RELAÇÕES VIOLENTAS: HETEROSSEXUALIDADE E FEMINISMO MATERIALISTA EM PERSPECTIVA

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Transcrição:

RELAÇÕES VIOLENTAS: HETEROSSEXUALIDADE E FEMINISMO MATERIALISTA EM PERSPECTIVA Nathalia Christina Cordeiro; Valéria Noronha Universidade Federal da Bahia nathich_c@hotmail.com Resumo Apesar de alguns avanços, ainda hoje a mulher é alvo das mais variadas manifestações de violência no espaço da intimidade. Nesse sentido, pretendemos tecer algumas considerações a respeito do feminismo materialista e como sua perspectiva pode contribuir para o debate sobre as relações violentas. Ressalta-se que as feministas materialistas abordam as relações sociais a partir da consubstancialidade e do questionamento da imposição da heterossexualidade. Assim, o presente trabalho tem como objetivo abordar as relações violentas no contexto da sociedade capitalista racista patriarcal. Palavras-chave: Relações Violentas, Feminismo, Heterossexualidade. Introdução Ao longo da história, as mulheres têm se articulado em busca de construir análises a partir de suas perspectivas. Isso acontece, principalmente, desde a década de 1970 e 1980, período em que as feministas, através de atuação organizada, levaram suas demandas a público e reivindicaram seus direitos. À época, as principais exigências feministas circundavam a conquista efetiva da igualdade, a luta pelo prazer e o enfrentamento às mais diversas violências perpetradas contra as mulheres. De acordo com Bandeira (2008), a crítica feminista evidencia e assume uma tomada de consciência coletiva e individual, que provoca uma mudança no entendimento do que são as relações de sexo/gênero e um maior destaque do processo de subordinação e exclusão das mulheres. O que ocorre também na produção do conhecimento. Nesse sentido, conforme salienta a autora, essa tomada de consciência e mobilização trata-se de uma luta para mudar/transformar essas relações e essa situação (BANDEIRA, 2008, p. 210). Ressalta-se que na área dos estudos feministas entende-se que esse sujeito mulheres é construído social e culturalmente nas diversas relações estabelecidas. Assim, não se trata de um dado biológico ou fixo, mas uma construção, reflexo das interações de um dado tempo e um dado espaço. Quebrando essa lógica, as feministas politizam essa divisão e a torna motivo de investigação. De acordo com Bandeira (2008):

A crítica feminista provocou uma ruptura epistemológica significativa ao postular que o domínio do privado, na existência pessoal, é também político, que não há problema político que de alguma maneira não recaia sobre a dimensão do pessoal/privado e que tais relações interferem nas práticas de conhecimento científico. O corolário da visibilidade do privado ganha destaque para a prática científica, centrada na crítica ao patriarcado: a divisão sexual do trabalho, as relações entre os sexos/gêneros, as relações de classes, as categorias associadas à apropriação individual e coletiva das mulheres e em particular as manifestações de controle social (violência conjugal, incesto, estupro, mutilações genitais, prostituição, pornografia) constituem-se prioritários como temáticas e propostas de pesquisa. (BANDEIRA, 2008, p. 224). Desse modo, ao se colocarem como produtoras de conhecimento, as mulheres passam a abordar temas relacionados ao seu cotidiano e realidade. Assim, entre outras questões, a violência contra a mulher ganha maior visibilidade como assunto abordado cientificamente. A violência contra a mulher durante muito tempo foi tratada como algo normal e aceitável. Apesar da persistência desse cenário, alguns avanços foram conquistados através da atuação organizada das mulheres. Cotidianamente, as mulheres são submetidas a diversos tipos de violência - psicológica, física, emocional, patrimonial ou sexual, por exemplo. Educada para o silêncio, a mulher nem sempre denuncia ou se desvincula de uma relação violenta. Através dos dados apontados pelo Mapa da Violência 2015-Homicídio de Mulheres no Brasil é possível notar que as taxas de feminicídio 1 e violência continuam altas, principalmente no que se refere às mulheres negras. Houve um aumento de 54% nas taxas de feminicídio desse grupo em um período de 10 anos. Ainda segundo o Mapa da Violência 2015-Homicídio de Mulheres no Brasil, lançado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais FLACSO, 50,3% de mortes violentas de mulheres são cometidas por familiares e 33,2% por parceiros ou ex-parceiros. Além disso, o Brasil tem uma taxa de 4,8 feminicídios por cada 100 mil mulheres, ocupando quinto lugar no ranking feito pela Organização Mundial da Saúde. De acordo com o Balanço do primeiro semestre de 2015 Ligue 180 Central de Atendimento a Mulher da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR) 2, em 70,71% dos casos registrados, as violências foram cometidas por homens com quem as vítimas têm ou tiveram algum vínculo afetivo: atuais ou ex companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas. Ademais, os dados sobre a frequência em que a violência ocorre 1 Ainda que de forma controversa, em março de 2015 foi assinada a lei de feminicídio no Brasil, classificando-o como crime hediondo e com agravantes quando acontece em situações específicas de vulnerabilidade, de acordo com o Mapa da Violência 2015- Homicídio de Mulheres no Brasil. 2 Mais informações: <http://www.spm.gov.br/assuntos/violencia/ligue-180-central-de-atendimento-amulher/balanco1sem2015-versao-final.pdf>

mostraram que em 39,47% dos casos a violência é diária; e em 35,60%, é semanal. Ou seja, em 75,07% dos casos a violência ocorre com uma frequência muito alta. Esses índices justificam a necessidade de se debater a realidade vivenciada por grande parcela das mulheres brasileiras. Entendendo que esses dados são reflexos da construção históricosocial desigual em torno do masculino e do feminino, ou seja, dos gêneros, como vêm denunciando as feministas. No presente trabalho nos aproximamos da perspectiva materialista do feminismo. Essas feministas entendem que as mulheres e os homens se definem através de uma relação social de classe, ou seja, através de classes de sexo. Por sua vez, essa relação determina a divisão social/sexual do trabalho e sua apropriação, bem como o sistema de produção. Nesse sentido, o ser homem ou ser mulher não possui referência biológica, mas sim ideológica. Se materializando, desse modo, em hierarquização, opressão e exploração das mulheres pelos homens. Ainda nessa perspectiva, essas relações evidenciam as relações de sexo e sexualidade que estruturam a sociedade. As feministas materialistas afirmam que nesse processo ocorre a domesticação da sexualidade e a imposição e normatização da heterossexualidade. Assim, a heterossexualidade se coloca como uma imposição institucionalizada que concede e assegura aos homens o direito ao acesso emocional, físico e econômico frente às mulheres. Desse modo, é preciso refletir como a heterossexualidade afeta a vida de todas as mulheres e a relação de dependência emocional, simbólica e material estabelecida com os homens. Além disso, é necessário abordar como a simbiose entre o patriarcado, o racismo e o capitalismo organiza a vida das mulheres e aponta as que serão mais atingidas por essa forma de organização. Nesse sentido, o presente trabalho busca abordar, de forma breve, a violência contra a mulher em relações afetivas e sexuais através da perspectiva do feminismo materialista. Ressalta-se que a escolha dessa perspectiva se dá pela centralidade do debate sobre a heterossexualidade e da simbiose entre patriarcado, racismo e capitalismo. Metodologia A atuação das mulheres nas ciências ainda é um acontecimento recente, demandando enfrentamento e reafirmação constante. Desse modo, a abordagem de temas que se relacionem com

a realidade das mulheres, apesar de terem ganhado visibilidade, ainda carecem de suporte e justificativa. No presente trabalho, buscaremos, através de revisão bibliográfica, tecer algumas contribuições acerca da violência contra a mulher perpetrada por seus companheiros sob a ótica do feminismo materialista. Nesse sentido, inicialmente abordaremos a inclusão do tema das relações violentas na ciência. Tendo como referência autoras como Cecília Sardenberg e Lourdes Bandeira. Em sequência, com base no trabalho de Heleieth Saffioti, Mirla Cisne, Nicole-Claude Mathieu e Jules Falquet, colocaremos em debate o feminismo materialista. Desse modo, serão tratadas as relações estabelecidas dentro do atual sistema racista-capitalista-patriarcal. Além disso, dissertaremos sobre a violência contra a mulher no espaço das intimidades. Assim, tomaremos como base algumas feministas que se debruçaram sobre o tema, como Heleieth Saffioti e Karin Smigay. Conclusão Ainda em processo de elaboração, esse trabalho tem como objetivo contribuir no debate sobre a violência contra a mulher em relações afetivas e sexuais tendo como base as referências do feminismo materialista. Entende-se aqui que essa perspectiva feminista se coloca como uma boa proposta de análise uma vez que parte do princípio da consubstancialidade. Ou seja, entende que não há como dissociar gênero, raça e classe ao debater a sociedade. Assim, toma-se como referência que as estruturas racistas, capitalistas e sexistas organizam a vida das mulheres. É possível observar que não há como desmembrar esses eixos de análise ao constatar, por exemplo, que as taxas de feminicídio contra mulheres negras aumentaram 54%, enquanto os dados sobre as mulheres brancas diminuíram em 10%. Além disso, entre outros fatores, as mulheres negras são as que ocupam os cargos de trabalho mais desvalorizados, sofrem com preterimento em relação às mulheres brancas no que se refere aos relacionamentos e possuem menor taxa de escolaridade. Nesse sentido, pretendemos entender como as relações violentas são construídas a partir da lógica excludente que estrutura a sociedade utilizando como referência o feminismo materialista.

Referências Bibliográficas ABREU, Maira; ÁVILA, Maria Betânia; FERREIRA, Verônica; FALQUET, Jules. O patriarcado desvendado: teorias de três feministas materialistas: Colette Guillaumin, Paola Tabet, Nicole- Claude Mathieu. Abreu, Maira; Ávila, Maria Betânia; Ferreira, Verônica; Falquet, Jules (Org.). Recife, SOS Corpo, 2014. BANDEIRA, Lourdes. A contribuição da crítica feminista à ciência. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 16, n. 1, p. 207-228, 2008. CALDWELL, Kia Lilly. Fronteiras da Diferença: raça e mulher no Brasil. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 2, p. 91-108, 2000. CISNE, Mirla. Feminismo e consciência de classe no Brasil. São Paulo: Cortez, 2014. SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, patriarcado, violência. 2.ed. São Paulo: Expressão Popular: Fundação Perseu Abramo, 2015 SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Já se mete a colher em briga de marido e mulher. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 13, n.4, p. 82-91, 2000. WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/mapaviolencia_2015_mulheres.pdf >. Acesso em: 25 Mai. 2017.