I CONFERÊNCIA DE LISBOA SOBRE DIREITO E ECONOMIA DA CONCORRÊNCIA

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Transcrição:

Embargo até 10H de 3 de Novembro de 2005 I CONFERÊNCIA DE LISBOA SOBRE DIREITO E ECONOMIA DA CONCORRÊNCIA DISCURSO DE ABERTURA DO PRESIDENTE DA AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA Excelentíssimo Senhor Presidente da República Excelentíssima Senhora Comissária Ms. Neelie Kroes Exmas. Sras. e Srs. Membros do Governo e seus Representantes Exmas. Sras. Magistradas e Magistrados Dear Colleagues from the other Competition Authorities Minhas Senhoras e Meus Senhores Bem Vindos a Todos and a Warm Welcome Objectivo desta Conferência no Contexto de Promoção da Cultura da Concorrência É para mim uma grande honra abrir esta primeira Conferência de Lisboa sobre Direito e Economia da Concorrência, em cooperação com a Agência Portuguesa para o Investimento e a Fundação Luso-Americana. Desde já quero agradecer a sua colaboração e de todas as outras instituições que tornam possível esta importante conferência. Esta inscreve-se nas diversas iniciativas que a jovem Autoridade da Concorrência tem levado a cabo para Promover uma Cultura da Concorrência tão essencial num país que optou constitucionalmente por uma Economia de Mercado e honra as suas responsabilidades no domínio dos Tratados institutivos da União Europeia. 1

A modernização e as reformas na Política da Concorrência a nível Comunitário e o seu impacto em Portugal O pacote da modernização implementado nos últimos dois anos, que envolveu a nova aplicação descentralizada do artigo 81 e 82 do Tratado que institui a Comunidade Europeia (Tratado CE), o novo regulamento sobre concentrações e a revisão em curso das guidelines para perseguição dos abusos de posição dominante, constituiu uma verdadeira revolução na aplicação das leis sobre concorrência Portugal tem respondido a esta modernização de uma forma decisiva. Criou-se uma nova Autoridade da Concorrência em 2003, entidade administrativa independente e que integra os poderes de supervisão, de regulamentação e sancionatórios. O regulamento (CE) 1/2003 deu poderes à Autoridade antes inexistentes, permitindo-lhe aplicar integralmente os artigos 81.º e 82.º do Tratado CE. A nova Lei da Concorrência introduzida em Junho de 2003 veio alinhar a lei nacional com as normas comunitárias na maioria dos domínios desta, embora seja necessário fazer ajustamentos. A Autoridade apresentará algumas propostas até final do próximo ano, depois de decorrido um prazo suficiente para apreciar a sua aplicação efectiva.. Uma das peças mais importantes da modernização é a institucionalização da Rede Europeia da Concorrência (ECN) 1 que tem provado ser (i) um importante fórum de partilha de experiências entre as Autoridades Nacionais e Comissão, (ii) uma forma útil para dividir o trabalho nos diferentes casos, e (iii) um instrumento para assegurar a coerência na aplicação das leis em práticas restritivas. Sra. Comissária Portugal tem dado o seu inteiro apoio à ECN e gostaria de ver aprofundado o seu trabalho e a possibilidade de intensificar os contactos entre os membros, sem aumento de custos, o que implica utilizar mais intensamente os modernos métodos electrónicos 1 European Competition Network 2

de tele e vídeo conferências. Também esperamos que a Comissão reforce o seu esforço de apoio à formação e treino dos economistas e juristas das Autoridades, sobretudo das dos Novos Países da União. A actual formulação das guidelines sobre o artigo 82 é uma das mais importantes iniciativas que a Comissão está a realizar, e que terá para a Autoridade uma relevância importante dado o elevado número de casos em que estamos a trabalhar nesta área. Apoiamos a orientação baseada na teoria dos efeitos nos consumidores, para o qual a teoria económica muito tem contribuído. No entanto, as guidelines devem ser completamente coerentes com os Tratados Comunitários e devem incorporar metodologias operacionais, que tenham um mínimo de segurança jurídica e repartam, de uma forma eficiente, o esforço da prova. As nossas economias são afectadas por abusos de posição dominante que causam pesados prejuízos aos consumidores, estiolam a inovação e reduzem a competitividade. É, pois, fundamental que esses abusos sejam vigorosamente combatidos. No combate aos cartéis, que sabemos ser uma das principais preocupações da Sra. Comissária, a AdC tem já 3 casos importantes, que marcam uma viragem completa na aplicação das leis da concorrência em Portugal. O primeiro cartel, condenado em Janeiro de 2005, que englobava 5 empresas industriais de produtos farmacêuticos, levou a uma coima de 3,6 milhões de euros. No segundo cartel, as mesmas 5 multinacionais foram condenadas por fixarem os preços em 36 concursos lançados por 22 hospitais, e foi-lhes aplicada uma coima de 16 milhões de euros. E no terceiro, que acaba de ser anunciado, 10 moageiras foram condenadas em 9 milhões de euros por colusão de preços entre 2000 e 2004. É essencial para a credibilidade das nossas instituições assegurar consistência na aplicação das leis da concorrência em todo o território comunitário. A Comissão tem a possibilidade de apresentar comentários relativos a processos em curso, ou de chamar a si processos de práticas restritivas no domínio da ECN, ou a possibilidade de apresentar observações escritas no quadro das acções judiciais pendentes em Tribunais Nacionais, mesmo sem ser a pedido dos juízes. Desta forma já é possível assegurar coerência nas práticas restritivas. 3

Contudo, é para nós uma fonte de preocupação que, nas análises nacionais das concentrações, não sejam seguidas doutrinas e metodologias consistentes, pelo que as empresas podem fazer forum shopping. É igualmente preocupante que a interferência dos governos nacionais, com regimes institucionais tão diferentes das decisões sobre concentrações, possam prejudicar a formação de um mercado comum. Esta é uma área onde é necessária mais reflexão, pois não existe actualmente qualquer forma eficaz de intervenção comunitária para assegurar a consistência e proteger o mercado único, sobretudo nos sectores dos bens não transaccionáveis que estão em processo de liberalização. Política da Concorrência em Portugal Senhores Conferencistas, A Autoridade tem recebido do Governo e da sociedade civil um grande apoio para prosseguir as suas funções e tem também sentido um total respeito pela sua independência. A Lei sobre Entidades Reguladoras Independentes, em preparação, que consubstancia autonomia em relação ao Orçamento Geral do Estado, em muito virá aumentar a sua eficiência. Quanto ao aperfeiçoamento da nossa legislação sobre concorrência, já entregámos ao Governo, através dos Ministérios da Economia e da Justiça, duas propostas que esperamos tenham um seguimento rápido: o estatuto de clemência para casos de cartéis e um Decreto-Lei para harmonizar a lei portuguesa com os procedimentos previstos no Regulamento 1/2003. Portugal é um dos 7 países entre os 25 que ainda não tem um programa de clemência. Sabemos que esta é uma das principais preocupações da Comissão, para podermos aumentar a eficácia no combate aos cartéis na União Europeia, que tanto prejuízo têm causado aos cidadãos enquanto consumidores e contribuintes. Penso que Portugal estará em condições no futuro próximo de adoptar este instrumento que tem sido tão útil na UE e nos EUA na detecção e perseguição dos cartéis. 4

Também, a nível comunitário, seria importante uma maior harmonização de práticas nesta área. A eficácia da acção da Autoridade da Concorrência depende de uma forma crucial da actuação dos Tribunais. Como sabemos, é comum em Portugal a utilização do recurso judicial, elemento essencial para defender os direitos constitucionais. Contudo, por vezes os recursos são utilizados como manobra abusiva para dilatar o funcionamento da justiça. É um procedimento que interessa desincentivar. A Autoridade funciona como o braço administrativo na aplicação das leis da concorrência, os Tribunais são o braço judicial. É fundamental para o funcionamento eficiente da nossa economia que estes processos sejam julgados de uma forma célere e com a maior competência. Já muitas vezes temos chamado a atenção para a necessidade de haver especialização do sistema judicial em direito da concorrência, que hoje é uma área de grande complexidade tanto na economia como no direito. Exmo. Sr. Presidente da República e Membros do Governo, O Programa de Actividades da Autoridade para os próximos dois anos e meio do nosso mandato continuará a intensificar a nossa actuação na perseguição de cartéis e de outras graves restrições ada concorrência, bem como dos abusos de posição dominante. Esta última área, em que a Autoridade se tem defrontado com poderosos interesses económicos, terá dentro em breve os seus primeiros frutos, prosseguindo o interesse público e constitucional de assegurar uma concorrência equilibrada. Com os primeiros grandes processos a serem sujeitos a recurso judicial estamos a intensificar a nossa boa colaboração com a Procuradoria-Geral da República A unidade que criámos em colaboração com os principais Ministérios e Procuradoria para procurar controlar os conluios em empreitadas e outros concursos públicos poderá vir a poupar montantes significativos ao erário público. A Autoridade continuará a contribuir para a remoção das principais barreiras e distorções à concorrência através da formulação de recomendações ao Governo ou a 5

outras entidades. Aguardamos ansiosamente medidas na área da transparência de preços nos telemóveis e na dinamização dos concursos públicos para aquisição de serviços de telecomunicações. Temos neste momento em preparação recomendações sobre os notários, as farmácias e as concessões de águas. No domínio do acompanhamento e do estudo das condições estruturais concorrenciais dos mercados continuaremos a seguir o mercado das telecomunicações e energia, em estreita colaboração com os reguladores sectoriais. Lançaremos no próximo ano uma iniciativa para promover uma maior eficiência e concorrência na prestação de serviços hospitalares, ao qual se seguirá um vasto estudo sobre a problemáticas das concessões. Finalmente, continuaremos a desenvolver as nossas actividades de criar uma cultura de transparência, equilíbrio e livre iniciativa como peças fundamentais da concorrência. Nesta cruzada Portugal tem procurado fazer a ponte com os Países Lusófonos e no Fórum Ibero-americano. O Programa da Conferência Esta primeira Conferência tem como objectivo juntar alguns dos maiores expoentes internacionais e nacionais da área da concorrência não só para tratarem alguns dos temas mais importantes na agenda actual destas matérias, mas para que os agentes económicos em Portugal se apercebam da primordial importância que estes assuntos têm na vida económica. A primeira sessão é dedicada ao processo de modernização em curso na União Europeia, que tem sido apelidada como a maior revolução que ocorreu na área da política da concorrência nos últimos 40 anos. Todos sabemos que os cartéis e abusos de posição dominante são duas práticas que minam a eficiência dos mercados e prejudicam seriamente os consumidores. Para que as Autoridades da Concorrência tenham capacidade de detectar, investigar e recolher evidência suficiente que permita condenar as empresas envolvidas são necessários poderes investigatórios especiais: desde as inspecções surpresa ( dawn raids ) aos poderes especiais que a Comissão e o Reino Unido já têm, por vezes em cooperação com as entidades judiciais. Sabemos que entre nós se têm levantado vozes para limitar esses poderes, que ainda se contam entre os mais reduzidos para a autoridade portuguesa. Teremos oportunidade de ouvir de 6

juízes, advogados e académicos internacionais qual a problemática que se põe em torno destas questões. Todos reconhecem que a concorrência é o processo pelo qual as empresas são levadas a oferecer os preços mais baixos aos consumidores e introduzirem inovações na busca do maior lucro. Este processo é essencial para o desenvolvimento da competitividade das economias, seja a Europeia ou a Portuguesa. Daí que a segunda sessão seja dedicada a procurar analisar o nexo que existe entre concorrência e inovação e o desenvolvimento dos países, tema que é central à Estratégia de Lisboa. Primeiro o tema será abordado ao nível da UE e OCDE. Depois teremos um conjunto de trabalhos académicos sobre o caso português que têm matéria suficiente para a formulação de medidas concretas que permitam melhorar o nível de eficiência do sector público, sistema judicial e sistema regulatório. Estimulados pelos patrocinadores desta Conferência e o interesse particular que a API tem demonstrado nos custos de contexto da nossa economia, penso que estas contribuições académicas podem ajudar a reflexão das reformas em Portugal. A terceira sessão é dedicada ao controlo de fusões e aquisições e incide sobre duas questões fundamentais. A primeira questão é sobre o controlo judicial das decisões da Comissão. As recentes decisões do Tribunal de Primeira Instância levantaram interessantes questões sobre o standard de prova e o tipo de controlo judicial sobre organismos administrativos. A segunda aborda o novo regime e o teste de controlo de concentrações. As últimas duas sessões não são menos interessantes. A primeira aborda a revisão em curso da aplicação do artigo 82 sobre abusos de posição dominante. Teremos oportunidade de ouvir o Economista Chefe da Comissão que tem desempenhado um importante papel nesta e noutras áreas em que a teoria económica é fundamental na análise de casos. A última refere-se a um tema que tem sido amplamente discutido entre nós que é a relação entre a promoção da concorrência e a regulação sectorial. Desejo a todos os Conferencistas e Participantes um Bom Trabalho e que esta Conferência seja um marco histórico para a difusão das Políticas da Concorrência em Portugal. 7