OCORRÊNCIA DE FILAREMIA EM ANIMAIS NECROPSIADOS RELATO DE CASO OCCURRENCE OF FILAREMIA IN NECROPSIATED ANIMALS CASE REPORT Ana Virgínia Nascimento de MEDEIROS 1, Luísa Momo DUARTE 1, Maíra Conceição Jeronimo de Souza LIMA 2 1 Estudante de Medicina Veterinária da Universidade Potiguar UnP, vi_medeiros@yahoo.com 2 Docente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Potiguar UnP Resumo: A Universidade recebeu do Centro de Controle de Zoonoses cinco animais eutanasiados por estarem acometidos com Leishmaniose Visceral Canina. Os animais eram de uma propriedade rural localizada no Município de São Gonçalo do Amarante, SRD com idades que variavam entre 2 a 5 anos e sem mais informações adicionais. No exame necroscópico nenhum animal apresentou lesões de pele, três estavam em bom estado nutricional, apenas dois apresentaram ectoparasitas, em quatro foram observados hepatoesplenomegalia e foram identificados ocasionalmente quatro casos de filaremia. Sendo a Região Metropolitana de Natal (RMN), do qual São Gonçalo do Amarante faz parte, cujas condições de muitos são muito favoráveis à transmissão da infecção, torna-se preciso que o conhecimento dessa zoonose seja disseminado, devido aos casos esporádicos e assintomáticos diagnosticados nos últimos tempos. Conclui-se que são necessários estudos sobre a incidência da Dirofilariose no Estado do Rio Grande do Norte. Palavras-chaves: Leishmaniose, Dirofilária, Zoonose. Keywords: Leishmaniasis, Dirofilaria, Zoonosis. Revisão de literatura: A Dirofilariose immitis, comumente denominada doença do verme do coração é um nematoide filarídeo de maior emergência em cães domésticos (hospedeiro definitivo) e outros mamíferos, que habita especialmente o ventrículo direito e vasos sanguíneos adjacentes, e pode ser transmitido por repasto sanguíneo Anais do 38º CBA, 2017 - p.0177
de mosquitos suscetíveis à microfilárias em estado infectante; o helminto já foi relatado em gatos, animais silvestres e por vezes no homem como hospedeiros acidentais, podendo intensificar formas clínicas e acarretar casos de mortalidade (CIRIO, 2005; MEIRELES et al., 2014). A distribuição geográfica do parasita filariose é cosmopolita, mas há locais com maiores predisposições seja por fatores naturais como acentuada concentração de reservatórios vertebrados e condições climáticas ou por ações antrópicas no ambiente, exemplificando às condições sanitárias desfavoráveis. As regiões costeiras tropicais e subtropicais são em maioria endêmicas de dirofilariose canina, nos quais devem-se provavelmente às temperaturas favoráveis para o desenvolvimento do mosquito e acentuados índices pluviométricos, visto que altera diretamente no ciclo biológico do parasita (LARSSON et al., 1995; ALMEIDA et al., 2005; LABARTHE, 2009). As filárias necessitam de um artrópode hematófago para sua diferenciação ao estado infectante ao hospedeiro vertebrado, por estarem presentes em diversas regiões encontram-se suscetíveis à microrganismos e helmintos, proporcionando o trânsito de infecções para os vetores locais; como já foi descrita para as espécies Culex pipiens, Cx. quinquefasciatus, Aedes aegypti, Ae. albopictus, Anopheles maculipenis e Coquillettidia richiardii (CIRIO, 2005; SILVA & LANGONI, 2009). Objetivou-se relatar a ocorrência casual de microfilaremia em quatro cães necropsiados provenientes de uma propriedade rural do município de São Gonçalo do Amarante RN. Descrição do caso: Cinco cães, sem raça definida, com idade entre dois e cinco anos, provenientes do Centro de Controle de Zoonoses, positivos para leishmaniose por meio de exame sorológico, foram eutanasiados após solicitação pelos tutores. Os animais viviam em uma propriedade rural localizada no município de São Gonçalo do Amarante Rio Grande do Note, Região Metropolitana de Natal. Os cadáveres foram cedidos para uma aula prática de necropsia onde foi realizado os exames macroscópicos externo e interno. No exame externo a maioria dos animais apresentaram ectoparasitas, ausência de lesões cutâneas e bom estado nutricional, apesar de mucosas pálidas. Já no exame interno quatro animais apresentaram Anais do 38º CBA, 2017 - p.0178
hepatoesplenomegalia e hipertrofia cardíaca, os quais foram ocasionalmente com filaremia presente nos vasos e câmaras cardíacas. identificados Discussão: O ciclo biológico da D. immitis é heteróxeno, no qual seu desenvolvimento sucede em dois hospedeiros distintos. A dirofilária introduz-se a partir do momento em que o mosquito se alimenta de um hospedeiro com presença de microfilárias. As microfilárias são as larvas de primeiro estágio, chamada de L1. Estas não podem desenvolver-se no animal para o estágio de infecção, sem que tenha passado por duas mudas ainda no mosquito. Ao ocorrerem as duas mudas, o estágio presente é o L3 e o mosquito ao picar o animal, possibilita que algumas larvas passem para o tecido subcutâneo chamado de estágio L4, residindo por cerca de dez dias e passando para o estágio L5. As dirofilárias penetram o sistema vascular cerca de 10 dias após a infecção e migram para as artérias pulmonares onde permanecem por pelo menos seis meses até que as fêmeas liberem microfilárias (AHID & LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1999; CIRIO, 2005; MEIRELES et al 2014). No Brasil, a dirofilariose é uma endemia com maior prevalência em regiões litorâneas, acometendo mais cães do que gatos. O Aedes aegypti é um dos vetores de grande importância para a transmissão dessa doença, principalmente na região Nordeste do Brasil. As manifestações clínicas dependem da resposta imunológica do hospedeiro, porém após a morte do parasita ocorre uma intensa reação inflamatória capaz de formar granulomas obstrutivos, que irão na maioria das vezes se aloja nas artérias pulmonares causando danos cardíacos severos, como insuficiência cardíaca direita (NELSON & COUTO, 2001; BARBOSA & ALVES, 2006; MEIRELES et al 2014). Quanto maior o número de parasitas, mais intensos são os sintomas apresentados pelos animais, se os mesmos vierem a óbito a necropsia é o método de diagnóstico muito sensível e específico para essa doença, servindo para orientar medidas de prevenção para outros animais da mesma região. Pode ser observado na necropsia hepato ou esplenomegalia, ou ambos, hipertrofia ventricular direita, congestão e a presença do próprio parasita nos locais de predileção. Dessa forma, pelo tamanho, localização e características morfológicos, os patologistas conseguem afirmar se tratar de D. immitis (LARSSON et al., 1995; ALMEIDA et al., 2005; MEIRELES et al 2014). Anais do 38º CBA, 2017 - p.0179
Conclusão: A melhor maneira de se combater a dirofilariose canina é prevenir a doença, pois o tratamento pode ser fatal para os cães. Dessa forma, os médicos veterinários devem procurar se informar sobre a prevalência de casos em sua região e disseminar o conhecimento para a população. Por possuir condições favoráveis à transmissão e devido a ampla distribuição geográfica dos mosquitos transmissores dessa parasitose, a Região Metropolitana de Natal necessita de estudos que visem contemplar a real incidência da dirofilariose, como também de atividades de educação em saúde. Referências: AHID, S.M.M.; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, R. Mosquitos vetores potenciais de dirofilariose canina na região Nordeste do Brasil. Revista de Saúde Pública São Paulo, v. 33, n. 6, dez. 1999. ALMEIDA, M.AO et al. Parasitismo de cães por microfilárias de Dirofilaria immitis: influência da raça, sexo e idade. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.2, n.3, p.59-64, 2005. BARBOSA, C. L.; ALVES, L. C. Dirofilariose Canina: Situação Atual no Brasil. Revista CFMV (Brasília), v. XII, p. 57-62, 2006. CIRIO, S.M. Epidemiologia e clínica de cães portadores de dirofilariose em espaços urbanos de município do litoral do Paraná e aspectos da histologia de Culex quinquefasciatus (Say, 1823) (Diptera, Culicidae). 2005. 155f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) - Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. LABARTHE, N. V. As filárias estão de volta. Prepare-se! Revista Nosso Clínico, São Paulo, ano 12, n. 68, p. 52, mar./abr. 2009. LARSSON, Maria Helena Matiko Akao et al. Estudo da variação da microfilaremia em cães infestados por Dirofilaria immitis. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 32, n. 2, p. 114-119, 1995. MEIRELES, J.; PAULOS, F; SERRÃO, I., Dirofilariose em cães e gatos. Rev. Port. Ciênc. Vet., Fev, 109 (591-592) 70-78, 2014. NELSON, R.; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0180
SILVA, Rodrigo Costa da; LANGONI, Helio. Dirofilariose. Zoonose emergente negligenciada. Ciência Rural, v. 39, n. 5, 2009. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0181