ções Reais Aula Prática com Aplicação Real: O Caso da Mina de Antamina. Marco Antonio Guimarães Dias, Professor Adjunto, tempo parcial

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Transcrição:

IND 2072: Análise de Investimentos com Opçõ ções Reais Aula Prática com Aplicação Real: O Caso da Mina de Antamina. Marco Antonio Guimarães Dias, Professor Adjunto, tempo parcial Rio de Janeiro, 1 o Semestre de 2006. Caso Clássico: Mina de Antamina Caso real sobre a privatização em 1996 da mina estatal peruana de cobre e zinco chamada Antamina: Virou um famoso estudo de caso da Harvard Business School sobre opções reais e incentivos e um paper de Moel & Tufano. A regra do leilão, com dois valores ofertados, tornou o caso instrutivo. Mina fica a NE de Lima. Escoa minério por Puerto Huarmay Lima

OR e Incentivos: o Caso Antamina Em adição à incerteza de mercado dos preços do cobre e zinco, existia grande incerteza técnica sobre o tamanho e a qualidade/produtividade dessa mina. Uma grande área dela não tinha sido estudada/explorada por sondas. O investimento em desenvolvimento depende do volume da reserva. O vencedor do bid teria um prazo de dois anos para investir em exploração. Após esse prazo, a firma tinha a opção de desenvolver. A novidade do bid foi que as firmas deveriam ofertar tanto o prêmio (bônus pelos direitos, cash imediato) como também ofertar o preço de exercício da opção de desenvolver a mina. Esse preço de exercício é a promessa de investimento para desenvolver o campo, caso a firma queira exercer a opção real, após a exploração. Caso a firma exercesse a opção de desenvolver, mas não gastasse o valor prometido, ela pagaria no ano 5 uma multa de 30% da diferença ocorrida. Essa estrutura gerou incentivos específicos para as firmas no leilão, com conseqüências opostas à intenção original do governo peruano. Vamos discutir a valoração da mina e as regras do leilão. Valoração de Antamina: Cronograma O cronograma de decisões de investimento e das operações, p/ o vencedor do bid, é mostrado abaixo: O vencedor do bid terá 2 anos na fase de exploração (gasto mínimo de 13,5 MM$), após o que terá duas opções: Não desenvolver (devolver a mina p/ o governo) Desenvolver a mina, investindo nos próximos três anos e pagando a multa de uma eventual diferença no ano 5. Produzir até o limite econômico: mina fecharia entre os anos 17 e 23.

Valoração de Antamina e Desenvolvimento O valor esperado da firma que oferta {B 1, B 2 }, que espera gastar C e com exploração, I D para desenvolver e pagar uma multa M, por uma mina de valor V, é: E{VP[Max(V I D M, 0)]} B 1 C e Onde VP = valor presente com a taxa livre de risco (já que a simulação será neutra ao risco) e a multa M é: M = 0,3 Max(B 2 I D, 0) Desde que não há incentivo para B 2 ser menor que I D : Valor da firma = E{VP[Max(V 0,7 I D 0,3 B 2, 0)]} B 1 C e Assim, a firma desenvolve a mina se: V 0,7 I D 0,3 B 2 > 0 O valor de V pode ser calculado como o valor presente das receitas operacionais líquidas de custos operacionais e taxas. Assim, V é função dos preços e quantidades de minérios. Valoração de Antamina por Monte Carlo A valoração da mina por OR deve considerar tanto as incertezas técnicas (tamanho e qualidade da mina) como as incertezas de mercado (preços do zinco e do cobre). A exploração irá revelar informações, reduzindo a incerteza e alterando as expectativas sobre tamanho e qualidade da reserva. No artigo, usou-se distribuições de probabilidades a priori desses valores. Melhor seria usar distribuições de expectativas condicionais (minha tese). Os preços do zinco e cobre seguem processos estocásticos: o paper usou um processo de 2 fatores (MGB + reversão à média) Simulação de Monte Carlo é uma escolha natural quando existem muitas fontes de incertezas. Ela foi usada no artigo. Note que a decisão de desenvolver não pode ser antes do ano 2 (precisa explorar primeiro) e nem depois, pois a regra do leilão não permite postergar o desenvolvimento. Assim, a decisão de desenvolvimento é análoga a uma opção européia de compra no final do ano 2 (só pode exercer nessa data) É muito fácil usar Monte Carlo para opções do tipo européia.

Valoração de Antamina por Monte Carlo Simulação neutra ao risco p/ os preços com MGBs e p/ as taxas de conveniência com processos de reversão à média: Correlações: entre preços = 44%; entre δ s = 57%. Volatilidades: de 18 a 25% aa. Demais inputs: experts apontaram 3 cenários: esperado, pessimista e otimista (i.é, média +- 1 a 1,5 desvios-padrão): Valoração de Antamina por Monte Carlo Toda a simulação NR é feita apenas para o final do ano 2: Dado os preços nessa data e os cenários revelados com a exploração, calcula-se o VPL da mina (usa-se estrutura a termo dos preços p/ t > 2) A simulação NR aponta os possíveis VPLs NR da mina nessa data:

Valoração de Antamina por Monte Carlo Mas no final do ano 2 a firma tem a opção e não a obrigação de desenvolver, i.é, a firma não exerce a opção nos casos de VPL negativo. Com isso a distribuição tem nova média: Repare que a média passou de 454 para 704 MM$, ganho de 250 MM$ Mas deve-se abater os custos anteriores e calcular o valor presente para valorar/calibrar a oferta no bid. Assimetria na Opção de Compra Na expiração a opção (F) só deve ser exercida se V > K. A opção cria uma assimetria, pois as perdas são limitadas ao valor de aquisição da opção e o upside é teoricamente ilimitado. Quanto mais incerto for o valor futuro do ativo V, mais vale a opção. Na expiração (T): Opção (F) Máx. (V K, 0) Valor do Ativo Básico V V K = VPL Em projetos de investimento, V K é o VPL e assim pode-se pensar no valor da opção como F(t = T) = Máx. (VPL, 0)

Antamina: RegrasdoLeilãoe OR As regras do bid incluiam o cronograma e o compromisso mínimo exploratório ( 13,5 MM$) e também valores mínimos a serem ofertados para o bônus (B 1 17,5 MM$) e para a fase de desenvolvimento (B 2 135 MM$). Assim, cada participante oferecia dois valores, o par de bids B 1 e B 2. O leilão selado de 1 o lance dava peso 1 para o bônus (B 1 ) e peso 0,3 para a promessa de investimento (B 2 ), ou seja: O vencedor é quem der o maior bid total = B 1 + 0,3 B 2 Note que o vencedor só paga obrigatoriamente B 1 e o custo de exploração, que são valores muito menores que B 2. O pensamento de opções indica que deveria ofertar o menor valor possível para B 1, compensando com um valor maior de B 2. Quanto maior a competição no bid, maior tende a ser B 2. Mas isso reduz a probabilidade de exercício da opção de desenvolvimento! Note que mesmo se B 2 for o investimento esperado, a simulação NR mostrou que em 39% dos cenários não seria ótimo o desenvolvimento. Mas o correto seria fazer a simulação real para estimar essa probabilidade! Antamina: Regras do Leilão e Incentivos As regras de escolha entre pagar cash e fazer uma promessa de investimento futuro opcional, criou alguns incentivos especiais: É mais barato ofertar futura promessa B 2 que pagar bônus B 1 imediato. Razão custo por pontos no bid total é mais favorável. Regra permite a entrada agressiva de companhias menos capitalizadas, que podem negociar parcerias após ganhar o bid. Se a firma vencedora for desenvolver a mina, ela tem incentivo para minimizar o pagamento da multa através de investimentos não-econômicos para a mina, tais como: Investimento em ativos flexíveis tais como caminhões, helicópteros e aviões adicionais, que depois poderão ter usos alternativos para a firma; Inflar preços de transferência entre firmas do grupo, etc. Moel & Tufano também mostram que existem incentivos de renegociação, se o VPL só for positivo em caso de perdão da multa. A principal meta do governo era aumentar os investimentos no desenvolvimento. Essas regras incentivam esse objetivo?

Antamina: Regras do Leilão e Incentivos O governo peruano teve a boa intenção de aumentar os investimentos em Antamina com essa nova regra. No entanto, a regra incentivava as firmas a darem um valor alto p/ B 2 e, isso diminuia a probabilidade de exercício da opção de desenvolvimento! O oposto que o governo peruano queria! O gráfico mostra o valor da opção de desenvolvimento ( optional NPV ) e a probabilidade de exercício para diferentes valores de B 2 (inv. commit.). O valor correto de cada probabilidade é um pouco maior (simulação real). Antamina: Resultados do Leilão Postscript do artigo: o resultado do leilão em 12/7/96. Três ofertas: RTZ-CRA Ltd. ofereceu 17,5 MM$ de bônus e investment commitment (IC) de 900 MM$; Noranda deu 17,5 MM$ de bônus e IC de 1.900 MM$; e a vencedora foi a Rio Algom/Inmet com bônus de 20 MM$ e IC de 2500 MM$ O vencedor declarou no mesmo dia que esperava investir só cerca de 1.000 MM$ p/ desenvolver e if it does not prove viable, we just lose our up front investment, frase bem no espírito de opções reais. Era de se esperar que IC médio fosse maior que o investimento esperado pelas firmas, devido ao caráter opcional do desenvolvimento (pode não pagar IC), a opção da multa (se desenvolver) e para ganhar o bid. Já os bônus são obrigações: as firmas ofertaram ~ lance mínimo. A determinação do IC ótimo sob competição e sob incerteza, dado o gerenciamento ótimo das opções, é o foco da firma. A mina foi posteriormente desenvolvida pelas firmas canadenses Rio Algom Ltd, Noranda Inc. e Teck Corporation.