RECURSO IMPROVIDO. Nº COMARCA DE PELOTAS A C Ó R D Ã O. Vistos, relatados e discutidos os autos.

Transcrição

1 AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. REALIZAÇÃO DE NOVO EXAME DNA. DESNECESSIDADE. Mera alegação de possibilidade de erro não gera a necessidade do exame de contraprova do DNA, ausente qualquer indicío que possa derruir o exame regularmente realizado. RECURSO IMPROVIDO. APELAÇÃO CÍVEL OITAVA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE PELOTAS J.R.B.B... L.A.B... APELANTE APELADO A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao agravo retido e à apelação. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. RUI PORTANOVA (PRESIDENTE E REVISOR) E DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES. Porto Alegre, 25 de fevereiro de DES. CLAUDIR FIDÉLIS FACCENDA, Relator. 1

2 R E L A T Ó R I O DES. CLAUDIR FIDÉLIS FACCENDA (RELATOR) Ação. Trata-se de Ação Negatória de Paternidade. Partes. Apelante: JOSÉ R. B. B. Apelada: L. A. B. Sentença recorrida. A decisão das fls. 72/73 julgou improcedente o pedido. Razões recursais. O insurgente, às fls. 78/79, postula a apreciação do agravo retido contra decisão constante à fl. 46, que indeferiu o pedido de AJG para fins de realização do exame de contraprova de DNA. No mérito, sustenta que não possui nenhum relacionamento afetivo com a apelada, aventando a possibilidade de ter ocorrido erro no exame de DNA realizado, pois além de não ter qualquer semelhança física, a genitora teria lhe dito que a criança não era sua filha, razão pela qual deve ser realizada a contraprova. Contrarrazões. Fluiu in albis. Ministério Público. Em parecer constante às fls. 87/90, a Procuradoria de Justiça opinou pelo improvimento do recurso. Registro que foi observado o disposto nos artigos 549, 551 e 552 do Código de Processo Civil, tendo em vista a adoção do sistema informatizado. É o relatório. V O T O S 2

3 DES. CLAUDIR FIDÉLIS FACCENDA (RELATOR) O agravo retido interposto às fls. 48/50, buscando a realização do exame de contraprova de DNA, confunde-se com o mérito, razão pela qual será analisado no conjunto. O autor busca ver desconstituída a sua paternidade em relação à ré, aduzindo que, embora seja o pai registral, não é o biológico, tendo sido induzido a erro ao registrá-la como filha, pois além de não guardar qualquer semelhança física, foi-lhe dito pela mãe que a criança não era sua filha natural. Ocorre, porém, que foi realizado exame de DNA custeado pelo próprio o autor, concluindo que a probabilidade de o autor/apelante ser pai biológico da menor é de 99,99% (fls. 31/35). Quanto à questão envolvendo o pedido de AJG para efeito de realização da contraprova, merece ser reproduzido o parecer do ilustre Procurador de Justiça ao apontar que Intimadas as partes para tomar ciência do laudo (fl. 36), o autor impugnou, alegando a existência de erro. Requereu a realização de novo exame, desta vez às expensas do Estado (fl. 41/v). O pedido foi indeferido pela Magistrada à fl. 46 dos autos. Não merece acolhida o pedido do autor, merecendo ser mantida a decisão hostilizada. Isso porque o apelante limitou-se a alegar a existência de erro sem, contudo, ter trazido aos autos elementos capazes de macular a confiabilidade do laudo apresentado. Nesse sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO. FAMÍLIA. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. REALIZAÇÃO 3

4 DE NOVO EXAME DE DNA. DESCABIMENTO. MERA ALEGAÇÃO DE POSSIBILIDADE DE ERRO. AUSÊNCIA DE QUALQUER INDÍCIO DE PROVA A MACULAR A IDONEIDADE DO EXAME PERICIAL. IMPUGNAÇÃO GENÉRICA QUE NÃO SERVE PARA A REALIZAÇÃO DE NOVA PERÍCIA. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº , Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Conrado de Souza Júnior, Julgado em 11/03/2009). Ademais, buscando a contraprova, cabia ao apelante arcar com as despesas para realização de novo exame de DNA, uma vez que, conforme bem referiu o Ministério Público de 1º grau, o Estado deve custear exames destinados a paternidade daqueles menores desprovidos de filiação, não em ações que visam justamente excluir a paternidade registral (...) (fl. 70). De referir, ainda, que o exame de DNA é considerado atualmente certeza científica da paternidade biológica, e o resultado foi de confirmação da paternidade no percentual de 99,9%, como se verifica do laudo. O apelante apenas invoca a mera possibilidade de erro. No entanto, não aponta qualquer dado significativo a desmerecer o laudo, apenas uma matéria jornalística sobre a possibilidade de ocorrer erro no resultado. Nada expõe sobre a credibilidade do exame realizado ou até mesmo do laboratório. De acordo com Sílvio de Salvo Venosa, devido à extrema distinção de sua estrutura, a possibilidade de encontrar, ao acaso, duas pessoas com a mesma impressão genética é de uma em trinta bilhões, o que torna virtualmente impossível a coincidência. 1 1 In: Direito Civil: Direito de Família. 4 ed. São Paulo: Atlas, p

5 Não há, nos autos, qualquer indício de prova a fim afastar as conclusões obtidas pelo exame de DNA, necessitando-se de outros suportes para que fosse possibilitada a renovação da perícia. À similitude: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. REALIZAÇÃO DE NOVO EXAME DE DNA PELO DEPARTAMENTO MÉDICO JUDICIÁRIO. DESCABIMENTO. Inexistindo razões para macular a higidez do exame de DNA já feito, cujo resultado foi negativo, descabe sua repetição pelo DMJ, enquanto não demonstrada a sua efetiva necessidade. RECURSO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº , Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Raupp Ruschel, Julgado em 23/11/2005). INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. REPETIÇÃO DE EXAME DE DNA. DESCABIMENTO. 1. Se o exame de DNA comprova a existência do liame parental e nada o desmente, é imperiosa a procedência da ação. 2. Descabe reprisar o exame de DNA quando o que foi realizado atendeu as normas técnicas, vem firmado por profissional de renome, é conclusivo e nada depõe contra a sua idoneidade ou credibilidade. Recurso desprovido. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Apelação Cível Nº , Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 09/11/2005). APELAÇÃO. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. REALIZAÇÃO DE NOVO EXAME DE DNA. DESCABIMENTO. Não paira nenhuma dúvida sobre a validade ou a confiabilidade do primeiro exame de DNA. O apelante não suscita dúvidas sobre a coleta do material ou sobre o método de análise; não levanta suspeitas de fraude ou dolo na realização da perícia. A pretensão de realizar novo laudo se fundamenta, única e exclusivamente, na discordância do apelante com o resultado. Mas só isso, sem prova ou indício contra o 5

6 primeiro laudo, não autoriza a realização de nova perícia. NEGARAM PROVIMENTO. (Apelação Cível Nº , Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 15/12/2005). INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. EXAME DE DNA. ALIMENTOS PROVISÓRIOS. Descabe a realização de novo exame pericial, pelo método DNA, quando o investigante não refuta a idoneidade da perícia, limitando-se a invocar mera possibilidade de erro sem, contudo, apontar qualquer dado significativo a desmerecer o laudo. Não há nos autos qualquer elemento que comprove não ter o alimentante condições de arcar com a obrigação alimentar. Outrossim, nada há nos autos que faça crer não necessitar o alimentando da pensão alimentícia, não havendo motivo plausível para que seja suspensa a obrigação alimentar. Agravo desprovido. (Agravo de Instrumento Nº , Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Berenice Dias, Julgado em 13/07/2005). O fato de a menor não guardar qualquer semelhança física, segundo versão exclusiva do próprio recorrente, é totalmente irrelevante ao julgamento e não altera o seu resultado. De igual sorte a sedizente alegação da genitora de que o recorrente não era o pai biológico, tem o condão de modificar a verdade extraída do laudo técnico. Assim, a sentença merece mantida pelos seus próprios fundamentos e pelas razões aqui apontadas. apelação. Do epigrafado, voto pelos improvimentos do agravo retido e da 6

7 DES. RUI PORTANOVA (PRESIDENTE E REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES - De acordo com o(a) Relator(a). DES. RUI PORTANOVA - Presidente - Apelação Cível nº , Comarca de Pelotas: "NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO RETIDO E À APELAÇÃO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: BEATRIZ DA COSTA KOCI 7