VI JORNADA NACIONAL DE ECONOMIA DA SAÚDE Brasília, 2012 Debatedora: Maria Alicia D. Ugá

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Transcrição:

VI JORNADA NACIONAL DE ECONOMIA DA SAÚDE Brasília, 2012 Debatedora: Maria Alicia D. Ugá

Incentivos públicos ao setor privado (deduções fiscais sobre a base do IR devido) Incentivos fiscais ao setor filantrópico Dependência do SUS em relação à oferta hospitalar privada Dependência da maioria dos hospitais filantrópicos em relação à compra de seus serviços pelo SUS Dependência do segmento da Saúde Suplementar da oferta SUS => Restrições ao uso de serviços da rede privada

O setor privado apresenta uma oferta per capita de leitos e equipamentos bem maior que a do SUS. Entretanto, expulsa os seus clientes para o SUS quando eles se tornam demandantes de serviços de saúde. Esse fenômeno tem crescido nos últimos anos. E se dá através de inúmeros mecanismos - implementados pelas operadoras de planos de saúde - de restrição ao uso de serviços de saúde.

1. LEITOS Oferta (superestimada) de leitos SUS: 1,81 leitos/1000 habitantes Oferta (subestimada) de leitos para clientes de planos privados de saúde: 2,90 leitos/1000.

Extraído de: Santos, Ugá e Porto (2009) 2. EQUIPAMENTOS Número de equipamentos de média e alta complexidade por 100.000 hab, segundo SUS e Não-SUS Brasil 2005. Equipamentos (por 100.000 habitantes) SUS Privado Mamógrafo 0,912 4,461 Litotripsor 0,163 0,654 Ultra-sonografia 3,891 20,170 Tomógrafo Computadorizado 0,595 2,466 Ressonância Magnética 0,131 0,879 Radioterapia 0,168 0,270

Apesar da superioridade da oferta da saúde suplementar, a utilização de serviços de saúde (atendimentos e internações) é preponderantemente financiada pelo SUS: A maior parte das pessoas que usaram serviços de saúde em 2008 (PNAD) o fizeram através do SUS.

Fonte: PNAD/IBGE 1998 e 2008 Extraído de: Porto et al, 2011 Região Ano SUS Plano Privados Gasto Privado Direto Norte 1998 73,4 17,33% 9,26% 2008 81,8 12,69% 5,50% Nordeste 1998 83,1 13,67% 3,22% 2008 83,9 12,48% 3,66% Sudeste 1998 58,2 36,16% 5,64% 2008 59,5 35,71% 4,75% Sul 1998 63,3 23,9% 12,8% 2008 65,4 25,7% 8,9% Centro Oeste 1998 60,5 23,75% 15,71% 2008 66,2 23,63% 10,18% BRASIL 1998 67,1 25,56% 7,34% 2008 69,6 24,77% 5,65%

Fonte: PNAD/IBGE 1998 e 2008 Extraído de: Porto et al, 2011 Tipo de atendimento Ano SUS Plano Privados Gasto Privado Direto Consulta médica Consulta odontológica Quimioterapia, radioterapia, hemodiálise, ou hemoterapia Cirurgia em ambulatório Exames complementares 1998 58,6 32,9 8,5 2008 62,8 29,6 7,7 1998 28,7 19,8 51,5 2008 30,5 17,9 51,6 1998 N/A N/A N/A 2008 73,3 24,2 2,5 1998 51,7 40,6 7,8 2008 51,7 36,6 11,7 1998 51,5 39,7 8,9 2008 59,2 30,2 10,6 TOTAL 1998 56,1 30,4 13,5 2008 58,6 27,0 14,4

Apesar da superioridade da oferta da saúde suplementar, as operadoras de planos de saúde inibem o uso de serviços de saúde através de inúmeros mecanismos e, assim, aumentou na última década o percentual de pessoas com plano que usaram serviços do SUS.

Atendimentos realizados pelo SUS a pessoas com plano de saúde % 1998 2003 2008 Consulta médica 6,2 6,5 7,5 Consulta odontológica 7 7,4 8,2 Consulta de outro profissional 7,4 8,7 9,8 Quimioterapia, radioterapia, hemodiálise, hemoterapia n/a 11,5 12,8 Cirurgia em ambulatório 5,8 7,2 8,7 Exames complementares 6,4 8,4 8,8 Outro atendimento 9,3 9,5 13,8 % de pessoas com plano atendidas pelo SUS 6,6 7 8,1 Fonte: PNAD/IBGE, 1998,2003 e 2008. Extraído de Porto et al, 2011

Internações realizadas pelo SUS para pessoas com plano de saúde % 1998 2003 2008 Tratamento clínico 5,2 6 6,8 Parto normal 4,8 6 7,4 Parto cesáreo 5,8 7,3 7,2 Cirurgia 8,4 9 8,8 Tratamento psiquiátrico 3,5 4,2 8,1 Exames 6 7,7 8,4 % de pessoas com plano internadas pelo SUS 5,7 6,7 7,3 Fonte: PNAD/IBGE, 1998, 2003 e 2008. Extraído de Porto et al, 2011

Apesar da superioridade da oferta da saúde suplementar, as operadoras de planos de saúde inibem o uso de serviços de saúde através de inúmeros mecanismos. Dentre eles, o tempo de espera, mas principalmente a negativa de cobertura explicitamente, conforme analisado por Machado (2011) a partir das queixas efetuadas por clientes de planos de saúde à ANS.

Os principais motivos alegados pelas operadoras para a negativa de cobertura foram: a falta de rede de serviços (17%) o fato de o procedimento não constar no rol (16%) e, em nada menos que 16% dos casos, sequer informaram o motivo da negativa de cobertura, conforme analisado por Machado (2011) a partir das queixas efetuadas por clientes de planos de saúde à ANS.

Os principais serviços negados foram: Procedimentos e exames diagnósticos (35%) Procedimentos cirúrgicos (33%) Procedimentos clínicos (16%) conforme analisado por Machado (2011) a partir das queixas efetuadas por clientes de planos de saúde à ANS.

Extraído de Machado, J. (2011)

Na maior parte dos procedimentos e exames negados, i.é. em 66% dos casos, essa negativa era improcedente, não justificável, conforme analisado por Machado (2011) a partir das queixas efetuadas por clientes de planos de saúde à ANS.

15% Não 19% Não foi possível concluir Sim 66% Extraído de Machado, J. (2011)

A ANS publicou em 20/6/2011 a RN nº 259 que estipula prazos máximos de espera dos clientes de operadoras de planos de saúde aos serviços e procedimentos por eles contratados. Os prazos máximos variam segundo o tipo de exame ou procedimento. Esta medida introduz um avanço no acesso das pessoas que possuem planos de saúde privados aos serviços por elas contratados. MAS ATINGE APENAS A PONTA DO ICEBERG. Pois não contempla a extensa gama de mecanismos pelos quais as operadoras de planos privados de saúde limitam o acesso dos seus clientes aos serviços no momento em que eles os necessitam.

Dessa forma, o gasto em planos de saúde privados, que representa cerca de 22% do gasto total em saúde, se superpõe ao gasto do SUS, mas não desonera o SUS da prestação de serviços às pessoas que possuem planos de saúde. Este gasto privado, superposto ao do SUS, não libera, portanto, o sistema público dos atendimentos e internações de mais alto custo. Assim é fácil ter lucro...