Nº COMARCA DE PORTO ALEGRE LUCIANA VARGAS BONETI A C Ó R D Ã O

Documentos relacionados
PODER JUDICIÁRIO RS

2. Caso em que a família aduz não reunir condições para controlar, tratar ou submeter o filho a tratamento voluntário (fl. 2, verso).

APELAÇÃO PROVIDA. Nº COMARCA DE SÃO LEOPOLDO A C Ó R D Ã O

SEGUNDA CÂMARA CÍVEL RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL Nº 8785/2004 CLASSE II COMARCA DE SINOP APELANTE: BRASIL TELECOM S. A.

SEGUNDA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Nº COMARCA DE CAMAQUÃ MUNICIPIO DE ARAMBARE GREMIO ESPORTIVO NAVEGANTES

ACÓRDÃO SJCST Nº (Nº CNJ: ) 2013/CÍVEL

I - Trata-se de apelação cível interposta contra sentença (ref. mov. 28.1) prolatada em ação de transcrição de assento de casamento, autos nº

ACÓRDÃO Nº COMARCA DE CAMPINA DAS MISSÕES E.J.K. APELANTE.. H.S.K. APELANTE.. A.J. APELADO.. LFBS Nº /CÍVEL

Advogados : Renata Alice Pessôa Ribeiro de Castro Stutz (OAB/RO 1.112) e outros

RECURSO IMPROVIDO. Nº COMARCA DE PELOTAS A C Ó R D Ã O. Vistos, relatados e discutidos os autos.

VAINER LUCIANO BRAGANCA ACOSTA A C Ó R DÃO. Vistos, relatados e discutidos os autos.

RELATÓRIO RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL IVAN LIRA DE CARVALHO - 2ª TURMA VOTO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 1ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Tribunal de Justiça 1ª Câmara Especial

AGRAVANTE: BANCO FIAT S/A

APELAÇÃO PROVIDA. Nº COMARCA DE PELOTAS A C Ó R D Ã O

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

APELAÇÃO CÍVEL Nº , DA 9ª VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA.

ACÓRDÃO Nº COMARCA DE ALVORADA CALECA MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO E AGROPECUÁRIA LTDA APELANTE LIFE INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA

PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

EMENTA: CONSÓRCIO - DEVOLUÇÃO DE PARCELAS PAGAS - CORREÇÃO MONETÁRIA - JUROS - TERMO INICIAL.

<CABBCBBCCADACABACBBCAADCBADAADDCBAAAA DDADAAAD> A C Ó R D Ã O

Nº COMARCA DE PORTO ALEGRE A C Ó R D Ã O

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

D E C I S Ã O M O N O C R Á T I C A

TRIBUNAL DE JUSTIÇA VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL/CONSUMIDOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. 2 9a Câmara APELAÇÃO S/ REVISÃO N /4. Comarca de SÃO JOSÉ DO RIO PRETO 4. V.

RELATÓRIO. TRF/fls. E:\acordaos\ _ doc

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº ( ) DE ANÁPOLIS

QUINTA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ACÓRDÃO. Vistos, relatados e discutidos os autos.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL

Vistos, relatados e discutidos os autos.

APELAÇÃO CÍVEL Nº Décima Nona Câmara Cível Comarca de Nova Prata

A C Ó R D Ã O R E L A T Ó R I O Nº (Nº CNJ: ) COMARCA DE PORTO ALEGRE RECORRENTE

A C Ó R D Ã O Nº XXXXXXXXX (N XXXXXXXXXXXXXXXXXXX) COMARCA DE XXXXXXXXXX VVVVVVV.. YYYYYYY.. AGRAVANTE AGRAVADO

APELAÇÃO DESPROVIDA. A C Ó R D Ã O

A assinatura do autor por ANTONIO CARLOS CHOMA:8838 é inválida

APELAÇÃO CÍVEL Nº UBERABA A C Ó R D Ã O

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores CLAUDIO GODOY (Presidente), ALCIDES LEOPOLDO E SILVA JÚNIOR E AUGUSTO REZENDE.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Registro: ACÓRDÃO

TURMA RECURSAL ÚNICA J. S. Fagundes Cunha Presidente Relator

TAM LINHA AEREAS S.A. A C Ó R D Ã O

PROVIDO O APELO. Nº COMARCA DE SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA KATIA SIMONE MACHADO DA APELANTE CUNHA A C Ó R D Ã O

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

R E L A T Ó R I O. 3) Recurso da interessada indeferido pela Presidência em 27/VIII/2002.

PODER JUDICIÁRIO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente) e VITO GUGLIELMI.

<CABBCCBDAABCACBCABBCBACCBBCAADCADABAA DDADAAAD> A C Ó R D Ã O

28/04/13 <NÚMERODETOKENSNODOCUMENTO \18><COMPOSIÇÃODEACÓRDÃOEMENTA \TEXTO="(INSIRA AQUI O TÍTULO DA EMENTA)^P^

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores HERALDO DE OLIVEIRA (Presidente), JACOB VALENTE E TASSO DUARTE DE MELO.

RECURSO INOMINADO (CRIME CAPITAL/CÍVEL E CRIME INT.) 0328/2008

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

A C Ó R D Ã O. Vistos, relatados e discutidos os autos.

ANGELA FERREIRA MENEGUZZI A C Ó R D Ã O

JF CONVOCADO ANTONIO HENRIQUE CORREA DA SILVA em substituição ao Desembargador Federal PAULO ESPIRITO SANTO

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ERBETTA FILHO (Presidente) e RAUL DE FELICE. São Paulo, 4 de maio de 2017.

PROCESSO Nº:

CÍVEL Nº COMARCA DE PORTO ALEGRE A C Ó R D Ã O

Dados Básicos. Legislação. Ementa. Íntegra

VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

A C Ó R D Ã O Nº COMARCA DE PORTO ALEGRE MARIA ROSA PACHECO MAINIERI CAMILLA ZACCHE DA SILVA. Vistos, relatados e discutidos os autos.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

MICHEL GIROTTO BRUM BRASIL TELECOM / OI. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de

ESPOLIO DE INGEBORG SCHOTT

JUSTIÇA ELEITORAL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO GRANDE DO SUL

APELAÇÃO CÍVEL nº , DA COMARCA DE CASCAVEL 2ª VARA CÍVEL. ANDERSON JEFFERSON PEREIRA DE QUADROS

ACÓRDÃO. Rio de Janeiro, 29 de setembro de Des. Fed. MESSOD AZULAY NETO. Relator

ENERGIA E SERVICOS S A MUNICIPIO DE PETROPOLIS

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RICARDO FEITOSA (Presidente) e FERREIRA RODRIGUES.

Dados Básicos. Ementa. Íntegra

ACORDAM, em 13 a Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte

Acórdão em Apelação Cível Processo n º Relator: DES. Antônio Iloízio Barros Bastos

Kollemata Jurisprudência Registral e Notarial

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ÓRGÃO ESPECIAL

- Sentença mantida. - Recurso improvido.

PODER JUDICIÁRIO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ACÓRDÃO

- SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SAO PAULO 28 a Câmara APELAÇÃO C/ REVISÃO N /0

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. TRANSPORTE AÉREO. VIAGEM INTERNACIONAL. RETORNO COM CONEXÃO EM LISBOA. AUTOR QUE PRETENDEU EMBARCAR DIRETAMENTE EM

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL APELAÇÃO CÍVEL Nº

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SILVIA ROCHA (Presidente) e PEREIRA CALÇAS. São Paulo, 5 de dezembro de 2012.

PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O 4ª TURMA GDCCAS/CVS/NC/iap

DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO AGRAVO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

CÍVEL Nº COMARCA DE PORTO ALEGRE ROSINA ALIMENTOS LTDA.

CÍVEL Nº COMARCA DE CAMAQUÃ A C Ó R D Ã O

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 38ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO. Registro: ACÓRDÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Supremo Tribunal Federal

SEXTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº BENEDICTO ABICAIR APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA. REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA.

Transcrição:

APELAÇÃO CÍVEL. PREVIDÊNCIA PÚBLICA ESTADUAL. PENSÃO. UNIÃO ESTÁVEL. INEXISTÊNCIA. 1. Não se pode reconhecer união estável, com o sentido típico de relacionamento entre homem e mulher, se ele é octogenário, e ela mulher cinquenta e três anos mais jovem, ainda mais sendo ele casado e vivendo com a esposa. Ademais, peculiaridade singular, pelo quanto relatado pela própria demandante, o dito companheiro era seu tio-avô. Circunstâncias reveladoras de que a sobrinha-neta se aproximou do tio-avô por puro interesse de ficar com a pensão previdenciária quando de sua morte. 2. Apelação provida. APELAÇÃO CÍVEL PREIRA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE PORTO ALEGRE INSTITUTO DE PREVIDENCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL LUCIANA VARGAS BONETI APELANTE APELADO A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em prover a apelação. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores DES. CARLOS ROBERTO LOFEGO CANÍBAL E DES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS. Porto Alegre, 15 de fevereiro de 2012. DES. IRINEU MARIANI, Relator. 1

DES. IRINEU MARIANI (RELATOR) provimento (fls. 146-9). R E L A T Ó R I O Adoto o relatório do Parecer (fls. 145-6): LUCIANA VARGAS BONETI propôs AÇÃO DECLARATÓRIA contra o INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL IPERGS, objetivando que seja declarado o direito de perceber pensão por morte. Sustenta que, desde 2004, era companheira do exservidor estadual Alvino Bonete. Aduz que dependia economicamente do ex-companheiro. Em razão disso, defende que tem direito a pensão. Salienta que requereu administrativamente a pensão. Todavia, tal pedido foi negado pelo IPERGS. Requereu antecipação de tutela. Ao final, pugnou pela procedência da ação, para que fosse incluída como beneficiária da pensão por morte do ex-servidor Alvino Bonete, bem como fossem pagos os valores. A inicial veio acompanhada de documentos, fls. 02/53. O Juízo Singular indeferiu o pedido de tutela antecipada, tendo a Autora interposto agravo de instrumento, o qual teve o provimento negado, fls. 54-54- verso, 58/65 e 89/92. O Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul - IPERGS contestou o feito, aduzindo que a Autora não preencheu os requisitos legais para a concessão da pensão. Postula a improcedência da ação, fls. 68/72 Houve réplica, fl. 81. Realizada audiência, foi colhido o depoimento pessoal da autora e ouvida uma testemunha por ela arrolada, fls. 107/113, verso. O Ministério Público opinou pela improcedência da ação, fls. 115/115, verso. Sobreveio sentença julgando procedente a ação, fls. 119/120,verso. O IPERGS apelou, tempestivamente, reportandose, em suma, aos argumentos da contestação, fls. 122/128. Foram apresentadas contrarrazões, fls. 130/141. Na sequência, a Procuradoria de Justiça opinou pelo 2

É o relatório. V O T O S DES. IRINEU MARIANI (RELATOR) Eminentes colegas, tenho que não há como reconhecer união estável para fins previdenciários em situações como a sub judice, sob pena de se implantar a indústria da união estável com o fim exclusivo de obter a benesse. Veja-se. A autora, em 13-8-2003, teve o filho Erick, fruto de seu relacionamento com Luís Fernando da Silva (fl. 46). Estranhamente, poucos meses depois, em abril/2004, já afirma viver em união estável com o exsegurado Alvino Bonete. Chama atenção o fato de o sobrenome da autora ser Boneti, isto é, diferença de apenas da última letra e e i. Essa semelhança não é casual, mas afirmadora de parentesco. Pelo quanto se deduz do depoimento da autora (fl. 109), Alvino era seu tio-avô! Por conseguinte, a autora era sua sobrinha-neta. E a evidência disso é o fato de Alvino ser pessoa de idade avançada, pois faleceu em 3-6-2009 aos 84 anos (fl. 23), enquanto a autora, uma jovem nascida em 12-3-1978 (fl. 44), quer dizer, a diferença de idade entre ambos era nada mais nada menos do que CINQUENTA E TRÊS ANOS! Abstraindo a condição de tio-avô, qual as condições de um octogenário ser homem de uma mulher na faixa etária de 25 a 30 e poucos anos? Lembremos que união estável pode não exigir necessariamente convivência sob o mesmo teto, mas por certo não admite que tal ocorra sem condições efetivas de um relacionamento como homem e mulher. 3

Dessarte, rogando muita vênia, o que se constata é que a autora se aproximou do tio-avô por puro interesse. Mas não é só. Também chama atenção o fato de que Alvino era casado com Olga Lacerda Bonete, falecida em 7-5-2007 (fl. 37), e a própria autora em seu depoimento pessoal confessa que ele continuava morando com a esposa Olga. Disse que ele vivia com ela e comigo. (fl. 108v.). Por aí, eminentes colegas, a evidência de que, pelo menos a morte de Olga, em 2007, não é possível computar o período como típico de união estável, inclusive porque a autora é outro detalhe importante não morava sozinha, mas com sua avó. E a partir de então até 2009, quando quem faleceu foi Alvino, seja pelo curto período, seja pelas peculiaridades verdadeiramente singulares do caso, não se pode reconhecer união estável entre tio-avô e sobrinha-neta, com diferença de idade de cinquenta e três anos entre ambos. Sabem os colegas de meu entendimento no sentido de que, para fins previdenciários, a lei estadual que exige pelo menos cinco anos de união estável ou filho comum continua válida (Lei- 7.672/82, art. 11, parágrafo único), e que a Lei Federal 9.278/96 é restrita aos efeitos patrimoniais da convivência. No caso, nem precisamos adentrar nessa questão do tempo mínimo, a respeito da qual há divergência nesta Câmara, pois simplesmente não há condições de se reconhecer os requisitos de uma união estável por qualquer período. O caso lembra muito aquele que foi denominado de casamento-negócio, surgido nesta Câmara, do qual fui relator, e que resultou em ação de anulação do casamento de uma enfermeira com seu paciente nonagenário, em que a diferença de idade era de 43 anos! No sub judice, a diferença é de 53 anos! 4

Dita ação foi julgada pela colenda 7ª Câmara Cível, da qual foi relator o eminente Des. Vasco Della Giustina. Transcrevo a ementa (AP 70 026 541 664): APELAÇÃO CÍVEL. FAMÍLIA. ANULAÇÃO DE CASAMENTO. MATRÔNIO QUE SE REALIZOU COM FINS EXCLUSIVAMENTE PREVIDENCIÁRIOS. SULAÇÃO. DESARMONIA ENTRE A VONTADE FORMAL, QUE LEVA À REALIZAÇÃO DO ATO JURÍDICO, E A VONTADE SUBJACENTE, VISANDO APENAS A PROPORCIONAR PENSÃO PREVIDENCIÁRIA PARA A ESPOSA. VÍCIO EMBUTIDO NA VONTADE DOS CONTRAENTES, COM SULAÇÃO DA VONTADE DE CONSTITUIÇÃO DE VIDA EM COMUM, QUANDO O CASAMENTO APENAS SERVIU COMO MEIO DE CONFERIR À NUBENTE A QUALIDADE DE DEPENDENTE, COM POSTERIOR PENSÃO PREVIDENCIÁRIA. MATÉRIA DE INTERESSE PÚBLICO, NÃO SÓ POR AFETAR A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA, MAS POR TRADUZIR, POR IGUAL, BURLA AO ESPÍRITO DO CÓDIGO CIVIL E ÀS NORMAS PREVIDENCIÁRIAS, ASS COMO OFENSA À MORAL MÉDIA, TRANSACIONANDO-SE BEM INDISPONÍVEL, COMO SE NEGÓCIO FOSSE. IDADE DOS NUBENTES. ANCIÃO, DE 91 ANOS, QUE CASA COM MULHER 43 ANOS MAIS JOVEM, MORRENDO, POUCO DEPOIS, DE CÂNCER. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE RELACIONAMENTO AFETIVO ENTRE ESTES. COMPANHEIRO DA CONTRAENTE QUE NO DIA DAS BODAS COMPARECE, ESPERANDO-A DO LADO DE FORA. DESEJO DO DE CUJUS EM SER GRATO À EMPREGADA, DE INÚMEROS ANOS, NA RELAÇÃO LABORAL. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. APELO PROVIDO. Reiterada vênia, o rosto do processo ora em julgamento é o mesmo, com uma única diferença: aqui não temos casamento, item que gerou a divergência nesta Câmara, na AP 70 008 393 654, e depois no 1º Grupo Cível, nos EIs 70 011 697 406, e que por isso o assunto foi remetido a uma ação autônoma. Nesses termos, provejo, a fim de julgar improcedente o pedido, respondendo a autora pelas custas e honorários, estes arbitrados em R$2.000,00, doravante atualizados pelo IGP-M, com juros moratórios legais 5

de 1% ao mês a partir da respectiva citação, suspensa a cobrança, na forma da lei, tendo em conta o benefício da AJ. É o voto. DES. CARLOS ROBERTO LOFEGO CANÍBAL (REVISOR) Os fatos impressionam, realmente, e a pretensão não tem como subsistir. Acompanho integralmente o eminente Relator. É o voto. DES. JORGE MARASCHIN DOS SANTOS - De acordo com o(a) Relator(a). DES. IRINEU MARIANI - Presidente - Apelação Cível nº 70043800291, Comarca de Porto Alegre: "À UNANIDADE, PROVERAM." Julgador(a) de 1º Grau: MAURICIO ALVES DUARTE 6