CARACTERIZAÇÃO DA BACIA DO CÓRREGO DAS PALMEIRAS EM RIBEIRÃO PRETO - SP

Documentos relacionados
O crescimento urbano e suas implicações na água subterrânea: o exemplo de Mirassol/SP

POLUIÇÃO AMBIENTAL: DIAGNÓSTICO DAS FONTES CONTAMINANTES DO CÓRREGO DE TANQUES

Geoprocessamento na delimitação de áreas de conflito em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Córrego Pinheirinho

Política de Combate a Inundações de Belo Horizonte. Prefeitura de Belo Horizonte

O 2º do artigo 22 passa a vigorar com a seguinte redação:

DIAGNÓSTICO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE VILA NOVA DO SUL / RS AUTORES: Autor: Diego Silveira Co-autor: Carlos Alberto Löbler Orientador:

4.0 LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Questões estruturais e conjunturais dos loteamentos em São Paulo: o caso do Village Campinas

O Aterro Sanitário Intermunicipal de Quissamã RJ: uma reflexão sobre os instrumentos legais pertinentes à gestão de resíduos em pequenos municípios.

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA MICROBACIA DOS RIBEIRÕES LAPA/CANTAGALO IPEÚNA (SP)

Geoprocessamento na delimitação de áreas de conflito em áreas de preservação permanente da sub-bacia do Córrego Pinheirinho

GEOGRAFIA MÓDULO 9. Urbanização I. redes urbanas, o processo de urbanização, o espaço das cidades e especulação imobiliária. Professor Vinícius Moraes

AVALIAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DO USO DO SOLO NOS BAIRROS ROQUE E MATO GROSSO EM PORTO VELHO RO

OS LIMITES ENTRE O URBANO E O RURAL: UMA ANÁLISE SOBRE AS DECISÕES NORMATIVAS DA CÂMARA MUNICIPAL NO MUNICÍPIO DE LAJEADO-RS

CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DA BIOTA DO AÇUDE ITANS EM CAICÓ/RN: ANÁLISE DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

MAPEAMENTO DIGITAL: ESTUDO NO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ DE MINAS (MG) E DO BAIRRO COLÔNIA - SÃO JOÃO DEL REI MG

Indústria Comércio Resíduo Acidentes Desconhecida. Figura Distribuição das áreas contaminadas em relação à atividade (CETESB, 2006).

PAINEL 2 USO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA. São Paulo, 23 de março de 2009

A URBANIZAÇÃO PELA INDUSTRIALIZAÇÃO: MODIFICAÇÃO DO ESPAÇO PELA CRIAÇÃO DO DISTRITO INDUSTRIAL RENAULT EM SÃO JOSÉ DOS PINHAIS- BAIRRO BORDA DO CAMPO.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Ciclo Hidrológico e Bacia Hidrográfica. Prof. D.Sc Enoque Pereira da Silva

Planejamento Ambiental

ESTUDO DA OCUPAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ARROIO DOS PEREIRAS (IRATI-PR)

Retrospectiva sobre regimes hidrológicos e importância do planejamento urbano na prevenção quanto a eventos extremos

ANÁLISE CARTOGRÁFICA DO PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE/MG

CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICA DE SANTA CATARINA EM JARAGUÁ DO SUL PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL

AVALIAÇÃO DA EXPLOTAÇÃO DE ÁGUA NO POÇO ESTRADA JARDIM BOTÂNICO DO CAMPUS DA UFSM

9º ENTEC Encontro de Tecnologia: 23 a 28 de novembro de 2015

PHD Hidrologia Aplicada. Águas Subterrâneas (2) Prof. Dr. Kamel Zahed Filho Prof. Dr. Renato Carlos Zambon

II Seminário Dos Estudantes De Pós-Graduação Uso e ocupação do solo: um estudo sobre a expansão urbana do município de Santo Antônio do Monte/MG

ZONEAMENTO AMBIENTAL E PRODUTIVO ZAP INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE EM AGROECOSISTEMAS -ISA PAULO AFONSO ROMANO SECRETÁRIO ADJUNTO

GESTÃO DO CRESCIMENTO URBANO: PROTEÇÃO DE MANANCIAIS E RECUPERAÇÃO URBANA. 5 de Dezembro de 2012

ESTUDOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MORTO JACAREPAGUÁ/RJ

Consórcio Intermunicipal para Gestão Ambiental das Bacias da Região dos Lagos e dos Rios São João e Una. Tema Dados Atributo

Extra. passarela. Figura 41: Trecho em frente ao supermercado Extra, onde será implantada passarela para pedestres Duplicação... (2003).

MAPEAMENTO E ANÁLISE AMBIENTAL DAS NASCENTES DO MUNICÍPIO DE IPORÁ-GO 1

Proteção e recuperação de mananciais para abastecimento público de água

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais (PPGEM)

DISCIPLINA: Geografia Professor: Alissom Queiroz Data: 11/11/2016 Ensino Fundamental II Série: SEXTO ANO Turmas: 16A, 16B e 16C

Gestão de Inundações urbanas. Dr. Carlos E M Tucci Rhama Consultoria e IPH - UFRGS

ANÁLISE GEOESPACIAL DAS DINÂMICAS AMBIENTAIS DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DO RIO MONTEIRO-PB

FÓRUM PERMANENTE DE DEBATES

URBANIZAÇÃO BRASILEIRA

*Nome/Denominação social *Identificação fiscal nº, *residência/sede em, *Província ; *Município, *Comuna ; *Telefone ; *Telemóvel ; *Fax ; * ;

O CRESCIMENTO URBANO E SUAS IMPLICAÇÕES NA ÁGUA SUBTERRÂNEA: O EXEMPLO DE MIRASSOL/SP

FORMULÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

¹ Estudante de Geografia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estagiária na Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP).

MUNICÍPIO DE LONDRINA Plano Municipal de Saneamento Básico Relatório de Diagnóstico da Situação do Saneamento

Tópicos da apresentação

Cria o Refúgio de Vida Silvestre da Serra dos Montes Altos, no Estado da Bahia, e dá outras providências.

II ETAPA DO CURSO AMBIENTALISTA EDUCADOR DIAGNÓSTICO DE UMA LUTA AMBIENTAL. Lucinda G Pinheiro GESP- Passo Fundo /RS

ZONEAMENTO DA VULNERABILIDADE À CONTAMINAÇÃO DO SISTEMA AQUÍFERO GUARANI EM SUA ÁREA DE AFLORAMENTO NO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL

GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL

IBGE apresenta ranking dos 10 rios mais poluídos do Brasil

Produção Agrícola Cereais, Leguminosas e Oleaginosas Mil Reais Mil reais

Estabelece critérios e procedimentos gerais para proteção e conservação das águas subterrâneas no território brasileiro.

UFGD/FCBA Caixa Postal 533, 79, Dourados-MS, 1

Uso da terra na bacia hidrográfica do alto rio Paraguai no Brasil

Resolução de Questões do ENEM (Manhã)

ELABORAÇÃO DE MAPA GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE SP.

2a. Conferência Latinoamericana de Saneamento Latinosan Painel 4: Gestão Integrada de Águas Urbanas

SISEMA. Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Legislação Ambiental para Engenharia Ambiental e Sanitária - UFJF

Recursos Hídricos. A interação do saneamento com as bacias hidrográficas e os impactos nos rios urbanos

Geografia. Claudio Hansen (Rhanna Leoncio) Água

Chuvas Intensas e Cidades

PROJETO DE LEI Nº /2015

EMPREENDIMENTO NA CIDADE DE FORMIGA MG

Ciclo hidrológico: ciclo fechado no qual a água de movimenta

AÇÕES DA VIGILÂNCIA EM ÁREAS DE RISCO

ESPACIALIZAÇÃO DO REBAIXAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO TRAMANDAÍ, RS 1

Dr. Mário Jorge de Souza Gonçalves

A metrópole sob a visão municipal

José Cláudio Viégas Campos 1 ; Paulo Roberto Callegaro Morais 1 & Jaime Estevão Scandolara 1

A EXPANSÃO URBANA NA REGIÃO LESTE DA CIDADE DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA (SP) E A FORMAÇÃO DE NOVAS CENTRALIDADES

X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste

PROVA OBJETIVA 3ª série - Ensino Médio MATEMÁTICA / GEOGRAFIA SOCIOLOGIA. Dia: 31/10 - Das 14h às 15h40min EDUCANDO PARA SEMPRE

Fechamento de Mina Aspectos Ambientais e Sócio-econômicos

LISTA DE EXERCÍCIOS SOBRE CARTOGRAFIA GERAL. 1) Sobre o sistema de coordenadas de localização, julgue os itens a seguir:

LEGISLAÇÃO URBANA DE JUIZ DE FORA

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE. Professor: João Carmo

Universidade Federal do Paraná Engenharia Civil. Ciências do Ambiente. Aula 14 Impactos e Riscos Ambientais

RESOLUÇÃO N o 55, DE 28 DE NOVEMBRO DE 2005

Qualidade da Água em Rios e Lagos Urbanos

Plano Municipal de Habitação Social da Cidade de São Paulo. agosto 2010

DE OLHO NO FUTURO: COMO ESTARÁ GOIÂNIA DAQUI A 25 ANOS? Elaboração: DEBORAH DE ALMEIDA REZENDE 2 Apresentação: SÉRGIO EDWARD WIEDERHECKER 3

Divisão Ambiental Prazer em servir melhor!

OBSERVATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL BANCO DE DADOS REGIONAL VALE DO RIO PARDO. Eixo temático: Infraestrutura

DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS PARA A PROTEÇÃO DE NASCENTES

a) b) c) d) e) 3 2 1

MAPEAMENTO DIGITAL E PERCEPÇÃO DOS MORADORES AO RISCO DE ENCHENTE NA BACIA DO CÓRREGO DO LENHEIRO SÃO JOÃO DEL-REI - MG

As cidades e a urbanização brasileira. Professor Diego Alves de Oliveira IFMG Campus Betim Fevereiro de 2017

Gestão Ambiental e Saneamento Conflitos com a Urbanização

ANÁLISE DOS PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS DO MÉDIO DA BACIA DO RIO PARAÍBA DO SUL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO-RJ.

AVALIAÇÃO AMBIENTAL INTEGRADA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS ATRAVÉS DA ANÁLISE DE FRAGILIDADES AMBIENTAIS

CONCURSO PÚBLICO DA CAERN COMISSÃO PERMANENTE DO VESTIBULAR CARGO: ANALISTA AMBIENTAL PROGRAMA

SÍNTESE. AUTORES: MSc. Clibson Alves dos Santos, Dr. Frederico Garcia Sobreira, Shirlei de Paula Silva.

DIAGNÓSTICO DE RISCOS AMBIENTAIS E ALTERNATIVAS PARA RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DE TRECHO DO RIO GUANDU

SNPTEE SEMINÁRIO NACIONAL DE PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

O COMITÊ GRAVATAHY E SEU TERRITÓRIO DE IRRIGAÇÃO E USOS MÚLTIPLOS DA ÁGUA

Transcrição:

Categoria Trabalho Acadêmico / Artigo Completo CARACTERIZAÇÃO DA BACIA DO CÓRREGO DAS PALMEIRAS EM RIBEIRÃO PRETO - SP Matheus Felipe Oliveira 1 Ernesto Vendramini Bergamaschi 2 RESUMO: As bacias hidrográficas são importantes unidades de planejamento e gerenciamento, permitindo a caracterização, reconhecimento e avaliação dos recursos hídricos. A utilização desta unidade proporciona uma visão sistêmica e integrada, devido sua delimitação e à interdependência dos fatores climatológicos, hidrológicos, geológicos e ecológicos. O presente trabalho visa apresentar os aspectos físicos e sociais da bacia do córrego das Palmeiras, em Ribeirão Preto SP. Sua escolha se deve ao fato desta unidade estar situada em área de afloramento e recarga do aquífero Guarani, possuindo assim, maior vulnerabilidade natural à poluição. O presente estudo tem como finalidade a caracterização da área em questão, fornecendo subsídios para o estabelecimento de prioridades na tomada de decisões, contribuindo assim, com a manutenção das águas subsuperficiais, através de uma gestão que preserve a renovação do sistema. INTRODUÇÃO O município de Ribeirão Preto tem uma população de 604.682 habitantes (IBGE, 2010). Localizado a nordeste do estado de São Paulo, é considerada centro de referência no setor da agroindústria sucro-alcooleira, fazendo com que a cidade se enquadre no grupo 1 do Índice Paulista de 1 Licenciado em Geografia pela UNESP Campus de Ourinhos. mtf_matheus@hotmail.com 2 Bacharelado Geografafia pela UNESP - Campus de Ourinhos. evbernesto@hotmail.com

Responsabilidade Social (IPRS), caracterizado por elevados índices de riqueza e bons níveis nos indicadores sociais. Na década de 70, o surgimento do Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL), contribuiu com forte incentivo público, impulsionando assim, o desenvolvimento do município que já produzia cana-de-açúcar desde os anos 30. Segundo DEDECCA, et al (2009, p. 33) [...] os principais impactos do aumento da produção canavieira na região foram: substituição de outras culturas pela cana-de-açúcar (monocultura); valorização das terras e maior concentração fundiária; substituição da mão-de-obra permanente pela temporária, com residência na cidade e o aumento dos fluxos migratórios, com destaque para o movimento sazonal na época da safra. Segundo a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional (Governo do Estado de São Paulo, 2012) em 2010 o município registrou um grau de urbanização superior a 99,7%. A taxa de crescimento populacional, no período de 2000-2010, foi de 1,82% ao ano, número acima da média estadual. O município está inserido em grande parte nas áreas de recarga do aquífero Guarani, afloramento dos arenitos Botucatu e Pirambóia. Os fatores econômicos aliados ao alto índice de crescimento demográfico e expansão urbana geram dois graves problemas: demanda crescente por água e um consumo que supera em muito a média nacional; e a ocupação das áreas de recarga impedindo a renovação do sistema. A estes problemas acrescenta-se as perdas no sistema de abastecimento, que chegam a quase 50% do total extraído. Considerando que o abastecimento publico é realizado exclusivamente por água subterrânea, estima-se que a explotação de água é quase duas vezes maior que sua capacidade de renovação no sistema. O bombeamento intensivo dos poços para suprir a demanda e o alto consumo, ocasionou o rebaixamento dos níveis hídricos, ocasionando cones de rebaixamento, dificultando a explotação da água, e exigindo a perfuração de poços cada vez mais profundos.

A escolha pela adoção da bacia hidrográfica como unidade territorial no presente trabalho, se dá pelo enfoque de preservação de um recurso hídrico atendendo as necessidades de uma visão ecossistêmica, devido as características da água, que é um bem renovável que circula continuamente da atmosfera ao subsolo. Além disso, a bacia hidrográfica permite pelo estudo de suas variáveis, interpretar através da parte, a soma do todo. Esta unidade foi a adotada pela lei 9.433 de 1997 para instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos e para a atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A visão ecossistêmica da bacia hidrográfica pode ser resumida pelas palavras de SANTOS (2004, p. 85) Toda ocorrência de eventos em uma bacia hidrográfica, de origem antrópica ou natural, interfere na dinâmica deste sistema, na quantidade dos cursos de água e sua qualidade. A medida de algumas de suas variáveis permite interpretar, pelo menos parcialmente a soma dos eventos. Essa é uma das peculiaridades que induz os planejadores a escolherem a bacia hidrográfica como uma unidade de gestão. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A bacia do Córrego das Palmeiras (Figura 1) possui 37km² e está inserida na zona leste do município e em trechos da zona norte e é composta pelos Jardim Juliana, Parque dos Servidores, Jardim Helena, Jardim Ouro Branco, Conjunto Habitacional Palmeiras, complexo Ribeirão Verde, Jardim Aeroporto, Jardim Salgado Filho e Vila Hípica. A bacia do Córrego das Palmeiras faz parte da bacia hidrográfica do rio Pardo, UGRHI-04. O córrego das Palmeiras é afluente da margem esquerda do rio Pardo, com 10.120 m de comprimento. (LAURENTIIS, 2010, p. 33)

Figura 1. Delimitação da bacia do Córrego das Palmeiras. A zona leste do município é uma das maiores áreas de expansão urbana, sendo influenciada por uma forte especulação imobiliária, apresentando grandes vazios urbanos, que acabam por valorizar as áreas de seu entorno que vão sendo paulatinamente ocupadas. Devido ao solo de qualidade inferior para agricultura, suas terras possuem um baixo valor, diferentemente dos solos argilosos da formação Serra Geral a oeste, o que faz com que seja um atrativo para moradores classe baixa, influenciados pelos especuladores que se amparam na fraca atuação do poder público para a conservação desta área de grande vulnerabilidade natural. Os diferentes usos e ocupação nesta área, onde convivem áreas urbanas e rurais, representam graves problemas que podem provocar a contaminação das águas subsuperficiais.

Há na nascente do córrego das Palmeiras (Figura 2), a presença áreas urbanizadas, constituindo uma densidade demográfica grande em uma área de recarga do aquífero. Há também nesse ponto a presença de fossas, representando uma parte da poluição de suas águas, que tem como principal poluente, esgoto doméstico. O descaso do poder público com a área também pode ser presenciado, como é o caso do antigo Lixão Jardim Juliana (Figura 2), que ignorou além do Código Ambiental Municipal - que prevê a não instalação em zonas de recarga, aterros sanitários ou industriais necessitando de licenciamentos para a deposição de resíduos sólidos - a legislação sobre a deposição de resíduos sólidos e os riscos a população instalada nos conjuntos habitacionais denominados Jardim Juliana A, Jardim Palmeiras I e II e Parque dos Servidores. Outras fontes que representam risco para águas subterrâneas como o cemitério Bom Pastor (Figura 2). No cemitério, os caixões são enterrados diretamente na terra, em grande parte sem jazigos, ampliando a potencialidade de contaminação das águas por necrochorume.

Figura 2. Localização dos pontos a montante do Córrego das Palmeiras (Fonte: Google Earth - adaptado). Algumas fontes pontuais de cargas poluidoras se encontram na bacia, como fossas sépticas e negras, em locais sem infraestrutura de saneamento básico. É o caso de algumas favelas localizadas no Jardim Aeroporto (Figura 3), que enfrentam um processo de desocupação para atender as determinações do EIA/RIMA, criando um conflito entre a urbanização e a vegetação natural remanescente do local. Segundo Villar (2009, p. 72), a Política Urbana Municipal prevê no art. 6º, III da Lei nº 2.157/07 cc. art. 84, parágrafo 1º do Código de Meio Ambiente que as áreas de recarga representam locais de grande vulnerabilidade e fragilidade, sendo classificadas como Zonas de Uso Especial, garantindo assim a recarga do aquífero. O art.62, III da Lei nº 2.157/07 e o art. 43, permite lotes com área mínima de 140m² e densidade máxima permitida de 850hab/ha

respectivamente, representando uma falha legislativa na contenção do índice de impermeabilização do solo, na qual a contenção deve ser de 10% por lote, comprometendo a recarga do aquífero. No Complexo Ribeirão Verde (Figura 3), os lotes reduzidos, chegam muitas vezes a ter 100% de edificação, não permitindo a percolação para recarga do Aquífero Guarani como sugerido no EIA-RIMA do empreendimento determinado pela prefeitura. ENDO (2005, p. 29) Figura 3. Localização dos pontos a jusante do Córrego das Palmeiras (Fonte: Google Earth - adaptado). A ocupação destas áreas e sua consequente impermeabilização geram riscos não só para a qualidade das águas subterrâneas e para os níveis hídricos, mas também podem agravar alguns problemas já existentes, como as enchentes na cidade.

MATERIAIS E MÉTODOS O software utilizado na pesquisa foi o ArcGis 9.3. Para a delimitação da bacia do Córrego das Palmeiras, foram utilizadas cartas topográficas dos municípios de Ribeirão Preto e Serrana, na escala de 1:50.000, adquiridas na biblioteca digital do IBGE (biblioteca.ibge.gov.br), formando um mosaico na qual foram vetorizadas as curvas de nível e o curso hídrico. O sistema de coordenadas utilizado no trabalho foi o mesmo das cartas topográficas, projeção Universal Transversa de Mercator, Córrego Alegre zona 23 Sul. Para uma maior precisão nas curvas de nível, foram extraídas as curvas de nível da imagem SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), adquirida na página do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Para a elaboração do mapa de identificação dos pontos citados no trabalho, foi utilizado uma imagem do Google Earth, que foi georreferenciada baseada nas cartas topográficas do município de Ribeirão Preto na escala de 1:2000, adquiridas no site da Secretaria de Planejamento e Gestão Pública (www.ribeiraopreto.sp.gov.br/splan/escala/i28mapas.php). CONCLUSÃO Adotar a bacia como unidade territorial de planejamento e gestão é uma forma de contribuição para mitigar ou mesmo sanar a grande quantidade de problemas na qual enfrenta o município de Ribeirão Preto no que se refere a preservação de seus recursos hídricos. Embora o zoneamento do município de Ribeirão Preto classifique essa área como zona de uso especial, poucas melhorias são feitas para tentar reverter o quadro atual. Alguns dos pontos destacados no trabalho demonstram a situação de descaso do poder público em relação a área onde está inserida a bacia, onde o interesse dos agentes capitalistas ultrapassa a capacidade de controle local.

O município que se encontra em um processo de desenvolvimento econômico constante, apresentando níveis de urbanização e crescimento demográfico cada vez maior, necessita que sejam adotadas com urgência práticas para redução dos impactos previstos. REFERÊNCIAS BRASIL. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. <www.ibge.gov.br/catálogos/indicadores>. Acesso em: 18 jun. 2011. DEDECCA, C. MONTALI, L. BAENINGER, R. Estudos Regionais: Pólo Econômico de Ribeirão Preto. 2009. Disponível em: < http://www.nepo.unicamp.br/simesp/site/estudos/rp.pdf> Acesso em: 30 ago. 2012. ENDO, R. M. A formação da paisagem urbana do Complexo Ribeirão Verde: uma proposta comunitária de educação ambiental. 2005. 391 f. Dissertação (Mestre em Educação Núcleo Temático de Educação Ambiental) - Instituto de Biociências, da Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro, Rio Claro, 2005. Disponível em: < http://www.athena.biblioteca.unesp.br/exlibris/bd/brc/33004137064p2/2005/end o_rm_me_rcla.pdf> Acesso em: 27 jun. 2012. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Caracterização socioeconômica das regiões do Estado de São Paulo: Região Administrativa de Ribeirão Preto. Disponível em: < http://www.planejamento.sp.gov.br/noti_anexo/files/uam/trabalhos/ribeir%c3% A3o%20Preto.pdf> Acesso em: 22 mai. 2012. LAURENTIIS, Laura Barzaghi de. Moradores em ação: constituição da paisagem no bairro Ribeirão Verde, em Ribeirão Preto - SP. 2010.

Dissertação (Mestrado em Paisagem e Ambiente) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-16072010-133422/>. Acesso em: 08 mai. 2012. SANTOS, R. F. dos. Planejamento Ambiental: teoria e prática. São Paulo. Oficina de Textos, 2004. VILLAR, P. C.; NEPOMUCENO, O. Áreas de recarga de Ribeirão Preto e os riscos urbanos, In: II Congresso Aqüífero Guarani/Workshops. Memória... Ribeirão Preto: IG Institulo Geológico de São Paulo. LEBAC/UNESP, 2008 pg. 70-74., 2., 2008, Ribeirão Preto-SP. VILLAR, Pilar Carolina. Gestão das Áreas de Recarga do Aqüífero Guarani: o caso do município de Ribeirão Preto, São Paulo. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) - Ciência Ambiental, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/90/90131/tde-26052010-100627/>. Acesso em: 30 ago. 2011.