APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO Nº 5007894-13.2012.404.7100/RS RELATOR : OTÁVIO ROBERTO PAMPLONA APELANTE : APELADO : CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - CRF/RS SINDICATO DO COMÉRCIO VAREJISTA DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ADVOGADO : MÁRCIO MACHADO GARCIA RELATÓRIO Trata-se de apelação contra a sentença que manteve a antecipação de tutela, para suspender a exigibilidade das anuidades cobradas pelo Conselho Regional das filiais das pessoas jurídicas sediadas neste estado e filiadas ao Sindicato Autor, e julgou procedente a ação, declarando de forma definitiva o direito das filiais substituídas pelo sindicato autor não se submeterem ao pagamento das anuidades, sempre que as respectivas matrizes já se submetem a tal pagamento. Apelou o CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA, alegando, em preliminar, que os créditos das anuidades são contribuições parafiscais que constituem renda do Conselho Federal de Farmácia, o que impõe a sua integração à lide na condição de litisconsórcio necessário, haja vista o reflexo direto da decisão afetar o seu patrimônio. No mérito, alegou que as filiais possuem personalidade jurídica própria, e o estabelecimento autonomia tributária em relação ao estabelecimento matriz, inclusive as filiais que não possuem capital social individualizado. Por fim, prequestionou a matéria. Com contrarrazões, vieram os autos a esta Corte. É o relatório. VOTO Do litisconsórcio passivo necessário Rejeito a preliminar, porquanto o Conselho Federal de Farmácia não é parte legítima para figurar no polo passivo da demanda, já que a competência para os atos de arrecadação da taxa de ART são do Conselho Regional, conforme já decidido por esta 2ª Turma: AGRAVO LEGAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. CREA/PR. ANUIDADES. LEGITIMIDADE PASSIVA PARA O FEITO. LITISCONSÓRCIO PASSIVO COM O CONFEA E A MÚTUA. DESCABIMENTO. Cabe aos Conselhos Regionais arrecadar anuidades, multas e emolumentos e adotar todas as medidas destinadas à efetivação de sua receita, tendo, portanto, legitimidade passiva para o feito. Assim, não há falar em imperiosidade da formação de litisconsórcio com as entidades que recebem parcela do tributo discutido, na medida em que a legitimidade passiva decorre da circunstância de o Conselho Regional ser o responsável pela arrecadação da taxa. (TRF4, Agravo Legal em Agravo de Instrumento 5011479-33.2012.404.0000/PR,
Segunda Turma, Relatora Des. Federal Luciane Amaral Corrêa Münch, D.E. 19/09/2012) É que os efeitos diretos de eventual procedência estendem-se tão somente à entidade responsável pelo registro e pela exigência da contribuição, ou seja, ao Conselho Regional respectivo, conforme se extrai dos termos dos arts. 27 e 34 da Lei nº 5.194/66: 'Art. 27. São atribuições do Conselho Federal: p) fixar e alterar anuidades, emolumentos e taxas a pagar pelos profissionais e pessoas jurídicas referidos no art. 63. ' 'Art. 34. São atribuições dos Conselhos Regionais: k) cumprir e fazer cumprir a presente lei, as resoluções baixadas pelo Conselho Federal, bem como expedir atos que para isso julguem necessários;' Aliás, esse é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, que entendeu inconsistente a tese de litisconsórcio passivo necessário, in verbis: 'PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. ARTIGOS 458, III E 535, II DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. VIOLAÇÃO. INOCORRÊNCIA. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO NÃO CARACTERIZADO. JULGAMENTO EXTRA PETITA NÃO CONFIGURADO. ACÓRDÃO FUNDAMENTADO EM MATÉRIA CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL. FALTA. INTERPOSIÇÃO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SÚMULA 126/STJ. ANUIDADE DEVIDA A CONSELHO REGIONAL DE FISCALIZAÇÃO DE ATIVIDADES PROFISSIONAIS. FIXAÇÃO. EXIGÊNCIA DE LEI. 1. A tese de litisconsórcio passivo necessário é inconsistente, visto o Conselho Regional é quem recolhe e administra as anuidades que serão repassadas ao Conselho Federal. Precedentes. 2. Atendo-se a prestação jurisdicional aos limites do pedido deduzido na exordial, rejeita-se o propalado julgamento extra petita. 3. Não incorre em violação aos artigos 458, III e 535, II do Código de Processo Civil, acórdão regional que analisa fundamentadamente todas as questões relevantes para a solução da lide postas em julgamento. 4. O acórdão recorrido decidiu pela necessidade de lei para fixação da anuidade devida aos Conselhos Regionais que fiscalizam as categorias profissionais, em razão de ostentarem a natureza de contribuição social, sob enfoque constitucional e infraconstitucional, ambos argumentos suficientes para mantê-lo. Contudo, o recorrente deixou de interpor simultaneamente o recurso extraordinário, o que impede a cognição do recurso especial, ante o intransponível óbice da Súmula 126 desta Corte. 5. Recurso especial improvido.' (REsp 639757/GO, 2004/0014441-0, Rel. Min. CASTRO MEIRA, T2, j. 18/10/2005, p. DJ 07/11/2005, p. 205). Do mérito As anuidades devidas aos Conselhos de Fiscalização Profissional possuem fundamento jurídico no art. 149 da Magna Carta, o qual atribui à União a competência para a instituição das contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas. Por possuírem a natureza jurídica de tributos, as referidas contribuições submetem-se aos princípios que regem o Sistema Tributário Nacional, em especial o princípio da legalidade tributária (art. 150, I, CF/88).
O art. 1º, da Lei nº 6.839/80, estabelece a obrigatoriedade de inscrição junto aos Conselhos de Fiscalização das empresas que exercem as atividades por eles fiscalizadas. Neste sentido, cito o referido dispositivo. Lei nº 6.839/80 - Art. 1º 'O registro de empresas e a anotação dos profissionais legalmente habilitados, delas encarregados, serão obrigatórios nas entidades competentes para a fiscalização do exercício das diversas profissões, em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros.' A legislação de regência, na sua origem, definiu o organismo societário como uma unidade, e sob esta ótica estabeleceu a obrigatoriedade do registro na autarquia encarregada da fiscalização da atividade regulamentada, e excluiu a obrigação do registro e do pagamento das anuidades dos estabelecimentos filiais localizados em mesma circunscrição regional de sua matriz, quando não possuam autonomia financeira e capital destacado. Nestes termos a regra regulamentar dos 3º e 4º do art. 1º do Decreto nº 88.147/83, reeditando a norma regulamentada do art. 1º, 3º, da Lei nº 6.994/82, de forma expressa exclui a obrigatoriedade de registro da filial da empresa junto ao órgão fiscalizador, se estiver sediada na mesma jurisdição da matriz que possui registro: Decreto 88.147/83 '... 3º. A fixação do valor da anuidade a ser recolhida por filiais ou representações ou qualquer outro estabelecimento da mesma pessoa jurídica, instaladas em jurisdição de outro Conselho Regional, não excederá a metade do valor da anuidade paga pela matriz ou estabelecimento base. 4º. As filiais ou representações de pessoas jurídicas localizadas na jurisdição do Conselho de sua sede, com capital social destacado, pagarão anuidade na forma do artigo 1º deste Decreto, com base no seu capital, com observância do limite constante do anterior...' Lei 6.994/82 ' Art 1º - O valor das anuidades devidas às entidades criadas por lei com atribuições de fiscalização do exercício de profissões liberais será fixado pelo respectivo órgão federal, vedada a cobrança de quaisquer taxas ou emolumentos além dos previstos no art. 2º desta Lei. 3º - As filiais ou representações de pessoas jurídicas instaladas em jurisdição de outro Conselho Regional que não o de sua sede pagarão anuidade em valor que não exceda à metade do que for pago pela matriz...' Com base na legislação referida esta Corte já pacificou a sua jurisprudência nos termos da sentença impugnada: EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA. CASAN. ANUIDADE. AFT. FILIAL. HONORÁRIOS. CUSTAS. 1. As anuidades devidas aos Conselhos de Fiscalização Profissional possuem fundamento jurídico no art. 149 da Magna Carta, o qual atribui à União a competência para a instituição das contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas. 3. O art. 1º, 3º, da Lei nº 6.994/82, expõe que as filiais de pessoas jurídicas somente são obrigadas ao pagamento das anuidades desde que instaladas em jurisdição de outro Conselho Regional que não o da sua sede. A contrario sensu, as filiais situadas na mesma área de atuação do
Conselho de Fiscalização de sua matriz, como no caso em comento, estão isentas do pagamento da anuidade. (TRF4, APELAÇÃO CÍVEL Nº 0003813-76.2011.404.9999, 1ª Turma, Des. Federal JOEL ILAN PACIORNIK, POR UNANIMIDADE, D.E. 19/05/2011) TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA. EMPRESA DE TRATAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO. FILIAL. ANUIDADES E TAXA DE EXPEDIÇÃO DE AFT. INEXIGIBILIDADE. 1. A empresa que explora os serviços de água e esgoto, atividade que demanda procedimentos essencialmente químicos, está obrigada ao registro no Conselho Regional de Química e ao pagamento da respectiva anuidade. 2. A atividade de filial situada no mesmo Estado da matriz, entretanto, não enseja pagamento de anuidade específica, pois ambas situam-se em território coberto pelo mesmo Conselho Regional, incidindo o disposto no 3º do art. 1º da Lei 6994/82, que admite o pagamento por filial, apenas se situada sob a jurisdição de outro Conselho Regional, e nos limites que estabelece. (TRF4, APELAÇÃO CÍVEL Nº 0003812-91.2011.404.9999, 2ª Turma, Juíza Federal CARLA EVELISE JUSTINO HENDGES, POR UNANIMIDADE, D.E. 26/05/2011) EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA. EMPRESA DE TRATAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO. FILIAL. ANOTAÇÃO DE FUNÇÃO TÉCNICA. 1. A empresa que explora os serviços de água e esgoto, atividade que demanda procedimentos essencialmente químicos, está obrigada ao registro no Conselho Regional de Química. 2. Não há a exigência do registro da empresa embargante junto ao Órgão Fiscalizador pelo fato de se tratar de estabelecimento filial sediado na mesma jurisdição de sua matriz com sede em Florianópolis, e que, a seu turno, possui registro. 5. Apelo improvido. (TRF4, Apelação Cível Nº 5000193-15.2010.404.7215, 2a. Turma, Juiza Federal VÂNIA HACK DE ALMEIDA, POR UNANIMIDADE,) No entanto, merece reparo em parte a sentença no ponto, para limitar a inexigibilidade de registro e do pagamento das contribuições parafiscais das anuidades apenas aos estabelecimentos filiais que não sejam dotados de autonomia financeira e com capital destacado. Do Prequestionamento Saliento, por fim, que o enfrentamento das questões apontadas em grau de recurso e a análise da legislação aplicável, são suficientes para prequestionar junto às instâncias Superiores os dispositivos que as embasam. Deixo de aplicar os dispositivos legais tidos como aptos a obter pronunciamento jurisdicional diverso do que até aqui foi declinado. Dessa forma, evita-se a necessidade de oposição de embargos de declaração tão-somente para este fim, o que evidenciaria finalidade procrastinatória do recurso, passível de cominação de multa (artigo 538 do CPC). Ante o exposto, voto por dar parcial provimento à apelação. Desembargador Federal Otávio Roberto Pamplona Relator Documento eletrônico assinado por Desembargador Federal Otávio Roberto Pamplona, Relator, na
forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador 6054421v3 e, se solicitado, do código CRC157A3E46. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): Otávio Roberto Pamplona Data e Hora: 11/09/2013 12:09