Nikhalamo. Editorial. Rapariga fica na escola. Boletim Informativo Edição Trimestral I 2016

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Transcrição:

Nikhalamo Rapariga fica na escola Boletim Informativo Edição Trimestral I 2016 Editorial É com grande entusiasmo que publicamos a primeira edição da Newsletter NIKHALAMO que, traduzido livremente da língua local Chuabo, significa Rapariga fica na Escola, uma publicação que pretende levar até si as actividades desenvolvidas pelo projecto com o mesmo nome, implementado na Província da Zambézia, distrito de Namacurra. O projecto que teve o seu início em Abril de 2014 e que está a ser implementado em parceria com a Girl Child Rights, com o financiamento da USAID, tem como objectivo reter as raparigas na escola, uma vez que muitas delas têm desistido devido a casamentos prematuros, gravidez precoce, sobrecarga de tarefas domésticas entre outros factores. Com vista a reverter o actual cenário, várias actividades foram levadas a cabo em parceria com os Servicos Distritais de Educação Juventude e Tecnologia de Namacurra e com o total envolvimento da comunidade local que têm prestado apoio incondicional, principalmente enviando as raparigas para a escola e participando no seu dia-a-dia. Os resultados não podiam ser melhores. Nalgumas escolas não se registaram desistências. Ainda há casos de meninas que abandonam os seus estudos, por isso, a ADPP Moçambique vai prosseguir os seus melhores esforços para alcançar as metas definidas a que se propôs. Nesta NEWSLETTER podemos encontrar artigos sobre os trabalhos que o projecto está a desenvolver, entrevistas com pessoas que no seu dia-a-dia lidam com as raparigas nas escolas para além de um caso de sucesso das actividades que estamos a desenvolver em Namacurra. Boa leitura! PROGRAMA FINANCIADO POR EM PARCERIA COM IMPLEMENTADO POR

NIKHALAMO: 1.551 raparigas encaminhadas à escola Um dos grandes desafios que o país enfrenta prendese com a educação da rapariga. Muitas vezes os casamentos prematuros, a gravidez precoce, a sobrecarga de tarefas domésticas no caso das raparigas orfãs e chefes de família e a distância entre a casa e a escola, a pobreza e a violência baseada no género colocam a rapariga fora da escola, fazendo com que a situação actual das raparigas que completam a 7 a classe seja de cerca de 22,6% e as que completam o Ensino Secundário Geral apenas 4%. Tendo em conta esta realidade, a ADPP Moçambique, em parceria com a Girl Child Rights, com o financiamento da USAID, está a implementar na província da Zambézia um projecto denominado NIKHALAMO (Rapariga Fica na Escola) que visa fazer um acompanhamento na educação da rapariga vulnerável, com vista a garantir a sua transição e manutenção no Ensino Primário do Segundo Grau para o ensino secundário do primeiro ciclo. Igualmente, o projecto visa criar um ambiente melhor de aprendizagem e habilidades para a vida das raparigas vulneráveis a fim de aprimorar os seus resultados escolares. O projecto pretende também reforçar a participação dos membros da comunidade no apoio à educação da rapariga e implementar actividades de sensibilização sobre a importância de manter a rapariga na escola. Para atingir os seus objectivos, em 2015 a equipa do projecto realizou mais de 400 visitas porta-a-porta, 42 campanhas comunitárias, difundiu várias mensagens de rádio, teatro comunitário, e promoveu danças tradicionais e reuniões com a comunidade com vista a mobilizar os pais e encarregados de educação para mandar os seus jovens (raparigas e rapazes) para a escola. Como resultado das acções levadas a cabo em 2015, 1.551 de um total de 2.050 raparigas vulneráveis foram abrangidas pelo projecto e permaneceram ou regressaram às suas escolas, facto que constitui uma vitória atendendo às elevadas taxas de desistência que se verificavam anteriormente. Até Setembro de 2015, um adiccional de 205 raparigas vulneráveis foram identificadas para a inscrição no ano lectivo de 2016. Estamos num passo positivo. No ano passado conseguimos recrutar e manter nas 18 escolas primárias 1.028 raparigas da 6ª e 7ª classes. Conseguimos também recrutar para 3 escolas secundárias cerca de 523 raparigas da 8ª à 10ª classes. Isso tudo foi graças à colaboracão da comunidade, das escolas e dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia, afirma Betinho Gimo, líder do projecto. Campanha de Sensibilização comunitária Reduzindo as desistências De modo a que os alunos se mantenham na escola, várias actividades estão sendo levadas a cabo nas 18 escolas Secundárias e 3 Primárias abrangidas pelo projecto entre as quais se destaca a distribuição do livro escolar, computadores para as escolas, melhoramento das condições de água e saneamento e o estabelecimento de escolinhas comunitárias em redor das escola beneficiárias. De modo a melhorar o aproveitamento pedagógico, o projecto estabeleceu 21 Clubes Pós-Escolares nas escolas primárias e secundárias abrangidas pelo Projecto. Cada clube é composto por 10 ou mais alunos de ambos sexos que se juntam e são tutelados por professores conselheiros. Durante os encontros dos clubes são abordados temas como a proteção da crianca, saúde sexual reprodutiva, HIV/SIDA e como ter sucesso na sala de aula e melhorar o aproveitamento pedagógico, com a moderação dos professores conselheiros. Temos como referência a escola secundária de Namacurra onde não se registou nenhuma desistência graças aos encontros regulares realizados pelos promotores e madrinhas onde se desenharam as melhores estratégias para reter a rapariga na escola. As visitas efectuadas pelas madrinhas às casas das raparigas e o acompanhamento feito na escola contribuiram muito para que não se registassem desistências, explica o líder do projecto, acrescentando que a comunidade também teve um papel crucial para o sucesso naquela escola. No ano passado conseguimos recrutar e manter nas 18 escolas primárias 1.028 raparigas da 6ª e 7ª classes.

O papel das Madrinhas O projecto NIKHALAMO recrutou e treinou 164 madrinhas que trabalham com as 1.551 raparigas e cujo principal papel é ajudá las a superar os problemas na escola e na comunidade. Por exemplo, na escola secundária Bonifácio Gruveta Massamba, em Macuse, não se registou nenhum caso de desistência nem de gravidez, contrariamente aos anos anteriores, graças ao papel desempenhado pelas madrinhas. As visitas efectuadas pelas madrinhas às casas das raparigas e o acompanhamento feito nas escolas, contribuiram muito para que não se registassem desistências. Comunidade participando na vida da escola À semelhança do que tem acontecido na maior parte dos projectos da ADPP, a comunidade é tida como parte integrante do projecto. No caso NIKHALAMO, a comunidade participa nos encontros a nível da escola e do Projecto. Na comunidade temos um grupo de pessoas que chamamos de Madrinhas. Cada uma trabalha com 10 raparigas beneficiárias na sua comunidade. Os líderes locais reúnem mensalmente com as madrinhas e os Promotores de Educacão da rapariga para analisar as necessidades das beneficiárias e identificar outras raparigas para o projecto. Os líderes comunitários que fazem parte do Conselho de Escola promovem, em conjunto com a direcção da escola e o Promotor, um encontro mensal para discutir as necessidades da rapariga, da escola e perceber as dificuldades existentes, explica o líder do projecto. Como resultado das campanhas de sensibilização da comunidade, os pais e encarregados de educação juntaram diverso material de construção como areia, postes e folhas de palmeiras para contribuir para a construção de Escolinhas Comunitárias. As Escolinhas Comunitárias visam acolher os irmãos mais novos das raparigas beneficiárias do projecto, proporcionando às adolescentes tempo para se dedicarem aos estudos e outras actividades extracurriculares, como os clubes de leitura, de Ciências, Matemática e Tecnologias entre outras. NIKHALAMO visa também promover um bom ambiente de aprendizagem nas escolas locais, melhorando as suas condições de água e saneamento básico e promovendo a sensibilização de professores, estudantes e conselho de escola e membros da comunidade sobre as questões de género, incluindo papéis e estereótipos, violência contra mulheres e raparigas, abuso sexual e bullying, tornando as escolas mais seguras, mais saudáveis e mais amigas dos alunos. O Projecto tem como meta melhorar o desempenho académico e as habilidades para a vida das alunas, promovendo uma forte cultura da leitura, tanto na escola como em casa, através de um programa especial de apoio e orientação. As Madrinhas, especialmente treinadas para a educação de raparigas, realizam actividades comunitárias que abordam várias questões relacionadas com a saúde física e sexual, higiene e aptidões sociais, reforçando assim a auto-consciência e a auto-estima das raparigas. Ficou claro que com as constantes campanhas de sensibilização, conseguimos quebrar nas comunidades normas, crenças, mitos e equívocos sobre a importância da educação das meninas. O número de raparigas que não frequentava a escola era extremamente elevado. Mas agora a situação está a melhorar de forma gradual, há todas as razões para celebrar o que temos conseguido e continuar a acreditar que sim, nós podemos fazê-lo Relatório Anual do Projecto à USAID, 2015.

O projecto Nikhalamo veio para despertar as nossas raparigas O director da Escola Secundária de Namacurra, considera que o projecto NIKHALAMO despertou o interesse das raparigas em prosseguir com os seus estudos uma vez que, segundo conta, antes do projecto elas não se sentiam valorizadas no meio escolar e o número de desistências era elevado. De seguida, acompanhe a entrevista com o director da Escola Secundária de Namacurra, Luís da Silva Mário. - Luís da Silva Mário, Director da Escola Secundária de Namacurra. Qual era a situação da rapariga antes da implementação do projecto Nikhalamo e quais as principais mudanças que tem notado desde o início da sua implementação aqui na comunidade e na escola? Antes do início do projecto muitas raparigas sentiam-se inferiorizadas, não se valorizavam. Para elas, ir a escola ou ficar fora da escola não fazia diferença porque na escola elas não se sentiam valorizadas. Os encarregados de Educação não percebiam qual é a importância de levar as raparigas para a escola. Muitas delas ficavam em casa para realizar trabalhos domésticos e algumas obrigadas a casar e cuidar do lar. Hoje, com a implementação deste projecto, elas já sabem que têm um valor no seio da sociedade. A comunidade, graças às campanhas levadas a cabo pelo projecto, está a perceber qual é a importância de levar as raparigas à escola. O projecto Nikhalamo veio para despertar as nossas raparigas e elas já se sentem valorizadas nas suas comunidades e na escola. Quais são as mudanças que tem notado nas raparigas beneficiárias do projecto? As raparigas são assíduas, vêm às aulas todos os dias, preocupam-se com os seus estudos e também elas tiveram um bom aproveitamento pedagógico. Olhando para os resultados da 8ª classe do ano 2015 aqui na Escola Secundária de Namacurra, a maioria das raparigas beneficiárias pelo projecto transitaram de classe. Também noto que o medo que tinham de participar activamente na sala de aula já começou a desaparecer graças aos métodos inclusivos que estão a ser implementados, tendo em conta as questões de género. Qual tem sido a recepção da comunidade ao projecto e qual tem sido a contribuição do director de escola? A comunidade local está bastante entusiasmada com o projecto e têm participado activamente na vida da escola. Contribuem positivamente para o aumento do número de raparigas que frequentam a escola. Começara a acreditar na necessidade de a rapariga, assim como os rapazes, se formarem de modo a que no futuro possam servir às proprias comunidades. Como Director de Escola, o meu papel tem sido o de mobilizar a comunidade, as raparigas e interagir com o Conselho de Escola para que dê o seu total apoio para o sucesso da formação dos nossos alunos, sobretudo as raparigas. Que dificuldades tem enfrentado e quais as possíveis soluções para as ultrapassar? Uma das maiores dificuldades que encontramos ao tentar manter as raparigas na escola, por um lado prende-se com o facto de algumas raparigas provenientes de famílias mais carenciadas não conseguirem adquirir, por exemplo, o uniforme escolar, cadernos, esferográficas etc. Por outro a distância entre a casa e a escola também tem criado algumas dificuldades. No entanto, para suprir estas dificuldades, a escola têm estado a prestar alguma assistência às raparigas que se encontram nessa situação e, sempre que necessário, providenciamos um meio de transporte, embora seja um grande esforço para a escola. Como tem sido a colaboração com o projecto NIKHALAMO? A colaboração com o projecto tem sido boa, o projecto tem nos dado uma grande ajuda. Eles realizaram uma formação para o Conselho de Escola e professores e isso ajudou bastante. Também recebemos material didáctico como livros e equipamento informático. Para nós, o projecto deve continuar com as suas actividades porque com a sua ajuda as nossas raparigas irão levar os seus estudos avante. Só temos é que agradecer e encorajar para que continue pois só assim podemos ter raparigas formadas e que no futuro poderão ajudar a desenvolver a comunidade e o país no seu todo. Luís da Silva Mário Director da Escola Secundária de Namacurra.

Raparigas triunfam nas olimpíadas de Ciências, Matemática e Tecnologia A ADPP Moçambique, em parceria com a Girl Child Rights (GCR), no âmbito do projecto Nikhalamo, financiado pela USAID, realizou recentemente as Olimpíadas de Ciência, Matemática e Tecnologia. Esta iniciativa, que mobilizou 90 alunos, foi dominado pelas raparigas, pois, elas, arrecadaram a maior parte dos prémios. As Olimpíadas de Ciência, Matemática e Tecnologia constituíram uma forma de estimular o ingresso de Rapazes e Raparigas do ensino secundário nas carreiras técnicocientíficas, através da pesquisa e da inovação em Ciências, Matemática e Tecnologias, aplicação de conhecimentos científicos e resolução de desafios matemáticos e surgiu do reconhecimento da necessidade de investir e capacitar nestas áreas de conhecimento durante a sua adolescência. O evento visou aumentar o interessse cognitivo dos jovens, professores, direcção das escolas e da comunidade sobre a importância da prática dos Clubes de aprendizagem e desenvolvimento de competências em Ciências, Matemáticas e Tecnologia. O evento, que decorreu sob o lema Melhorar o conhecimento e entendimento da Ciência, Matemática e Tecnologia: a nossa responsabilidade colectiva teve raparigas como a maior parte dos vencedores, as quais foram premiadas com diverso material escolar, como forma de incentiva-las a prosseguir com os seus estudos. O evento foi testemunhado e apoiado pelo Administrador do distrito de Namacurra, Secretário Permanente e Director Distrital da Educação daquela localidade, directores e professores, Organização Nacional dos Professores, representantes da USAID e da ADPP Moçambique e membros da comunidade. CASE STORY Quero continuar a estudar e no futuro ser professora... - diz Gervásia, menina de 9 anos que regressou à Escola após uma interrupção para cuidar de sua avó. Gervásia Orlando é uma menina de nove anos de idade, residente no distrito de Namacurra que, assim como outras raparigas de sua idade, abandonou a escola para se dedicar aos trabalhos domésticos e sobretudo para cuidar dos seus parentes idosos. A avó de Esménia é doente e dificilmente pode se movimentar para cuidar dela e do seu primo, principalmente no que respeita a garantir a alimentação. A menina foi encontrada cuidando de sua avó pelo Promotor de Educação do Projecto NIKHALAMO, Délio Brito, durante uma campanha de conscientização das comunidades sobre a importância de levar a rapariga à escola. Durante a conversa, ela confessou a Délio que em dias de sorte tinha apenas uma refeição mas que havia dias em que ficava sem comida. Devido à falta de apoio em casa e à falta de alimentação adequada, Gervásia não foi capaz de frequentar a escola regularmente. O seu desempenho na escola deteriorou-se e ela decidiu abandoná-la. Perante esta situação, Délio incentivou a menina a voltar para a escola e contactou os Serviços Distritais de Acção Social de Namacurra para inscrever Gervásia de novo no estabelecimento de ensino. O director distrital de Acção Social de Namacurra facilitou o registo da menina bem como a entrega de algum material escolar e alimentação. Além disso, ele está processando os seus documentos de identidade e um certificado de pobreza para garantir que Gervásia receba serviços gratuitos do Governo. Estou contente porque voltei à escola, as madrinhas têm-me ajudado muito nos trabalhos da escola (...) quero continuar a estudar e no futuro ser professora para poder ensinar aos outro meninos, conta Gervásia. Hoje, Délio continua com visitas domiciliares para apoiar Gervásia e vinculou-a a uma Madrinha para que ela não deixe a escola. Também mobilizou vizinhos da rapariga para dar algum apoio quando necessário mesmo que isso signifique chamar o seu Promotor de Educação.