, A. Resolução do contrato por inadimplemento. 2ª ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. GOMES, O. Contratos. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. ROPPO, E. O contrato. Trad.: Ana Coimbra e M. J. C. Gomes. Coimbra Portugal: Almeida, 1988. 11/11