PLATAFORMA EMPRESAS PELO CLIMA MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA



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PLATAFORMA EMPRESAS PELO CLIMA OFICINA 1- Março 2011 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA Esta cartilha foi desenvolvida pelo GVces para as Empresas Membro da Plataforma Empresas Pelo Clima, com o objetivo de servir como um guia básico e não exaustivo de referência no contexto das mudanças climáticas, sustentabilidade e correspondentes iniciativas empresariais utilizadas no Brasil.. Todos os direitos reservados Fundação Getúlio Vargas. Este material não pode ser distribuído ou copiado sem a prévia autorização do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces). Para referência, citar como: Fundação Getúlio Vargas. Mudanças Climáticas e Sustentabilidade Corporativa: Oficina de trabalho da Plataforma Empresas pelo Clima. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2011.

1. O MOVIMENTO PELA SUSTENTABILIDADE 1 O conceito de sustentabilidade surgiu nos anos 80 na arena do desenvolvimento internacional. Em 1983, as Nações Unidas nomearam uma comissão para estudar os crescentes problemas ambientais e propor estratégias ambientais de longo prazo para atingir o desenvolvimento sustentável. Em seu relatório final, intitulado Our Common Future (Nosso Futuro Comum), a comissão expressou frustração com a falta de políticas eficientes para lidar com as crescentes provas científicas de urgentes problemas ambientais, incluindo o aquecimento global, ameaças à camada de ozônio da Terra e a desertificação de terras agrícolas, que poderiam ter grande impacto sobre a sobrevivência da humanidade. Ao mesmo tempo, a comissão afirmou: A humanidade tem a capacidade de transformar o desenvolvimento em algo sustentável de garantir que ele atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de gerações futuras de atender às suas próprias necessidades. A definição de desenvolvimento sustentável obteve notoriedade internacional em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro. OS PARÂMETROS DA SUSTENTABILIDADE As décadas subsequentes foram testemunha de inúmeras tentativas de transformar estas preocupações em uma noção de sustentabilidade que pudesse ser útil para empresas e outras organizações. Como descrito abaixo, exemplos incluíram os conceitos de Triple Bottom Line, The Natural Step, Pegada Ecológica e Hierarquia de Sustentabilidade. TRIPLE BOTTOM LINE Os defensores do conceito de Triple Bottom Line solicitavam que lideranças tornassem suas empresas sustentáveis ao equilibrar sua busca pela melhor performance financeira possível com considerações sobre a performance social e ambiental da empresa. Das muitas empresas que adotaram essa abordagem, talvez a mais famosa tenha sido a Royal Dutch/Shell, cuja campanha Pessoas, Planeta e Lucros foi lançada em 1999. Os índices de sustentabilidade do Dow Jones também adotaram esse conceito ao definir a sustentabilidade corporativa como uma abordagem de negócios que cria valor de longo prazo para o acionista ao incorporar oportunidades e gerenciar riscos relacionados a desenvolvimentos econômicos, sociais e ambientais. Na indústria de ciências da vida, a Genencor, uma grande empresa de biotecnologia, descreveu seu compromisso com a sustentabilidade como uma busca pelo progresso e viabilidade a longo prazo do nosso negócio, ao mesmo tempo em que assumimos a responsabilidade por melhorar as condições ambientais, econômicas e sociais resultantes de nosso trabalho. THE NATURAL STEP Organização não-governamental localizada na Suécia, The Natural Step trouxe um conceito diferente de sustentabilidade. De acordo com a ONG, existem quatro condições sistemáticas requeridas para a sustentabilidade: em uma sociedade sustentável, a natureza não está sujeita a concentrações crescentes de substâncias extraídas da crosta terrestre (1), concentrações de substâncias produzidas pela sociedade (2), degradação física (3), e as pessoas não estão sujeitas a condições de vida que sistematicamente prejudicam sua capacidade de atender suas necessidades(4). Defensores deste parâmetro acreditam que ele capacita empresas a integrar considerações ambientais a decisões estratégicas e operações diárias de forma inteligente e lucrativa. Carsten Henningsen, então diretor do Progressive Investment Management (um fundo de investimentos que enfatizava critérios sociais e ambientais), afirmou: Normalmente, quando as pessoas passam pelo treinamento na Natural Step, é como se elas fossem atingidas por um raio e acordassem para a crise ecológica que está diante de nós... Espera-se que elas acordem com um plano de ação ou solução. Empresas tão diversificadas como IKEA, Scandic Hotels, Electrolux, Nike e McDonald s utilizaram os parâmetros da Natural Step para guiá- las em suas estratégias de sustentabilidade corporativa. 1 As informações contidas nessa seção foram retiradas integralmente do documento TOFFEL, Michael W. e LEE, Katharine. Sustainability at Milipore. Harvard Business School, 2009 e Teaching Note - Sustainability at Milipore. Harvard Business School, 2009. 2

PEGADA ECOLÓGICA Este terceiro parâmetro de sustentabilidade compara o impacto ambiental de atividades específicas com os limites disponíveis dos recursos naturais do planeta e a capacidade de funcionalidade de seu ecossistema. A Pegada Ecológica calcula a quantidade de terra e água necessária para produzir os recursos utilizados pelas atividades e absorver os desperdícios associados. Pegadas Ecológicas foram calculadas para países específicos e outras regiões geográficas, além de setores industriais, empresas e produtos. HIERARQUIA DE SUSTENTABILIDADE A Hierarquia de Sustentabilidade forneceu outra abordagem para a estruturação da grande quantidade de preocupações às quais governos, ONGs e empresas se referem como questões de sustentabilidade. Atividades chamadas de insustentáveis foram caracterizadas em quatro níveis, com base em sua urgência e na severidade de suas consequências. Na Hierarquiade Sustentabilidade: Nível 4: Refere-se a atividades que reduzem a qualidade de vida ou são consideradas inconsistentes com outros valores, crenças ou preferências estéticas, como a expansão urbana e a falta de espaços abertos. Nível 3: Engloba ações que podem causar a extinção de espécies ou que violam os direitos humanos. Nível 2: Inclui ações que reduziriam de forma significativa a expectativa de vida ou outros indicadores básicos de saúde. Nível 1: Refere-se a ações que, se continuadas nas taxas atuais ou previstas, põem em risco a sobrevivência dos seres humanos. Fonte: Julian D. Marshall and Michael W. Toffel, Framing the elusive concept of sustainability: A sustainability Hierarchy, Environmental Science and Technology vol. 39, no. 3 (2005), p.675. Os estudiosos que desenvolveram a Hierarquia de Sustentabilidade não consideram que as questões de Nível 4 estão dentro do campo de ação da sustentabilidade, argumentando que estas questões poderiam tornar a noção de sustentabilidade inviável em virtude de sua amplidão e presa à diversidade de opiniões individuais, o que no fim das contas faria o conceito de sustentabilidade perder todo significado. PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE Para além destes parâmetros, ONGs, governos e empresas desenvolveram uma ampla gama de códigos de conduta e padrões voluntários ambientais e de trabalho que incorporaram diversos destes tópicos, incluindo proteção ambiental, engajamento comunitário, desenvolvimento econômico, ética, governança, transparência e práticas ligadas ao emprego. Para alguns, esta crescente lista de áreas pelas quais empresas estão sendo cada vez mais responsabilizadas representa os princípios da sustentabilidade. 3

COMO MENSURAR A SUSTENTABILIDADE Organizações utilizam centenas de critérios diferentes para analisar seu grau de sustentabilidade. Em 2007, um relatório do grupo Forrester Research afirmou que 97% das cem principais empresas da lista Fortune Global 500 havia editado relatórios anuais e websites descrevendo seus princípios de responsabilidade social e sustentabilidade corporativa. O relatório categorizava os critérios ambientais, financeiros e sociais utilizadas por essas empresas. A maioria de tais critérios ambientais é similar àquelas usadas frequentemente em relatórios anuais ambientais nos anos 90. Os critérios sociais relacionavam-se normalmente a filantropia, diversidade demográfica e benefícios concedidos a funcionários. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE Os indicadores de sustentabilidade são instrumentos para avaliação do desempenho de organizações no processo de se tornarem mais sustentáveis. Os indicadores medem a performance de uma organização e facilitam o planejamento estratégico corporativo em direção à sustentabilidade. O uso dos indicadores por parte de uma empresa não significa que ela já atue em um modelo sustentável, seu objetivo é medir, monitorar e reportar o desempenho de sustentabilidade das organizações. Os indicadores indicam quais são os pontos positivos e negativos referentes a uma postura de sustentabilidade, para posteriormente serem planejadas e aplicadas estratégicas de sustentabilidade na organização. Alguns exemplos são: ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), Guia Exame de Sustentabilidade, GRI (Global Reporting Initiative), PRI (Principles for Responsible Investment, da ONU) e Indicadores Ethos de Responsabilidade Social. 2. MUDANÇAS CLIMÁTICAS 2 A variação do clima é um fenômeno natural, apresentando períodos de mudanças intensas em algumas fases da história do planeta. Mas a rapidez da alteração climática que vem ocorrendo nas últimas décadas é considerada pelos cientistas um fenômeno atípico. Inúmeros estudos confirmam que a elevação da temperatura média da Terra e o aumento do nível dos mares pelo derretimento das áreas geladas são evidências da intensificação do efeito estufa. O efeito estufa é o fenômeno natural do planeta em que determinados gases na atmosfera impedem que parte do calor absorvido do sol seja dissipado de volta ao universo. Mas a partir da Revolução Industrial alguns gases do efeito estufa (GEEs), com destaque para o dióxido de carbono, passaram a ser emitidos em quantidades cada vez maiores pelas atividades humanas, principalmente as que utilizam combustíveis fósseis e as que promovem destruição das florestas. O efeito estufa se tornou gradativamente mais intenso, levando ao aquecimento global que tem gerado mudança das características do clima, como ocorrência das chuvas, duração das estações secas, dinâmica de massas e correntes de ar e ocorrência de fenômenos abruptos como ciclones, tempestades e furacões. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) provenientes de atividades humanas cresceram 70% entre 1970 e 2004. Do total de emissões antropogênicas, 77% correspondiam ao dióxido de carbono, que no mesmo período teve um aumento de 21 para 38 gigatoneladas (Gt). Para se ter uma idéia, 1 tonelada de carbono é aproximadamente o que emite um carro popular durante um ano, usando gasolina. O aumento de emissões de dióxido de carbono equivalente 3 foi bem maior no período de 1995 a 2004, do que de 1970 a 1994. Os setores que mais contribuíram para o aumento de emissões foram energia, transporte e a indústria e em um ritmo menor os edifícios comerciais e residenciais e 2 As informações contidas nessa seção foram retiradas do website do Observatório do Clima: www.fgv.br/oc, acesso em 10 de março de 2011. 3 Dióxido de carbono equivalente: refere-se a uma soma de emissões de vários gases do efeito estufa, onde cada gás é medido por seu potencial para contribuir para o aquecimento global. Potencial para o aquecimento global: é uma taxa referente ao quanto certa massa de um determinado gás do efeito estufa contribui para o aquecimento global, com relação à contribuição da mesma massa de CO 2, dentro de certo período de tempo. 4

os setores florestal e da agricultura. Atualmente, estudos sugerem que o planeta está próximo aos 50 Gt CO 2e e poderá chegar a 61 Gt em 2020 e 70 Gt em 2030. Discute-se sobre a capacidade da Terra de absorver tais emissões e números científicos apontam que as emissões na Terra estão atualmente cerca de quatro vezes superiores a essa capacidade (entre 6 e 9 Gt CO2 e), em um processo que teve início em meados do século XIX, com a Revolução Industrial. No relatório do IPCC divulgado em 2007, foi estimada que uma concentração de 500 a 550 ppm (partes por milhão) 4 de CO2 na atmosfera elevará a temperatura em provavelmente 3ºC, o suficiente para extinguir espécies de plantas (entre elas as culturas agrícolas), derreter geleiras em montanhas e afetar o suprimento de água de milhões de pessoas, comprometendo a sobrevivência humana. Na ocasião, os cientistas sugeriram que o ideal seria conter essa elevação a no máximo 2ºC em relação aos níveis pré-industriais - pouco mais de 1ºC acima da temperatura média atual. Em março de 2009, na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em Copenhague, os pesquisadores já disseram que a capacidade de tolerância do planeta pode ser inferior a esses 2ºC. ANÁLISE ECONÔMICA Lançado pelo governo britânico em 30 de outubro de 2006, o Relatório Stern é considerado o estudo mais completo publicado até hoje sobre os aspectos econômicos envolvendo a mudança do clima no mundo. A estimativa do Relatório é que os riscos de mudanças climáticas sem controle podem ameaçar 20% do PIB mundial ou mais. Em contraste, os custos de ações para se reduzir emissões de gases do efeito estufa podem ser limitadas a 1% do PIB global a cada ano. As pessoas pagariam um pouco mais por produtos com uso intensivo de carbono, mas as economias mundiais poderiam continuar a crescer em ritmo forte. Se não tomarmos ações para controlar as emissões, cada tonelada de CO2 que emitimos hoje está causando estragos na ordem de 85 dólares - mas os custos não estão inclusos quando investidores e consumidores tomam decisões sobre como gastar seu dinheiro. Esquemas de comercialização de reduções de carbono equivalente demonstram que existem muitas oportunidades para se cortar emissões por menos de 25 dólares a tonelada. Em outras palavras, a redução de emissões nos deixará numa posição mais vantajosa. Os benefícios da mudança da economia global para um caminho de baixo uso de carbono podem chegar ao longo do tempo a 2,5 trilhões de dólares por ano. Essa mudança também traria grandes oportunidades. Mercados de tecnologias de baixo uso de carbono valerão pelo menos 500 bilhões de dólares e possivelmente muito mais, por volta de 2050 se o mundo agir na escala necessária. Combater a mudança do clima significa uma estratégia pró-desenvolvimento; ignorá-la subtrairá definitivamente o crescimento econômico. 3. ESTRATÉGIA CORPORATIVA PARA A ECONOMIA DE BAIXO CARBONO 5 Para alcançar a meta de não elevar a temperatura média do planeta acima do limite de segurança de 2 o C, estabelecido pelo IPCC, a concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera deverá se estabilizar por volta de 450 ppm. Para esse fato ter uma maior probabilidade de ocorrer, as emissões de GEE terão de entrar em uma curva descendente a partir de 2015. Isso implicará em um enorme esforço tanto por parte das instituições privadas quanto por parte das públicas. 4 ppm: é a relação do número de moléculas de GEE sobre o total de moléculas do ar seco. Por exemplo: 200 ppm significa que há 200 moléculas de determinado GEE por milhão de moléculas de ar seco. 5 As informações contidas nessa seção foram retiradas integralmente da Cartilha: CNI- Confederação Nacional da Indústria. Estratégias Corporativas de Baixo Carbono: Gestão de Riscos e Oportunidades/ Confederação Nacional da Indústria. Brasília, 2011 5

A transição para uma economia de baixo carbono é um desafio que exigirá mudanças profundas nos modelos atuais de produção, gestão, usos da energia/insumos e consumo. Entretanto, o processo de transição cria oportunidades para investimentos em inovação tecnológica, desenvolvimento de novos processos produtivos mais eficientes e criação de novos produtos. Dessa forma, o controle das emissões de gases de efeito estufa não é uma questão meramente ambiental imposta por atos regulatórios ou pressões sociais, também é uma questão imposta por pressões do mercado que demanda redefinição de estratégias corporativas a médio e longo prazo. As mudanças climáticas entraram na agenda corporativa para se tornar um dos mais importantes fatores que afetam o ambiente de suas operações. No Brasil, isso pode ser observado pela intensificação da criação de políticas públicas, em âmbito local, demandando ações relacionadas a restrições de emissões de GEE como, por exemplo, a instituição da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) que visa, sobretudo, à redução das emissões antrópicas de GEE em relação às suas diferentes fontes. Da mesma forma, empresas com atuação global já são afetadas fortemente pelos desdobramentos das Mudanças Climáticas, tanto do lado da oferta/demanda de seus produtos no comércio internacional como pela expansão geográfica dos seus negócios. BENEFÍCIOS PARA AS EMPRESAS Diversos são os benefícios oriundos da inserção do tema Mudanças Climáticas na estratégia corporativa das empresas. A tendência mundial é que empresas inovadoras e grandes corporações busquem o desenvolvimento de estratégias com foco na proteção de seu valor por meio da mitigação de riscos associados às Mudanças Climáticas e seus custos, vulnerabilidades e regulamentações. Paralelamente, estratégias serão desenvolvidas para elevar o valor das empresas, aproveitando oportunidades emergentes do engajamento mundial às questões ligadas às Mudanças Climáticas. Os fatores condicionantes à inclusão das questões das Mudanças Climáticas nos negócios consistem nas oportunidades e nos riscos de natureza social, econômica, política/institucional e técnica/tecnológica. Essas dimensões são interdependentes e compreendem as motivações que nortearão o planejamento estratégico e os planos de ações ligados à nova economia de baixo carbono. Alguns exemplos de riscos e oportunidades: RISCOS Riscos operacionais: incorrem em custos devido ao reparo de estruturas danificadas por eventos climáticos extremos, custos com o aumento dos seguros e resseguros, aumento dos preços de commodities; Riscos regulatórios: implicam em custos devido ao pagamento de taxas e impostos sobre produtos e serviços carbono-intensivo, pagamento de multas caso as metas mandatórias de redução não sejam alcançadas; Riscos reputacionais e competitivos: levam a custos pela perda da fatia de mercado, menor acesso a fontes de capital, perda do valor da marca. Riscos financeiros: decorrem dos riscos acima que implicam em custos adicionais para as empresas. Alguns desses riscos são difíceis de serem incorporados no balanço financeiro da empresa, como por exemplo, a perda de valor da marca. OPORTUNIDADES Oportunidades operacionais: oportunidades de aperfeiçoamento operacional por meio de reciclagem ou reutilização, melhoria da eficiência de processos e produtos (e.g. eficiência energética). Essas melhorias tendem a gerar redução nos custos de energia pela substituição das fontes usualmente adotadas por fontes mais limpas e renováveis; Oportunidades regulatórias: antecipação e influência sobre as futuras regulamentações, podendo assumir um papel de liderança no seu setor; 6

Oportunidades reputacionais e competitivas: melhoria de reputação, imagem, conhecimento e propagação da marca/produtos. As inovações geradas por meio do desenvolvimento de novas tecnologias/produtos/processos em seu setor possibilitam também o acesso a novos mercados; Oportunidades financeiras: decorrem da economia de custos, geração de novas receitas (aumento da venda de seus produtos devido às preferências e demandas dos consumidores por produtos menos carbono intensivos ou participação nos mercados de carbono), maior facilidade a créditos e acesso a programas de financiamento diferenciado. 4. INICIATIVAS EMPRESARIAIS NO BRASIL O setor empresarial brasileiro já se movimenta em direção ao tema e medidas vêm sendo criadas no país ao mesmo tempo em que iniciativas internacionais vêm sendo incorporadas ao contexto nacional. Entre as medidas estão os programas de contabilização e redução de emissões de GEE e indicadores que tem por objetivo avaliar o grau de comprometimento das empresas com as questões das Mudanças Climáticas. Destacam-se o/a: Programa Brasileiro GHG Protocol Plataforma Empresas Pelo Clima (EPC) Carbon Disclosure Project (CDP) Global Reporting Initiative (GRI) Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) Índice Carbono Eficiente (ICO2) 7

PROGRAMA BRASILEIRO GHG PROTOCOL O QUE É O Programa Brasileiro GHG Protocol é responsável por aplicar a metodologia GHG Protocol no Brasil. O GHG Protocol é uma abreviação para The Greenhouse Gas Protocol A Corporate Accounting and Reporting Standard. É a metodologia para inventário de GEE mais utilizada mundialmente por empresas e governos para entender, quantificar e gerenciar suas emissões. É compatível com as normas da ISO e com as metodologias de quantificação do IPCC. OBJETIVO Estimular a cultura corporativa do inventário de emissões de GEE, proporcionando aos participantes acesso a instrumentos e padrões de qualidade internacional para contabilização das emissões e publicação dos inventários. A metodologia GHG Protocol foi desenvolvida em 1998 e revisada em 2004 pelo World Resources Institute (WRI) em associação com o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e outras empresas, ONGs e governos. Em 2008, foi criado o Programa Brasileiro GHG Protocol, que é aplicado de modo adaptado ao contexto nacional. O Programa Brasileiro foi lançado e implementado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces) e WRI, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, CEBDS, WBCSD e 27 empresas fundadoras. RESULTADOS Fundado for um grupo de 27 empresas, atualmente o Programa já reúne mais de 70 corporações. Em 2010, foi lançado o Registro Público de Emissões de GEE, uma plataforma nacional eletrônica para publicação de inventários corporativos e organizacionais, pioneiro no país. No mesmo ano, foi publicado a Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol, que auxilia as empresas a desenvolver seus inventários. www.fgv.br/ces/ghg INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA Objetivo Quantificar e organizar dados sobre emissões com base em padrões e protocolos e atribuir essas emissões corretamente a uma unidade de negócio, operação, empresa, país ou outra entidade. Processo de elaboração do inventário de GEE Um inventário de emissões deve ser estabelecido como um processo contínuo, que permita identificar a evolução dos esforços de mitigação de uma instituição e aprimorar essas medidas progressivamente. Para que o inventário seja bem sucedido, sua elaboração deve seguir os cinco princípios que fazem parte do padrão GHG Protocol Corporate Standard e da norma ISO 14064-1: relevância, integralidade, consistência, transparência e exatidão. Além disso, para a realização dos inventários corporativos, o GHG Protocol estabelece seis passos básicos: 1. Definir os limites organizacionais 2. Definir os limites operacionais 3. Selecionar a metodologia de cálculo e fatores de emissão 4. Coletar dados 5. Calcular as emissões 6. Elaborar o relatório de emissões de GEE 8

PLATAFORMA EMPRESAS PELO CLIMA (EPC) O QUE É É uma plataforma empresarial permanente que avança no contexto do mapeamento, gestão e redução de emissões de GEE através da formação contínua em mudanças climáticas, além da elaboração de políticas corporativas e contribuição para políticas públicas em clima. Nascido a partir da experiência do Programa Brasileiro GHG Protocol, vem dar um passo adiante ao servir de foro para as empresas construírem suas estratégias de mitigação de gases e de riscos associados às mudanças climáticas, inclusive em matéria de adaptação, no rumo à economia de baixo carbono. OBJETIVO A Plataforma visa capacitar lideranças empresariais no âmbito das mudanças climáticas para a gestão e redução das emissões de GEE, gestão de riscos climáticos e proposição de políticas públicas para uma economia de baixo carbono no Brasil. O EPC tem um ciclo de atividades que se renova conforme a agenda das empresas e do Brasil em assuntos relacionados às mudanças climáticas. Lançada em outubro de 2009 pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces) com o apoio da Embaixada Britânica no Brasil, o EPC iniciou suas atividades com a participação de 27 empresas fundadoras, entre membros fundadores do Programa Brasileiro GHG Protocol e outras empresas de segmentos diversos. Conta hoje com 40 empresas e com a parceria internacional da rede The Prince of Wales Corporate Leaders Group (CLG), liderada pelo Príncipe de Gales e coordenada pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. RESULTADOS Ao aderir à Plataforma as empresas assumem o compromisso de publicar seus inventários de GEE de acordo com a metodologia do Programa Brasileiro GHG Protocol e desenvolver políticas e planos de gestão dos gases de efeito estufa de modo a garantir competitividade, inovação e o estímulo ao posicionamento em prol de uma economia de baixo carbono no país. Além do comprometimento individual de cada empresa do EPC, a Plataforma obteve resultados positivos em 2010 em suas diversas esferas: Geração de conhecimento: Elaboração dos estudos Especificações do Programa Brasileiro GHG Protocol e Propostas empresariais de políticas públicas para uma economia de baixo carbono no Brasil: Energia, Transportes e Agropecuária e divulgação no Corporate Leaders Group Japonês, Relatório de Sustentabilidade Abril, CDP, Newsletter CLG, revista Página 22 e revista Brasil Sustentável; Intercâmbio Empresarial: Articulação com representantes do Corporate Leaders Group; presença de representantes de plataformas empresariais internacionais, CEOs e alta direção no Evento Anual do EPC 2010; participação no Side Event no Espaço Brasil na COP16 com CNI e CEBDS; Articulação Política: Construção conjunta de Propostas empresariais de políticas públicas para uma economia de baixo carbono no Brasil: Energia, Transportes e Agropecuária, endossadas pela maioria das empresas do EPC e levadas à Casa Civil em Brasília em 2011; Comunicação: Divulgação das atividades e aos diversos setores da sociedade em reconhecimento da iniciativa pelos principais veículos de comunicação do país: publicação impressa no Valor Econômico, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Página 22 e Exame; publicação eletrônica na Point Carbon, ABDL, Sustainable Carbon, Eco Sustentável, Carbono Brazil e Observatório do Clima. www.fgv.br/ces/epc 9

CARBON DISCLOSURE PROJECT (CDP) O QUE É O Carbon Disclosure Project (CDP) é uma organização independente, sem fins lucrativos e localizada em Londres, que detém o maior banco de dados global em impacto climático corporativo do mundo. OBJETIVO Acelerar a criação de soluções e mitigar os efeitos do câmbio climático através da divulgação de informações relevantes do cerne dos negócios, políticas e decisões de investimento. Dessa forma, o CDP prospera ao unir o poder coletivo das corporações, investidores e líderes políticos para catalisar uma ação unificada de enfrentamento das mudanças climáticas. Foi criada em 2000 e o primeiro questionário foi enviado às 500 maiores empresas do planeta. Atualmente, cerca de 3.000 organizações em 60 países medem e divulgam suas emissões de GEE e estratégias de governança climática através do CDP. A participação de instituições brasileiras aumentou em 2010, com a adesão de 55 signatários nacionais (quase 11% do total mundial de entidades participantes). No mesmo ano, o CDP estabeleceu mais uma sucursal, desta vez em São Paulo, com competência para toda a América do Sul e México o CDP South America. RESULTADOS O CDP é o único sistema de reporte climático do mundo que representa 551 investidores globais com mais de U$ 71 trilhões em ativos sob gestão e tem entre seus respondentes grandes multinacionais como a Dell, Vale, PepsiCo e Walmart. Os resultados do questionário do CDP entre as empresas brasileiras em 2010 revelam que: 1. A porcentagem de empresas que aloca a responsabilidade do tema da mudança global do clima para conselhos ou alta administração aumentou em relação ao ano passado (de 59% para 67%); 2. Várias empresas (33%) já oferecem incentivos, inclusive financeiros, para o cumprimento de metas e ações de gerenciamento de GEE; 3. As empresas brasileiras continuam a identificar riscos e oportunidades decorrentes da mudança global do clima, porém várias delas não identificam implicações financeiras diretas decorrentes desses riscos e oportunidades; 4. Poucas empresas (22%) possuem metas de redução de emissão de GEE, no entanto, um número maior realiza atividades de redução de emissão (56%); 5. O engajamento nas discussões públicas sobre o tema é grande entre as empresas (63%); 6. O número de empresas que reportaram emissões de GEE aumentou (de 67% para 72%), sendo que quase a totalidade das empresas utiliza o GHG Protocol como uma referência para a realização dos seus inventários. O total de emissões reportadas dentro do Escopo 1 foi de aproximadamente 115 milhões de toneladas de CO2 equivalente; 7. A quantidade de inventários que são verificados externamente continua baixa (31%), o que coloca dúvidas sobre a qualidade e aderência dos inventários frente aos princípios do GHG Protocol; 8. A participação das empresas no mercado de carbono diminuiu em 2010 (de 56% para 24%), talvez como reflexo da crise que o mercado enfrenta (decorrente da crise econômica e incertezas sobre o regime climático pós-2012). www.cdproject.net 10

GRI GLOBAL REPORTING INITIATIVE O QUE É O Global Reporting Initiative (GRI) é uma ampla rede multistakeholder composta por milhares de especialistas de dezenas de países em todo o mundo que colabora no desenvolvimento de normas globais de elaboração de relatórios de sustentabilidade. O relatório de sustentabilidade é a principal ferramenta de comunicação do desempenho social, ambiental e econômico das organizações. O modelo de relatório do Global Reporting Initiative (GRI) é atualmente o mais completo e mundialmente difundido. OBJETIVO O GRI foi criado com o objetivo de elevar as práticas de relatórios de sustentabilidade a um nível de qualidade equivalente ao dos relatórios financeiros. O conjunto de diretrizes e indicadores do GRI visa proporcionar a comparabilidade, credibilidade, periodicidade e legitimidade da informação na comunicação do desempenho social, ambiental e econômico das organizações. As primeiras diretrizes para elaboração de relatórios de sustentabilidade do GRI foram lançadas em 2000. Naquele ano, 50 organizações publicaram seus relatórios de sustentabilidade baseados nas diretrizes GRI. Em 2007, foi criado o ponto focal da GRI no Brasil e iniciado o processo de construção do treinamento oficial para elaboração dos relatórios de sustentabilidade com base no modelo da entidade. O UniEthos, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces) e a consultoria BSD Brasil formaram uma parceria para se credenciarem para a realização do curso certificado pelo GRI. Em fevereiro de 2008, a parceria das três entidades foi a primeira do mundo a alcançar a certificação. RESULTADOS Até o momento, cerca de 1000 organizações em mais de 60 países declararam usar a Estrutura de Relatórios de Sustentabilidade do GRI. www.globalreporting.org

ISE ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL O QUE É O ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial é um índice que mede o retorno total de uma carteira teórica composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial (no máximo 40). Tais ações são selecionadas entre as mais negociadas na BOVESPA em termos de liquidez, e são ponderadas na carteira pelo valor de mercado das ações disponíveis à negociação. O índice constitui ferramenta para análise comparativa da performance das empresas listadas na BOVESPA sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada na eficiência econômica, no equilíbrio ambiental, na justiça social e na governança corporativa. As empresas são diferenciadas em termos de qualidade, nível de compromisso, transparência, desempenho, servindo como um referencial para investidores com preocupações éticas. OBJETIVO O índice é uma iniciativa pioneira na América Latina e busca criar um ambiente de investimento compatível com as demandas de desenvolvimento sustentável da sociedade contemporânea e estimular a responsabilidade ética das corporações. Já há alguns anos iniciou-se uma tendência mundial dos investidores procurarem empresas socialmente responsáveis, sustentáveis e rentáveis para aplicar seus recursos. O resultado é a geração de valor para o acionista no longo prazo, pois estas empresas estão mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais. Atentas a isso, a BM&FBOVESPA, em conjunto com várias instituições ABRAPP, ANBIMA, APIMEC, IBGC, IFC, Instituto ETHOS e Ministério do Meio Ambiente decidiram unir esforços para criar o ISE em 2005. Para avaliar a performance das empresas listadas na BOVESPA com relação aos aspectos de sustentabilidade, o Conselho contou com a expertise do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (Gvces), que se tornou então a instituição responsável por realizar o desenho metodológico do ISE, que está em constante aprimoramento. RESULTADOS A carteira do ISE BM&FBovespa que vai vigorar de 3 de janeiro a 29 de dezembro de 2011 reúne 47 ações de 38 companhias. Elas representam 18 setores e somam R$ 1,17 trilhão em valor de mercado, o equivalente a 46,1% do valor de mercado total das companhias com ações negociadas na BM&FBOVESPA (em 24/11/2010). www.bmfbovespa.com.br/indices 12

ICO2 ÍNDICE CARBONO EFICIENTE O QUE É Indicador que leva em consideração, para ponderação das ações das empresas componentes, seu grau de eficiência de emissões de GEE, além do free float (total de ações em circulação) de cada uma delas. É composto pelas ações das empresas participantes do índice IBrX-50 (que lista as empresas brasileiras mais negociadas na Bovespa) que aceitaram participar dessa iniciativa adotando práticas transparentes com relação a suas emissões de gases efeito estufa (GEE). OBJETIVO A proposta é que o ICO2 seja um instrumento econômico de incentivo à adoção de práticas de gestão ambiental com foco em Mudanças Climáticas. Nesse sentido, acredita-se que o ICO2 incentivará as empresas a mensurar, gerir e reportar suas emissões de GEE, provendo mais transparência aos acionistas e ao mercado, bem como gerando oportunidades de investimento para investidores preocupados com as questões climáticas. O ICO2 visa mensurar o retorno de uma carteira teórica constituída por papéis do IBrX-50 reponderados em função do grau de eficiência da emissão de GEE das empresas. O grau de eficiência é dado pela relação entre emissões de GEE da empresa e sua receita. A partir desse indicador, uma empresa é comparada com empresas do mesmo setor e com a média geral das empresas do índice. Utiliza-se este benchmarking para redefinir o peso de cada ação dentro do índice. Dessa forma, empresas com menor relação emissões de GEE/receita terão maior eficiência em relação às demais no setor e, consequentemente, tenderão a aumentar seu peso no ICO2 comparativamente à sua participação no IBrX-50. Considerando as preocupações do mundo com o aquecimento global, grande desafio da humanidade neste século, a BM&FBOVESPA e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), numa iniciativa conjunta, decidiram criar um novo índice de mercado o Índice Carbono Eficiente (ICO2). Atualmente, este índice possui 46 empresas, das quais 14 já inventariaram suas emissões de GEE, segundo a BM&FBovespa. RESULTADO Houve uma participação significativa das empresas no ICO2: das 58 empresas convidadas, 51 empresas aderiram ao índice. Outro resultado foi a forte mobilização interna das empresas para realizarem seus inventários. Antes, cerca de 70% das empresas do IBrX-50 não reportavam dados de emissões. Após a adesão ao índice, passaram a ser calculadas as emissões das 51 empresas. www.bmfbovespa.com.br/indices 13