DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Transcrição

1 DIREITO DAS

2 O maior interesse jurídico surge quando a prestação não é satisfeita. Trataremos de inadimplemento da obrigação, em inexecução ou descumprimento => responsabilidade civil contratual => nasce o dever de indenizar perdas e danos (arts. 402 a 404, CC)

3 Inadimplemento em sentido genérico ocorre em dois casos específicos: Inadimplemento parcialou mora = hipótese em que há apenas um descumprimento parcial da obrigação, que ainda pode ser cumprida. Inadimplemento total ou absoluto = hipótese em que a obrigação não pode ser mais cumprida, tornando-se inútil ao credor. * O critério de distinção entre ambos é a utilidade da obrigação para o credor (art. 395, CC).

4 Ainda há duas outras formas de inadimplemento consideradas pela doutrina e jurisprudência: Violação positiva do contrato = cumprimento inexato ou defeituoso (exs. Vícios de produtos ou serviços, vícios redibitórios) = arts. 394, 441 a 446, CC, arts. 12 a 20, CDC. Deveres anexos, laterais ou secundários = ver Enunciado 24, I Jornada de Direito Civil = a sua violação atinge boa-fé objetiva (art. 422, CC),portanto, é espécie de inadimplemento independentemente de culpa.

5 Inadimplemento relativo(mora) Mora = atraso, retardamento ou a imperfeita satisfaçãoobrigacional, havendo um inadimplemento relativo. Ver art. 394, CC Duas espécies: mora solvendi, debitoris ou debendi (mora do devedor) e mora accipiendi, creditoris ou credendi (mora do credor).

6 Mora do devedor Vide artigo 396, CC = necessidadede imputação de fato ou omissão ao devedor, ou seja, culpa genérica (dolo ou culpa estrita) é fundamental para sua caracterização Doutrina contemporânea entende que a culpa não é elemento fundamental para a caracterização da mora. O exemplo é a obrigação de resultado = responsabilidade objetiva.

7 Efeitos da mora = art. 395, caput, CC = todos os prejuízos causados ao credor, mais juros, atualização monetária e honorários de advogado. Se a mora tornar a prestação inútil, o credor poderá rejeitá-la, cabendo a resolução da obrigação com perdas e danos. Vide enunciado 162, III Jornada de Direito Civil.

8 Surge daí a teoria do adimplemento substancial (inadimplemento mínimo): emhipóteses em que a obrigação tiver sido quase toda cumprida não caberá a extinção do contrato, mas apenas outros efeitos jurídicos, visando sempre à manutenção da avença. Ver Enunciados 361 e 371 das Jornadas de Direito Civil. Exs.: seguro de carro ematraso, mas paga maisda metadedo prêmio (REsp76.362/MT); arrendamentomercantilde 36 parcelasemque 31 já foram pagas de determinado maquinário (REsp /RS, mas ver recente REsp ).

9 Ver, também, Enunciado 354, IV Jornada de Direito Civil = cobrança de parcelas abusivas ou indevidas impede a caracterização de mora do devedor. Afastada a mora, é possível a revisão contratual. O devedor responde pela impossibilidade da prestação, ainda que a impossibilidade resulte de caso fortuito ou força maior, se estes tiverem ocorrido durante o atraso (art. 399, CC)

10 Comparar ao artigo 393, CC = se o devedor provar que dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada, exime-se da responsabilidade. Ex.: devedordeveentregarum cavaloe está em atraso. Uma enchente invade a fazenda e leva o cavalo. O devedor responderia por perdas e danos. Se o devedor provar que a enchente também chegou à fazenda do credor, onde estaria o cavalo, estará isento da responsabilidade.

11 Mora exreou mora automática = quando a obrigação for positiva (dar ou fazer), líquida (certa quanto à existência e determinada quanto ao valor) e com data fixada para o adimplemento. A inexecução implica mora automática do devedor, sem necessidade de providências do credor (art. 397, caput, CC). Vale a máxima dies interpellatpro homine(o dia de vencimento interpela a pessoa).

12 Mora expersona ou mora pendente = sem estipulação de termo final para a execução da obrigação assumida. A caracterização do atraso dependerá de uma providência do credor, por meio de interpelação ou notificação ou protesto do credor, judicial ou extrajudicial (art. 397, p. un., CC). Vide Enunciado 427, V Jornada de Direito Civil.

13 Mora irregular ou presumida = art. 398, CC = obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se em mora o devedor desde o dia em que o praticou.

14 Mora do credor Quando o credor se recusa a aceitar o adimplemento da obrigação no tempo, lugar e forma pactuados, sem ter justo motivo para tanto. Para a sua configuração, basta o mero atraso ou inadimplemento relativo ao credor.

15 Efeitos da mora do credor (art. 400, CC) Afasta do devedor isento de dolo a responsabilidade pela conservação da coisa, não respondendo por conduta culposa que gerar a perda do objeto. Obriga o credor a ressarcir o devedor as despesas empregadas na conservação da coisa. Sujeita o credor a receber a coisa pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o tempo do contrato e cumprimento da obrigação.

16 Quando mora do devedor e do credor são simultâneas, gera a compensação dos atrasos. Purgação ou emenda da mora = art. 401, CC = significa afastar os efeitos decorrentes do inadimplemento parcial, principalmente relativo ao atraso no cumprimento. Tem efeitos a partir do ato espontâneo de devedor ou credor e são exnunc. Cessação da mora: ocorre por fatoextintivode efeitospretéritose futuros novação, remissão de dívidas ou renúncia do credor.

17 Inadimplemento absoluto Não cumprindo a prestação, responde o sujeito passivo pelo valor correspondente, acrescidos de demais perdas e danos, juros compensatórios, cláusula penal, custas e honorários advocatícios (art. 389, CC) Nas obrigações negativas (de não fazer), o devedor é considerado inadimplente desde quando pratica o ato.

18 Inadimplemento absoluto Nos contratos benéficos, vide artigo 392, CC. Ex.: comodato = comodatário responde por culpa ou dolo, comodante apenas por dolo (ação ou omissão voluntária, intencional). Em contratos onerosos, a responsabilidade decorre da culpa.

19 Inadimplemento absoluto Em regra, o devedor não responde em caso fortuito ou força maior, salvo cláusula de assunção convencional (art. 393, CC) O ônus da prova de que o fato causador do dano não lhe pode ser imputado cabe ao devedor.

20 Inadimplemento absoluto Perdas e danos: art. 402, CC = abrangemo que efetivamenteperdeu (danos emergentes) e o que razoavelmente deixou de ganhar (lucros cessantes). Danos emergentes e lucros cessantes não podem ser hipotéticos ou eventuais(art. 403) Perdas e danos nas obrigações em dinheiro serão atualizadas, abrangendo juros, custas e honorários advocatícios, além da pena convencional.

21 Inadimplemento absoluto Tais perdas e danos são danos materiais. Não dispensa os danos estéticos e danos morais.

22 Juros INADIMPLEMENTO DAS Efeitos do inadimplemento das obrigações. São frutos civis ou rendimentos devidos pela utilização de capital alheio. Classificação quanto à origem: Juros convencionais decorrem do acordo entre as partes. Juros legais previstos na norma jurídica

23 Juros Classificaçãoquantoà relação com o inadimplemento. Juros moratórios = ressarcimento imputado ao devedor pelo descumprimento parcial da obrigação. Regra geral, são devidos desde a constituição em mora e independem de alegação e prova do prejuízo suportado (art. 407) Juros compensatórios ou remuneratórios = decorrem de uma utilização consentida do capital alheio, como nos casos de inadimplemento total da obrigação.

24 Juros Juros legais moratórios = art. 406 Ver enunciado 20 da I Jornada de Direito Civil Jurisprudência com vários julgados baseados na taxa SELIC Atenção para juros das instituições financeiras (súmula 596, STF e súmula 382, STJ). Instituições financeiras não se submetem aos limites da lei civil (art. 1º, Dec /33 Lei de Usura), de 24% ao ano.

25 Juros INADIMPLEMENTO DAS Início dos juros moratórios Mora exre= vencimento da obrigação (Enunciado 428, V Jornada de Direito Civil) Mora ex persona = Citação (art. 405) Mora presumida = Ocorrência do evento danoso (Súmula 54, STJ)

26 Cláusula penal Penalidade de natureza civil, imposta pela inexecução parcial ou total de um dever patrimonial assumido. É também denominada multa contratual ou pena convencional. É uma obrigação acessória que visa a garantir a obrigação principal, bem como fixar o valor de perdas e danos em caso de descumprimento.

27 Cláusula penal Duas funções: coercitiva(intimida o devedora cumprir a obrigação principal) e ressarcitória (prefixando perdas e danos no caso de inadimplemento absoluto da obrigação caráter estimativo). A incidência da cláusula penal exige a culpa genérica do devedor.

28 Cláusula penal Classificação de acordo com aquilo que mantém a relação. No caso de mora ou inadimplemento parcial, denomina-se multa moratória, enquanto no caso de inexecução total, denomina-se multa compensatória. O limite da cláusula penal é o valor da obrigação principal. No caso de se tratar de multa moratória, o limite é imposto por lei. 10% para contratos civis (Lei de Usura, art. 5º), 2% em contratos de consumo e dívidas de condomínio.

29 Cláusula penal Art. 413 = decisão exofficio do magistrado = função social do contrato Art. 411 = cláusula penal moratória = obrigação principal + multa Art. 410 = cláusula penal compensatória = obrigação principal ou multa.

30 Cláusula penal Como regra geral, havendo cláusula penal compensatória, o prejudicado não pode exigir indenização suplementar se tal regra não constar do contrato. Se constar, a multa funciona como taxa mínima de indenização, cabendo ao credor comprovar o prejuízo excedente. Verificar Enunciado 430, V Jornada de Direito Civil.

31 Arras ou sinal Sinal, o valor dado em dinheiro ou o bem móvel entregue por uma parte à outra, quando do contrato preliminar, visando a trazer a presunção de celebração do contrato definitivo. Primeira função = antecipação do pagamento, valendo como desconto quando do pagamento do valor total da obrigação (art. 417)

32 Arras ou sinal Demais funções: 1ª função: tornar definitivo o contrato preliminar 2ª função: funcionar como antecipação de perdas e danos, funcionando também como penalidade. Tem natureza acessória

33 Arras ou sinal Duas espécies INADIMPLEMENTO DAS Arras confirmatórias = presentes na hipótese em que não constar a possibilidade de arrependimento quanto à celebração do contrato definitivo. Regra geral. Arts. 418 e 419 = direito à indenização suplementar. Arras penitenciais = no caso de constar a possibilidade de arrependimento. Para qualquer das partes, terão função unicamente indenizatória. Não haverá indenização suplementar. Vide S. 412, STF.

34 Arras ou sinal Exemplo de funcionamento: Emum contratode comprae vendacom cláusula de irretratabilidade, pago o sinal, caso o vendedor desista da venda posteriormente, o comprador poderá pedir o sinal de volta, corrigido e, comprovados outros prejuízos, poderá pedir indenização complementar. Poderá também exigir a execução do contrato, mais perdas e danos se comprovados. Se não houver a cláusula de irretratabilidade, o sinal já será a indenização do comprador, nada mais podendo ser reclamado.