Tratamento Dietético das DHM Tipo Intoxicação Proteica. Carla Vasconcelos Nutricionista da UND Centro Hospitalar São João Dezembro 2017

Documentos relacionados
Tratamento dietético das DHM tipo intoxicação proteica

Dieta refere-se aos hábitos alimentares individuais. Cada pessoa tem uma dieta específica. Cada cultura costuma caracterizar-se por dietas

MACRONUTRIENTES III PROTEÍNAS

DISCUSSÃO DOS DADOS CAPÍTULO V

ALBUMINA. Proteína do ovo como suplemento

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL. Dra. Helena Maia Nutricionista

Nutrição Aplicada à Educação Física. Cálculo da Dieta e Recomendações dietéticas. Ismael F. Freitas Júnior Malena Ricci

Catálogo Virtual CHROMIUM PICOLINATO. Televendas: (21) Site:

O pão engorda. Mitos Alimentares

Tudo sobre BCAA (Branch-Chain Amino Acids) - Uma análise científica além da minha opinião e sugestão de uso!

Producote Feed O que é? Como devo fornecer o Producote Feed? Producote Feed Por que utilizar Ureia (NNP) na dieta?

GUIA BÁSICO DE SUPLEMENTAÇÃO MAGVIT

A nutrição esportiva visa aplicar os conhecimentos de nutrição, bioquímica e fisiologia na atividade física e no esporte. A otimização da recuperação

Prática Clínica Nutrição Esportiva

Catabolismo de Aminoácidos em Mamíferos

Omelete de Claras. Opção proteica

Dieta para vegetarianos

OMELETE DE CLARAS. Uma opção proteica metabolizada para seu póstreino. Informações Técnicas. SINÔNIMOS: Albumina

Terminologias e conceitos básicos em alimentação e Nutrição. Profª Patrícia Ceolin

Metabolismo de PROTEÍNAS

NUTRIENTES. Profª Marília Varela Aula 2

PERSONAOUTUBRO 2016 P R E P A R E - S E P A R A O O U T O N O CASTANHAS ALIMENTAÇÃO NO OUTONO SABIA QUE... Um alimento excecional

Ficha Técnica de Produtos ISOFORT ULTRA. Pote com 900g, nos sabores: baunilha, chocolate e frutas tropicais.

Introdução à Nutrição

MONSTER EXTREME BLACK Suplementos Para Atletas

Alimentação do Frango Colonial

ESTADO NUTRICIONAL E FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE PACIENTES COM DIABETES MELLITUS

Características Nutricionais das Dietas Hospitalares. Juliana Aquino

Fenilcetonúria. Cristiana Daniela da Silva Carvalho Bioquímica 2º ano Projecto tutorial

INSTRUÇÃO NORMATIVA - IN Nº 9, DE 17 DE AGOSTO DE 2009.

A MEDIERVAS é um laboratório farmacêutico especializado em suplementos para atletas e produtos naturais.

OBESIDADE MAPA DE REVISÕES PROTOCOLO CLINICO. Destinatários. Data Dr. Bilhota Xavier

SOPA PROTEICA DE ERVILHA

Princípios da Alimentação e Saúde

Ruminantes. Ovinicultura e caprinicultura: Alimentação e Nutrição. Bovinos Ovinos Caprinos. Bufalos Girafas Veados Camelos Lamas

Escolha uma vitamina OU um mineral e descreva:

Alimentar-se bem, para um envelhecer mais saudável. Juliana Aquino

Alimentação e Exercício Físico

Movimento e alimento. Eliane Petean Arena Nutricionista

DOSSIER INSTITUCIONAL

c) Relacione as orientações a serem fornecidas à paciente, no momento de sua alta, considerando que sua contagem de neutrófilos era de células/m

SOPA PROTEICA DE ERVILHAS

TABELAS NUTRICIONAIS E RÓTULOS DOS ALIMENTOS TABELA NUTRICIONAL

SEGUNDO RELATÓRIO 2007 AICR/WCRF

Avaliação nutricional do paciente

Vegetarianismo na Infância e Adolescência. Ana Paula Pacífico Homem

6. Metabolismo de Água e Eletrólitos na Saúde e na Doença. 7. Energia, necessidades nutricionais e métodos de avaliação

Exercícios de Revisão - 2

Proteínas A U L A 04 - TEÓRICA PROF. DÉBORA CHRISTINA

Serviço Especial de Genética Ambulatório de Fenilcetonúria - HC Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico - NUPAD Faculdade de Medicina / UFMG

FICHA TÉCNICA. INTENSE REINFORCEMENT (cápsula vermelha-escura) Suplemento de cafeína para atletas em cápsulas colorido artificialmente.

Caixa com 15 sachês de 30g cada ou pote com 900g e 2000g. Sabores: baunilha, chocolate, kiwi e frutas vermelhas.

VAMOS FALAR SOBRE ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

Alimentação no 1º ano de vida

PORTARIA Nº 247, DE 10 DE MAIO DE 2013

08/08/2016.

Sílvia Sequeira, Luísa Diogo, Esmeralda Martins, Paula Garcia, Carolina Duarte. Fabiana Ramos, Ana Beleza Meireles, Renata Oliveira - Geneticistas

Nutrientes. Leonardo Pozza dos Santos

CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA A NUTRIÇÃO DE CÃES E GATOS

Por definição, suplementos nutricionais são alimentos que servem para complementar com calorias e ou nutrientes a dieta diária de uma pessoa

Fenilcetonúria Tratamento e Acompanhamento Nutricional

NUTRIÇÃO DE CÃES E GATOS

PROTEÍNA. Lisina (ARC 1981) Aminoácidos Essenciais. Aminoácidos Essenciais - suínos. Fenilalanina Arginina

título mestre de Nutrição no SUS

Suplemento: Desempenho e Nutrição para frangos de corte

Erly Catarina de Moura NUPENS - USP

GADO DE CORTE LINHA BRANCA

ALIMENTAÇÃO Cl ara S k er S ampa o

AMÉRICA LATINA MATRIZES ROSS 308 AP (AP95) Especificações Nutricionais. An Aviagen Brand

Todos os Direitos Reservados. Página 1

SOBRE MIM... Graduação em nutrição em 2010 pela UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO OESTE UNICENTRO

Vantagens e Benefícios: Vantagens e Benefícios:

O que são nutrientes?

NUTRIÇÃO NA TERCEIRA IDADE. Como ter uma vida mais saudável comendo bem.

Memorial Descritivo Pregão eletrônico Nº 34/2016

A Nutrição e a Idade

Nutrição: Faz sentido para você? Dra. Fernanda Kamp

Jornal Oficial da União Europeia L 106/55

Dieta Hipercalórica e Hiperproteica

Vida saudável com muito mais sabor

Os superalimentos. Rubrica Nutricional. densidade nutricional, considerados. Os consumidores do mundo. industrializado estão a tornar-se cada vez

Anamnese Nutricional Funcional

Alimentação na Infância e Adolescência

Alimentação de atletas de aventura

Manejo nutricional de vacas em lactação

Fome Oculta. Helio Vannucchi Divisão de Nutrologia 2017

FEDERAL WHEY PROTEÍNA 3W SABORES: MORANGO, CHOCOLATE E BAUNILHA EMBALAGEM: 900G SUPLEMENTO PROTEICO EM PÓ PARA ATLETAS

Hormônios do pâncreas. Insulina. Glucagon. Somatostatina. Peptídeos pancreáticos

Mitos e verdades sobre os adoçantes

APROVADO EM INFARMED

AÇÃO DE FORMAÇÃO ACTUALIZAÇÃO EM DIABETES

RELATÓRIO DE PESQUISA - 49

Os alimentos vistos por dentro

2º trimestre Biologia Sala de estudos Data: Agosto/2015 Ensino Médio 1º ano classe: Profª Elisete Nome: nº

Vida saudável com muito mais sabor

A PREVENÇÃO faz a diferença

Transcrição:

Tratamento Dietético das DHM Tipo Intoxicação Proteica Carla Vasconcelos Nutricionista da UND Centro Hospitalar São João Dezembro 2017

Aminoacidopatias DCU Acidúrias Orgânicas

Doenças tipo intoxicação Sinais e sintomas de intoxicação aguda e progressiva Acumulação de metabolitos tóxicos antes do bloqueio enzimático

Tratamento Contemplam uma abordagem nutricional específica

Tratamento dietético - Objetivos Prevenir complicações Evitar episódios de descompensação metabólica Dieta equilibrada Crescimento e desenvolvimento normais Dieta agradável, variada e de fácil adesão

Tratamento dietético Princípios Gerais Controlo do aporte de proteína natural (aminoácidos) Reduzindo a disponibilidade do substrato na via metabólica afetada Diminuição do catabolismo proteico e promoção do anabolismo

Tratamento dietético Qual a doença? Qual a situação clínica? Cálculo da dieta Necessidades Nutricionais do doente

Necessidades Energéticas Balanço energético positivo Evitar o catabolismo Promover o anabolismo (Incorporação de processos de síntese que direta ou através de produtos intermediários podem ser prejudiciais) Aporte energético global superior em 15-20% das NB

Proteína Tolerância Proteica variável dependente de - tipo de doença - genótipo e atividade enzimática residual - idade/ velocidade de crescimento - uso de drogas - adesão aos substitutos proteicos - aporte calórico

Proteína Aporte proteico mínimo de segurança Necessidades mínimas de aminoácidos Proteínas alto/baixo valor biológico assegurar necessidades mínimas diárias de aminoácidos essenciais - 10-30% de AA essenciais

Proteína Aporte mínimo de segurança

Proteína Preferir alimentos naturais (proteínas de alto/ baixo valor biológico) Completar aporte proteico com mistura de aminoácidos Suplementar com aminoácidos específicos

Proteína Mistura de aminoácidos Mistura isenta de aminoácido que se deseja restringir/ eliminar Completa aporte proteico Melhora a tolerância controlo metabólico Aumenta a retenção de azoto Garante aporte em micronutrientes Atenção biodisponibilidade inferior a 25% das proteínas naturais

Proteína Mistura de aminoácidos É importante ter em atenção: Quantidade Nº de tomas diárias (3 a 8 tomas/d) Adicionar proteína natural Adicionar fontes de hidratos de carbono e de gordura Consumo conjunto com outros alimentos Osmolaridade /dosagem

Tratamento dietético nos primeiros meses Leite materno vs Leite adaptado Severidade do diagnóstico bioquímico Suspender proteína natural da dieta Iniciar MAA Associar outras fontes energéticas

Tratamento dietético nos primeiros meses MAA + suplementos energéticos + LM (proteína natural) 8 x por dia OU 6x por dia + 2x LM 8 x por dia MAA + suplementos energéticos + Leite adaptado (proteína natural)

Tratamento dietético nos primeiros meses Diversificação Alimentar 4-6 meses Plano sobreponível Introdução seriada Aspetos particulares Papa de Cereais/ Sopa de legumes - Fruta

Tratamento dietético nos primeiros meses Diversificação Alimentar 4-6 meses Alimentos permitidos e proibidos Sistema de partes / equivalentes proteicos Parte: peso do alimento que fornece determinada quantidade de aminoácido Tabelas de alimentos Introdução de produtos dietéticos hipoproteicos MAA

Alimentos Hipoproteicos Essenciais energia síntese proteica crescimento variedade

Tratamento dietético ao ano de idade Alimentos permitidos e proibidos alimentação feita à base de batata, vegetais (inteiros, cozidos ou estufados), fruta Sistema de partes / equivalentes proteicos Produtos dietéticos hipoproteicos MAA

Aspetos Gerais - Tratamento dietético Plano sobreponível ao das crianças sem estas patologias, com restrição de proteína natural e suplementação de aminoácidos (DCU fonte adequada de AA essenciais); Tolerância Proteica (idade, taxas de crescimento, ativ. enzimática residual) Distribuição harmoniosa do total de proteína natural, ao longo do dia; Diminuição ou suspensão do aporte proteico em situações de doença aguda; Importância dos alimentos hipoproteicos na garantia do aporte energético e maior variedade das refeições; Importância da constante pesquisa de mercado relativamente a alimentos potencialmente permitidos (ensino da leitura do rótulo) Necessidade de suplementação vitamínica e mineral para colmatar as restrições alimentares necessárias

Fenilcetonúria Proteínas dieta Restrição Proteínas Naturais BH4 Fenilalanina Mistura de aminoácidos isenta de Phe Aminoácido essencial suplementação Tirosina Fenilalanina Hidroxilase Vitaminas Minerais Oligoelementos Produtos Hipoproteico

Fenilcetonúria Tratamento dietético Limitar a ingestão de fenilalanina (Phe) Limitar quantitativamente o aporte proteico Adequar a ingestão energética Aumentar a proporção de proteína da alto valor biológico Completar o aporte proteico com mistura de aminoácidos isenta de Phe Aferir possíveis efeitos de uma ingestão proteica reduzida

Fenilcetonúria Tratamento dietético Aleitamento Materno É possível e importante No entanto, é difícil. Avaliar a carga hídrica diária Avaliar o volume de cada refeição teor de Phe Prever a duração do aleitamento materno

Fenilcetonúria Tratamento dietético A orientação do diagnóstico e tratamento da PKU na Europa tem diferido amplamente nos vários países e, por isso, nos últimos anos foram desenvolvidas diretrizes europeias para o diagnóstico e tratamento da PKU

Fenilcetonúria Tratamento dietético O tratamento dietético consiste em 3 partes: Restrição de proteína natural Mistura de aminoácidos Alimentos hipoproteicos

Fenilcetonúria Necessidades Proteicas Foi demonstrado que o crescimento das crianças com PKU é satisfatório se a ingestão total de proteínas (em grande parte como MAA 52 a 80%) alcançar ou ultrapassar as recomendações da população em geral. Níveis de segurança de ingestão proteica

Fenilcetonúria Necessidades Proteicas Nenhum estudo avaliou o crescimento em crianças com PKU no que respeita à ingestão de proteína total Foi feita uma pesquisa em 63 centros de tratamento de PKU de 18 países, que demonstrou que os padrões de prescrição da ingestão proteica total são influenciados pelo país e pela localização na Europa. Em geral, não mais de 20% da energia deve ser fornecida como proteína

Fenilcetonúria Necessidades Proteicas As necessidades de MAA não foram determinadas em condições de ingestão energética inadequada nem em situações de baixo aporte de proteínas naturais; Está bem estabelecido que as MAA estão associadas a uma menor eficiência biológica comparadas com a de fontes de proteínas naturais, pelo que algum fator compensatório deve ser considerado nas recomendações de requisitos de proteína

Fenilcetonúria Tratamento dietético

Leucinose Recomendações Nutricionais Frazier DM et al. Mol Genet Matab, 2014; 112: 210-217

Leucinose Recomendações Nutricionais Restrição de Proteína Reduzir o aporte de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA) Suplementação com MAA para fornecer os AA de cadeia não ramificada e outros nutrientes para a síntese proteica 80-90% das necessidades proteicas Fornecer os macronutrientes adequados para prevenir o catabolismo Blackburn PR et al. The application of Clinical Genetics, 2017; 10

Leucinose Descompensação metabólica Situações de catabolismo febre, vacinação, erros alimentares,. Redução do aporte de leucina para 50-100% do habitual Manter ou aumentar a MAA para 120% da ingestão habitual Reforço de suplementos energéticos (> 150% do total energético habitual) Fornecer os macronutrientes adequados para prevenir o catabolismo Blackburn PR et al. The application of Clinical Genetics, 2017; 10

DCU Recomendações Nutricionais Objetivos: Permitir o normal desenvolvimento Prevenir a hiperamoniémia, permitindo uma melhor qualidade de vida e evitando efeitos laterais e complicações

DCU Recomendações Nutricionais Mesmos princípios nutricionais de outras patologias Misturas de AAE Suplementos (arginina/ citrulina, excepto argininemia)

DCU Recomendações Nutricionais A suplementação com AA essenciais é necessária quando a tolerância à proteína natural é baixa para alcançar o crescimento normal e estabilidade metabólica; Deve fornecer-se 20-30% da ingestão proteica total em suplementos AAE, com exceção da ARGD1, em que os suplementos de AAE podem representar 50% da proteína total;

DCU Recomendações Nutricionais Em crianças que fazem altas doses de fenilbutirato de sódio, pode haver necessidade de suplementação de AA ramificados

AGI Recomendações Nutricionais Dieta hipoproteica, restrita em lisina e triptofano

Caminhos diferentes, o mesmo objetivo. E-mail: carla.vasconcelos@chsj.min-saude.pt