SISTEMA FINANCEIRO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Aluno: Tiago Zeitone Gomes de Amorim Orientador: Juliano Assunção Introdução Transporte urbano é um tema que tem atraído muitos estudiosos nos últimos anos dado o contexto de forte urbanização e desenvolvimento econômico que motorizou ainda mais cidades crescentes. Essa urbanização não só provocou aumentos em densidade populacional como também expandiu as regiões metropolitanas em todo o país. Essas variáveis contribuem para um crescente desafio urbano de mobilidade, obrigando cada vez mais estudiosos a se debruçarem no assunto. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (PNAD) é conduzida anualmente pelo IBGE desde 1967 e a partir de 1992 passou a documentar a duração casatrabalho. Como o PNAD não tem efeito analítico, somente de amostrar, esse trabalho foi contextualizado em outros trabalhos. Esse relatório tem como tema principal o tempo de deslocamento e sua evolução, desde 1992 e principalmente a partir de 2002, quando o crescimento econômico começa a refletir ainda mais no tráfego urbano. Com a mobilidade urbana deteriorada, a atividade econômica é comprometida. A evolução do quadro a ser estudado mostra que medidas tem que ser tomadas para contornar uma situação grave, principalmente nos centros urbanos mais importantes. A fonte de dados é do IBGE e abrange 9 regiões metropolitanas mais o distrito federal. Essas regiões serão analisadas e a evolução do tempo a se deslocar será interpretado em causas e consequências nas atividades econômicas locais. O desafio impõe cada vez mais pressão política e o tema passa a ser pauta principal para muitas candidaturas a prefeito e governador, mostrando um impacto político real. Objetivos O objetivo principal do relatório é montar uma evolução de uma realidade nos importantes centros urbanos do pais. Se baseia fundamentalmente nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), gerados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma fonte de dados até hoje pouco explorada em estudos sobre transporte urbano no Brasil. A PNAD não é organizada para viés analítico; no entanto, esta é a única pesquisa amostral de larga escala feita no país com informações sobre o tempo de deslocamento casa-trabalho anualmente tanto para o nível nacional quanto para o subnacional (estados e regiões metropolitanas). Tem uma enorme função para as políticas públicas locais e regionais, dado que afeta o bem-estar e a economia de forma direta. A determinação da variação do tempo de deslocamento pode contribuir para a avaliação de políticas mais direcionadas e eficientes. O crescimento econômico alinhado com supervalorizações de imóveis tornou o crescimento populacional nas grandes cidades um problema em termos de mobilidade. As fronteiras das RMs se direcionaram para as periferias ainda não atingidas pelas valorizações de imóveis, tornando-se mais populosas e trazendo dificuldades no momento de se deslocar para o trabalho que não está somente longe geograficamente, mas também é necessário percorrer caminhos repletos de congestionamento intenso pelos aumentos da densidade populacional e de motorização por parte dos moradores das RMs.
Metodologia e Pesquisa Foram necessários os dados da PNAD para o cálculo do tempo médio de cada Região Metropolitana estudada. O método da PNAD de questionário envolveu a distribuição em 4 opções: i) Leva menos de 30 minutos; entre 30 minutos e 1 hora; entre 1 e 2 horas; mais de duas horas. Com base nas respostas foi calculado o deslocamento médio por meio da aplicação da porcentagem de cada opção pela faixa de tempo mediana da mesma opção. Os dados são para as Regiões Metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Distrito Federal. Temos que ressaltar as causas para tais dados, apontando o crescimento econômico a partir de 2002/2003. Podemos observar e ilustrar esse fato com o gráfico abaixo representante do Produto Interno Bruto do Brasil em bilhões de dólares: Fonte: Banco Mundial Temos, portanto, o ano de 2002 como ponto de inflexão no panorama brasileiro socioeconômico. O mundo viveu um boom e o Brasil especialmente se beneficiou com commodities em expansão e valorização. O cenário externo e demográfico tornava a economia brasileira uma grande promessa de desenvolvimento. Com muitos dos aspectos da economia melhorando, houve um claro aumento no poder aquisitivo para classes médias e baixas. A pobreza caia juntamente com a desigualdade pelo enriquecimento das camadas mais baixas. O enriquecimento levou muitas mudanças no padrão de vida de brasileiros. O grau de motorização, ou seja, porcentagem de indivíduos com posse de carros se elevou de forma surpreendente. Todo esse contexto de crescimento levou ao espontâneo movimento para Regiões Metropolitanas, acrescendo populacionalmente as periferias dessas principais cidades do país. Isso revela uma realidade de distanciamento cada vez mais acentuado de casa-trabalho. Adicionando o quadro de motorização, foi uma combinação perfeita para o aumento relevante e grave do tempo de deslocamento casa-trabalho, criando um desafio que extrapola o
ambiente do bem-estar, mas afeta a própria atividade econômica em si. Usando o método já esclarecido anteriormente, foi possível calcular o tempo médio de deslocamento e sua evolução desde 2002 até 2014. Com base na PNAD foi possível estimar esses dados que revelam, em minutos, o tempo de deslocamento casa-trabalho médio de 9 RMs e do Distrito Federal: Para podermos ilustrar melhor, é possível elaborarmos em termos gráficos, tendo uma melhor noção da dinâmica dos números apresentados:
É claro o panorama encontrado nas cidades estudadas: Um aumento significativo e grave em quase todas as Regiões Metropolitanas avaliadas nesse período, revelando um quadro estrutural péssimo da realidade urbana nacional. Isso mostra uma tendência com efeitos negativos para a população urbana do pais, tornando a mobilidade um assunto urgente nas discussões públicas. A densidade populacional crescente e motorização claramente não foram acompanhadas com mudanças nos meios de transporte, transformando os veículos particulares atrativos mesmo no cenário de transito em recordes. A opção pela compra de carros mostra ainda mais a real situação de degradação dos transportes coletivos, sem investimentos e melhoras relevantes. Nenhuma cidade estudada conseguiu diminuir o tempo de deslocamento casa-trabalho. O morador do Rio de Janeiro demora, em média, quase 10 minutos a mais para ir ao trabalho do que levava no ano de 2002. Implicações diretas são evidenciadas por estudo econométrico e revelam que há correlação negativa e significativa da taxa de participação (População economicamente ativa/população de idade ativa) com o tempo de deslocamento casa-trabalho. Podemos observar as taxas de participação relativas à formação educacional na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo. Fonte: PNAD Os dados acima mostram uma queda relevante da taxa de participação desde 2002. Nos leva a concluir que os efeitos de uma mobilidade precária acarretam em deterioração dos meios e elevam o custo para ir ao trabalho. Esse custo se reflete no raio de deslocamento dos moradores, obtendo menos oportunidades de emprego. A atividade econômica se degenera com esse fator de piora das condições de se mover na região.
Conclusões O relatório consegue encontrar um eixo analítico que evidencia uma forte degradação do cenário urbano em termos de mobilidade. Esse tema se torna crucial, ao ponto que temos uma população com 85% de presença urbana. Afeta principalmente a população de camada mais pobre da sociedade, haja vista sua posição geralmente periférica, onde há menor convergência de investimentos na área de transportes. O Rio de Janeiro é bom exemplo para tal fato, com altos investimentos na cidade e completo esquecimento da RM como um todo. Essa é uma das possíveis causas para uma perda maior da taxa de participação pelas camadas com menos anos de estudo. Portanto, foi possível analisar a evolução do quadro de mobilidade urbana nas principais RMs do país a partir de dados da PNAD. A tendência de migração para locais urbanos ainda está longe de equilíbrio, fomentando a ideia de que ainda há um espaço real de piora para o cenário dos deslocamentos nas metrópoles se as políticas públicas continuarem ineficazes. Apesar da crise ajudar no aspecto transito, ainda é custoso se locomover nas cidades brasileiras, promovendo limitação relevante na economia. Referências 1 - PERO, VALÉRIA; MIHESSEN, VITOR. Mobilidade Urbana e Pobreza no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012. 2 - PEREIRA, RAFAEL H MORAES; SCWANEN, TIM. Tempo de Deslocamento Casa- Trabalho no Brasil (1992-2009): Diferenças Entre Regiões Metropolitanas, Níveis de Renda e Sexo. IPEA, 2013. 3 DUVIVIER, ANDRÉ L. C. O Efeito da Deterioração da Mobilidade Urbana na Taxa de Participação do Mercado de Trabalho Brasileiro. Rio de Janeiro, 2015.