LFBS Nº (Nº CNJ: ) 2016/CÍVEL

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1 APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO ESTÁVEL. NOMEAÇÃO DE CURADOR. ATO QUE NÃO PODE SUBSISTIR, NO CASO. 1. PRELIMINAR CONTRARRECURSAL. A preliminar de contrarrazões acerca da necessidade de regularização da capacidade processual, para adequação do instrumento de procuração da fl. 169, por estar o apelado sob curatela de sua genitora, é tema que se confunde com o mérito da pretensão recursal e por esta especial circunstância não será apreciada em separado. 2. DESCONSTITUIÇÃO. A autora postulou a nomeação de curador especial ao requerido, acometido de transtorno esquizofrênico, que, inclusive, teve procedimento de internação compulsória promovido pelo Ministério Público. Determinada a intimação da genitora quanto a prestar curadoria ao filho, ela manifestou que o aceitava. Porém, posteriormente, na certidão de cumprimento da carta precatória de citação ficou consignado ter ela dito que estava sem contato com o filho, tendo medo de suas atitudes violentas. Não obstante, foi mantida como curadora e o processo levado a julgamento com sentença de procedência do pedido da autora. Do exposto, resulta flagrante a irregularidade no prosseguimento da tramitação, pois prescreve a lei processual que ao curador incumbirá a defesa dos interesses do citando. No caso, a curadora não compareceu ao processo, deixando de atuar processualmente para o exercício do contraditório e da ampla defesa, a todos constitucionalmente assegurada. DERAM PROVIMENTO, DESCONSTITUINDO A SENTENÇA. UNÂNIME. APELAÇÃO CÍVEL Nº (Nº CNJ: ) P.R.F.C... M.N.M... OITAVA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE PORTO ALEGRE APELANTE APELADO 1

2 A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento à apelação. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. RUI PORTANOVA (PRESIDENTE) E DES. RICARDO MOREIRA LINS PASTL. Porto Alegre, 09 de março de DES. LUIZ FELIPE BRASIL SANTOS, Relator. R E L A T Ó R I O DES. LUIZ FELIPE BRASIL SANTOS (RELATOR) Cuida-se de apelação interposta por P.R.F.C. em face da sentença das fls que, nos autos da ação para dissolução de união estável e separação de corpos contra ele ajuizada por M.N.M., julgou procedente o pedido para declarar a existência de união estável entre 2008 e setembro de Sustenta que: (1) a apelada não faz jus ao benefício da gratuidade da justiça que lhe foi deferida, sendo ela servidora da justiça federal e proprietária de imóveis e veículos incompatíveis com a condição de pessoa pobre, na acepção legal do termo; (2) quanto ao mérito, a sentença foi proferida com amparo na aceitação do encargo de curador pela mãe do recorrente, a qual não fez qualquer defesa nos autos do processo; (3) ele foi deixado ao total desamparo jurídico, o que acarretou enorme prejuízo; (4) quando citada, a curadora 2

3 ressalvou que não tinha contato com o curatelado, não sendo admissível aceitar em processo judicial curadora que não sabe o paradeiro do curatelado; (5) a curadora não atuou como sua representante legal, ensejando a nulidade do processo; (6) diverso do que foi alegado, ele não está internado em Alegrete, mas morando pelas ruas da cidade onde reside sua genitora, sem qualquer amparo ou auxílio, contando com o auxílio de sua avó, que manda mantimentos de Porto Alegre para Santana do Livramento; (7) sem a correta nomeação de curadora especial, a fim de assegurar a defesa dos seus interesses, não se pode consumar a instrução processual; (8) o caso não autoriza o julgamento antecipado da lide, visto que não versa sobre questão eminentemente de direito, restando feridos os princípios constitucionais da ampla defesa e que asseguram a instrução processual. Requer o provimento da apelação com a desconstituição da sentença e reabertura da instrução processual ou, alternativamente, para julgar improcedente o pedido (fls ). recurso (fls ). Houve oferta de contrarrazões, sustentando o não conhecimento do v.). O Ministério Público opinou pela desconstituição da sentença (fls. Vindo os autos conclusos, foi lançado relatório no Sistema Themis2G, restando assim atendido o disposto no art. 931 do CPC/2015. É o relatório. V O T O S DES. LUIZ FELIPE BRASIL SANTOS (RELATOR) 3

4 As preliminares contrarrecursais, acerca da necessidade de regularização da capacidade processual, para adequação do instrumento de procuração da fl. 169, por estar o apelado sob curatela de sua genitora, é tema que se confunde com o mérito da pretensão recursal e por esta especial circunstância não será apreciada em separado, bem como a alegação de ausência de impugnação específica. Destaco, já de início, que assiste razão ao apelante. A autora, dizendo terem os litigantes declarado a relação de união estável por escritura pública da fl.23, requereu liminarmente a separação de corpos e que fosse decretada a dissolução da entidade familiar. Em posterior manifestação, postulou houvesse a nomeação de curador especial ao requerido (fl. 28), que, segundo documentos dos autos, fora internado na Clinica Pinel, com transtorno esquizofrênico associado a quadro de inteligência clinicamente inferior (fl. 100). Vejo que houve procedimento de internação compulsória promovido pelo Ministério Público, nº 001/ , extinto conforme fl. 85. E, nos presentes autos, o Ministério Público opinou pela nomeação de curador especial, caso não localizadas a genitora ou a avó do apelante para se responsabilizarem por seus cuidados. Foi determinada a intimação por AR da genitora do apelante para que se manifestasse quanto a prestar curadoria ao filho (fl. 110). Em cumprimento da carta precatória de intimação da genitora na Comarca de Santana do Livramento, ela foi intimada e, segundo narrado na 4

5 certidão da fl.119, estando acompanhada do filho, apelante, manifestou que aceitava ser sua curadora, dizendo que ele estava em tratamento médico na Comarca, na CAPS. Sobreveio, então, o despacho da fl. 120 que a nomeou curadora especial para representá-lo neste processo, e determinou a citação. Neste contexto, impõe-se destacar que constou na certidão de cumprimento da carta precatória de citação ter a curadora nomeada dito na ocasião que, ao que sabe, seu filho está internado numa clínica na cidade de Alegrete. Não tem contato com ele, porque tem muito medo de suas atitudes violentas (fl. 157). Não obstante, ato contínuo foi certificado o decurso de prazo sem manifestação (fl. 157v.). A autora se manifestou pedindo o julgamento do processo no estado em que se encontrava, ou a produção de prova oral (fl. 163), e o processo foi sentenciado, julgando procedente o pedido. Feitas estas considerações, resulta flagrante a irregularidade no prosseguimento da tramitação, sobretudo tendo em conta a manifestação da genitora do demandado, ora apelante, antes transcrita. Prescreve a lei processual que, uma vez constatado ser o citando mentalmente incapaz ou estando impossibilitado de receber a citação, o juiz dará a ele um curador, a quem incumbirá a defesa dos interesses do citando (art. 245, 5º). No caso, resulta evidente daquelas declarações a impossibilidade de a genitora ser mantida como curadora, tanto que não compareceu ao processo, 5

6 deixando de atuar processualmente para o exercício do contraditório e da ampla defesa, a todos constitucionalmente assegurada. Consequentemente, não prospera a alegação da autora, em contrarrazões, quanto à necessidade de o instrumento de procuração da fl. 169 ser conferido pela curadora, e não pelo próprio demandado, uma vez que de todo irregular a nomeação da curadora, irregularidade que se configura previamente à outorga do referido mandato, podendo-se falar até mesmo em conflito de interesses. Por fim, no contexto exposto, igualmente não há falar em não conhecimento da apelação por ausência de impugnação específica dos fundamentos da decisão recorrida, uma vez que há questão prejudicial, que é a própria desconstituição, que, não fosse o requerimento do apelante, seria determinada até mesmo de ofício, pela presença de vício insanável, qual seja o prejuízo evidente à defesa. Em conclusão, tomados os fundamentos ora expostos, não há outro caminho a não ser a desconstituição da sentença, com reabertura da instrução, e, oportuno, a realização da audiência prevista no art. 334 do CPC. Nestes termos, DOU PROVIMENTO à apelação para desconstituir a sentença, restando prejudicada a impugnação que faz o apelante à gratuidade da justiça deferida à autora na sentença. DES. RICARDO MOREIRA LINS PASTL - De acordo com o(a) Relator(a). DES. RUI PORTANOVA (PRESIDENTE) - De acordo com o(a) Relator(a). 6

7 DES. RUI PORTANOVA - Presidente - Apelação Cível nº , Comarca de Porto Alegre: "DERAM PROVIMENTO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: MARIA INES CLARAZ DE SOUZA LINCK 7