Ouvir a opinião da parturiente uma tarefa (im)possível?

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Transcrição:

Parto e Maternidade: profissionalização, assistência, políticas públicas ST. 26 Roxana Knobel Telma Elisa Carraro Ariane Thaise Frello UFSC Palavras-chave: Satisfação do Paciente, cuidado, tabalho de parto Ouvir a opinião da parturiente uma tarefa (im)possível? Introdução: Existe uma tendência mundial de avanço tecnológico e científico que mostra uma enorme fragilidade no que se refere ao cuidado. Tecnologias avançadas tentam e, por vezes, substituem o cuidado humanizado. Essa tendência pode ser claramente observada na obstetrícia moderna. A hospitalização do parto levando a considerá-lo como um evento médico-cirúrgico resultou em um modelo de assistência tecnicista, que prima pela racionalidade e pela carência de princípios humanísticos. Segundo Simone Diniz (2001), a partir da década de setenta, houve um crescente reconhecimento do movimento de mulheres de que a maternidade era vivida em condições de opressão, relacionadas ao controle social das grávidas. As mulheres não sentiam seus desejos e necessidades individuais respeitados nos cuidados da gestação e parto e se sentiam tratadas como embalagens do feto, como uma pélvis ambulante, assexuada, que deveria ser vigiada e submetida a diversas intervenções rotineiras muitas das quais irracionais, arriscadas, violentas e de eficácia duvidosa. Desde a década de oitenta, o movimento de mulheres passa a ter como uma de suas frentes a assistência ao parto, produzindo material educativo e propondo políticas públicas, usando o termo humanização da assistência ao parto. A Humanização pode ser vista como a legitimidade política da reivindicação e defesa dos direitos das mulheres na assistência ao nascimento, demandando principalmente o parto seguro, mas sem abdicar da assistência não-violenta, dando às usuárias inclusive o direito de conhecer e decidir sobre os procedimentos no parto sem complicações. Cabe lembrar também que, ao usar o termo humanização, se usa uma forma mais diplomática e menos acusatória, de falar da violência de gênero e demais violações de direitos praticadas pelas instituições de saúde. Citam-se os direitos à integridade corporal (não sofrer dano evitável), à condição de pessoa (o direito à escolha informada de procedimentos); o direito a estar livre de tratamento cruel,

desumano ou degradante (prevenção de procedimentos física, emocional ou moralmente penosos), o direito à eqüidade. Por isso, muitas mulheres demonstram o desejo de ter seu trabalho de parto e sem intervenções desnecessárias. Isso se deve também ao desejo de pouca interferência no processo fisiológico do nascimento, de estar no controle, de ter escolhas, de ser encorajada a confiar no corpo para superar a barreira da dor por seu próprio ritmo natural. Além do medo (não infundado) de efeitos colaterais que possam afetar a criança e a sua própria integridade. Ao considerar o cuidado e o conforto durante o trabalho de parto, não se deve simplificar e considerar apenas o alívio da dor. O cuidado não pode ser prescrito, não segue receitas, mas é sentido, vivido, exercitado. Acredita-se também que a parturiente amparada, orientada e segura terá uma experiência de parto mais tranqüila. Atualmente as mulheres não temem apenas a dor no parto, elas sentem medo de como serão atendidas, já que as experiências estão repletas de atendimento impessoal e distante. Diversos itens são importantes para o cuidado e conforto durante o trabalho de parto e parto, mas são difíceis de mensurar e, talvez por isso sejam pouco estudados. Telma Carraro, (1999), baseada em Florance Nightingale, propõe a condução da assistência de modo a potencializar o poder vital da parturiente. Para isso, observa: a atenção ao estado emocional da parturiente, as relações interpessoais (entre a mulher e sua família/ acompanhantes, entre mulher e a equipe, entre as mulheres companheiras de hospitalização), o conforto e bem estar (tanto no sentido físico como emocional) condições do ambiente (por exemplo, o respeito à intimidade e privacidade, um ambiente tranqüilo e confortável), O próprio sentido da humanização do nascimento é colocar a mulher-parturiente e seu bebê como foco central do processo de parto e, apenas conhecendo a opinião da mulher, será possível adaptar os métodos de assistência e garantir um trabalho de parto seguro e confortável. Assim, Uma atenção voltada às necessidades específicas da parturiente pode ajudá-la a ter um o trabalho de parto e parto mais satisfatório. O conforto da parturiente e sua confiança com relação a si mesma e à equipe de assistência facilitam e incentivam o parto normal, além de possivelmente influenciarem a interação da mãe com seu bebê e o início e manutenção do aleitamento materno. Este trabalho tem como objetivo avaliar e quantificar a literatura disponível sobre a opinião da parturiente e refletir sobre o tema.

Método: Foi realizada uma busca com as palavras opinião e/ou satisfação e parturiente e/ou parto e/ou trabalho de parto nos principais sítios de busca de literatura médica e de enfermagem da internet SCIELO (http://www.scielo.br), Pub-med (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), biblioteca Chocrane (http://cochrane.bireme.br/). Quando a busca resultou em um resumo, o artigo original foi localizado (apenas nos casos em que isso não foi possível, e o resumo foi utilizado para o estudo). Resultados e discussão: Apesar do aumento no número de estudos avaliando a satisfação / opinião da mulher sobre o seu trabalho de parto e parto nos últimos anos, ainda parece existir uma lacuna quanto a este importante prisma da assistência ao parto. Existem estudos sobre a opinião da mulher e sua satisfação (ou insatisfação) com o trabalho de parto e parto, tanto em aspectos gerais, como em aspectos específicos, como o alívio da dor, a presença do acompanhante. O método de pesquisa e os resultados encontrados são bastante variáveis. A abordagem metodológica utilizada para a pesquisa da opinião da mulher foi variada, podendo ser dividida basicamente em quatro tipos de estudo: Pesquisas de abordagem quantitativa nas quais a satisfação da mulher representava apenas uma variável independente a mais a ser estudada e geralmente foi pesquisada com uma pergunta fechada com duas ou mais alternativas. Pesquisas de abordagem quantitativa, nos quais a satisfação com o parto e todo o processo de nascimento eram consideradas as variáveis de desfecho e foram pesquisadas condições consideradas fatores de risco para a mulher se sentir satisfeita ou insatisfeita com o parto, geralmente questionários preenchidos pela mulher ou por um entrevistador treinado. Pesquisas de abordagem qualitativa, com entrevistas em profundidade e/ou grupos focais avaliando diversos aspectos da satisfação da mulher com o parto e o cuidado que recebeu. Pesquisas quali-quantitativas, que combinam as metodologias anteriores, utilizando geralmente um questionário com algumas questões abertas ou entrevistas gravadas. O tempo desde o parto até a entrevista variou também entre os artigos encontrados, sendo que algumas entrevistas foram feitas logo após o parto e outras semanas, meses ou anos após o mesmo.

Esse aspecto pode ser particularmente importante para pesquisas nesse sentido, porque logo após o parto ocorre uma sensação de alívio e, estando a mãe e o bebê saudáveis, os aspectos positivos do parto tendem a ser valorizados, provavelmente por não haver tempo de elaborar o que ocorreu no parto e opinar de uma maneira mais crítica sobre o atendimento recebido. Apesar das diferenças metodológicas entre os estudos, alguns resultados devem ser ressaltados. Sendo que aparecem como fatores importantes: Como colocam Lucia DAmbruoso e colaboradores (2005) Aspectos Inter-pessoais são a chave das expectativas das mulheres, e esse dado é colocado em praticamente todos os trabalhos consultados, inclusive nos trabalhos brasileiros encontrado sobre o tema. Também são mencionadas como importantes as informações que a mulher e sua família recebem por parte da equipe de assistência. O cuidado (ou percepção do cuidado) recebido dos profissionais de saúde. O envolvimento da mulher nas decisões tomadas e/ou a sensação de ter controle do processo, sendo esse um componente que aparece nas pesquisas realizadas em países desenvolvidos. Além do estado de saúde da mãe e do bebê, a porcentagem de intervenções realizadas, o tempo que levou o trabalho de parto e parto, o tempo de internação, a percepção do ambiente no local do parto, a presença de acompanhante de escolha da mulher. A importância de variáveis sócio-econômicas e demográficas na satisfação da mulher com o seu parto varia conforme os estudos, sendo que ao menos um autor as considera como fatores de risco e outro considera que não influenciam nesse resultado. Contrariamente ao que se esperava, ao avaliar a satisfação da mulher, poucos autores citam a dor (e/ou sofrimento) ou o controle da mesma nas contrações e no período expulsivo como uma variável importante. Alguns autores inclusive avaliam que o uso de analgésicos e/ou analgesia não afetam a avaliação do parto por parte da mulher e que um alívio total da dor não necessariamente implica em uma experiência de parto mais satisfatória. Apesar de considerar a importância de conhecer a opinião da mulher sobre o seu parto, há que se avaliar que as expectativas e preferências de cuidado no parto das mulheres são diretamente relacionadas com o tipo de atendimento oferecido. Em todas as pesquisas analisadas, os índices de satisfação referidos pelas mulheres foram altos, o que permite supor que apenas avaliar a satisfação com o parto como um todo pode não trazer respostas úteis para melhorias na assistência. Também há que se considerar que as mulheres podem não ter como se sentir insatisfeitas com o cuidado recebido, se não souberem que outro tipo de atendimento poderiam receber.

Os artigos consultados favorecem essa hipótese, já que alguns aspectos (como o fato da mulher sentir-se no controle, o envolvimento da mulher nas decisões tomadas, a insatisfação com a necessidade de intervenções) são mais citados nos estudos realizados em países desenvolvidos, e variáveis relacionadas ao ambiente hospitalar, respeito às crenças e não-abuso contra as mulheres são mais abordadas, por exemplo, nos estudos realizados em países africanos. Obviamente, a principal preocupação tanto da parturiente e sua família quanto da equipe de assistência ao passar pelo processo do parto e nascimento é a segurança e a integridade física da mulher parturiente e do bebê. No entanto, o bem estar e a satisfação emocional da mãe e do bebê com o parto também não devem ser negligenciados. Por isso, pensamos que os recursos para o cuidado e conforto no parto devem ser considerados como um procedimento no qual se devem pesar riscos e benefícios e, também, o desejo da parturiente. Apesar das dificuldades citadas para realizar esse tipo de estudo, parece evidente que, avaliar a opinião da mulher sobre seu parto é imprescindível. Entre outras coisas, para avaliar que métodos utilizados de cuidado e conforto contribuem para que a mulher tenha uma experiência de parto satisfatória ou não satisfatória e, conforme os resultados, planejar políticas de incentivo ou de desencorajamento ao uso desses métodos. Essas pesquisas devem ser bem planejadas e com desenho apropriado, evitando conflito de interesses e avaliando a satisfação de maneira não dicotômica através de mais de uma pergunta ou com questões abertas. Referências: BRÜGGEMANN, Odalea ; PARPINELLI, Mary A ; OSIS, Maria José. Evidências sobre o suporte durante o trabalho de parto/parto: uma revisão da literatura. Cad. Saúde Pública, v.21, 2005. CAROLINE, Smith CA; COLLINS, CT; CYNA, AM; CROWTHER CA. Complementary and alternative therapies for pain management in labour (Cochrane Review). In: The Cochrane Library. Oxford: Update Software, 2006. CARON, Olga Aparecida Fortunato and SILVA, Isilia Aparecida. Women in labor and the obstetric team: the difficult art of communicating. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v.10, n.4, p.485-492, 2002. CARRARO, Telma Elisa. Desafio Secular: mortes maternal por infecções puerperais. Pelotas:Editora Universitária/ UFPel; Florianópolis:UFSC, p.198,1999.

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