A crise econômica e as finanças municipais: uma projeção do FPM para os próximos trimestres de 2009

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Transcrição:

1 A crise econômica e as finanças municipais: uma projeção do FPM para os próximos trimestres de 2009 A crise econômica está se revelando mais grave do que podíamos imaginar. Depois de um ano de forte crescimento, em que a economia expandiu-se 5,1%, corremos o risco de terminar 2009 com queda no PIB. As estimativas do mercado variam entre previsões de queda de 1% a aumento de no máximo 0,5% no nível de atividade econômica, mas o governo federal tenta manter um otimismo fantasioso, projetando crescimento de 2% neste ano. A dura realidade da crise já bateu à porta das prefeituras por dois canais de transmissão: as transferências de FPM (oriundas da União) e de ICMS (originárias dos Estados). No primeiro caso, as perdas do FPM refletem a queda na arrecadação de IPI e Imposto de Renda, ocasionada não apenas pela crise, mas também pelas desonerações anunciadas pelo governo federal. Para cada 1 real de redução do IPI, a União perde 42 centavos os demais 58 centavos são perdidos pelos Estados e Municípios, com o FPM, FPE e IPI-Exportação. As medidas tributárias já implantadas nos últimos meses pelo governo, provocaram uma perda de R$ 2,1 bilhões aos cofres municipais em 2009. Entre redução de alíquotas de IPI para automóveis, correção da tabela de Imposto de Renda e outras medidas de incentivo ao setor produtivo, o governo já abriu mão de R$ 8,9 bilhões de receitas dos dois impostos que formam a base de cálculo do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). No cálculo realizado pela CNM, já está computado o aumento anunciado no final do mês passado (30/03), que passa a valer a partir de maio e renderá R$ 516 milhões a mais aos cofres públicos em todo o resto do ano de 2009. Não fosse essa pequena compensação, as perdas seriam maiores ainda. A correção da tabela de IR, por exemplo, produzirá perda de R$ 5 bilhões, enquanto a redução de IPI de automóveis, R$ 2,6 bilhões no total. Veja a tabela 1 abaixo. Como o IPI e o IR são compartilhados com Estados e Municípios, além dos fundos regionais, a perda efetiva que o governo federal tem com as desonerações que concedeu é de apenas R$ 4,1 bilhões. Os R$ 4,8 bilhões restantes serão perdidos por Estados e Municípios, entre repasses para o FPM, FPE, FPEX e fundos regionais. Tabela 1 - Efeitos das desonerações tributárias nas receitas da União e no FPM (R$ milhão) Imposto Legislação Efeito (%) 2008 2009* 2009** Dif. IRPF Correção tabela -1,00% 13.590 15.081 14.930-151 IRPJ Redução de prazo e outros -1,03% 78.342 83.718 82.856-862 IRRF-Trabalho Correção tabela -9,01% 51.430 55.385 50.395-4.990 IRRF-Res.Ext. Desoneração logística -0,35% 9.046 11.127 11.088-39 IPI-Auto Redução alíquotas -48,00% 5.939 5.380 2.797-2.582 IPI-Outros Suspensão de IPI exportação e redução construção civil -4,60% 17.312 17.775 16.957-818 IPI-Fumo Aumento de 23,% nas alíquotas 17,00% 3.160 3.035 3.552 516 Total Medidas tributárias -4,52% 178.819 191.502 182.576-8.926 Perda FPM (23,5% IPI+IR) * Valor estimado sem inclusão dos pacotes de desoneração ** Valor estimado com inclusão dos pacotes de desoneração O valor do FPM líquido creditado nos cofres municipais no primeiro trimestre, caiu de R$ 10,3 bilhões em 2008 para R$ 9,4 bilhões em 2009. Isso em valores reais, ou seja, equalizando todos os repasses mensais pela inflação acumulada até março deste ano. Dividindo um valor pelo outro, verificamos que houve uma queda real de 8,5%. Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar Cep 70350-530 Brasília DF Tel/Fax: (61) 2101-6000 1-2.098

2 Dessa queda de 8,5%, 6,5% pode ser atribuído à crise e 1,9% à ampliação do porcentual de retenção do Fundeb, que passou de 18,33% em 2008 para 20% em 2009. Ou seja, mesmo que nada tivesse ocorrido de anormal na economia, o FPM seria 1,9% menor por causa do Fundeb. Tabela 2 Valores do FPM do 1º trimestre de 2008 e 2009 (R$ milhão) Valores Nominais Valores reais FPM Bruto FPM Líquido FPM Bruto FPM Líquido 2008 11.929 9.743 12.637 10.320 2009 11.801 9.441 11.809 9.447 Variação -1,1% -3,1% -6,5% -8,5% Diferença entre líquido e bruto = 1,9% de perda para o Fundeb 1º T rim estre Em todo o país, do Oiapoque ao Chuí, a redução do FPM é igual para todos os municípios, mas isso não significa que o impacto seja o mesmo para todos. Em São Paulo, o FPM representa apenas 8,5% da receita corrente dos Municípios, mas no Piauí e na Paraíba o fundo representa mais de 39% dos recursos que entram nos cofres municipais. Na tabela abaixo é apresentada a proporção que o FPM representa em média, por estado, da receita corrente dos municípios. Tabela 3 Porcentual do FPM e ICMS em relação a Receita Corrente em 2007 UF % FPM % ICMS % (FPM + ICMS) AC 34,3% 15,3% 49,6% AL 33,3% 12,1% 45,4% AM 16,3% 29,0% 45,3% AP 28,7% 16,6% 45,4% BA 28,1% 15,9% 44,0% CE 30,6% 12,6% 43,3% ES 14,6% 29,8% 44,4% GO 22,8% 20,7% 43,5% MA 32,0% 8,9% 40,9% MG 23,6% 21,7% 45,3% MS 17,9% 25,6% 43,4% MT 21,9% 25,2% 47,1% PA 24,3% 15,6% 40,0% PB 39,4% 12,5% 51,9% PE 27,0% 18,4% 45,4% PI 39,7% 10,7% 50,4% PR 21,2% 19,5% 40,8% RJ 5,6% 18,0% 23,6% RN 31,1% 15,1% 46,1% RO 25,4% 24,5% 49,9% RR 43,6% 11,7% 55,3% RS 20,2% 21,7% 41,9% SC 19,8% 21,5% 41,3% SE 27,9% 14,4% 42,3% SP 8,5% 24,6% 33,1% TO 42,1% 13,3% 55,4% BR 18,3% 20,6% 38,9% No caso do ICMS, ao contrário do FPM, a queda de receita é diferente em todos os Estados, sendo mais aguda nas regiões mais atingidas pela redução no nível de comércio. Estes são exatamente os municípios onde a participação do ICMS na receita corrente é maior que a do FPM. Em conjunto essas duas transferências representam, na média nacional, 38% das receitas municipais. Veja abaixo comparação entre ICMS e FPM. Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar Cep 70350-530 Brasília DF Tel/Fax: (61) 2101-6000 2

3 Figura 1: Peso do ICMS x FPM na receita municipal FPM ICMS Sem informação Em Minas Gerais, por exemplo, os municípios sofreram uma redução de aproximadamente 10,0% nas transferências estaduais no mês de fevereiro de 2009, enquanto em Alagoas houve recuo de apenas 0,2%. Os dados de março ainda não estão disponíveis. A partir de dados de 80% dos estados do país (ver tabela 4), vemos que no 1 bimestre de 2009 a arrecadação de ICMS caiu, em termos reais e em valores brutos, 4,7% em relação ao mesmo período do ano passado, sendo que a maior queda se concentrou em janeiro. No caso de compararmos os valores efetivamente repassados aos cofres municipais, descontando retenção do Fundeb, a queda no bimestre é maior ainda, de 6,6%. Tabela 4 - Comparativo da arrecadação do ICMS entre os 1º bimestres de 2008 e 2009 valores reais - (R$ milhão) UF 1 bimestre 2008 2009 % AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO 67 287 720 60 1.865 796 1.174 939 419 3.810 683 707 343 249 3.167 210 50 2.546 1.322 235 12.276 149 74 288 657 65 1.612 802 1.190 1.011 409 3.398 732 726 343 258 3.158 205 56 2.454 1.380 234 11.373 145 10,8% 0,2% -8,7% 8,6% -13,6% 0,8% BR 32.075 30.573-4,7% 1,3% 7,7% -2,3% -10,8% 7,3% 2,7% 0,2% 3,6% -0,3% -2,2% 12,1% -3,6% 4,4% -0,5% -7,4% -2,5% Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar Cep 70350-530 Brasília DF Tel/Fax: (61) 2101-6000 3

4 A situação dos municípios só não é pior porque, pelos dados que dispomos, as receitas de IPTU e ISS em geral ainda não foram atingidas pela crise. Em Belo Horizonte, por exemplo, a receita cresceu 8,5% em valores nominais de 2008 para 2009, enquanto o ISS avançou 6,4%, próximo ao aumento da inflação. No caso do IPTU, é natural que haja esse comportamento, pois o imposto depende de uma tabela de valores venais da prefeitura. O risco que existe, entretanto, é que uma crise mais prolongada provoque a inadimplência dos contribuintes, como está ocorrendo com os demais impostos a arrecadação está caindo não apenas porque as vendas caíram, mas porque os empresários estão fazendo caixa com o dinheiro que precisariam destinar ao pagamento de alguns tributos (é mais barato e fácil pagar multa tributária do que obter empréstimo bancário). De qualquer forma para a grande maioria dos municípios as receitas de FPM somadas ao do ICMS representam a maior parte da sua receita. Veja no mapa abaixo as localidades onde essas duas transferências excedem 50% da receita. Figura 2: Municípios mais afetados pela queda do ICMS e FPM Peso ICMS e FPM acima de 50% Peso ICMS e FPM abaixo de 50% Sem informação A grande incógnita é o que vai acontecer até o final do ano. Será que a queda de FPM e ICMS vai se manter até o final do ano ou é possível que haja uma reversão até o segundo semestre? O relatório de programação divulgado há duas semanas pelo Ministério do Planejamento indica que a receita de FPM inclusive aumentaria de R$ 42,1 bilhões em 2008 para R$ 42,8 bilhões em 2009. A queda anunciada de 9,1% se refere ao valor fictício de FPM que previa o Orçamento: R$ 57,8 bilhões. Mas a programação prevê aumento de 2008 para 2009, o que é uma hipótese muito otimista pela situação atual. Tabela 5 Comparativo da reprogramação da arrecadação federal Item Realizado 2008 PIB 5,1% IR 179.249 IPI 37.361 FPM Bruto 50.696 FPM Líquido 42.165 FPE 46.199 FPEX 3.706 LOA 2009 3,5% 202.801 44.944 57.754 47.072 52.839 4.458 Programado pelo governo 2,0% 185.221 40.099 52.527 42.811 48.056 3.978 Diferença entre LOA e Programado -1,5% -8,7% -10,8% -9,1% -9,1% -9,1% -10,8% Para a CNM, o otimismo da estimativa do governo federal é baseada em expectativas irrealistas sobre desempenho da economia em 2009. Principalmente na projeção de 2% de crescimento econômico. O PIB Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar Cep 70350-530 Brasília DF Tel/Fax: (61) 2101-6000 4

5 do 4 trimestre de 2008 já demonstrou o grau de desaceleração econômica que o país enfrenta e não há nenhuma razão para se esperar que o primeiro trimestre desse ano tenha tido um resultado melhor. Basta olharmos para a arrecadação sobre a atividade econômica e o desempenho da indústria nesse período. Seria necessária uma recuperação heróica da atividade econômica no segundo semestre para que fechássemos 2009 com 2% de crescimento do PIB. Como será apresentado na seção seguinte, nossa expectativa é de que haja uma queda no FPM em relação a 2008, mesmo em termos nominais. A projeção é de que o FPM não passará, com os atuais critérios de arrecadação e repasse, de R$ 50 bilhões em valores brutos. Esse valor já considera as desonerações concedidas pelo governo federal. A redução nominal será de 2,06% em relação a 2008. Se levarmos em conta a meta de inflação do governo para 2009 de 4,5%, a queda real será de 6,6%. Só a queda em si não representa toda a perda causada pela crise, uma vez que essa interrompeu um contínuo e vigoroso crescimento do FPM. Considerando que nos últimos 5 anos o fundo apresentou um crescimento real médio de 10% ao ano, poderíamos supor que a crise significou uma perda para as prefeituras dessa receita de 16,6%, caso o crescimento tivesse se mantido no mesmo patamar dos anos anteriores. Comportamento da série histórica do FPM Desde 2003 o Bolo Tributário (IR + IPI) que serve de base para o FPM tem crescido a uma taxa média de 10% ao ano, em termos reais, enquanto que a Carga Tributária total do País apresentou, no mesmo período, um crescimento médio de 8,6%. Com esse desempenho o FPM foi se consolidando como a principal fonte de recurso para grande parte das prefeituras do País. Como podemos ver na tabela 3, em 18 estados, na média, o FPM é a receita mais significativa. Para facilitar a comparação dos montantes ao longo dos períodos relataremos sempre os valores brutos do Fundo, ou seja, incluindo retenção do Fundeb. Isso porque ocorreram, nos últimos anos, consecutivos aumentos no porcentual de retenção do Fundeb, de forma que, no caso de compararmos os valores líquidos teríamos de separar o que foi o real crescimento do fundo daquilo que é devido ao aumento da retenção. Também relataremos sempre os valores corrigidos para março de 2009 pelo IPCA. Veja os montantes anuais na tabela abaixo. Tabela 6 : Montantes anuais do FPM incluindo retenção do Fundeb, em valores de março de 2009 Ano FPM % Cresc. 2003 30.633.237.017-2004 31.618.455.550 3,2% 2005 36.549.105.334 15,6% 2006 39.273.962.662 7,5% 2007 44.140.327.477 12,4% 2008 50.040.230.132 13,4% Obs: Valores não incluem parcelas extras nem adicional de 1% de desembro Com o aprofundamento da crise financeira mundial a partir de outubro de 2008, não demorou para que o crescimento apresentado na tabela acima sofresse uma interrupção. Observando a evolução da série mensal de repasses em termos anualizados, ou seja, pelos valores acumulados nos últimos 12 meses, vemos que já a partir de dezembro do ano passado o FPM inaugurou uma trajetória de queda, depois de 6 anos de plena expansão. Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar Cep 70350-530 Brasília DF Tel/Fax: (61) 2101-6000 5

6 Figura 3: Evolução do FPM mês a mês em termos anualizados 170 160 150 140 130 120 110 100 90 2003.12 2004.02 2004.04 2004.06 2004.08 2004.10 2004.12 2005.02 2005.04 2005.06 2005.08 2005.10 2005.12 2006.02 2006.04 2006.06 2006.08 2006.10 2006.12 2007.02 2007.04 2007.06 2007.08 2007.10 2007.12 2008.02 2008.04 2008.06 2008.08 2008.10 2008.12 2009.02 O pior resultado observado até o momento ocorreu no atual mês de março, quando verificou-se uma queda de 14,6% em relação ao ano passado. Veja comparativo abaixo. Figura 4: Evolução do FPM em março de cada ano: Milhões 4.000 3.800 3.600 3.846 3.400 3.200 3.000 2.800 2.600 2.822 2.939 3.113 3.285 2.400 2.200 2.000 2005 2006 2007 2008 2009 Fechado o mês de março, com o último repasse transferido na segunda-feira (30/03), podemos realizar um balanço de como se comportou o 1 trimestre de 2009 dentro do contexto de aprofundamento da crise no país. Como apresentado na tabela seguinte a queda nesta receita foi se ampliando ao longo do trimestre. Sempre em comparação ao mesmo período do ano anterior, em janeiro a redução real foi de 0,9%, em fevereiro aumentou para 5,1% e finalmente março foi de 14,6%. No acumulado do trimestre a queda foi de 6,5%. ou seja, a perda em relação a 2008 já chegou a R$ 823 milhões sem consideramos o mês de dezembro de 2008. Tabela 7: Montantes mensais e do 1º trimestre do FPM bruto, em valores de março de 2009 Total Mês 2008 2009 % Queda Jan 4.485.999.716 4.445.102.112-0,9% Fev 4.342.596.938 4.121.315.489-5,1% Mar 3.846.096.585 3.284.796.516-14,6% 1 Trim 12.674.693.239 11.851.214.117-6,5% Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar Cep 70350-530 Brasília DF Tel/Fax: (61) 2101-6000 6

7 Tomando por base o crescimento médio do repasse nos 1 trimestres dos últimos 4 anos, estimamos que a perda das prefeituras só neste trimestre devido a crise seja da ordem de R$ 3,1 bilhões. Veja evolução abaixo. Figura 5: Evolução do FPM dos 1 trimestres Bilhões 13 12 12,7 11 11,9 10 9,7 10,4 9 8,5 9,2 8 8,4 7 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Comportamento Sazonal do FPM O FPM, bem como a maioria das receitas tributárias do País não apresenta uma distribuição uniforme ao longo do ano. Nesta seção, nossa missão é estimar qual será a arrecadação dos impostos que compõem o bolo do FPM, definir qual o padrão sazonal deste Fundo, bem como utilizar estas estimativas para realizar uma projeção dessa receita para os próximos 3 trimestres do ano. Comecemos por uma investigação do padrão estacional do FPM. Ao representarmos graficamente os montantes mensais, desde janeiro de 2003 a dezembro de 2008, no gráfico abaixo, vemos que existe um padrão de variação razoavelmente definido dentro do intervalo de cada ano. Foram considerados valores corrigidos e excluídos repasses extras e repasses de dezembro relativos ao 1% do IPI e IR. As linhas verticais delimitam os intervalos anuais, e a linha de tendência da série evidencia o crescimento desta receita neste período. É exatamente essa tendência que precisamos eliminar para isolarmos o padrão de variação dentro de cada ano. Figura 6: Distribuição dos repasses mensais em valores de março 2009 Bilhões 6 5 4 3 2 1-2003 3 2004 2005 2006 2007 2008 Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar Cep 70350-530 Brasília DF Tel/Fax: (61) 2101-6000 7

8 Comportamento dos índices estacionais: A eliminação da tendência da série temporal do FPM, observada no gráfico anterior, foi realizada através do calculo dos índices estacionais. 1 Estas estatísticas são capazes de isolar apenas o efeito de variação cíclica ou devido a sazonalidade. No gráfico abaixo apresentamos o resultado. Veja que sem a tendência fica mais evidente o padrão de comportamento em cada ano. Figura 7: Representação dos índices estacionais do FPM 140 130 120 110 100 90 80 70 60 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Comportamento dos índices sazonais: Por fim, a partir de uma média normalizada e ajustada por um fator de correção dos índices estacionais apresentados acima, chegamos ao comportamento sazonal padrão do FPM, que é descrito pelos chamados índices sazonais. A representação gráfica destes índices é realizada abaixo. Pelo padrão sazonal dos últimos anos, cerca de 52% da receita anual com FPM se concentra no 1 semestre. Lembre que estamos considerando apenas os repasses regulares, ou seja, não levamos em conta o adicional de 1% pago em dezembro. No ano de 2009 devemos esperar um comportamento um pouco diferente, com maior receita realizada no segundo semestre. Isso por dois motivos, primeiro pela isenção de IPI concentrada no primeiro semestre (desde que não ocorra nova prorrogação) e, em segundo, porque no 2 semestre esperasse um melhor desempenho da economia. Veja no gráfico que mesmo sem o 1%, dezembro é o mês com maior receita, seguido por maio e janeiro. Julho recebe o menor repasse, uma decorrência das restituições de IR que se concentram neste período. Figura 8: Comportamento Sazonal do FPM 1 Para determinar o padrão de variação estacional da serie temporal do FPM utilizamos o método da média geométrica móvel centralizada. Estes resultados foram comparados com os obtidos também pelo método da média aritmética móvel centralizada, apresentando resultados muito próximos, sem distinções significativas. Para mais detalhes ver Hoffman, Rodolfo: Estatística para Economistas 3 ed, São Paulo: Pioneira Thomson. Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar Cep 70350-530 Brasília DF Tel/Fax: (61) 2101-6000 8

9 120 115 110 105 100 95 90 85 80 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Reestimativa do Bolo do FPM de 2009: Em dezembro do ano passado a CNM divulgou um extenso estudo sobre o possível impacto da crise mundial nas finanças públicas. Na ocasião, foram projetados 3 diferentes cenários e, infelizmente mesmo o mais pessimista, que seguiu parâmetros do mercado, já se mostra hoje irrealista. Por essa razão, reprojetamos no presente trabalho a arrecadação dos impostos que compõem o bolo do FPM, utilizando novas expectativas de parâmetros econômicos. Consideramos um crescimento real da economia em 2009 de 0,5%, uma queda real da produção industrial de 2%, uma queda real no lucro das empresas de 5% e uma expansão nominal da massa salarial de 6% (expectativa do governo). O ajuste representa uma redução de 2,06% em relação ao projetado em dezembro, significa uma arrecadação destas receitas 1,75% menor que 2008 em termos nominais. Considerando que a meta de inflação de 4,5% se realize, em termos reais, a queda será de 6,25%. Isso significa que a queda em relação a 2008 no FPM será de R$ 3,1 bilhões em valores de março de 2009. Item Realizado 2008 (A) Projeção 2009 -CNM DEZ/2008 (B) Reestimativa MARÇ/2009 (C) % {(C)/(B)}-1 % {(C)/(A)}-1 IPI+IR 216.611 217.298 212.821-2,06% -1,75% FPM - regular 48.737 48.892 47.885-2,06% -1,75% 1% do FPM 2.166 2.173 2.128-2,06% -1,75% FPM Total 50.903 51.065 50.013-2,06% -1,75% Projeção do FPM de 2009 pela sazonalidade estimada Dada a estimativa de R$ 50.013 milhões para o FPM durante todo o ano de 2009, considerando a sazonalidade calculada anteriormente e também considerando a concentração do pacote de desoneração do IPI no 1 semestre e o adicional de 1% a ser repassado em dezembro, a projeção do FPM para os demais trimestres do ano de 2009 são as seguintes: FPM 2009 Realizado Projetado 1º Trimestre 11.826 11.819 2º Trimestre 12.267 3º Trimestre 11.228 4º Trimestre 14.700 Total 50.013 Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar Cep 70350-530 Brasília DF Tel/Fax: (61) 2101-6000 9

10 O valor previsto pelo modelo para o 1 trimestre se mostrou muito próximo do efetivamente realizado, com uma diferença de apenas R$ 7 milhões, ou seja, um erro de 0,06%. Estimativa de queda de arrecadação por coeficiente e por estado A CNM calculou quanto cada coeficiente de FPM perdeu de receita por estado da Federação, confira abaixo alguns exemplos do valor: Queda do FPM entre 1º Trimestre de 2008 e 1º Trimestre de 2009 por Estado e por Coeficiente UF 0,6 1,0 2,0 3,0 4,0 AC 86.763 144.605 - - - AL 130.369 217.282 434.565-1.639.732 AM 110.285 183.809 367.618 - - AP 69.520 115.867-347.602 - BA 128.645 214.409 428.818 643.227 1.412.470 CE 128.045 213.408 426.815 640.223 1.624.233 ES 121.672 202.787 405.574 608.361 1.057.740 GO 116.183 193.638 387.276 580.914 1.144.441 MA 110.023 183.372 366.745 550.117 1.504.092 MG 123.531 205.886 411.771 617.657 1.193.432 MS 130.006 216.677 433.354 650.031 1.236.597 MT 100.647 167.746 335.491-979.224 PA 104.754 174.590 349.181 523.771 1.314.844 PB 122.321 203.869 407.737 611.606 1.586.077 PE 130.926 218.210 436.420 654.630 1.489.323 PI 99.832 166.387 332.775 - - PR 130.536 217.559 435.119 652.678 1.178.479 RJ 104.513 174.189 348.378 522.567 915.364 RN 124.952 208.253 - - 1.387.845 RO 93.518 155.863 311.726 - - RR 56.668 94.447 - - - RS 111.861 186.436-559.307 1.023.160 SC 107.408 179.014 358.028 537.042 962.649 SE 122.077 203.462 406.923 610.385 - SP 118.385 197.309 394.617 591.926 977.331 TO 95.656 159.427 318.854 - - BR 110.735 184.558 311.453 380.848 870.270 Fonte: CNM - Estimativas de perda real do FPM Estimativa de perda de arrecadação por Capital de cada estado. Queda do FPM entre 1º Trimestre de 2008 e 1º Trimestre de 2009 UF Capital Perda do FPM AC Rio Branco/AC 4.227.065 AL Macéio/AL 7.338.654 AM Manaus/AM 4.696.739 AP Macapá/AP 3.287.717 BA Salvador/BA 10.567.662 CE Fortaleza/CE 14.677.308 DF Brasília/DF 2.348.369 ES Vitória/ES 1.878.695 GO Goiania/GO 4.227.065 MA São Luís/MA 7.338.654 MG Belo Horizonte/MG 7.045.108 MS Campo Grande/MS 2.818.043 MT Cuiabá/MT 2.348.369 PA Belém/PA 8.219.292 PB João Pessoa/PB 5.870.923 PE Recife/PE 8.219.292 PI Teresina/PI 5.870.923 PR Curitiba/PR 5.283.831 RJ Rio de Janeiro/RJ 4.109.646 RN Natal/RN 4.227.065 RO Porto Velho/RO 3.757.391 RR Boa Vista/RR 3.287.717 RS Porto Alegre/RS 3.698.682 SC Florianópolis/SC 1.878.695 SE Aracajú/SE 3.757.391 SP São Paulo/SP 3.522.554 TO Palmas/TO 4.227.065 BR Média 5.138.145 Fonte: CNM - Estimativas de perda real do FPM Sede: SCRS 505 bloco C 3º andar Cep 70350-530 Brasília DF Tel/Fax: (61) 2101-6000 10