CASA DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL ABRIGO MUNICIPAL PÂMELA SILVA: Caminhos e Descaminhos Mariana Leal de Souza 1 RESUMO: Este artigo é resultado de estudos realizados sobre o processo de reordenamento do Serviço de Acolhimento Institucional para crianças e adolescentes no Município de Paranaíba-MS, na instituição denomina Casa de Acolhimento Institucional Abrigo Municipal Pamela Silva, com a finalidade de demonstrar os avanços obtidos no decorrer da reestruturação normativa, técnica, de infraestrutura e principalmente no fortalecimentoo do sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente. Retratar os caminhos percorridos pelos técnicos na busca pela proteção das crianças e dos adolescentes vítimas de violação de direito em acolhimento e o acesso ao direito do convívio familiar e comunitário. Utilizou- e serviço de se como suporte teórico alguns autores que discutem garantia de direitos acolhimento institucional paraa crianças e adolescentes e suas famílias: Rizzini (1996; 2004; 2006; 2011); Baptista (2006; 2008); Fonseca (2008); Valente (2013). Foram realizadas visitas institucionais e entrevistas semiestruturadas com a equipe técnica da instituição, composta por Coordenador, Assistente Social, Psicóloga. Por meio da análise de conteúdo dos dados coletados e observações in loco, verificaram-se os caminhos e descaminhos percorridos pelo serviço. O estudo demonstrou que as mudanças ocorridas no serviço de acolhimento teve grande impacto na garantia dos direitos do público atendido, porém ainda há muitos desafios a serem superados para que a proteção destes seja uma realidade. Palavras-Chave: Acolhimento Institucional; Sistema de Garantia de Direito; Proteção Social. INTRODUÇÃO O presente estudo é resultado da pesquisa sobre o processo de reordenamento do Serviço de Acolhimento Institucional para crianças e adolescentes no Município de Paranaíba-MS, na única instituição do município, a Casa de Acolhimento Institucional Abrigo Municipal Pamela Silva, a fim de relatar os caminhos percorridos na reestruturação normativa, técnica, de infraestrutura e principalmente no fortalecimentoo do sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente. O reordenamento dos serviços de proteção à criança e ao adolescente se faz urgente, baseados em referencias legislativos que evidenciam a responsabilidade da família 1 Assistente Social. Secretariaa Municipal de Assistência Social de Paranaíba-MS, Mestre em Serviço Social pelo Programa da Pós-Graduação em Serviço Social UNESP/Faculdade de Ciências Humanas e Sociais - campus de Franca. e-mail: marianalealdesouza@hotmail.com, GT- Direitos Humanos, Estado e Fronteiras. 1
e priorizam o direito da criança e do adolescente de permanecerem em seu contexto familiar e comunitário, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA, Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, Política Nacional de Assistência Social - PNAS, Norma Operacional Básica de Recursos humanos do SUAS, Norma Operacional Básica do SUAS e no Projeto de Diretrizes das Nações Unidas sobre Emprego e Condições Adequadas de cuidados Alternativos co Crianças. Conforme Baptista (2008), apesar do grande reconhecimento dado à relevância da convivência familiar nas legislações, ainda existe um grande número de crianças e adolescentes abrigados, o que nos leva a reflexão sobre a relação entre condições estruturais, desenrolar do percurso de vida familiar e as condições que se dão o acolhimento e o trabalho realizado nestes serviços para a agilidade no desacolhimento. 1 PROBLEMA DE PESQUISA O presente estudo analisa o processo de reordenamento do Serviço de Acolhimento Institucional para crianças e adolescentes do município de Paranaíba-MS, tendo como foco a Casa de Acolhimento Institucional Abrigo Municipal Pamela Silva, suas dificuldades e avanços no decorrer das mudanças realizadas. 2 OBJETIVOS Retratar o processo de reordenamento na perspectiva dos técnicos do serviço, na luta pela proteção das crianças e dos adolescentes vítimas de violaçãoo de direito em acolhimento e o acesso ao direito do convívio familiar e comunitário. 3 REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS A metodologia utilizada foi revisão bibliográfica e pesquisa de campo para reflexão sobre a garantia de direitos e serviço de acolhimento institucional para crianças e 2
adolescentes e suas famílias. Foram realizadas visitas institucionais e entrevistas semiestruturadas com a equipe técnica da instituição, composta por Coordenador, Assistente Social, Psicóloga. Por meio da análise de conteúdo dos dados coletados e observações in loco, verificaram-se os caminhos e descaminhos percorridos pelo serviço. 4 RESULTADOS ALCANÇADOS O reordenamento do Serviço de Acolhimento iniciado em 2013, de forma tardia, já que as legislações o determinavam desde 2009, instituiu regulamentação normativa, com determinação da existência de equipe técnica exclusiva composta por Coordenador, Assistente Social, Psicóloga, Educadora Social, Pedagogo, e equipe funcional com: Cuidadores, Auxiliares de Cuidadores e profissionais de limpeza, cozinha, lavanderia e vigias. A equipe técnica na ausência da família e da comunidade torna-se a única referência afetiva e de apoio de crianças e adolescentes em situação de violação de direitos em acolhimento, o que pode vir a ser um risco, pela falta de concursoo público, o que dificulta também a qualificação dos recursos humanos das instituições. Conforme Rizzini (2004) em decorrência da grande rotatividade de funcionários e de crianças ou adolescentes; ou mesmo quando o atendimento não preza pelo acolhimento e proteção de fato, não é possível, na maioria dos casos, o estabelecimento de vínculos dentro da instituição. Assim como passou a funcionar em novo endereço com maior espaço físico, em bairro residencial próxima a escolas, Centro Educacional Infantil, Unidades Básicas de Saúde da Família, com duas entradas independentes para garantir a autonomia dos adolescentes, maior número de quartos, para que pudesse ficar menor quantidade de crianças/adolescentes por quarto, instalação de brinquedoteca, sala da equipe técnica, sala de convivência, varandas, garagem para guardar veículo que foi disponibilizado para atender as necessidades do serviço, local adequado para as refeições, jardim e parque infantil. Nos caminhos do reordenamento muitas mudanças estéticas e estruturais foram realizadas, porém ainda constituem desafios e possibilidades de novos caminhos a serem 3
seguidos, a premissa da promoção do direito à convivência familiar e comunitária, quebrar paradigmas e reformular políticas e práticas para o acolhimento, refletindo sempre sobre: a ideia e a atitude de acolher; alegar pobreza não basta; fortalecer os elos; articulação e interdisciplinaridade; gestão e execução; ter a clareza de responsabilidades e atribuições ; (RIZZINI, 2006) além de ter como meta a proteção integral da criança e do adolescente em situação de risco social. Nas entrevistas realizadas com os técnicos do Serviço de acolhimento fica clara a preocupação com a estrutura física da instituição, a frequência escolar, os atendimentos na área de saúde e a manutenção dos vínculos familiares para o mais breve retorno das crianças a família de origem ou substituta, assim como a preocupação com a incerteza dos funcionários, tanto técnicos quanto cuidadores, em permanecer na casa de acolhimento por conta da mudança de gestão. Na atual conjuntura de crise do Estado é importante salientar que para a melhoria dos serviços de acolhimento a crianças e adolescentes deve se fazer valer a legislação. [...] a PNAS/2004, prevê a responsabilidade do poder público no planejamento e na execução orçamentária (assistência social, saúde e educação) para a concretização dos serviços. Prevê também a articulação das ações dentro dessas políticas intersetoriais, como também das políticas complementares (habitação, esporte, cultura e outras) (VALENTE p.102, 2013). Os caminhos e descaminhos a serem percorridos são muitos e sinuosos, profissionais empenhados na melhoria da qualidade do serviço, porém, cada um, a seu modo, apontaram dificuldades a serem enfrentadas como: risco de descontinuidade por mudanças políticas, falta de atendimentos específicos na rede (saúde, educação); dificuldades na reinserção familiar dos adolescentes; atender crianças e ou adolescentes com deficiências. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA BAPTISTA, M. V. Um olhar para a história. In:.; GUARÁ, I. M. F. R. (Coord.). Abrigo: comunidade de acolhida e socioeducação. 2. ed. São Paulo: Instituto Camargo Corrêa, 2006. p. 21-34. (Abrigar, 1). ;(Org) Famílias de crianças e adolescentes abrigados : quem são, como vivem, o que pensam, o que desejam. São Paulo : Paulus, 2008. 4
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentess à Convivência Familiar e Comunitária. Brasília, DF: CONANDA : CNAS : SEDH, 2006. RIZZINI, I. O século perdido: raízes históricas das políticas públicas para infância no Brasil. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2011..; RIZZINI, I. "Menores" institucionalizados e meninos de rua. In: FAUSTO, A.; CERVINI, R. (Org.). O trabalho e a rua: crianças e adolescentes no Brasil urbano dos anos 80. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1996. cap. 3. p. 69-90..;. A institucionalização de crianças no Brasil: percurso histórico e desafios do presente. Rio de Janeiro: Ed. PUC/RJ; São Paulo: Loyola, 2004. Disponível em:http://www.editora.vrc.pucrio.br/docs/ebook_institucionalizacao_de_criancas_no_brasi l. df>. Acesso em: 20 maio 2014.. et al. (Coord.). Acolhendo crianças e adolescentes: experiências de promoção do direito à convivência familiar e comunitária no Brasil. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNICEF : CIESPI; Rio de Janeiro: PCI-RIO, 2006.. Crianças e menores: do pátrio poder ao pátrio dever: um histórico da legislação para a infância no Brasil..; PILOTTI, F. (Org.). A arte de governar crianças: a história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009. p. 99-168... In:.; PILOTTI, F. (Org.). A arte de governar crianças: a história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2011. p. 97-149. VALENTE, J. Família acolhedora: as relações de cuidado e de proteção no serviço de acolhimento. São Paulo: Paulus, 2013. 5