QUEM SÃO OS PROFESSORES ALFABETIZADORES?

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Transcrição:

QUEM SÃO OS PROFESSORES ALFABETIZADORES? Adriana da Silva Ribeiro Pedagoga formada pela Faculdade Sumaré anaa.adriana@ig.com.br Claudia Maria do Nascimento Pedagoga formada pela Faculdade Sumaré klaudianascimento6@gmail.com

2 Jussara Nunes da Silva Pedagoga formada pela Faculdade Sumaré jussara.nusi@hotmail.com Maria Elena Roman Faculdade Sumaré Doutora em Psicologia da Educação maria.roman@sumare.edu.br Valmir João da Silva Pedagogo formado pela Faculdade Sumaré valjs59@hotmail.com

3 Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. (Paulo Freire) RESUMO: Este artigo visa discutir a relação entre o papel da formação inicial e continuada dos Professores alfabetizadores e as práticas pedagógicas utilizadas por eles. Para isso, inicialmente, traça o perfil de uma amostragem pequena de Professores alfabetizadores, entrevistados por exigência de uma atividade proposta pela disciplina Metodologia de Alfabetização aos alunos do sétimo semestre do Curso de Pedagogia da Faculdade Sumaré. A partir da análise desse perfil buscamos tecer considerações sobre o papel da formação Docente nas práticas de sala de aula. PALAVRA-CHAVE: Alfabetização; Professor alfabetizador; Formação Inicial; Formação Continuada, Didática da Alfabetização. INTRODUÇÃO Vivemos em um país que ainda hoje tem cerca de doze milhões de analfabetos, ou seja, de pessoas que ainda não passaram por um processo de alfabetização. Além desses indivíduos, temos um outro contingente de pessoas que, mesmo tendo sido alfabetizadas, são consideradas analfabetas funcionais, ou seja, pessoas que mesmo tendo sido submetidas e um processo de alfabetização, não conseguiram se tornar usuários da leitura e da escrita para o enfrentamento das demandas sociais cotidianas. Alfabetizar crianças e adultos e oportunizar os usos sociais da leitura e da escrita são desafios cotidianos do Professor alfabetizador. Para que esse desafio seja cumprido, é fundamental que esse Professor tenha uma formação inicial e continuada sólida, capaz de subsidiá-lo na busca de caminhos para que tenha sucesso em seus objetivos. A ENTREVISTA No curso de Pedagogia da Faculdade Sumaré os alunos de sétimo semestre cursam a disciplina Metodologia da Alfabetização tendo a oportunidade de discutir questões relevantes para a formação dos Docentes que pretendem trabalhar com a alfabetização.

4 Uma das primeiras atividades do curso é a entrevista com um Professor alfabetizador, que esteja atuando em uma classe de alfabetização ou, que tenha atuado há pouco tempo. O objetivo dessa atividade é buscar responder, a partir de uma amostragem pequena, a pergunta título deste artigo: Quem são os Professores alfabetizadoras? Na turma do primeiro semestre de 2014 foram constituídos quinze grupos de trabalho que registraram as entrevistas em vídeos, para que pudessem ser assistidas pelos colegas de sala e tabuladas, visando uma análise posterior. Para que pudéssemos ter parâmetros de análise, foi dado a todos os grupos um mesmo roteiro para a entrevista a saber: Nome/ Idade/ Formação. Há quantos anos atua como alfabetizador (a)? Atuou em outras classes antes de começar a trabalhar com alfabetização? Por que começou a trabalhar com classes de alfabetização? Na sua formação, teve alguma disciplina específica sobre a alfabetização? Qual? Encontra, na equipe escolar, subsídios para o trabalho de alfabetização? Quais? De que maneira? Qual é o método ou a abordagem que foi utilizado no trabalho de alfabetização? Quais os materiais que utiliza para alfabetizar os alunos? Que atividades de leitura costuma propor para os alunos? Que atividades de escrita costuma propor para os alunos? Que atividades de escrita costuma propor para os alunos? O que é necessário para que um aluno se alfabetize? No último ano, conseguiu alfabetizar todos os alunos Por que, na sua opinião, nem todos os alunos conseguem se alfabetizar? Na sua prática cotidiana, procura alfabetizar letrando? Como? Que recado você deixaria para os (as) futuros (as) Professores (as) alfabetizadores (as)? O relatório sobre as entrevistas apresentando a seguir foi elaborado pelos autores desse artigo, se constituindo como um dos relatórios elaborados pelo grupo.

5 RELATÓRIO DAS ENTREVISTAS COM PROFESSORAS ALFABETIZADORAS Para a elaboração desse texto, foram levadas em conta as falas das Professoras entrevistadas, por meio dos vídeos mostrados em sala de aula. Todas as entrevistas apresentadas foram realizadas com Docentes do sexo feminino. As entrevistas foram feitas com quinze Professoras com idades variando entre vinte e dois e cinquenta e seis anos de idade. O tempo de exercício do Magistério, em classes de alfabetização, varia de dois a dezessete anos. Um Traço em comum entre todas as entrevistadas é que já haviam trabalhado com outras turmas, antes de serem alfabetizadoras. As entrevistas mostram que, em sua maioria, elas passaram a alfabetizar por imposição da Escola. Outros motivos apontados foram: atribuição de sala e, gostar de crianças pequenas. Poucas disseram que foi por escolha própria, por prazer ou por se sentirem preparadas para exercer tal função. Algumas professoras, antes de graduarem-se em Pedagogia, formaram-se no Magistério. Por força de lei, para que pudessem continuar em sala de aula, foi necessário que essas Professoras fizessem o Curso Superior de Pedagogia. A fala das professoras que haviam feito o Magistério nos deu a impressão de que o curso superior foi feito não por vontade de se aperfeiçoar, mas sim, só para cumprir a determinação da lei. Reduzindo ainda é o número de tem cursos de Pós-Graduação. Na formação inicial, a grande maioria disse não ter tido, em sua formação, uma matéria especifica que tratasse do tema alfabetização. Essas falas deixaram evidências de que essas Professoras não tiveram um suporte adequado para trabalhar na área de Educação, especificamente, com alfabetização. Essa falta de Suporte nos remeteu às falhas no Ensino Superior que devem ser tratadas com mais seriedade, tendo em vista a importância da formação para que haja um aprendizado significativo por parte dos educandos, nessa fase da infância. Em relação ao apoio da equipe escolar para que as Professoras possam desempenhar bem sua função como alfabetizadora a maioria disse ter apoio da Coordenação e da Gestão, que disponibiliza materiais. Fica claro que o ensino nesse estágio depende muito do Professor, de como ele age, interage, dos materiais que ele utiliza para que o aprendizado seja significativo ao aluno, das estratégias utilizadas e do planejamento da aula.

6 Quando perguntadas sobre qual o método ou abordagem era utilizado no trabalho de alfabetização, treze das Professoras não souberam explicar. Uma única Professora mostrou mais entendimento sobre o assunto referindo-se à teoria de Emília Ferreiro, à inadequação da utilização bê a bá, ao letramento e às questões sociais da escrita. Segundo ela, a prontidão para alfabetização (citando Piage, sic) depende do indivíduo, da sua maturidade, do seu momento. Estamos sempre aprendendo e alfabetizar é dominar a escrita, contextualizar para que o aprendizado seja efetivo, faça sentido no cotidiano, dentro e fora dos muros da escola. A autora dessa frase foi também, a única Professora que citou a necessidade de respeitar o tempo do aluno e que disse que acredita que todos os alunos são capazes de se alfabetizar. Apenas uma das Professoras afirmou, explicitamente, ser tradicional. Essa professora pareceu se orgulhar de forma que acredita ser a correta para alfabetizar, mesmo dizendo que nunca conseguiu alfabetizar todos seus alunos. Um fator que parece unânime entre as Professoras entrevistadas é em relação aos materiais utilizados em sala de aula. Os materiais citados são: parlendas, contos, revistas, livros palavras soltas, receitas, jornais, alfabeto onde as letras se encaixam, letras moveis, gibis, listas. Poucas, entre elas, disseram utilizar de brincadeiras ou coisas que façam parte da realidade dos alunos em suas aulas. Quando perguntadas sobre o que era alfabetizar letrando, as Professoras ou desconversam ou, deram respostas evasivas que deixaram evidente o desconhecimento do assunto. Um dos pontos cruciais nas entrevistas é o fato das Professoras culparem as crianças pela não alfabetização. As alegações para o fracasso no processo de alfabetização são: a existência de criança com distúrbios que nem o professor conhece e crianças com déficits. Outros motivos alegados foram que o Professor sozinho não consegue alfabetizar, a superlotação da sala de aula ou ainda, classe social dos alunos. A família das crianças parece ser a grande vilã da história: a família participa pouco, não colabora, não é presente no ensino das crianças. As Professoras parecem desconhecer ou, ter se esquecido, que a instituição denominada família mudou. Hoje, há crianças que não tem

7 pais, que não tem família, que moram em orfanatos. Há crianças que tem família, mas, que por um motivo ou por outro, essa família não participa da vida escolar delas. Não cabe à escola julgar essas famílias. Cabe a ela fazer o seu papel, independente do contexto social ou familiar dps educandos. Uma única entrevistada tomou para si a responsabilidade. Segundo essa Professora, a alfabetização ocorre o tempo todo e não está atrelada a uma disciplina e sim a todas. Outro fato marcante nas entrevistas é o desconhecimento do significado de letrar parecendo que isso não faz parte do dia a dia da maioria das Professoras demonstrando não entenderem que letrar não é saber ler. O texto da LDB, no que diz respeito ao Ensino Fundamental traz entre seus objetivos a formação básica do cidadão, mediante: o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo (art. 32. Inciso I). Sabemos das dificuldades encontradas por Professores para o exercício de sua função: salários baixos, grandes distâncias, falta de apoio da própria escola, dos governos, entre vários outros. Mas, isso não muda o fato de que são Professoras. Por isso, devem ter consciência da necessidade de preparar os cidadãos para que sejam agentes transformadores e, de que ensinar não é simplesmente passar informações. O Professor precisa oportunizar ao aluno condições para que ele possa aprender. Muitas das entrevistadas citadas aqui oferecem, aos seus alunos, materiais importantes para o aprendizado da leitura e da escrita. No, entanto, essas mesmas Professoras parecem ter dificuldades para perceber que, partir do momento que um só aluno em sala de aula não consegue aprender, é porque algo está errado. Muitas delas se deram conta desse problema e parecem achar normal que um, dois ou, a metade da sala não consiga se alfabetizar, como se fosse culpa do aluno. Essas Professoras parecem esquecer que ensinar é criar condições e situações para aprendizagem. O simples contato com letras e materiais escritos diversos, sem as boas intervenções docentes, não é suficiente para que o aluno aprenda a ler e a escrever e para que se torne um usuário da leitura e da escrita. O Professor deve procurar se informar, buscar novos meios, se atualizar, buscar uma formação continuada, procurar conhecer seus alunos e acreditar que todos têm condições de se

8 alfabetizar. Deve procurar novos caminhos, tentar entender as suas práticas, ser um Professor reflexivo. Em nenhum momento das entrevistas comparadas aqui, algum Professor falou em planejamento e esse foi outro item marcante. Planejar é algo essencial. Freire (1996, p. 92) diz que o professor que não leve a sério sua formação, que não estude que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Essa fala de freire que deveria ser uma realidade ultrapassa ainda é algo presente nos dias atuais. É necessário que o Professor tenha consciência da importância de uma boa forma e que suas práticas educativas sejam pautadas pela ação- reflexão, pela reflexão-ação e pela autocrítica. As entrevistas aqui analisadas e discutidas apontam uma formação inicial insuficiente para preparar os Professores para o enfrentamento das questões que permeiam o cotidiano das classes de alfabetização. Sendo assim, o aperfeiçoamento docente deve ser constante e diário. Nesse sentido, as ações de formação continuada podem ser muito importantes, mas, para que sejam efetivas, o Professor precisa estar consciente da importância e do papel que desempenha na sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessário à prática educativa- São Paulo: Paz e Terra 1996 (coleção leitura). CÂMARA MUNICIPAL. LDB: lei de diretrizes bases da educação nacional, 9ª edição, Brasília 2014, série legislação, seção III do ensino fundamental, Art 32, inciso I. Disponível em: < http://bd.camara.leg.br >. Acesso em: 12/03/14.