Nenhuma Mulher a Menos! O que mostram os dados disponíveis mais recentes
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- Gilberto Franca Henriques
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1 Violência Contra as Mulheres em Pernambuco Nota Crítica para o 25 de novembro de dia internacional de luta pelo fim da violência contra as mulheres Apresentação Nesse 25 de novembro de 2016 dia internacional de luta pelo fim da violência contra a mulher publicamos esta nota crítica que reapresenta e atualiza alguns dados sobre a situação da violência contra a mulher em Pernambuco. Passados 10 anos da promulgação da Lei Maria da Penha (Lei Federal nº /2006), o estado, embora tenha registrado queda nos índices nesse período, continua a apresentar dados preocupantes de violência. Essa situação vem sendo denunciada há décadas pelo movimento feminista que, através de ações como as vigílias pelo fim da violência e a incidência junto aos órgãos formuladores e executores de políticas públicas, reivindica que nenhuma mulher seja maltratada, machucada ou morta como resultado da violência exercida para fins de opressão, exploração e dominação que evidencia de forma cruel relações desiguais e de apropriação sobre as mulheres. As informações aqui apresentadas demonstram que a violência atinge indiscriminadamente a todas as mulheres, sendo agravada por outros fatores sociais como as desigualdades de classe, raça e geração. Para essa apresentação descritiva, foram utilizados dados 1 de homicídios da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco 2 e do DATASUS 3 referentes a internações de mulheres por agressão registrados no Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS), homicídios de mulheres Nomear o problema é uma forma de visibilizar um cenário grave Dossiê Feminicídio (2016). Disponível em registrados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e notificações de violência registradas no Sistema Nacional de Agravos e Notificações (SINAN). Vale ressaltar que esses dados demonstram uma face objetiva da violência que consegue ser captada institucionalmente e, quando isso ocorre, geralmente está associado situações anteriores de violência que, por motivos diversos, não foram denunciadas e/ou não tiveram suporte institucional que conseguisse romper seu ciclo. Espera-se que essa publicação forneça subsídios e ajude a direcionar ações para o fortalecimento e articulação de uma rede de mulheres, de profissionais e de serviços que atuem coletivamente no enfrentamento à violência permitindo um melhor atendimento às vítimas e uma maior visibilidade e enfrentamento desse problema no estado. Nenhuma Mulher a Menos! O que mostram os dados disponíveis mais recentes Os dados mais recentes sobre homicídios 4 de mulheres em Pernambuco foram encontrados no site da Secretaria de Defesa Social (SDS) e indicam que em 2016, 240 mulheres foram vítimas de violência letal praticada intencionalmente pelos agressores. A cada 4 1 Os dados, quando selecionados por faixa etária, tomaram por referência a idade mínima de 10 anos, uma vez que a violência na infância tem outros contornos que não serão explorados nesse documento, apesar de também ser recortada fortemente pela opressão de gênero (já que as meninas são as principais vítimas e os casos de abuso e exploração sexual tem uma importância significativa nos números) 2 Disponíveis em 3 Disponíveis em 4 Alguns estudos têm trabalhado com o conceito de feminicídio para fazer referência a agressão letal que envolve violência doméstica e familiar, ou quando evidencia menosprezo ou discriminação à condição de mulher, caracterizando crime por razões de condição do sexo feminino. Como os dados trabalhados foram limitados para essa caracterização, estamos utilizando o conceito de homicídio de mulheres entendendo-o como os óbitos decorrentes de agressão direcionadas a elas.
2 dias uma mulher morre no estado por conta da violência que está nas ruas e nos lares. Em 2015 foram 248 mulheres assassinadas. Pernambuco mulheres assassinadas; A cada 4 dias 1 mulher morre, vítima de violência Dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (2016) Outro dado preocupante diz respeito aos crimes de estupro. Segundo a SDS, de janeiro a agosto desse ano, quase 1000 mulheres foram vítimas desse crime no estado 5. A violência sexual atinge a autonomia das mulheres, é uma objetificação e apropriação do corpo feminino e uma e violação do direito à liberdade sexual e 5 afetiva. Além de ser um abuso grave, afeta a possibilidade de decisão de com quem e em que momento as mulheres devem fazer sexo. Essa situação perversa, ocorre também dentro do casamento e das relações afetivas, resulta, multas vezes, em gestações indesejadas, fruto de violência, e explicita o aborto como opção real e a urgência do debate com a sociedade para a descriminalização dessa prática. 13 notificações de violência por dia Dados da SINAN-PE/DATASUS. Essas são as que sabemos. E aquelas que não aparecem? O sistema de saúde permite a notificação dos casos de violência contra mulheres identificados nos atendimentos. Desde 2009, esse tipo de registro deve ser realizado de maneira contínua e compulsória pelos profissionais de saúde na suspeita ou confirmação de diversos tipos de violência. Os dados mais recentes encontrados no SINAN para Pernambuco são referentes ao ano de 2014 e indicam que naquele ano, no mínimo 4858, mulheres foram identificadas como vítimas de violência não letal em Pernambuco. Esses registros ocorreram com maior frequência na Região Metropolitana (I Geres Recife) e na Região do Sertão do São Francisco (VIII Geres Petrolina). Importante considerar que há ainda subregistro desses dados, relacionado ao medo de exposição das vítimas e dos profissionais de saúde aos agressores, o que torna esses números mais preocupantes. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, SEXUAL E/OU OUTRAS Pernambuco Mulheres 10 anos e mais Div.adm.estadual/Munic notific 2014 I Geres Recife 2213 II Geres Limoeiro 226 III Geres Palmares 27 IV Geres Caruaru 338 V Geres Garanhuns 95 VI Geres Arcoverde 77 VII Geres Salgueiro 92 VIII Geres Petrolina 1098 IX Geres Ouricuri 303 X Geres Afogad Ingazeira 111 XI Serra Talhada 210 XII Goiana 68 Total 4858 Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sinan Net Os registros do SIH/SUS de janeiro de 2015 a setembro de 2016, informam que 220 mulheres precisaram de internação hospitalar em decorrência de agressões sofridas. As internações de residentes na Região Metropolitana e Sertão do estado representam quase 80% desse total, o que pode ser explicado pela disponibilidade de serviços hospitalares de maior complexidade e de unidades de trauma, geralmente demandadas para esse tipo de atendimento. Esse panorama inicial delineia o tamanho e a gravidade do problema e o desafio de estabelecer novos modelos de enfrentamento no estado. A seguir, apresentamos alguns dados em série histórica e com algumas seleções que permitem identificar diferenças regionais e especificidades considerando contextos distintos de desigualdades. 5 Quadro abaixo disponibilizado no site recife/noticia/2016/09/14/pe-numero-de-casos-de-estupro-contra-mulher-cai- 22_porcento-diz-sds php
3 Números que trazem diferenças Entre Regiões A análise dos dados num período mais longo permite identificar um aumento no número de internações decorrentes de violência no Sertão do São Francisco/Araripe a partir de Entretanto, é importante considerar que em 2008 foi inaugurado o Hospital Ofertar serviços para visibilizar demanda Melhorar o acesso ao atendimento para mulheres agredidas Geral de Trauma de Petrolina e esse fato pode ter instaurado uma possibilidade de acesso antes inexistente para as mulheres agredidas na região. Essas internações duraram, em média, quatro dias e meio. Cabe ressaltar que a internação hospitalar ocorre apenas em situações graves, que extrapolam as possibilidades de cuidado no domicílio ou em serviços de atenção básica, UPA e policlínicas. No ano de 2013 as mulheres do Sertão representaram mais de 50% das ocorrências de internação e os casos do agreste desse mesmo ano tiveram as maiores taxas de permanência que chegaram a quase 9 dias de internação. Média de permanência no hospital em decorrência de agressão - mulheres maiores de 15 anos 6 por ano 7 e região de residência. Macrorreg de Saúde/Município Total Metropolitana 1,0 1,6 1,2 1,3 1,2 0,3 2,2 2,5 3,2 3,2 3,3 2,4 2,2 2,0 Zona da Mata 4,5 4,1 5,6 3,7 4,6 1,5 4,8 2,6 1,3 1,4 1,4 1,2 0,6 2,9 Agreste 4, ,5 5,4 3,8 6,5 10 2,5 5,8 8,7 6 1,5 5,3 Sertão Pernambucano 0 4 4, ,8 10 4,3 2,5 3,5 4 4,0 Vale S.Francisco/Araripe 1 0 2,5 2,3 2 2,1 4,3 4,8 3,7 3,4 4,1 6,2 3,9 3,1 Total 5,3 5,6 5,9 4,9 3,5 2,3 5,2 5,2 4,1 4,3 4,4 4,6 3 4,5 Fonte: DATASUS/ Ministério da Saúde 0 Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Notas: 2003 a 2007 por ano de processamento em diante ano de atendimento. Situação da base de dados nacional em 25/08/2015. Dados de janeiro de 2014 até julho de 2015 sujeitos a retificação. Em um período de 6 anos (entre 2009 e 2014) foram registradas mais de 20mil notificações de violência contra mulheres identificada nos atendimentos realizados pelos de serviços de saúde em Pernambuco. Causa estranhamento, no entanto, que nesse mesmo período toda a regional de Palmares, composta por 22 municípios, tenha registrado apenas 56 notificações. A regional de Goiana, com 10 municípios, também vem registrando poucos casos. Vale ressaltar que em tais regiões, quando observados os números de homicídios de mulheres no período apresentam índices proporcionalmente mais altos o que revela uma cultura de violência que não está sendo identificada ou está silenciada nos serviços de saúde. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, SEXUAL E/OU OUTRAS VIOLÊNCIAS ocorridas em Pernambuco Mulheres 10 anos e mais Div.adm.estadual Total I Geres Recife II Geres Limoeiro III Geres Palmares IV Geres Caruaru V Geres Garanhuns VI Geres Arcoverde VII Geres Salgueiro VIII Geres Petrolina IX Geres Ouricuri X Geres Afogad Ingazeira XI Serra Talhada XII Goiana Total Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sinan Net Óbitos por Agressões - Mulheres 10 anos e mais Divisão admin estadual Total III Geres Palmares XII Goiana Fonte: MS/SVS/CGIAE - Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM
4 A despeito da subnotificação, esses dados permitem compreender que a violência está presente no contexto de vida das mulheres, ocorrendo geralmente em suas casas, com agravamentos relacionados a outros contextos de desigualdade como aqueles relacionados à raça e à escolaridade. Os dados também demonstram a necessidade de sensibilizar profissionais de saúde e mulheres no sentido de manter e intensificar a notificação dos casos, de modo a possibilitar um monitoramento sistemático e ações que possam trazer a reversão desse quadro. Os óbitos por violência e o critério raça como marcador de desigualdade Com relação as mortes por causas externas relacionadas a violência, o Sistema da Informação de Mortalidade (SIM) registrou 2899 homicídios de mulheres no estado de Pernambuco no período de 2004 a Em números absolutos, a região onde houve mais óbitos de mulheres vitimadas pela violência durante essa década foi a Região Metropolitana (GERES I Recife) com 1488 homicídios, seguida do Agreste (GERES IV Caruaru), com 376 óbitos e a Zona da Mata Sul (GERES III Palmares) com 200 óbitos. Em Pernambuco houve uma diminuição no número de homicídios de mulheres. No entanto, observando as diferenças regionais, há aumento na comparação entre os anos polos da década em 7 regiões do estado, com destaque para a Regional de Limoeiro que teve aumento de mais de 300% no número de mortes. Homicídios de mulheres PE e variação Divisão admin var compar Total % redução I Geres Recife % redução IV Geres Caruaru % aumento III Geres Palmares % aumento V Geres Garanhuns % redução II Geres Limoeiro % aumento VIII Geres Petrolina % redução VI Geres Arcoverde % aumento XII Goiana % redução IX Geres Ouricuri % aumento XI Serra Talhada % aumento X Geres Afogad Ingazeira % aumento Município ignorado - PE % aumento VII Geres Salgueiro Fonte: MS/SVS/CGIAE - SIM Os dados também se distribuem de maneira bastante diferente quando destacadas as informações sobre mulheres negras 6 ; 7 que representam mais de 80% dos óbitos da década estudada. A variação desse dado entre regiões fica entre 78 e 87% do total de óbitos na década. Em 2014, em algumas regiões (V - Garanhuns, VI - Arcoverde e IX - Ouricuri) 100% das ocorrências de assassinatos de mulheres vitimaram mulheres negras. Óbitos por Agressões - Mulheres 10 anos e mais Divisão admin estadual Total Total I Geres Recife IV Geres Caruaru III Geres Palmares V Geres Garanhuns II Geres Limoeiro VIII Geres Petrolina VI Geres Arcoverde XII Goiana IX Geres Ouricuri XI Serra Talhada X Geres Afogad Ingazeira Município ignorado - PE VII Geres Salgueiro Fonte: MS/SVS/CGIAE - Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM 6 Somando-se as categorias pretas e pardas do IBGE e utilizadas pelo Datasus. 7 Ilustrando essa desigualdade a partir dos dados de internação hospitalar decorrente de agressões, em 2015 quase 60% das internações foram de mulheres negras.
5 A rede de serviços de atenção à violência no Estado Retrocesso nas políticas e Fechamento de serviços No que se refere às políticas públicas, a distribuição dos serviços tem se concentrado nos centros urbanos e Regiões Metropolitanas. Em pequenos municípios do interior e em áreas rurais, as mulheres vivenciam dificuldades dadas pela insuficiência da ação estatal na efetivação de uma rede de atendimento, pela dificuldade da ação em rede do movimento e pela permanência de uma cultura patriarcal que naturaliza a dominação e impede a construção de redes comunitárias de apoio e solidariedade às mulheres afetadas ou vulneráveis a situações de violência. Há geralmente baixa adesão social e pouco apoio político às ações dos grupos de mulheres existentes, que se mantêm, em muitas localidades, como vozes isoladas na denúncia e atuação frente ao problema. A mudança das gestões nos municípios e os retrocessos nas políticas nacional e estadual direcionada para as mulheres impactam diretamente na oferta de atenção e cuidado disponibilizada pelos municípios. Há relatos recentes do movimento de mulheres em vários municípios da Região Metropolitana, Mata Sul e Sertão do Estado que denunciam o fechamento e sucateamento dos mínimos equipamentos existentes como as coordenações ou secretarias municipais de política para as mulheres e os serviços de referência na rede de assistência como o CREAS e o CRAS. O enfrentamento à violência contra as mulheres se faz a partir do reconhecimento do problema pelo Estado que precisa realizar ações que modifiquem a vida das mulheres e que promovam estratégias para garantir autonomia desses sujeitos permitindo o exercício do desejo e possibilidades de escolha. Para o movimento, o desafio do fortalecimento retroalimentado pela experiência compartilhada, pela articulação em rede e pela cobrança ao poder público por ações eficazes para a diminuição dos casos e modificação no padrão cultural machista que engendra diversas formas de violência na existência cotidiana das mulheres. Edição provisória. Publicação sujeita a alteração. Recife, novembro de Produção, Revisão de Texto e Diagramação: Ana Paula Lopes de Melo
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