EXPERIÊNCIAS ESCOLARES, NO ÂMBITO DA SEXUALIDADE, DE FUTUROS/AS PROFESSORES/AS DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA

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Transcrição:

1 EXPERIÊNCIAS ESCOLARES, NO ÂMBITO DA SEXUALIDADE, DE FUTUROS/AS PROFESSORES/AS DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA Sandro Prado Santos Docente do curso de Ciências Biológicas da FACIP/UFU Doutorando em Educação em Ciências e Matemática PPGED/FACED/UFU Resumo Este trabalho apresenta uma investigação que teve como objetivo conhecer e apontar abordagens da Sexualidade no espaço escolar, presentes nos Projetos de Ensino da disciplina Estágio Supervisionado da Licenciatura em Ciências Biológicas, de futuros/ as professores/as dessa área de formação. O referencial teórico se pautou em: Britzman (1996); Louro (2003/2007); Ribeiro (2006/2007); Furlani (2008), dentre outros. A investigação, de abordagem qualitativa, apoiou-se na pesquisa do tipo bibliográfica por meio da construção do estado da arte, ou estado do conhecimento (MEGID NETO, 1999). Os dados foram analisados a partir da técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2010), assim definimos temas considerados relevantes para tal análise e discussão dos dados apresentados a partir do referencial teórico adotado. Realizamos a análise documental, com o estudo de 31 relatórios de estágios elaborados no ano de 2009 a 2011 por futuros/as professores/as de Ciências e Biologia do curso de Licenciatura de uma universidade pública mineira. Apontamos que as intervenções permanecem fortemente condicionadas ao caráter informativo de normas de conduta, da moral, do medo, do risco, cercada de perigos, à materialidade biológica e a matriz heteronormativa. Embora encontramos alguns projetos em que assinalou ações que aproximem a discussão da sexualidade e seus entrelaçamentos com a cultura, destacando temáticas como: transexualidades, homossexualidades e a construção cultural do corpo. Percebemos a importância do espaço das aulas de práticas de ensino não apenas para questionar abordagens do tema, mas nos aventurarmos na direção de outras abordagens, possibilidades e perspectivas de discussão da sexualidade. O estudo aponta contribuições aos profissionais que trabalham a temática nos diferentes espaços de aprendizagem, sobretudo na formação docente. Palavras-Chave: Sexualidade; formação inicial; Ensino de Ciências. Introdução Em nossas vivências e experiências nas orientações dos projetos de Ensino do Estágio Supervisionado de um curso de Ciências Biológicas, percebemos que há um número significativo de trabalhos concluídos na perspectiva de subsidiar os/as professores/as da Educação Básica quanto à abordagem da Sexualidade no espaço escolar. Dessa forma, ressaltamos e concordamos que é impossível separar a escola dessa discussão, uma vez que o cotidiano escolar configura-se num espaço sexualizado e generificado (BRITZMAN, 1996; LOURO, 2007). Nesse contexto, vimos estimulados a conhecer quais as ações escolares sobre 02325

2 sexualidade humana têm sido realizadas, no âmbito de um curso de formação inicial de professores/as de Ciências/Biologia de uma instituição pública federal mineira, por meio dos Estágios Supervisionados. A escolha se fundamenta na compreensão de que futuros/as professores/as dessa área de formação, no contexto escolar, poderão desempenhar o papel de orientador/a sexual, são esses/as os/as professores/as procurados/as pelos/as alunos/as e também pelos próprios colegas quanto o assunto perpassa tal temática (MAISTRO, 2009). Assim, as questões que fomentam a presente investigação não se restringem a indagar se a sexualidade é trabalhada na escola, pois os dados já mostram isso, mas indagamos qual/is sexualidade/s está/ão presente/s nas atividades escolares e de que formas se dá a sua abordagem por futuros/as professores/as de Ciências e Biologia durante os estágios supervisionados. Situando o estudo: a perspectiva teórica Ainda que estudos considerem que a escola representa um espaço social constituído e atravessado pela sexualidade e ao mesmo tempo em que a (re)produzem representações (SILVA, 2011, p. 147), sendo portanto um espaço sexualizado e generificado (BRITZMAN, 1996; LOURO, 2003), alguns a consideram e/ou a colocam no reino da vida privada, anulando suas percepções e consequências sociopolíticas e culturais ao compreendê-la como uma problemática individual (LOPES, 2008, p. 125). Num estudo de Ribeiro (2006) a sexualidade como um dispositivo histórico de poder a autora destaca que na escola se fala rotineiramente na sexualidade, sobretudo, naquelas situações instituídas pelo discurso autorizado e seu porta-voz, através de distintas estratégias (p. 116, grifos nossos). A partir dessas considerações, se faz necessário alguns questionamentos fundamentais para os conhecimentos de sexualidade que são constituídos e/ou instituídos estrategicamente nas práticas escolares: que corpo/sexualidade habita nossas escolas? Que sexualidade cabe no ensino de Ciências e Biologia? Quando a sexualidade é trabalhada, quais as ênfases recaem sobre a temática? Em qual espaço disciplinar se inscreve as discussões de sexualidade e quais os conteúdos disciplinares são privilegiados pelos/as professores/as? Quais temáticas roubam a cena e outras marcadas pelas ausências quando o assunto é sexualidade na escola? Qual a voz autorizada, historicamente, para falar das questões de sexualidade e tomar iniciativas de responsabilização, saberes e fazeres acerca do tema? Apresentando as estratégias metodológicas 02326

3 A investigação teve o caráter bibliográfico por meio da construção do estado da arte, ou estado do conhecimento esses segundo Megid Neto (1999) inventaria, sistematiza e avalia a produção em determinada área do conhecimento e num período previamente estabelecido e possui uma natureza quali-quantitativa. O contexto da pesquisa foi no âmbito de curso de formação inicial de professores/as de Ciências e Biologia de uma universidade pública federal do município de Ituiutaba/MG. Realizamos uma revisão bibliográfica das produções dos projetos de ensino, sobre sexualidade, do período de 2009 a 2011. Utilizamos o arquivo com os relatórios do estágio que ficam disponíveis na coordenação do curso de Ciências Biológicas. Os dados foram analisados a partir da técnica de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010), assim definimos temas considerados relevantes para tal análise e discussão dos dados apresentados a partir do referencial teórico adotado. Análise dos dados Do total de 150 projetos de ensino sobre temas diversos elaborados para contribuir e/ou auxiliar na escola, 31 contemplavam o tema sexualidade, o que representa 46,5% das intervenções realizadas, sendo o tema mais recorrente nos relatórios de estágio analisados. As intervenções realizadas objetivaram: Conscientizar, informar e indicar formas prevenção das DST s, prevenção contra a gravidez, sistema reprodutor e métodos contraceptivos (citado nos relatórios 1, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10,12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 30); Levar informações sobre o aborto e orientá-los quanto às consequências e métodos para evitá-lo (citado nos relatórios 2, 22, 23); Discutir sobre sexo e drogas (citado nos relatórios 5, 21, 31); Apresentar informações sobre menstruação, masturbação, DST s/aids, ejaculação, formação de espermatozoide, anticoncepcionais e camisinha (citado nos relatórios 11, 14); Discutir sobre a diversidade sexual, gênero e homofobia (citados nos relatórios 10, 15, 24, 30). Nessa perspcetiva, encontramos nos projetos de ensino uma territorialização do espaço e do/a professor/a das disciplinas de Ciências e Biologia na responsabilização, tradução destes e outros discursos e noções de sexualidade que são reconhecidas, ou se reconhecem como do campo biológico. Nesse sentido, as discussões sobre sexualidade humana encontram espaço quase que (...) exclusivamente no trabalho isolado dessas/es professoras/res (FURLANI, 2008, p.39). Associado ao campo biológico, encontramos também o discurso médico direcionando as discussões da sexualidade no âmbito 02327

4 escolar atravessado por estratégias instituídas pelo discurso autorizado e seus portavozes, realizando uma discussão da sexualidade sob o ponto de vista: Dos especialistas, médicos/as, enfermeiros/as, psicólogos/as, professores/as de Ciências e Biologia. Geralmente chamados para resolver problemas associados à sexualidade com informações de seus campos de conhecimento (RIBEIRO, 2007, p. 184). Foram tais perspectivas que encontramos nas proposições dos projetos de ensino, em que ocorre uma maior ênfase aos aspectos biológicos, com foco: prevenção à gravidez indesejada e às DST s/aids, anatomia e fisiologia do sistema reprodutor humano, a discussão sobre as diferenças entre os conceitos de sexo e sexualidade, desenvolvimento de hábitos que contribuam para o auto cuidado do corpo, sobretudo da higiene corporal, abuso sexual, puberdade, aborto, virgindade, ejaculação e métodos contraceptivos. Sendo assim, percebemos que nas ações de alguns licenciandos/as a sexualidade humana é abordada de modo desvinculado às produções sociais e históricas que ultrapassa a Biologia. Alguns projetos se prestam na abordagem exclusiva da sexualidade no sentido de cercer o seu exercício de acordo com as regras de normalidades estabelecidas socialmente, fomentando no âmbito escolar a (re)produção de padrões socias, perpetuando concepções e instituindo verdadade. Considerações finais Ao nos debruçarmos neste estudo, buscávamos encontrar as características, tendências e os elementos pedagógicos utilizados por futuros/as professores/as de Ciências e Biologia para tratarem da sexualidade, examinar as possibilidades e as limitações encontradas por eles/as durante seu desenvolvimento, percebemos como relevante a formalização do trabalho com o tema das sexualidades no espaço escolar e seus efeitos, tais como as inquietações e os calourosos debates sobre o tema estabelecido no campo educacional. Entretanto, nos deparamos com o que procurávamos, reconhecendo que tais práticas permanecem fortemente condicionadas a normas de conduta, da moral, do medo, do risco, cercada de perigos, à materialidade biológica e a matriz heteronormativa. Embora encontramos alguns projetos em que assinalou ações que aproximem a discussão da sexualidade e seus entrelaçamentos com a cultura. Os projetos apresentaram um entendimento da sexualidade apartado de uma construção histórica e cultural constituída nas experiências de vida das pessoas, entre elas nas vivenciadas nos espaços escolares, sendo assim, defendemos a existência desses discursos, além do biológico, para abordar a sexualidade no espaço escolar. 02328

5 Esclarecemos que ao questionarmos o aspecto estritamente informativo e biológico das propostas pedagógicas, não estamos negando a importância desta dimensão do processo educativo. Porém, enfatizamos que uma educação para a sexualidade possibilite discutir outros discursos, temáticas e práticas, em que não é negada a biologia, mas enfatizada, deliberadamente, a construção social e histórica produzida sobre as características biológicas (LOURO, 2003, p. 22). Esperamos que o presente estudo acrescente contribuições e subsídios aos diversos profissionais que trabalham com a temática da sexualidade nos diferentes espaços de aprendizagem, sobretudo na formação de professores/as. Referências BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2010. BRITZMAN, D. O que é essa coisa chamada amor: identidade homossexual, educação e currículo. Educação e Realidade. Porto Alegre, v. 21, n.1, jan/jul, 1996. FURLANI, J. Gênero e sexualidade nos materiais didáticos e paradidáticos: representações de gênero e sexualidade em livros didáticos e paradidáticos. Salto para o futuro, educação para a igualdade de gênero. Ano XVIII. Boletim 26. Nov/2008, p.39-46. LOPES, L. P. M. Sexualidade em sala de aula: discurso, desejo e teoria queer. In: MOREIRA, A. F.; CANDAU, V. M. (Orgs.). Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: vozes, 2008, p. 125-148. LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 6ª ed. Petrópolis: vozes, 2003.. Gênero, sexualidade e educação: das afinidades políticas às tensões teóricometodológicas. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 46, p. 201-218, dez. 2007. MAISTRO, Virgínia Iara de Andrade. Desafios para a elaboração de projetos de Educação Sexual na escola. In: FIGUEIRÓ, M. N. D (Org.). Educação Sexual: em busca de mudanças. Londrina: UEL, 2009, p. 35-62. MEGID NETO, J. Tendências da pesquisa acadêmica sobre o ensino de Ciências no nível fundamental. São Paulo. 1999. 114f. Tese (doutorado em educação) - Faculdade de Educação, Unicamp. RIBEIRO, P. R. C. A Sexualidade como um dispositivo histórico de poder. In: SOARES, G. F.; SILVA, M. R. S. DA.; RIBEIRO, P. R. C. Corpo, gênero e sexualidade: problematizando práticas educativas e culturais. Rio grande: editora da FURG, 2006, p. 109-118.. Inscrevendo a sexualidade: discursos e práticas de professores das séries iniciais. In: WORTMANN, M. L. C. et al (Orgs.). Ensaios em estudos culturais, educação e Ciência: a produção cultural do corpo, da natureza, da ciência e da tecnologia. Instância e práticas contemporâneas. Porto Alegre: editora da UFRGS, 2007, p.184. SILVA, F. F. da. Lições de sexualidade na escola. In: SILVA, F. F. da.; MELLO, E. M. B. (Orgs.). Corpos, gêneros, sexualidades e relações étnico-raciais na educação. Uruguaiana, RS: UNIPAMPA, 2011, p. 146-157. 02329