TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 19.912/02 ACÓRDÃO



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Transcrição:

TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 19.912/02 ACÓRDÃO L/M "O VIGILANTE III". Emborcamento quando em faina de demanda do canal de Marapendi, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, com danos materiais e vítima com ferimentos leves. Fortuidade. Arquivamento. Vistos os presentes autos. Trata-se de analisar o emborcamento ocorrido em 16/02/02, cerca de 8h30mim envolvendo a embarcação "O VIGILANTE III" de propriedade de Air Dryer Ind. e Com. Ltda, quando demandava a barra do canal de Marapendi, RJ, pilotada por João Pedro Furstenberger, e levando a bordo três passageiros, quando navegava do Marina Barra Clube com destino a Barra da Tijuca, sendo que, ao passar pela barra do canal Marapendi, saída obrigatória para alcançar a praia da Barra da Tijuca, não conseguiu romper, com êxito, a arrebentação, vindo a ser colhida pela segunda onda, emborcando, e jogada de encontro às pedras, provocando avarias de grande monta, e lesão na região lombar em um dos passageiros André Eyer Furstenberger, filho do condutor da lancha. As condições de tempo, mar e vento eram boas, pois o mar estava calmo e não havia ventos. Laudo de exame pericial apontou como causa, o fator operacional, pois o mestre da lancha deveria ter mantido a lancha aproando as ondas, porém ao avistar a 2ª onda, guinou para boreste deixando o través de bombordo exposto a quebra da onda. Concluiu que a causa determinante foi o erro de manobra da embarcação por ter guinado para boreste ao avistar a 2ª onda. Documentação de praxe anexada. No relatório, o encarregado do inquérito concluiu que o possível responsável pelo acidente foi João Pedro Furstemberger, por imprudência, devido a guinada para boreste antes

de passar a segunda onda, onde a embarcação deveria ficar aproada, desta forma a embarcação deixou bombordo livre, ocasionando o emborcamento. Notificação do indiciado formalizada. Defesa prévia de folhas. A PEM ofereceu representação em face de João Pedro Furstenberger, por entendê-lo responsável pelo acidente da navegação naufrágio, previsto no Art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, que fundamentando em conformidade com o relatório do encarregado do inquérito. Recebida a representação e citado, o representado foi regularmente defendido. A defesa de João Pedro Furstenberger, alega em resumo: Da improcedência da representação Em que pese o costumeiro brilhantismo e cuidado com que a ilustre Procuradora sempre defere às representações que promove, este processo em si, pelas circunstância que envolveram o acidente, poderia ter sido analisado sob um outro enfoque, que seria muito mais apropriado ao caso, e, por esta razão, a seguir se demonstrará a improcedência da representação que ora se responde. Com efeito, estamos diante de um nítido exemplo de que uma falsa interpretação repetida várias vezes, pode assumir o preocupante status de uma verdade absoluta. De fato, há que se tomar cuidado para que determinados entendimentos nascidos de interpretações equivocadas possam terminar por prejudicar terceiros. A questão é muito simples e de fácil compreensão. O perito que elaborou o laudo pericial de fls. 7/8, concluiu que a causa determinante do acidente foi o fato do mestre da lancha ter guinado para boreste, ao avistar a 2ª onda, expondo o través de bombordo. Pronto, bastou esta afirmação para que tal fato passasse a ser um axioma neste processo. Entretanto, o que nem o encarregado do inquérito, e nem a D. Procuradoria, procuraram observar, foi de 2

onde essa conclusão foi extraída. Será que esta afirmação de fato está bem caracterizada nos autos? Quer parecer que não. Com toda certeza o representado em seu depoimento não fez tal afirmação. Em momento algum ele informa que teria guinado para boreste após ter avistado a segunda onda, basta ler o seu depoimento e constatar que não há esta afirmativa. No depoimento de fls. 19, que foi prestado pelo filho do representado André Eyer Furstenberger, consta a informação de que após ter transpassado a primeira onda o representado guinou para boreste e, em seguida, formou-se a segunda onda que os atingiu. Vejam o que diz o depoimento: Depoimento de fls. 19; "Perguntado se pode informar como ocorreu o acidente, respondeu que: sim ao transpassar a primeira onda, o condutor guinou para BE, em seguida criou-se outra onda que os atingiu". Então, a situação é diferente daquela interpretada pelo perito da Capitania dos Portos. O que o filho do representado disse em seu depoimento, foi que a segunda onda veio após o condutor ter guinado para boreste e não que ele teria guinado para boreste após ter avistado a segunda onda. Isto faz uma grande diferença dentro do contexto dos autos e deverá ser examinado com muita atenção para que não se cometa injustiça. A interpretação data tanto pelo perito, quanto pelo encarregado do inquérito e pela ilustre Procuradora, está distorcida e constrói uma tese que, ao final, demonstraria uma certa imperícia do representado. Entretanto, se tivessem feito a interpretação exatamente pelo que foi informado pelo depoente, teriam chegado à inevitável conclusão de que o representado guinou para boreste antes de se formar a segunda onda.. Alias, nessa linha de raciocínio, se era tão relevante esta questão relativa a guinada para boreste após ter sido avistada a segunda onda, por que razão, tal fato, não foi melhor 3

esclarecido na fase do inquérito? Afinal era ele quem conduzia a lancha, e portanto, as suas declarações poderiam portar maior precisão do que aquelas prestadas por seu filho. Mas, como a conclusão equivocada do perito já seria suficiente para respaldar um eventual entendimento de que o representado seria responsável pelo acidente, preferiu-se assumir de vez, esta prematura conclusão de que o ora defendente foi imperito, ao invés, de melhor se investigar as causas do acidente. Todavia, se levarmos em consideração que o mar estava calmo e sem ondas, tal manobra não se afigurou, em hipótese alguma, como imperito, já que o representado, após ter passado pela primeira onda, bem menor vale frisar, não poderia jamais supor que em face da condição de mar calmo, uma segunda onda, bem maior, pudesse se formar de forma tal súbita e inesperada, numa situação típica e característica de uma fortuna do mar. Com relação ao fortuito, a D. Procuradoria procura afastar esta hipótese com a alegação de que se o próprio representado informa que as condições de tempo, mar e vento eram boas, pois o mar estava calmo, então, estaria afastada a possibilidade do acidente ter ocorrido por fortuna do mar, fls. 41. Com todo o respeito ao entendimento abordado pela ilustre Procuradora, a defesa do representado, quer enfatizar que é justamente pelo fato do mar estar calmo, sem vento e sem ondas, é que o fortuito se apresenta. Em outras palavras, as razões apresentadas pela D. Procuradoria como aquelas capazes de descaracterizar o fortuito são justamente as que o caracteriza. Isto porque, nada no cenário da navegação que se desenvolvia poderia faze-lo supor que estaria por vir uma onda tão grande quanto aquela segunda onda que apareceu. Tratando-se portanto de uma situação imprevista, imprevisível e irresistível, configura-se então uma clássica situação de fortuidade a isentar o representado de qualquer responsabilidade pela verificação do acidente. Não bastasse o fato de restar bem caracterizado nos autos a situação extraordinária inerente à formação da segunda onda, que de forma imprevista, acabou surpreendendo o 4

representado, convém ressaltar, com relação à tão criticada manobra para boreste, que ainda o representado tivesse, de fato, feito a manobra após ter avistado a segunda onda o que não foi feito, o argumento cinge-se apenas ao debate ainda assim, esta manobra teria que ter sido muito melhor examinada para que se pudesse concluir de forma tão contundente pela imperícia do mestre da embarcação. Isto porque uma navegação é muito dinâmica. Cada casco é um casco e contém suas particularidades que só mesmo aquele que conduz a embarcação, e tem que efetuar as manobras, é que consegue avaliar a razão pela qual uma manobra se faz necessária, até mesmo porque, muitas vezes, os fatos se sucedem com incrível rapidez. Nesse sentido, observe-se que a tal guinada para boreste poderia ter sido necessária, naquele momento, dependendo da posição da embarcação com relação as margens do canal. Numa navegação, guinadas para um bordo e para outro, são usuais e necessárias a fim de se corrigir o rumo. Nenhum mestre poderá ser acusado de imperito apenas pelo fato de ter guinado para boreste ainda que estivesse deixando a barra do canal de Marapendi. A primeira pergunta que se apresenta para uma situação como esta, seria: Por que esta manobra foi efetuada? A resposta a esta pergunta poderia mudar diametralmente as conclusões do inquérito. Pena que ela não tenha sido feita por ocasião do depoimento do representado. Nessas condições, o que se constata acima de qualquer dúvida com relação às conclusões a que chegaram o perito que elaborou o laudo pericial da Capitania dos Portos, o encarregado do inquérito e a D. Procuradoria, é que elas são exatamente rigorosas, e o que pior, contêm uma premissa falsa que comprometem definitivamente o seu todo, vale dizer, a acusação assume a posição de que o defendente teria guinado após ter avistado a segunda onda, quando na realidade a manobra foi feita antes da formação desta onda cujo aparecimento foi súbito e inesperado. Esta constatação, inequívoca, demonstra insofismavelmente, a improcedência da acusação formulada contra o representado. Da causa determinante do acidente 5

Na ânsia de atribuir a todo custo a responsabilidade do evento ao representado, a acusação preferiu fechar os olhos para aquela que realmente se constitui a causa determinante do acidente, que vem a ser constante assoreamento do canal da Barra da Tijuca, sem que haja, por parte do Governo do Estado do Rio de Janeiro a devida manutenção com as necessárias dragagem. Essa sim foi a causa eficiente para a verificação do acidente. O representado por diversas vezes nos autos chamou a atenção para este aspecto sem que suas considerações merecessem qualquer atenção por parte das autoridades. Ao contrário disso, recebeu como resposta da D. Procuradoria em sua representação às fls. 42, a alegação de que todos que navegam naquela região sabem que aquele local é perigoso e possui bancos de areia. Ora tal fato não tem o condão de transferir a responsabilidade do Estado pela manutenção do canal ao representado. Muito pelo contrário, se o local é perigoso, e a própria Procuradoria reconhece tal situação, esta é então, uma forte razão para que o Estado não negligencie na segurança da navegação no local. Não vamos aqui, fazer uma transferência de responsabilidade, até porque, mais eficiente do que se condenar o representado por imperícia que vale ressaltar, não existiu seria utilizar os meios legais para compelir o Estado a promover a necessária e adequada manutenção do canal, evitando que os seus usuários se exponham a riscos desnecessários. Diante de todo o exposto e protestando por todos os gêneros de prova em direito admitidos, espera e confia o representado que esta E. Corte, fazendo Justiça, o exculpe do feito. Na instrução nenhuma prova foi produzida. Em alegações finais falaram as partes. Decide-se: De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e extensão do acidente da navegação, tipificado no art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, ficaram 6

caracterizadas como emborcamento de lancha de esporte e recreio, quando tentava passar pela barra do canal de Marapendi, saída obrigatória para alcançar a praia da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, ocasionando danos materiais de monta e ferimentos leves em um dos passageiros. Constata-se que a L/M "O VIGILANTE III", saiu da marina Barra Clube, com destino a praia da Barra da Tijuca, não conseguindo romper, com êxito, a arrebentação, vindo a ser colhida por uma onda, emborcamento, tendo sido, jogada por essas ondas de encontro as pedras que compõem o quebra-mar local. Constata-se, também, que a L/M "O VIGILANTE III", trafegava com mar calmo, não havia vento, o céu era claro e a visibilidade boa. O condutor da L/M "O VIGILANTE III", João Pedro Furstenberger, ora representado, após ter transpassado a primeira onda, guinou para boreste e, em seguida deparou-se com uma onda, a qual o atingiu violentamente, o que provocou o emborcamento da lancha e o ferimento na região lombar de André Eyer Furstenberguer. É sabido que a lancha possuía 2 (dois) motores de popa Yamaha 90 HP, radar, VHF, agulha, GPS e coletes salva-vidas. Após o acidente, a L/M "O VIGILANTE III", foi rebocada pelas embarcações "KAKARECO" e "MALVARÉ", para o angar 2, da marina Barra Clube. Contudo, permanece ainda no campo das dúvidas, a real posição de que o representado teria guinado após ter avistado a segunda onda, visto que guinadas para um bordo e para outro, são usuais e necessário a fim de se corrigir o rumo. Na hipótese de se considerar que o representado teria guinado para boreste, após ter avistado a segunda onda, não se pode afirmar que a referida manobra da L/M "O VIGILANTE III", tenha guardado relação de causa e efeito com o acidente. Nesse sentido, observa-se que a tal guinada para boreste poderia ter sido necessária naquele momento dependendo da posição da embarcação com relação as margens do canal. 7

Entretanto, como tais questões relativas a guinada para boreste, após o condutor da lancha ter avistada a segunda onda, não ficou bem esclarecido na fase do inquérito. Por todo o exposto e acolhendo na íntegra os argumentos apresentados em defesa do representado João Pedro Furstenberguer, deve-se considerar improcedente a representação ofertada pela Douta Procuradoria, julgando o acidente da navegação como decorrente de caso fortuito, e mandar arquivar o processo. Quanto as medidas preventivas requerida pela defesa, esclarecemos que as mesmas, estão sendo providenciadas pelas Autoridades competentes. Assim, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: emborcamento de lancha quando demandava canal de Marapendi, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, com danos materiais e vítimas com ferimentos leves; b) quanto à causa determinante: fortuita; c) decisão: julgar o acidente da navegação, tipificado no art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, como decorrente de caso fortuito, exculpando o representado João Pedro Furstenberger e mandando arquivar o processo; d) medidas preventivas e de segurança: as medidas preventivas requeridas deixam de ser apreciadas, uma vez que as mesmas já estão sendo providenciadas pelas Autoridades competentes. P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, em 19 de outubro de 2004. EVERALDO SÉRGIO HOURCADES TORRES Juiz-Relator WALDEMAR NICOLAU CANELLAS JÚNIOR Almirante-de-Esquadra (RM1) Juiz-Presidente 8

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