Avaliação do efeito da ferrugem asiática no custo operacional efetivo da soja no Estado do Mato Grosso. Antonio Gilberto Everaldo Junior Aluno do 4ºano da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz de Engenharia Agronômica -ESALQ USP; CIC: 332081008-17 Av. Pádua Dias, 218. everaldo@esalq.usp.br Mauro Osaki Pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada CEPEA; CIC:18385529870 Av. Pádua Dias, 11. mosaki@esalq.usp.br Área temática 1 - Comercialização, Mercados e Preços Agrícolas. Apresentação com presidente da sessão e sem a presença de debatedor
Avaliação do efeito da ferrugem asiática no custo operacional efetivo da soja no Estado do Mato Grosso. Resumo: O presente trabalho apresenta informações sobre os custos do controle da ferrugem asiática, como também uma análise do impacto desta no custo de produção de soja, em três safras do estado do Mato Grosso: 2000/2001, 2003/2004 e 2004/2005. A presença da doença refletiu em aumento do custo operacional efetivo (COE), chegando a representar na safra de 2004/2005 14,40% do COE. Os maiores impactos ficaram por conta da alta dos defensivos agrícolas e dos fertilizantes. Palavras Chave: Ferrugem Asiática; Custo de Produção da Soja; Soja.
Avaliação do efeito da ferrugem asiática no custo operacional efetivo da soja no Estado do Mato Grosso. 1-Introdução: O complexo soja confere ao Brasil a posição de segundo maior produtor do grão no mundo, tendo produzido em 2003/2004 cerca de 50 milhões de toneladas, e em 2004/2005, segundo o levantamento da CONAB, espera-se produzir por volta de 53 milhões de toneladas. A cultura da soja é uma das principais atividades agrícolas do país e por isso a produção e a comercialização da oleaginosa influenciam direta e indiretamente na economia dos municípios produtores e na balança comercial do Brasil. Nos últimos anos houve o surgimento de uma nova e agressiva doença na soja: a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora packyrhizi, que tem se tornado um dos mais relevantes problemas para o agronegócio dos principais países produtores de soja da América do Sul, onde se destaca o Brasil. Isso porque pode acarretar acentuadas perdas técnicas e econômicas, refletindo negativamente na rentabilidade do produtor e na própria economia local. A primeira constatação da ferrugem asiática foi no Paraguai e no Estado do Paraná, em 2001. Nos anos seguintes, disseminou-se rapidamente por todo o Brasil, Paraguai, Bolívia e partes da Argentina, causando, assim, grandes prejuízos ao agronegócio desses países (EMBRAPA, 2004). Devido às perdas ocorridas nas safras anteriores, esta doença ganhou atenção de todos técnicos e produtores, forçando-os a buscar informações e a estabelecer um rigoroso método de controle fitossanitário na lavoura para diminuição das perdas ocasionadas pela doença, o que aumentaria os custos significativamente. Neste trabalho, teve-se como objetivo analisar o impacto da disseminação da ferrugem asiática nas lavouras de soja do Brasil, especificamente do Mato Grosso. Diante da importância dessa doença, buscou-se, principalmente, levantar e analisar os custos e os impactos econômicos da ferrugem, via análise do custo operacional efetivo, das safras de 2000/01, de 2003/04 e a 2004/2005. 2-Revisão de Literatura: A ferrugem asiática é uma doença causada por um fungo (Phacopsora packyrhizi) que é disseminado exclusivamente pelo vento. A condição climática favorável para sua manifestação consiste em alta umidade relativa e temperatura amena. A primeira aparição foi constatada em 2001 no Paraguai e, nos anos seguintes, espalhou-se por todo Brasil, Paraguai, Bolívia e parte da Argentina (EMBRAPA, 2004). Inicialmente foi considerada uma doença de final de ciclo e ignorada por técnicos e produtores. Mas na safra de 2002/2003, observou-se sintomas de ataque da ferrugem asiática no meio do desenvolvimento da cultura em grande parte das regiões produtoras do Mato Grosso. A manifestação do fungo foi favorecida pela condição de alta umidade. Além disso, o descaso no controle do fungo nas safras anteriores também favoreceu a manifestação do fungo nas lavouras. Yorinori e Lazzarotto (2004) estimaram uma perda de
3,4 milhões de toneladas de soja e o custo de controle da ferrugem em US$ 1,16 bilhão em 2002/2003. Já na safra 2003/2004, a ferrugem foi constatada em 70% da área brasileira cultivada. O controle da ferrugem fora mais eficiente que no ano anterior e seus custos chegaram a US$ 2,08 bilhão, enquanto as perdas de grão de soja devido à ferrugem foram estimadas em 4,6 milhões de toneladas (Yorinori & Lazzarotto, 2004). Além da ferrugem, a grande estiagem constatada principalmente no Mato Grosso foi responsável também por mais perdas significativas. Na safra 2004/2005, já foi indicada a ocorrência da ferrugem em nove estados (SP, MG, MT, MS, GO, RS, PR, MA, DF) e 81 municípios (Landgraf, 2004) até o mês de fevereiro, o que mostra a importância dos produtores monitorarem sempre suas áreas para assim minimizarem suas perdas. 3-Metodologia 1 : Embora seja difícil caracterizar uma única propriedade e um sistema de produção representativo da região em estudo, o método denominado Painel (utilizado neste trabalho) busca, através da experiência local dos produtores, caracterizar a propriedade que seja mais comumente encontrada na região. A execução do Painel segue três etapas principais: primeiramente se faz um levantamento de coeficientes técnicos de produção e de informações regionais através de fontes governamentais, sindicatos rurais e serviços privados de assistência técnica. Tendose essas informações de melhor compreensão se inicia uma segunda etapa de preparo de planilhas eletrônicas desenvolvidas para o cálculo do custo de produção. Utilizando os recursos do aplicativo Microsoft Excel, logo se pode fazer a realização do painel que é um procedimento de obtenção de informações menos oneroso que o levantamento censitário ou amostral de unidades agrícolas de grande versatilidade e agilidade na atualização de dados. Contudo, este método não permite extrair inferências estatísticas, devido ao reduzido tamanho amostral. A técnica consiste em uma reunião com um grupo formado por um ou mais pesquisadores, um técnico regional e oito produtores, em média pode variar de cinco a dez produtores. As reuniões são marcadas com antecedência, utilizando-se de contatos em sindicatos regionais. 3.1-Fonte de dados Os preços dos insumos são coletados mensalmente, sendo que aqueles que têm maior impacto são observados de forma regionalizada, e os que têm menor influência no custo são submetidos às variações dos principais indicadores econômicos. Através de pesquisas telefônicas em revendas de produtos agropecuários e cooperativas são captadas as variações dos preços dos produtos em cada município onde foi realizado o Painel. São obtidas também as explicações para tais mudanças de preços, que serão essenciais para o entendimento das variações regionais dos custos. 1 - baseado em CEPEA e Ichihara (2003)
3.2-Cálculo do custo de produção A grande variabilidade de métodos empregados nos cálculos de custos de produção dificulta a comparação dos diversos estudos que se relacionam com esse tema e por isso são apresentados os principais cálculos dos itens que compõem os custos. a)custo Operacional Efetivo (COE) Refere-se a todos os gastos assumidos pela propriedade ao longo de um ano e que serão consumidos neste mesmo intervalo de tempo. Divide-se este item em custos variáveis (custos que variam conforme a quantidade produzida) e custos fixos (ex: impostos, como o ITR, ou a contribuição sindical). b)custo Operacional Total Refere-se à soma do COE com o valor das depreciações de construções, benfeitorias, máquinas e implementos. 4-Resultados e Discussão: Observa-se na Tabela 1 que a elevação no COE é acompanhada e compensada pela valorização da saca de soja entre 2000 e 2004. Nesse período, a saca de soja valorizou 146,15%, e o aumento do COE por hectare ficou em 61,14%. Já em 2004/2005, houve novo aumento do COE equivalente a 30,65% em relação ao período anterior; porém, neste período houve uma redução no preço médio da saca em 15,63%, reduzindo a margem de lucro do produtor. Tabela 1- Comportamento do custo operacional efetivo-coe da soja em Sorriso - MT safras Custos variáveis (R$/ha) 2000/2001 2003/2004 2004/2005 %variação 2000-2004 %variação 2004-2005 a) INSUMOS: 444,95 683,10 879,81 53,52 28,80 b) OPERAÇÕES AGRíCOLAS: 41,76 123,06 129,55 194,67 5,27 c) OUTROS: 42,16 46,06 104,10 9,26 125,99 *COE (R$/ha): 528,87 852,22 1113,46 61,14 30,65 Custo R$/saca: 10,17 15,49 20,24 52,35 30,65 Participação (saca/ ha): 40,68 26,63 41,24-34,54 54,85 Preço médio saca 60Kg (R$)**: 13 32 27 146,15-15,63 Produção média (sacas/ha) 52 55 55 5,77 0,00 *Custo Operacional Efetivo **cosiderando-se o preço de US$ 9/saca, em venda antecipada Fonte: dados de pesquisa
Esses aumentos nos custos foram causados basicamente por dois fatores: o aumento dos preços dos insumos e o aumento do número de aplicações. Essas altas refletem em diminuição da rentabilidade do produtor. No período de 2000/2004, o preço da saca de soja aumentou, equilibrando a rentabilidade do produtor. Porém, na safra de 2004/2005, os aumentos nos custos continuaram e o preço da saca caiu devido à expectativa de safra recorde nos Estados Unidos, comprometendo os produtores brasileiros. No setor de insumos, os maiores aumentos ficaram por conta dos fertilizantes e defensivos. Na Tabela 2, observa-se a grande participação destes no COE em todos períodos estudados. Na safra 2000/01, os fertilizantes participaram com 45,85%, e os defensivos, com 24,49%. Na safra de 2003/04, têm-se 43,07% para os fertilizantes e 16,88% para os defensivos. Por fim, na safra 2004/05, a participação dos fertilizantes foi de 40,80% e de 19,48% para os defensivos. Logo, a participação desses dois itens no COE é significativo, como visto, e, portanto qualquer variação nos preços desses refletirá no custo do produto. A participação dos fertilizantes e defensivos no COE são semelhantes entre as safras, mas o valor gasto com esses insumos aumentou devido principalmente ao aumento da cotação das matérias-primas no mercado internacional e à desvalorização da taxa de câmbio, influenciando os preços dos insumos no Brasil. Outro ponto a se destacar é o aumento da quantidade utilizada dos defensivos, tanto de número de aplicações como de doses aplicadas (aspecto comprovado por dados do Painel do CEPEA), passando de zero em 2000/2001 para pelo menos uma em 2003/2004 e finalmente para pelo menos duas aplicações em 2004/2005, com a ferrugem. Tabela 2 - Principais aumentos COE grupos em R$/ha 2000/2001 % COE 2003/2004 % COE 2004/2005 % COE Fertilizantes 242,5 45,85 370,5 43,47 454,25 40,80 insumos Defensivos* 129,5 24,49 143,85 16,88 216,92 19,48 Fungicidas 0 0,00 45 5,28 126,7 11,38 Nº de aplicações** 0 1 2 Op. Agrícolas Atividade de pulverização 6,21 1,17 6,44 0,76 15,21 1,37 outros Aplicação aérea 0 0,00 0 0,00 26 2,34 Custo da ferrugem 0 0,00 48,22 5,66 160,305 14,40 Custo da ferrugem(sacas/há) 0 1,51 5,94 Total(R$): 378,21 71,51 566,79 66,51 841,08 75,54 COE (R$) 528,87 100,00 852,22 100,00 1113,46 100,00 * inseticidas e herbicidas; **expresso em valor numérico Fonte: dados de pesquisa De acordo com Tabela 2, é importante observar que a aplicação de fungicidas era inexistente em 2000/2001. Na safra de 2003/2004, a ferrugem começou a gerar grandes danos nas lavouras e seu controle se tornou inevitável, representando 5,66% do COE.
Já em 2004/2005, o controle fitossanitário da ferrugem foi indispensável no cultivo da soja (com pelo menos duas aplicações), como comprovado na Tabela 2, sendo consideradas uma aplicação terrestre e uma aplicação aérea (comum na região estudada), que apesar de dispendiosa, tornou-se economicamente viável por representar uma prática mais eficaz frente à agressividade da doença. Esses gastos inevitáveis fizeram com que a representatividade dos gastos com a ferrugem chegasse a 14,40% do custo operacional efetivo. 5-Considerações Finais: Observou-se um aumento gradativo do custo operacional efetivo (COE) nas respectivas safras 2000/01, 2003/04, 2004/05, motivado pela desvalorização do real frente ao dólar, pela alta dos preços internacionais dos insumos e fertilizantes e também pelo aparecimento de uma nova doença, a ferrugem asiática. Essa doença ocasionou um impacto nos gastos, representando 14,40% do COE, e deverá ser um item significativo no custo de produção até que se introduzam novas variedades resistentes à doença, visando a redução dos custos. A preocupação com a elevação do custo e com a redução da rentabilidade dos sojicultores força os produtores a administrarem melhor o fluxo de caixa da propriedade. Além disso, pode acelerar o plantio em grande escala da soja transgênica em algumas regiões, uma vez que o uso dessa tecnologia tende a reduzir os custos. Para a análise dos dados regionais de maneira mais uniforme, foi levado em conta somente o desembolso do produtor com insumos e operações mecânicas. Não foram considerados nos cálculos o valor de arrendamento da terra, impostos e contribuição sindical. 7-Referências Bibliográficas: EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Situação de ferrugem asiática da soja no Brasil e na América do Sul; 20/12/2004; p1; http://www.agrolink.com.br/ferrugem/artigos_pg_detalhe_noticia.asp?cod=21299 YORINORI, J.T. & LAZZAROTTO, J.J., Situação de ferrugem asiática da soja no Brasil e na América do Sul ; 17/07/2004; p30; EMBRAPA. http://www.cnpso.embrapa.br/download/alerta/documentos236.pdf LANDGRAF, L., Focos de ferrugem atingem 81 municípios do Brasil ; 21/12/2004; p1;embrapa;http://www21.sede.embrapa.br/noticias/banco_de_noticias/2004/dezem bro/noticia.2004-12-21.5369569923/mostra_noticia
SAPPER,S.M., Ferrugem da soja chega às lavouras do Sul do Rio Grande do Sul ; 2005;p1;EMBRAPA;http://www21.sede.embrapa.br/noticias/banco_de_noticias/2005/f older.2005-02-17.5449784637/noticia.2005-03-03.9704255989/mostra_noticiav ICHIHARA, S. M., Desmatamento e recuperação de pastagens degradadas na região amazônica: uma abordagem através das análises de projetos ; 2003; p106; (dissertação de mestrado). COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO.Levantamento da safra 2004/2005 de soja. http://www.conab.gov.br/download/safra/sojaseriehist.xls